O vírus da infidelidade...

"Se em vez de fazer magistério de duas línguas mortas, tivesse preferido compor comigo um número cômico, a esta hora estaríamos ricos e felizes..."
Pitigrilli, p.70


Realmente, quem engendrou esse vírus, (o país, o laboratório, o cientista), teve o cuidado de dota-lo de uma capacidade de interferir em todas as áreas. Além de implodir o sistema imunológico das pessoas (brancas, pretas, amarelas, albinas; crianças, balzaquianas, matusalenianos; esquerdistas, direitistas, alienistas, gordos, magros, esqueléticos, faquires, intelectuais, analfabetos, ladrões e santos, pastores e estelionatários, barbeiros e Ministros, putas e freiras e etc), escancarou  os guetos da saúde, mostrou os subterrâneos dos hospitais, os nossos e os de Madrid, de Roma, de Paris, dos EEUU e até da Suécia.  Fechou os mercados; escancarou as condições miseráveis de moradia de 80% das pessoas; arrastou para o meio da rua milhares de indigentes e mortos de fome que ainda preferiam viver escondidos;  turbinou a venda de remédios à base de ansiolíticos; demonstrou que o Estado-Tirano e a Ciência-vaselina se parasitam e se anulam; confinou em casa tanto os rebanhos burgueses como as hordas proletárias e fez em frangalhos o delírio de poder de uma elitezinha cafajeste, bem como o otimismo dos Manés de todos os dias. E, o mais metafísico: colocou em xeque a fé, as rezas, as novenas, a relação psicótica e delirante entre o Ser e o Não Ser.  E, o mais transcendente: congestionou os cemitérios. Deu emprego aos coveiros e aos Papa- defuntos deixando claro, mais uma vez, até para os + fundamentalistas que, não somos uma espécie que caiu do céu,  mas macacos que se levantaram. Quem é que, mesmo que viva mais 100 anos, conseguirá esquecer os horrores das imagens daquelas escavadeiras abrindo uma ou cem covas nos cemitérios? Aliás, quando é que se quebrará o monopólio desses lugares tenebrosos, cheios de flores murchas e de epitáfios deprimentes e se construirá, no lugar deles, crematórios em mármore azul e com fornos futuristas, movidos a energia nuclear? 

Mas, a façanha maior desse vírus (ainda sem nacionalidade definida) foi escancarar a infidelidade dos velhos e falaciosos matrimônios. E pior: uma infidelidade reprimida, cibernética, telepática, onanista, infanto-juvenil e quase anônima.

 A pesquisa sobre este assunto que foi realizada nesta semana, aponta Brasília como a campeã nessa modalidade. Dizem que mesmo aquelas senhoras e senhoritas que até já haviam esquecido  que levavam uma espécie de Pedra Filosofal entre as virilhas, se "libertaram!" e que, fantasiadas de alunas do Sacré Coeur ou de Madame Bovary, passaram a fechar-se no banheiro e de lá, trocar intimidades com forasteiros. Incrível! E o PIB dos SEX-SHOP (seção apetrechos para mulheres) triplicou. Quem é que diria que o confinamento de 4 meses e um vírus apátrida chegaria a tanto? E que, em apenas alguns meses conseguiria o que Freud e Reich não conseguiram em um século! Viva o confinamento!

 Como, por casualidade, estou lendo O CONTRATO ANIMAL, do Desmond Morris, aproveito para indexar aqui uma de suas teses em relação ao comportamento dos animais enclausurados, presos em zoológicos, etc: "Muitos tornaram-se comilões patológicos, ficando muito gordos e com saúde fraca. Um urso, literalmente, morreu de comer, sufocado pela pressão da gordura e da comida devorada. Outros transformaram-se em marca-passos patológicos, andando para cima e para baixo neuroticamente em um exótico padrão de movimentação estereotipado que acabou por marcar um sulco no chão de suas habitações. Outros tornaram-se comedores de esterco, autoflageladores ou matavam-se de fome. Um comportamento sexual anormal tornou-se frequente: alguns animais isolados até tentavam copular com os pratos de comida, ou com outras espécies totalmente inapropriadas com as quais estavam enjaulados. .."
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https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/cidades/2020/07/28/interna_cidadesdf,876253/brasilia-lidera-ranking-nacional-de-traicao-on-line-durante-a-quarente.shtml