quinta-feira, 13 de agosto de 2020

Os 50 tons de uma mentira...


 "I cretini sono una saggia istituzione della natura che permette agli stupidi di ritenersi intelligenti..."

Orson Welles

1:00 da madrugada. Acabo de assistir ao filme 50 tons de cinza, exibido por uma televisão. A fraude, que foi total, já começou no anuncio do filme, com a apresentadora prometendo que seria um show de sexualidade, de sensualismo, de erotismo e uma Odisseia de fornicação, etc.. Quase insinuando que seria recomendável levar um rolo de papel higiênico para o sofá. Tudo falso. Histericamente falso! Nada de erotismo! Se comparado aos filminhos pornográficos disponíveis a qualquer bobalhão, no Youtube,  - e que causam tanto fascínio às maiorias silenciosas -, parece até uma novela ingenua e carola. O que apareceu de mais excitante no filme, foi o fusca da menina e o momento em que se ouve as Bachianas brasileiras n. 5, de Villa Lobos. Um filme xarope, mais parecido com aqueles que se analisava lá nos anfiteatros e nas aulas de psicopatologia, isto é: a relação entre um aprendiz de psicopata e uma aprendiz de histérica. Com as referidas mães, neuróticas e perversas, na retaguarda. Tudo temperado com o fetiche da literatura, do dinheiro, da burocracia, dos truques do Marques de Sade e, o mais interessante: pela ausência total de gozo. O desejo de "ir para a Georgia" onde há umidade, foi considerado uma transgressão. Não há no filme, nenhum vestígio de ereção e nem de orgasmo. Os personagens só aparecem de bunda. Seria um espetáculo apenas para pederastas, dos dois gêneros? Só lambidas e gelo. E o gelo, estaria presente para lembrar a lógica da homeopatia? Curar o envenenamento usando o próprio veneno?  

Mas, é verdade, há, nessa baboseira toda, muitas tentativas de buscar aquele Sentimento Oceânico, Lembram? Resquício de uma época vitoriana, infanto-juvenil e religiosa. Despertar o tesão pela vertigem.  Lembram das lições de Sade, elaboradas durante sua permanência na prisão da Bastille? Ressuscitar o desejo e, por fim, o gozo, pelas acrobacias aéreas, pelo susto! E a maçã do Mac, sempre presente. Uma fraude! Um filme, digamos, útil para a clínica, para quem está se iniciando nas elucubrações da psychopathologie de K. Jaspers, mas completamente inócuo para turbinar qualquer tipo de transação libidinosa. Só tortura, transtorno mutuo de personalidade, algumas lambidas (poucas e incompletas), alguns eflúvios epidérmicos e doentios. Um filme para o populacho ignorante.  Ridículo! Impressionante!

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EM TEMPO: Mas não levem muito a sério esta minha impressão do filme, pois eu considero o cinema, em si, a maior de todas as fraudes, só perdendo para as fraudes religiosas... A Sétima arte? O Sétimo ardil?

Um comentário:

  1. Falando em filme, esse do Svankmajer parece uma mistura de Allen Poe + Sade + Basaglia (?)
    https://www.youtube.com/watch?v=TZyfIkXrblM

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