quarta-feira, 5 de agosto de 2020

E a luta, contra os "assassinos emboscados", continua...

"Pois a mesma diferença separa a Tragédia da Comédia; procura, esta, imitar os homens piores, e aquela, melhores do que eles ordinariamente são..."
Poética
(Aristóteles)

E foi por 1870, que o velho e obsessivo patologista Dr. Koch, em seu singelo laboratório, lá nos confins da Alemanha (Woltein), embrenhou-se, através de seu precário microscópio, no encalço de minúsculos seres que, de inicio, ele chamou de 'assassinos emboscados', e que mais tarde vieram a ser conhecidos por bacilos de koch.
Atualmente, o planeta inteiro está no encalço de outro assassino emboscado: o Coronavírus. E os métodos de pesquisa, apesar dos quase 200 anos que nos separam de Koch, não são lá  muito diferentes. Não é verdade? Com a demora dos especialistas em resolver a questão, o populacho vai se encarregando de, a cada dia, lançar no mercado uma nova panacéia para tentar driblar, retardar e protelar a catástrofe definitiva. E uma mais surrealista do que a outra. 
Nesta semana foi um médico catarinense que sugeriu a aplicação de ozônio nos pacientes. Até aí, tudo bem, mas quando o Dr. disse que a aplicação seria feita via anal, a sociedade inteira, - tanto a leiga como a médica -, saltou nas poltronas. O problema?... é que, nestes tempos, nunca se sabe a razão verdadeira. Até fiquei curioso para saber como foi a reação geral na época em que inventaram o supositório.
Ozônio? O que é isso?
Mas calma... calma que nem tudo é nonsense e que já há outras recomendações para conter a pandemia. Recentemente um pastor passou a recomendar a seus discípulos, sementes de feijão. Sim sementes de feijão. Um feijão especial que só ele vendia e até por mil reais cada uma.
Depois, não sei quem, recomendou o uso de água prateada. Em algum lugar da velha Índia, começaram a prescrever esterco das vacas sagradas. Na antiga Persia, um grupo de jovens recomendou para si mesmo a ingestão de álcool. Álcool 60%, tipo vodka. Nos EEUU, começaram a beber até água sanitária. Outros, a fazer gargarejo com vinagre. A Vitamina D, um determinado vermífugo e um antigo remédio para malária passaram a ser milagrosos. Sem falar dos chás; das novenas; das promessas; das posições da Ioga; do dízimo aos partidos; dos Florais de Bach; da Aguardente Alemã; das bolinhas da homeopatia; dos mantras; das garrafadas; dos diálogos secretos com as divindades; da ameixa humeboshi; do Pensamento Positivo e de outras soluções mágicas.
Tudo bem que a sociedade esclarecida se irrite com estas panacéias, mas é importante lembrar que a civilização e principalmente a nossa sociedade e também a nossa medicina, foram erigidas basicamente sobre panaceias.  Durante o terror da Peste Negra, por exemplo, quem é que não se lembra de um tal Alejandro Abonutico que lá na Itália, vendia oráculos, em forma de micro-poesias impressas em folhas de papel e que deviam ser coladas nas portas das casas para evitar que a peste entrasse?
E quem é que não se lembra do Sr Lutero, o protestante, que, para a cura de diversos males da época, recomendava a ingestão matinal de pequenas porções da própria merda?
E, mais recentemente, quem é que não sabe que os eletrochoques, que até hoje são usados nos manicômios (do mundo inteiro), inicialmente eram usados nos matadouros de porcos, também na Itália. E que, como aqueles porcos que não morriam passavam a ter um comportamento alterado, resolveu-se adaptar a técnica para doentes com transtornos mentais?
Enfim,  o surrealismo vem de longe! De muito longe! Portanto, é bom não ficar cantando de galo, já que o vírus está dando um baile até nos mais eméritos vivaldinos.
E la nave va!

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