sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

O tal passaporte... A suposta esquerda e a suposta direita (essa Ilíada de ignorantes), descaradamente, de braços dados...

"Concedei-me,  Senhor, acima de tudo, a simplicidade do estilo..."

Tolstoi



 Com o país afundando em misérias, em esoterismos, em absurdos, em irracionalidades e com sete ou oito charlatães cativos na mídia entorpecendo o rebanho, os Três Poderes com seus lacaios estão todos dedicados (full time) a discutir a obrigatoriedade, ou não, do PASSAPORTE DA VACINA. 

E tanto os camaradas da esquerda como os camaradas da direita, e os camaradas ambidestros fingem escândalo dizendo que essa obrigatoriedade é um ato de opressão e de repressão. De controle e de cerceamento da liberdade. Ora, não sejam petulantes e nem idiotas! Estamos no meio de uma epidemia. É preferível um sujeito "controlado", mas vivo, do que um sujeito "livre", mas morto... Não sejam petulantes e nem idiotas! Desde que nascemos acumulamos passaportes! Aqui em Brasília, por exemplo, ainda bem antes da chegada do vírus, para dar uma mijada no WC de um ministério ou de uma paróquia, independente de quantos doutoramentos você exiba, se tem que apresentar até atestado de nascimento e provar que seus tataravôs não foram assessores de Nero ... E se você não cumprir essa exigência, acabará mijando nas calças. Ah, e você sabe, nada é melhor do que uma boa mijada, num Ministério! Mas, qual é o problema, camaradas? Se sabemos, que ao redor do mundo, há muito tempo, já é necessário "passaporte" até para respirar e se é obrigado a rezar uma Salve Rainha para a pátria, antes mesmo de sair da cama??? Sim, a penitenciária é evidente, mas agora estamos no meio de uma epidemia! Com os cemitérios congestionados e com os infectologistas cada dia mais atordoados e com discursos cada dia mais eclesiásticos.., cada dia dizendo uma bobagem diferente da outra... Deixando claro que nossa compreensão da ciência e da  Santíssima Trindade, ainda é a mesma... E que só nos resta apelar para a camaradagem e para a compaixão do vírus! Que estamos vivos por milagre! Qual é, realmente, o problema com esse tal passaporte, camaradas? Caiam na real! 

Os de minha geração devem lembrar-se que, naqueles tempos, em alguns puteiros mais sofisticados, as moças só transavam com quem apresentasse PASSAPORTE de saúde sexual. E a recíproca também era verdadeira. Em cima do criado mudo ou da penteadeira, além de um pote de vidro cheio de Sonhos de Valsa, de cremes, pílulas, rosários, chicotes, seringas e água benta, a mulher exibia o seu Passaporte de "gonorréia curada" e de sífilis sob controle... E ninguém reclamava. Era o jogo! Eram as regras! E o mundo (esse circo de quarta categoria) transcorria às mil maravilhas... Os pais de família voltavam para casa aliviados, embriagados pelos elogios mentirosos das putas, sem culpa alguma e sem risco de contaminar suas respectivas e santas esposas que só abriam as pernas uma vez a cada ano bisexto...

Enfim, chega de idiotices! De assistir a Ministros presunçosos e septuagenários, ganhando 25 mil dólares por mês para ficar discutindo bagatelas desse tipo. Em suma, a vacina, com ou sem o imprimatur do clero ou do STF, deve ser obrigatória sim! E nas universidades (quase todas em ruínas, sugadas e desmoralizadas por seus barnabés) é bom que se saiba: os alunos que não apresentarem atestado, não têm perfil e nem DNA para frequenta-las e portanto, devem ser compulsoriamente enviados de volta para o Primeiro Grau.. Seria ridículo correr o risco de ser contaminado por um idiota... e ter que passar precocemente pelas labaredas de um forno crematório...

 


quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

Barbeiros, espelhos e navalhaços...

 "Ecco che fu un'inutil precauzione..." 

(IN: O barbeiro de Sevilha)


(Gusjer) - Barbeiro Uigur, em Kashgar




 



quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

O Mendigo K, seu cavalo e o consolo dos aflitos...



Nesta quarta-feira de temporais, o Mendigo K apareceu pilotando uma carroça ao lado de sua mulher. Rodas novas, com uma placa verde de embaixada pregada na parte traseira e com um cavalo fogoso e agitado, mas sem ferraduras. - Meus cavalos não usam ferraduras, não corto o rabo de meus cachorros e nem capo meus gatos - foi logo dizendo.

Na camiseta branca dos dois, havia uma frase de Baudelaire: "Prenda-me a ti e de nossas duas misérias, talvez, possamos viver uma espécie de felicidade..."

Saltou da carroça com o relho na mão direita e foi logo filosofando: Bazzo, observe como, com as traquinagens do natal já esgotadas (por este ano), os comerciantes já começam investir nas traquinagens do (fim) do ano e do (ano novo)... Para iludir os palhaços de turno acionam a mídia (escrita, televisiva e até alguns camelôs que passam em seus carros velhos com os alto-falantes ligados), prometendo a felicidade numa cesta de café da manhã; numa viagem para Bariloche; num retiro espiritual... E as ratazanas, vorazes e esperançosas aparecem nas janelas, com suas caras, fusão de Madalena com Messalina e nos jogam (com uma indisfarçável ponta de nojo) uma lata de atum ou de milho, ou outra coisa qualquer e simulam uma grande expectativa. Ah! 2022 será o nosso ano! Ah! Recuperar o tempo perdido! E tudo voltará ao normal! Tudo se realizará, inclusive as bobagens que esperamos desde que nascemos... Ah! estamos nos sentindo quase como os servos russos quando foram libertados pelo Czar II... Agora só falta a emancipação do trabalho, como foi prometida por Lenin... Ufa! E já se pode imaginar os tiroteios às margens do lago. Os padres, dentro de seus arreios, que enviam os coroinhas para acionar os sinos... Os netos dos filhos dos filhos dos mendigos que congestionam os semáforos com suas caixinhas... Uma ajuda e Feliz Ano Novo! De onde nos veio essa obsessão pela felicidade? O que é isso, afinal? E as badaladas se fundem ao cheiro da pólvora e aos gritos de Feliz Ano Novo! Os deputados, Senadores, ministros, assessores e comadres, convocaram dois ou três pistoleiros para vigiar suas mansões, sua meia dúzia de automóveis, seus cachorros e partem para Paris... Ah, como Paris é linda vista da cobertura do Pompidou ou dos janelões da Rive gauche! Aquele bando de árabes, de indianos, de africanos e de latino-americanos em farrapos, lá em baixo, driblando a policia e zanzando em busca de migalhas... E há também muitos brasileiros festejando por lá, muitos dos nossos artistas... os tais clows de palco! Todos revolucionários! Todos transbordando virtudes de catálogo e queimando incenso para si mesmos! Bah! E o fazem cheios de veleidades e com pose de subversivos, em homenagem ao populacho romântico que, por aqui, como borboletas noturnas, vai comprando seus discos, os idolatrando e passando o ano chorando melancolias alheias... é o consolo dos tolos e dos aflitos! Mas e a COVID? - Indaga a mulher - Ora, - retruca ele - me cite os ricos que foram afetados! Dos 600 mil, apenas cinco ou seis são tubarões, o resto é de pobres e fodidos... Até o vírus tem aporofobia! Os pobres que se cuidem! Que fiquem em casa (que casa?) e que tomem Ivermectina ou chá de Hibisco!! Que olhem os fogos pela janela ou que, no máximo, vão à prainha levar um buquê de hortênsias para Iemanjá e que gritem Feliz ano Novo para algum mercenário ou para as capivaras... ou para si mesmos... Afinal, todo mundo sabe: é bobagem! Ninguém acredita, todo mundo sabe que é só retórica... Pensem nas enchentes da Bahia. Há 100 anos aquele horror se repete! Por todos os lados gente humilhada e ofendida faiscando blasfêmias contra o rio e no meio da lama.., mas assim que o sol secar os colchões, tudo se normalizará...pelo menos até as chuvas do ano que vem! A propósito, é importante tomar consciência de que não é o rio que invade as cidades e as casas, mas as cidades e as casas que invadem o leito dos rios! Também aqui, entre nós, longe das barragens suicidas, fazem dez anos que prometem consertar as calçadas, mas... todos os dias alguém despenca num buraco e se quebra uma perna...  Mancando, mártires de suas crenças, vão até uma delegacia de policia com a ilusão de processar o Estado, mas logo descobrem que, como dizia Nietzsche, o Estado é um monstro intoxicado de brutalidades. - Desistem e vão, de joelhos, pedir graças na Dom Bosco; encomendar uma macumba num Centro ou choramingar ao ortopedista... E o ano que vem os buracos, ainda mais profundos, continuarão lá e as clinicas de ortopedia se multiplicaram...  Feliz Ano Novo! A pandemia? Ironizam os senhores da política. Ora, nosso plano de saúde nos dá cobertura em qualquer lugar do mundo...  Além disso, em caso de necessidade, temos uma suite cativa no Sírio Libanês ou no Einstein, para qualquer emergência nossa ou de nossa família... (E todo eso, por cuenta del Estado... y por amor a la pátria!..). 

O cavalo se agita e a mulher, que além de misândrica, está visivelmente transtornada, desabotoa dois botões de um casaco de plástico esverdeado e, agitando o relho no ar, resmunga meio em deboche: Como diria Mussolini, parafraseando a C. Fourier: Falanstério dos impotentes!


domingo, 26 de dezembro de 2021

O Papa, os argentinos e as vacas esquartejadas vivas...

"Aplicada la conjetura al tango argentino, veríamos en éste, un espejo de nuestras realidades y a la vez un mentor o un modelo, de influjo ciertamente maléfico..."
J.L.Borges
(IN: Historia del tango)

Apesar de todas as pregarias nas catedrais porteñas; apesar de todas as irmandades de velhacos; dos especialistas em extorsão de afeto e do lero lero papal lá no Vaticano, seus conterrâneos argentinos, famintos, preparando-se para o Natal, protagonizaram uma cena de arrepiar. Saquearam um caminhão que transportava vacas e as esquartejaram vivas. Vou repetir: e as esquartejaram vivas! Que tal? Segundo meu correspondente, que acabara de chegar da Patagônia Rebelde, por ironia, de um prédio que havia próximo ao assalto, se podia ouvir a Madona cantando: Dont cry for me Argentina... Enquanto, na outra calçada, um mendigo em êxtase, lia a Borges... 



 


sábado, 25 de dezembro de 2021

Mas, afinal, você tem fome de quê? A gente não quer só comida...

"A massa é como limalha que se aglomera em redor de qualquer imã. 
É preferível ser imã a ser migalha..."(P.)
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Neste sábado ensolarado com os ramos das sucupiras ainda expurgando os chuviscos da noite e com a população ressaqueada de tanto peru e de tanto porco assado, os mendigos se reuniram logo cedo na padaria do velho imigrante, vindo da Cataluña há uns 50 anos. Um gato espiava do alto de uma janela... Havia restos de bolos e de farinhas sobre as mesas e uma serpentina de luzinhas chinesas ainda piscando junto à vidraça, para lembrar que Jesus, nascido e assassinado lá da Faixa de Gaza, havia renascido. Os mendigos riam dessa ficção, dessa vaidade e desse bric-à-brac infanto-juvenil entre comerciantes e velhacos. A mulher do padeiro e mais duas estagiárias, surgiram inesperadamente, todas com aventais brancos e luvas, trazendo grandes sacos de alimentos e os colocaram nos braços dos mendigos, desejando-lhes um feliz natal. Eles, surpresos,  por uma questão de 'ética primitiva', os aceitaram, mas não deixaram de cantarolar aquela música dos Titãs: "A gente não quer só comida..." A  padeira e as estagiárias riram, sem entender muito bem a malícia da coisa... e voltaram para diante de seus fornos... O Mendigo K examinou superficialmente os pacotes e resmungou: essa gente quer nos engordar a todo custo! Julgam nossos estômagos e nossa fome pelo estômago e pela fome deles... como se fossemos porcos vorazes! De tão estupidificados pela obsessão de 'prosperidade', não entendem que o que queremos, não é sair da miséria, mas tirar a miséria de nós... Nossos barracos estão lotados de sacos de comida. Cada dia aparece por lá  uma velha paroquiana na fase depressiva; um apresentador de televisão na fase maníaca; um presidente de partido; um vigário; um pai de santo e outros farsantes, todos obesos, com quilos e mais quilos de macarrão, óleo, biscoitos, arroz, feijão, margarina, leite e acúcar... como se fossemos um bando de trituradores. E não pense que essa filantropia é por humanismo, é por culpa. (E, pior, não se trata de culpa social, mas de culpa transcendental!) Puro teatro! Encenação mística! Acreditam que um Ser Superior os está patrulhando e registrando esse gesto de caridade para com os fodidos do mundo... E que os cinco quilos de feijão fradinho dessa trapaça os poupará das labaredas do inferno... Bazzo, preste atenção como o mundo é regido por uma legião de farsantes... De todas as classes, cores, gêneros e categorias...

Farsantes que amanhã, voltarão a colocar novamente em funcionamento suas máquinas de exploração, a exigir os 10% do dízimo e a jogar os cachorros e a policia contra nossas mulheres e filhos... Depois de tanto tempo roubando e explorando, aproveitam essas oportunidades para fazer demagogia com nosso exílio e com nossa miséria! Se pelo menos nos trouxessem papel higiênico, cachaça e munição!!! De vez em quando encontramos no meio de todas aqueles pacotes, latas e pasto, pequenos escapulários, patuás, propaganda política e até páginas de uma Bíblia que foi impressa no Mosteiro dos Jeronymos. Ora, somos mendigos, mas não somos porcos famintos! E nem porcos chauvinistas! Nossa fome não é só de comida e nem só de ficções espirituais... 

Com um gesto de desprezo por aqueles sacos fez coro com a mendigada toda: VOCÊ TEM FOME DE QUÊ? A gente não quer só comida... A gente quer diversão e arte! A gente quer uma saída para qualquer parte e prazer para aliviar a dor... A gente não quer só comida... a gente quer fósforos e isqueiros para tocar fogo em toda essa merda..." 

O velho catalão, com os olhos de usura e de malignidade, por detrás do balcão, os olhava com uma fúria mal contida...

 


sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

Os filhos da pandemia... E o bric-à-brac dos mansos...

 



Que grande político, pregador e pai-de-família, teria sido Judas...

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Além de todas as revelações inesperadas que a pandemia proporcionou ao mundo: (a fragilidade do santuário científico, com dois anos de humilhação por um vírus; o grau de velhacaria do comércio, superfaturando preços; o número dos que têm mais fome do que comida e os que têm mais comida do que fome; a mansidão incurável do populacho; as 'juntas paroquiais' que defraudam o país e a juventude; a puerilidade inócua da fé e os pés de barro de todas as divindades; as semelhanças entre as opostas matilhas políticas, cujas 'ideologias' não vão além de meia dúzia de clichês; o bric-à-brac das confrarias dinásticas; a importância de um penico e a inter-relação do tédio e do confinamento com o ventre de jibóia; as receitas para chegar a ser um 'lambeiro' e um  demagogo de sucesso... etc) também trouxe à pauta o que o Mendigo K e sua trupe estão chamando de filhos da pandemia, isto é os milhares de bebês que estão nascendo de 2020 para cá....   Curiosamente, já se tinha noticias dos filhos da guerra; dos filhos do tédio; filhos do carnaval e do estupro; filhos do acaso e do ocaso; filhos do rock; filhos da chantagem; filhos da recessão; filhos da cocaína; filhos de Freud, de Trotsky, de Mussolini, do Papa e etc. Agora, temos também os filhos do coronavírus...

Na França, se costuma falar em Les enfants du dimanche (Os filhos do domingo), referência ao único dia da semana em que, (apesar da hipocrisia do Liberté, Fraternité e Egalité) depois de uns tragos ou de uma missa, o sujeito consegue ter um affair inter femur com a patroa...

 


terça-feira, 21 de dezembro de 2021

Fundo eleitoral para o teatro de 2022 = 4,93 bilhões! / O amor em si já é um Sentimento Oceânico... De olhos fechados, então, até dá a ilusão de eternidade... "Permuta de duas fantasias"...


SOBRE O AMOR...

"O verdadeiro amor é como a aparição dos espíritos: todos falam desse fenômeno, mas ninguém o viu..."(La Rochefoucauld)

"Negócio tempestuoso que sempre termina em falência; e o curioso é que o desmoralizado é sempre o credor..."(Chamfort)

"Troca de dois caprichos e contato de dois egoísmos... (Auguez)

"Le besoin de décharger des vases..." (Barbusse)

"Tumescencence and the detumescence..." ( Havelock Ellis)

"Quero-te, tenho-te, pertenceste-me, abandono-te..."  (De Croisset)

"Se te fizeres desejar alguns dias, durará um mês; se te entregares logo, durará um dia..." (Sacha Guitry)

"A necessidade humana que mais se parece a fome..." (Amalia Guglielminetti)

"Permuta de duas fantasias; contato de duas epidermes"(Chamfort)





NATAL - A simpática moça que está vendendo seus peidos engarrafados...

"J'ai déjà dit comme j'aime les odeurs. Les fortes odeurs de la terre, des latrines, des anches d'arabes, et surtout l'odeur de mes pets..."

Jean Genet

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Meu correspondente acaba de enviar-me o recorte de uma noticia a respeito de uma moça que está engarrafando seus peidos e os vendendo por pequenas fortunas. Acreditem. E segundo a matéria de jornal, trata-se de uma moça dessas que o populacho conhece por influencier, que também é atriz e etc... Parece piada, mas não é. Quem está tomando conhecimento dessa noticia, logo associa essa bizarrice àquela bravata da ex-presidente Dilma, levantando a hipótese de armazenar o vento. Lembram? Apesar de, naquele momento, todo mundo ironizar a Presidente, essa moça está demonstrando que sim, é possível, e que pode até ser um bom negócio. Que tal um vidrinho desses como presente de natal?

Não sei quais são as fantasias e as motivações dessa moça, mas podem ter certeza que ela está trazendo à tona um dos maiores conflitos da humanidade: o peido. Ter que peidar! A propósito, um dos golpes mais duros na adolescência, na idealização e no romantismo esdrúxulo masculino, é quando o menino descobre que as meninas também peidam. Ah, e quantos matrimônios, realizados com todas as pompas e idiotices possíveis, já desmoronam por um simples peido!!! Não é por acaso que os arquitetos da modernidade têm investido cada vez mais nas paredes das privadas...  os químicos, na composição das essências e dos perfumes, os farmacêuticos japoneses na invenção de pílulas e os cômicos, na composição de suas burlas e chanchadas... Quem é que ainda não leu o ensaio L'ART DE PETER, publicado em Westphalie, lá por 1800?  Ali você encontrará tudo sobre o assunto: quais os alimentos mais propícios para os produzir; quais os peidos que espantam o diabo e os que podem te indicar o caminho do paraíso.., e inclusive a classificação dos peidos por categoria social: os peidos do proletariado comparados aos da pequena burguesia; os de uma vegana com o de uma carnívora; os de um evangélico com os de um católico; os de um poeta com os de um salsicheiro, etc... Uma exaustiva exegese dos peidos voluntários e dos involuntários, bem como sobre a maneira discreta de soltá-los num concerto de Bach, por exemplo. E, quem é que não ouviu dizer que na época de nossos ancestrais, havia até concurso de peidos? E que os rebanhos, com seus gases, estão prejudicando a harmonia das galáxias? Em síntese: já que uma civilização que peida nunca será levada a sério, e já que o corpo, (o nosso e o das vacas) não é lá a grande maravilha que muitos otimistas fingidos e babacas tentam proclamar... por quê não aplaudir o espirito filosófico, religioso & empreendedor dessa moça? E já que é obrigatório presentear alguém nestes infantis, decadentes e melancólicos dias natalinos, dias em que os comerciantes transbordam simpatia e que os bancos, gentilmente, nos disponibilizaram o PIX... por quê não encomendar ao Papai Noel um desses potes??? 

Como diria meu amigo baiano: E vá fuder otro!

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https://www.correiobraziliense.com.br/diversao-e-arte/2021/12/4971285-influenciadora-lucra-mais-de-rs260-mil-por-semana-vendendo-pum-engarrafado.html

segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

Já ouviu falar das mulheres mergulhadoras da Ilha de Jeju? (Um documentário excelente)

"Em Jeju tem muitas mulheres, muitas pedras e muito vento... (...) Aqui é melhor nascer vaca do que nascer mulher..."
(Personagem do documentário)


domingo, 19 de dezembro de 2021

VÁRIAS... O Ministro Queiroga e Pilatos...



 "Isolar-se naquela quietude em que o homem se transforma num vegetal que pensa... (P.)

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Mas, só em janeiro? 

"É preciso, realmente, uma análise mais aprofundada"? E consultar a sociedade? Ora!, Quê sociedade, camarada Ministro? A sociedade hiberna no aprisco e só sabe lamentar-se e correr atrás de migalhas! Não sabe nem quem são seus avós... 

Tudo isso seria um truque para turvar as águas, dando assim a impressão de profundidade? Uma estratégia para tentar chegar ao alto da lona do circo?...

Até janeiro..,(!?) Até lá, praticamente as crianças já serão adultas e talvez já nem seja mais necessário vaciná-las! Algumas, podem até já ter sido enterradas...

Seria um ressentimento secreto dessa gente, contra as crianças? Estariam possuídos pelo espírito de Pilatos? 

Lembram de Pilatos? O primeiro cara a, verdadeiramente, preocupar-se com a explosão demográfica e a tomar uma medida prática contra o crescimento populacional desmedido do mundo... em outras palavras: o inspirador da teoria malthusiana... 

Sem falar que, por um capricho secreto de outro ministro, agora do STF, também deixaram para o ano que vem o assunto do Passaporte vacinal nos aeroportos... Mas, para o ano que vem? Um assunto que até um bêbado decidiria em quinze minutos... O que está acontecendo com o cérebro dessa gente? Esse flerte com o crematório está em que item do CID 10?

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2. E quem leu os jornais do Amazonas nos últimos dias ainda está escandalizado e rindo a toa, com o ocorrido na Câmara Municipal de Manaus. Os 40 vereadores (repito: 40!), na derradeira sessão do ano, turbinaram em 80% a chamada verba de gabinete, e decretaram um aumento do número de assessores, de 35 para 40 para cada vereador. (repito: cada um dos 4o vereadores terá agora 45 assessores)... Que tal? Mesmo quem não tem grandes conflitos morais com os que assaltam os cofres públicos, está meio acelerado com esta noticia. Principalmente, quem conhece aquela cidade e sabe que se você, do Teatro Amazonas, der 200 passos para a esquerda ou 200 para a direita, atolará as botas nos esgotos e nas águas de cheiro que escorrem do banheiro das moradias; sem falar dos ribeirinhos e das palafitas que circundam a cidade e que são bem mais precárias e surrealistas do que as dos Bajau (ciganos do mar) lá dos mares da Tailândia... Como diria Henri Miller: 'é o brejo emocional que se tem que atravessar para chegar ao grande pantanal...' Mas, dr., o que é um sibarita? E essa voracidade, (seria pela proximidade com os trópicos? Com a linha do Equador?) não causaria tanto espanto se não fossem as imagens recentes da pandemia que vieram de lá e que ninguém esquece: ah!, aqueles ambulatórios sucateados com correntes e cadeados nos portões; os pacientes chegando & partindo com aquele olhar sanpaku... como se estivessem ouvindo algum tipo de acusma vinda da floresta... o contrabando de oxigênio e os 'agentes' de saúde em férias... E a obstinada coluna dos necrológios dos jornais... O mendigo K que já morou lá, me dizia: Bazzo, se por alguma razão houvesse uma nova diáspora por aqueles lados, ou se você retirar o capital árabe e judeu da "zona franca", aquilo lá se transformará, em menos de vinte dias, numa aldeia de clochards, de índios catequizados e de indigentes de todas as laias e etnias...

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3. Na caminhada deste domingo, ali pelos arredores da igreja de Santa Úrsula, uma senhora, bem acima do peso, que estava sentada no meio fio, ao ver-me, levantou um cartaz pedindo dinheiro para o almoço... Era uma senhora meiga e tranquila que me fazia pensar tanto em Cesare Lombroso como numa cafetina ou numa cortesã aposentada... Na volta, quando da igreja ainda vinha o som da choradeira dos beatos a cena se repetiu. Quando percebeu que eu não ia 'colaborar', começou a lamentar-se, e a dizer que se chamava Ursula, como a Santa. A Santa - foi me dizendo - que nos primórdios do cristianismo morreu como mártir, lá na Alemanha, junto a mais de dez mil companheiras... e todas virgens... E insistia que não sabia por quê até então ninguém havia lhe dado alguma ajuda, por menor que fosse...  Inspirado pela cantoria gregoriana, me atrevi a orientá-la: Minha senhora, com esse excesso de peso e com essa obesidade toda, a senhora deveria é estar pedindo ajuda para uma bariátrica... Ela riu, simpática e miseravelmente, (a hipótese de Lombroso ficou mais evidente que a da cafetina aposentada) enquanto os beatos continuavam choramingando lá do outro lado das cercas.., só que, por questões metafísicas... Um velhote bem decadente, desses que caminham como se estivessem pisando num cabo de aço esticado no meio das nuvens e que acabara de sair da igreja, vendo meu envolvimento com a mendigante resmungou: Ad Astra! Ad Astra? Perguntei. E ele, ainda com o cheiro do incenso da igreja, apontando para a Ursula faminta foi dizendo o que deve ter ouvido da Ursula mártir & virgem: alcançar a glória por caminhos árduos e espinhosos...

Botânica - Olhai os Lírios... eles também brocham... (E em menos de uma semana...)

 
"Correndo atrás do espírito, 

agarra-se a estupidez..."(Montesquieu) 

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sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

E... nos subterrâneos de um mundo medíocre & bi-polar...



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"Tenho, porém, o mérito de desvalorizar 
as clamorosas canalhadas literárias..."(P.)



 Lula ou Bolsonaro? Ciro ou Moro? Doria ou o Cabo Daciolo? Simone Tebet ou Alessandro Vieira.... Sabonete Gessy ou Lever ou Lux? Uma aspirina ou um dorflex? O Datena ou o Faustão? O emplastro sabiá ou o Nexcare? Pasta Colgate ou Sensodyne? Arroz Tio João ou Urban? Feijão carioquinha ou Azuki? Ateísmo, monoteísmo ou politeísmo ou paganismo? Peito de peru ou mortadela? Terrivelmente evangélico ou terrivelmente católico? Laico ou, sorrateiramente, a serviço do clero? E desviando recursos para o sub-solo das catedrais? Cesta básica ou Auxilio Brasil? Jejum ou bariátrica? Um jardim esplendoroso tipo o da Babilônia, ou um simples e solitário vaso de xaxim onde, ao lado de um Lirio de Santo Antonio, cresce temerosa uma muda de cannabis? Aliar-se aos EEUU ou ao Putin? Ou ao Xijinping? Ou a fraude é a mesma? Extremo Oriente ou Extremo Ocidente? Ser duro como um diamante ou mole como uma lata de manteiga esquecida no armário da garagem? Manteiga Italac ou Paracatu? Ou President La motte? Doutor, o que é um eufemismo?

Direita ou esquerda? Para o Centro ou para uma lateral? Continuar escravo in loco ou em home office? À Constituição ou à Bíblia? À Bíblia ou ao Corão? Ou à Cabala? Ao Diário de Sierra Maestra ou às experiências místicas da Irmã Dulce? Ou ao Evangelho segundo os espíritas? Ou ao Tarô mitológico? Ou à tagarelice, de Plutarco?

Arroz integral ou branco? Aspargos ou brócolis? Preocupar-se mais com a próstata ou com a demência? Marchar estoicamente para os  900 anos, como Matusalém ou inventar uma tuberculose e morrer com 50 como os poetas histéricos que nos antecederam? Num dilúvio ou num deserto? Socialismo ou capitalismo? Ou o anarquismo? Ah!, a democracia! Mas qual? A de Stálin (com seus Gulags) ou a de Mussolini, (com seus Cardeais)? Vamos ficar do lado do proletariado ou do Lupemproletariado? Ingressar na seita de Lênin ou Bakunin? Ou voltar aos tempos dos Czares, de Rasputin e dos escambos? E o bardo que aparece nos bares com seu violão e seu cachorro, teria chegado do Piauí ou da Bahia? Seria um dos 'sinais' profetizados por Raul Seixas? Tem origens na solidão dos latifúndios, na bruxuleante e petite burguesia ou seria outro enviado? Um avatar de Lampião? Ah!, e devemos submeter-nos aos energúmenos da antiga imprensa escrita ou aos da tagarelice falada? Freud ou Jung ou Xico Xavier? Carnívoro ou vegetariano? Uma folha de alface? Uma cenoura vegana ou a buchada de um bode? Uma vaca ou uma galinha? Ovos caipiras ou de granja? Paulo Coelho ou Padre Cícero? Monogâmico ou freqüentador de lupanares? Lupanares ou puteiros? Celibatários e trouxas  como os capuchinhos ou reprodutores como búfalos e atormentados por um harém de despirocadas? Afinal, quem não se contenta com uma, merece várias! Identitários, só para estar na moda e agradar os colonizadores; ou despersonalizados só porquê é necessário facilitar o jogo e a filosofia da miséria? Bem como a miséria da filosofia...

E quê miséria! E quê carma patético...

Imunidade ou impunidade? Liberdade de expressão ou o silêncio dos cemitérios? Lula ou Bolsonaro?  Urnas eletrônicas ou os caixões de papelão? Fugir ou ir de encontro ao vírus? Que, afinal, veio da Ásia ou do fundo de nossas consciências? Ivermectina ou chá de Quebra-Pedra? Patriota ou cidadão do mundo? Dormir ou varar a noite na beira das estradas vendo 'fechar-se as últimas pálpebras da cidade' e admirando o céu abarrotado e forrado de estrelas? Esperando por Papai Noel? Ou por Cristo? Ou por Godot? Um escapulário ou um patuá? Ah! "Tudo falso como o balancete de um banco!Mas, e para Pasárgada, será necessário Passaporte  Vacinal? E os anéis de prata negociados em Taxco e revendidos na Ramblas de Barcelona? Mas estas pedrinhas não são falsas, moço? Ah!, cliente, essa pergunta só mesmo Quetzalcoatl poderia responder... 

Lula ou Bolsonaro! Quê miséria! Que melancólica sina! Mas é o que temos para hoje! E o moço do semáforo, vestido meio de palhaço, meio de Papai Noel, será um cabriolés legítimo? Um mendigo tradicional ou um trombadinha?

Cliente, desculpe... aqui não se pode ficar filosofando, me diga: o senhor quer batata baroa ou mandioquinha? Ou vai batata doce mesmo...


quinta-feira, 16 de dezembro de 2021

Enquanto isso... No Le Monde Diplomatique...

 "Quanto mais substancial é a experiência estética de um indivíduo, mais sólido é seu gosto, mais afiado é seu foco moral, portanto, mais livre ele é, mesmo que não seja necessariamente mais feliz. (...) Em sentido antropológico, o ser humano é uma criatura estética antes de ética..."(Joseph Brodsky, in: Sobre o exílio)

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quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

Vai um bilhete psicodélico aí?


 "Sem o que nos é proibido, a vida não valeria um chinelo velho..."(Théodore de Banville)

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Com o mesmo patriotismo e cinismo que escreviam na entrada de Auschwitz: o trabalho liberta (arbeit macht frei) agora, os comerciantes alemães estão sugerindo que se engula o estresse. Engolir? Mas como? E o figado? Por quê não cuspir? E, claro, se valendo malandramente da erva sagrada; da maconha, da cannabis, dessa singela erva, transformada quase numa espécie de 'sopro da vocação', que nossos antepassados (os carcamanos) deveriam espargir como adorno sobre os canelones achando que se tratava de manjericão mas que, assim que os comerciantes descobriram seu potencial mercantil, a transformaram num negócio clandestino, esotérico & obscuro.., quase litúrgico e mais rentável que os negócios da China... Lembram do Carlos Castanheda, que a chamou religiosamente de Erva do Diabo? Vai um baseado aí? Pergunta entredentes o garçom, às duas mocinhas que caíram na noite para esperar o Papai Noel... Mitos! Fábulas! Placebos! Auto engano! Como seria possível suportar a vida (essa peroração monótona e rasteira) sem mitos, sem fábulas, sem placebos, sem uma garrafa de cachaça ao lado do travesseiro e sem tentar enganar-se permanentemente? Tudo bem! Enquanto se trata de um simples bilhete de metrô temperado com as sementes do cânhamo, tudo bem... ainda vai, é folclórico! É protestante! É o trovejar de uma nova Era! Lembram da Era de Aquarius? 'Quando a lua estava na sétima casa...' Bah! O que diria dessa bobagem o autor de Zaratustra? Ou aquele outro velho carrancudo de Hamburgo que escreveu: O mundo como vontade e representação? Enfim, esse exotismo germânico pode até estar sendo uma homenagem aos anos hippies da Angela Merkel... Tudo bem, o problema é quando voltarem (seguindo as recomendações de Lutero) a distribuir pedacinhos de merda desidratada, envolta em papeis brilhantes ou em envelopes fluorescentes, paralelamente a uma campanha tipo as do velho Goebbels, convencendo aos adolescentes e a seus pais, de que, se ingerida pela manhã, com os braços levantados na direção da Berliner Dom, ou na direção da tumba de Frederico I, da Prussia, ou até mesmo sobre os escombros no Murro derrubado... em pequenas doses, pode garantir ao sujeito, além de uma 'viagem astral', a prevenção e a cura de todos os males... E, principalmente, para "acalmar-se". Ah!, ficar chapado, babando e quietinho, de joelhos... em adoração...  Quase num transe religioso!? Aliás, o protestantismo não seria, como disse Remy de Gourmont, um judaísmo atualizado?
E os "empreendedores e prósperos" adolescentes tardios, de 28, 30 e até 40 anos, que no passado recente, como apóstolos da transgressão, atravessavam o Mediterrâneo para ir a Tanger queimar haxixe; ou iam cambaleantes, penitentes e místicos (como vítimas da história) pelas estradas lamacentas do Nepal para, litúrgica ou satânicamente, injetar-se alguns derivados, agora fazem fila nos guichês do U-Bahn de Berlim, para comprar e ingerir nada menos que um bilhete psicodélico!!! Que, inclusive, também é feito com a mesma farinha do pão azimo e que também se dissolve na língua...  como uma hóstia! (Curiosamente, segundo os estudiosos, a palavra hóstia vem do antigo hebraico e significa vítima.) Ora!, mas que voracidade! Não estão satisfeitos com as três doses da Pfizer? E com o reforço da AstraZeneka? E com a reserva da Jansen? E com os milagres advindos de Pequim e do Butantan? E com as paneladas de Sauerkraut?
A decadência, a infantilização e a bovinização são indisfarçáveis! E depois reclamam e dizem não entender a lógica piegas e anacrônica da vida e do cotidiano; o be-a-bá tautológico da manada esclarecida; a hibernação da ciência; o lero-lero do charlatanismo universal; a solidão do aprisco e muito menos as seguidas mutações, a heróica resistência e o papel civilizatório e revolucionário do vírus...

 




segunda-feira, 13 de dezembro de 2021

Da paleontologia às virilhas...

"Je regarde la lune, et je songe que vous la regardez; c'est un étrange rendez-vous..."(P.)



 

Como é de conhecimento de todo mundo, passar um ou dois anos enclausurado (tanto em casa como numa penitenciária) é tempo suficiente para ir assumindo comportamentos bizarros; apresentando transtornos multiples até então ignorados e até mesmo ir vendo nosso DNA ser alterado... Sim, uma prisão altera o DNA até de uma pedra! Abaixo todos os tipos de prisões!

Foi nesse clima que ontem à noite, depois de tomar uma sopa de grão de bico e de lavar a louça, assisti a um programa de tv que, segundo as vovozinhas da quadra, existe há décadas. Se você não assistiu e gosta de filmes de terror, de um jeito de assisti-lo. Do primeiro ao último momento um festival de desgraças, um show dos detritos da humanidade. Além da possibilidade de alguma psicopatologia midiática, qual seria a intenção de lançar sobre  a população ignorante, mística, trágica, frágil e alienada, todo aquele pântano escatológico, num domingo à noite e ainda intercalado por uma e outra propaganda de porcarias que 90% dos espectadores nunca conseguirão comprar? Será que não imaginam o efeito tóxico que todo esse lixo e que toda essa 'trouxa' de roupa suja têm sobre o sistema nervoso do populacho? A propósito, qual é mesmo o papel de um ombudsman?

Iniciam com os rastros e os estragos que os vendavais e furacões deixaram nos Estados Unidos e passam para o afogamento de um escolar nas cachoeiras de Goiás. Daí saltam para o caso de um bebê com síndrome de Dawn que teve que ser entubado por estar com Covid, tudo, lógico, temperado pelas imagens do desespero e da angústia de seus pais. Daí, saltam para a moça que teve os cabelos sugados numa piscina e para o horror que isso representou para ela e para seus colegas. Dessa reportagem vão para Minas Gerais para dissertar sobre trapaças cartoriais e sobre traficantes de crianças e de mulheres para os EEUU. E já que estão em Minas Gerais, aproveitam para descrever em detalhes a violência de um homem contra sua mulher. E já que estão falando de violência contra a mulher, saltam para Recife, onde descrevem o horror vivido por uma mulher, durante uma década, na relação com um louco e alto funcionário do Estado. E, como conclusão, dedicam quase meia hora ao caso do paleontólogo lascivo de uma universidade do Rio de Janeiro, que teria, em seu tempo de cátedra e de DOCÊNCIA, assediado e abusado sexualmente dezenas de alunas... Que tal? Querem mais?

Neste último caso, ainda procuraram arrancar minucias daquelas mulheres que tiveram a intimidade violada e que se propuseram a falar. Haveria algum tipo secreto de excitação e de gozo nisso? Observem como fica cada dia mais evidente a semelhança que há entre os estupradores e os que se entregam apaixonadamente ao combate do estupro... Será que não estaríamos diante de uma espécie de maldição determinista? Em caso afirmativo, será que para transformar um pato num cisne basta esticar-lhe o pescoço?

Mas, convenhamos: apesar do escândalo, o Dr. Don Juan em questão, não está inovando nada. Uma vez que já lá na antiga Bolonha e na secular Salamanca, os critérios acadêmicos para conceder bolsas, para incentivar pesquisas e para permitir a publicação de artigos nas  monótonas revistas científicas, sempre estiveram ligados à liberação e à socialização das 'partes baixas' das (ou dos) alunas concorrentes... Ou não? Se 'não dá', está fora! Perde a bolsa! Não arrancará jamais um "excelente!!!" do velho e afobado mestre... 

Entre todas as bizarrices do programa, duas, neste último caso, me pareceram mais curiosas ainda: primeiro, o fato do abusador ser paleontólogo. Paleontólogo?Aquele que cava e revira o mundo superficial e presente em busca de vestígios subterrâneos de mundos pretéritos... (Exemplo: através de uma escavação qualquer, constatar que a catedral Y foi edificada sobre os destroços de uma mesquita X, ou de um centro de umbanda K, etc.). E segundo, o fato de uma das abusadas, ao relatar que foi tocada nos genitais, dizer singelamente: "ele enfiou a mão aqui nas minhas virilhas". Virilhas? Qual é o problema que ainda interdita e impede que aquela parte peluda do corpo feminino (atualmente depilada), possa ser nomeada? Fui pesquisar. Ah!, como diria P. "São os mistérios que fazem o mundo parecer ainda mais vasto..."

Mas, voltando ao show de horrores da televisão, qual é mesmo o papel de um ombudsman?

Enquanto isso...

domingo, 12 de dezembro de 2021

O Mendigo K e o passaporte da vacina...

- "O que é um boi, titio?

- Um touro que passou a pertencer à academia...'

Paul Valery


A mais recente discussão e polêmica entre palhaços tem sido a questão da obrigatoriedade (ou não) do tal PassaporteVacinal. Até pessoas aparentemente ilustradas, como se tivessem saído do Paraíso de Alice estão injuriadas e sentindo-se prejudicadas em sua liberdade com a obrigatoriedade do tal passaporte. Ora, será que esses Apóstolos da Liberdade esqueceram que desde que se nasce, se tem que apresentar "passaportes" para tudo? Que sem a Carteira de Identidade, sem o CPF e sem o Titulo de eleitor não conseguem usar nem uma privada pública. E que nunca reclamaram?... Por que, agora, todo esse drama infantil com uma picada e uma papeleta (ou um papelote) a mais?

Esse era o tema da discussão entre o Mendigo K e a velhinha da Armênia, enquanto esperavam que a padaria abrisse as portas. No momento em que os vi, escutei que ela, apontando para seu capote em farrapos, o ironizava chamando-o de Akaki Akakiévitch, como o personagem de Gogol. Os dois, apesar de conscientes de que o mundo é uma imensa penitenciária, pareciam favoráveis à obrigatoriedade do tal comprovante de vacina, já que o vírus (apesar do teatro das farmacêuticas e dos imunologistas) parece estar cada dia mais saudável e que, um sujeito de 9 ou de noventa anos querer colocar alguém em risco, seja uma pessoa, um cachorro, uma cabrita, outra tribo ou um país, com o argumento de que está preservando sua liberdade, é uma canalhice e uma doença infantil (como diria Lênin). Liberdade? Que porra é essa? Quem é que disse que existe liberdade para alguma coisa? Preste atenção, como todo mundo, desde que nasce até o dia que morre, só faz seguir protocolos e arrastar correntes... Uma corrente a mais ou a menos, que diferença fará? E depois, todo mundo  sabe que já há uns 500 anos antes da novela de Cristo havia a neurose do passaporte! - Dizia ela! - E ninguém sentia que sua liberdade estava sendo tolhida por isso... Tente entrar numa igreja ortodoxa da Armênia com as tetas de fora como essa moça aí - aponta para uma mulher que está na fila, um passo a frente deles, vestindo uma blusa minúscula dessas de algodão transparente que custam 11 reais em todas as biroscas... -, para ver se consegue! Ou tente entrar na Mesquita Azul de Istambul sem tirar as botas ou os tênis, para ver o que te acontece! Ou mesmo empregar-te como cozinheira por aí, na casa de uma família de Novos Ricos, sem apresentar um atestado de que não estás com os pulmões furados pela tuberculose ou com sífilis nos ossos... E isso é normal, saudável... Minha tia, por exemplo - segue falando - que era cafetina num dos tantos prostíbulos que havia aqui na cidade, durante sua construção, só aceitava em seu estabelecimento, mulheres que apresentassem exames trimestrais. Porquê sabia que uma gonorréia mal curada e transmitida a um cliente colocaria todo seu negócio a perder e disporia contra ela - para lembrar Henri Miller - toda a trouxa de roupa suja da humanidade...    

Ora.., e aquilo já não era o que hoje estão chamando de passaporte, apenas com outro nome? E nenhuma delas, inclusive as hebefrênicas e as mais epicuristas, achava que, por isso, sua liberdade estava sendo comprometida. Pelo contrário! Madame,  - sempre me diziam - não se preocupe, o que é uma folha de papel a mais para uma puta?

A propósito, por falar em gonorréia, quem é que não se lembra que em recente pesquisa feita no Canadá, ficou demonstrado que o matrimônio monogâmico ainda vigente no mundo, tem suas origens não no "amor", como se crê, mas num truque sanitário da ANVISA da época, para tentar frear a pandemia causada pela bactéria do gonococos que se alastrava na população até com mais rapidez que a do Coronavírus de hoje? 

Liberdade! Ah! Esse fantasma ilusório, como dizia Ruskin, que os homens chamam liberdade! De onde nos veio essa ilusão? O próprio ministro da saúde, que ontem garganteava que prefere morrer a perder a liberdade, não sabe o que está dizendo! Ele próprio, recentemente, foi obrigado a ficar trancafiado em quarentena nos Estados Unidos. E ficou lá, enfiado num hotel, quietinho e submisso, vigiado por câmeras e por alcaguetes, sem dar um pio e sem poder sequer colocar a cabeça para fora da gaiola. Se realmente preferisse morrer a perder a liberdade, - como diz - teria saído correndo e gritando pelas ruas daquela Babilônia até deparar-se com um brutamonte, ex combatente e paranóico do Vietnã ou do Iraque que, sem pestanejar, lhe descarregaria uma pistola nas costas... Ou no peito, dependendo da hora e das condições topográficas...

O Mendigo K a ouvia com um certo prazer. E quando ela fez um silêncio para recuperar o fôlego, ele agregou: E tente entrar na Bibliothèque l'Alcazar, de Marseille para folhear uma obra rara de Rimbaud, para ver se consegue, sem deixar na entrada o passaporte como caução... Ou viajar para o Nepal sem a vacina da Febre Amarela... Ou fazer fotos no interior do metrô de Beijing... Ou apedrejar um Ibis no Cairo... Ou tocar, sem luvas, no chapéu de um Dandy tupiniquim...

Sinceramente, não entendo por quê tanto escândalo e tantos despachos sobre essa bobagem se, até hoje, para qualquer coisa que se pretendeu fazer sempre tivemos que exibir algo equivalente... Tente, por exemplo, fotografar um evento no Congresso Nacional. Duvido que consigas entrar lá sem antes ter que apresentar o crachá a um guarda,  ou, pelo menos, a coleira que identifique a máfia para quem trabalhas! Etc... etc..., etc. Porque então, tanta resistência se, nos dias de hoje, não se consegue mais nem construir um galinheiro sem apresentar o 'passaporte' de arquiteto e o comprovante de ter sido aluno do Niemayer... Nem mais receitar umas gotinhas de Elixir Paregórico, sem antes apresentar comprovantes de ter feito 8 anos de residência no Johns Hopkins Hospital... E ninguém reclama!

Sem muita frescura, colocaram um ponto final na discussão, no momento em que o português, com cara de pouca paciência e de quem passou a noite inteira contabilizando moedas, acionou o mecanismo eletrônico das portas... O cheiro do pão recém saído do forno tornou momentaneamente o mundo numa maravilha! Antes de entrarem, ela cochichou em seu ouvido, referindo-se ao velho proprietário: esse idiota parece acreditar que em suas artérias ainda correm alguns glóbulos vermelhos do sangue do Marquez de Pombal...


sábado, 11 de dezembro de 2021

Sob a vigilância das máscaras...




E então, percebendo que o homem era, por natureza, canalha, farsante e mau caráter, ensinou-lhe como construir máscaras para si e para seus asseclas. E foi assim, que, sem saber, esse cinico demiurgo acabou por instituir os primeiros alicerces da moral, do parlamento e da hipocrisia...

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De vez em quando, de saco cheio dessa clausura estúpida, profundamente decepcionado com o tal Progresso da Ciência, quando um vírus de merda e invisível, coloca o planeta de joelhos e congestiona os cemitérios... e com a pia, todas as manhãs, cheia de pratos, frigideiras, copos e panelas... passo em revista as centenas de máscaras que, desde o alto das paredes de minha casa, me observam e percebo que, nesta manhã de sábado, parecem provocar-me: e aí, seu babaca? Vai ficar nessa mediocridade e lavando panelas até quando? Virou um macho-doméstico para sempre? Olha o rodo! Olha a vassoura! Olha os chinelos! Não esqueça de ensaboar bem as patas e de passar álcool gel no rabo! E ao fazer a barba, de usar água morna como nossos bisavós... E não coloque os pés fora de casa sem essa burca... E não esqueça o Band-Aid no calcanhar direito! Olhe a China! Olhe a Inglaterra! Olhe os EEUU! Olhe a puta que te pariu! Olhe a nova cepa! O mundo está cheio de cepas... Cada sujeito é uma cepa ambulante! Olhe a vacina! Se não fossem as vacinas ao longo da história, nem estaríamos aqui. Lembra da Pólio? Da tuberculose? Da gripe? Do sarampo? Da varicela? Da Febre Amarela? Do tifo? Da Hepatite? Do Tétano? Da Meningite? Da Caxumba? Da Rubéola? Da Coqueluche??? Sem elas o mundo seria uma enfermaria bem pior e bem mais diversificada do que já é!  Olhe o natal! Olhe o Ano Novo! Sem fogos de artifício, o que será das fábricas clandestinas de explosivos e do Natal e do Ano Novo!? Como é que o rebanho vai se divertir se as lojinhas de 1,99 estiverem fechadas? E os comerciantes? Como é que vão ficar os comerciantes? Como é que essas hienas vão sobreviver? Olhe o papai Noel fantasiado de Coca Cola e pendurado nas soleira das janelas! Olhe os mendigos bêbados e em farrapos nos semáforos! Olhe as crianças sentando entre as pernas do Papai Noel nos shoppings sob os olhares quase equinos das mamães... Olhe a manjedoura e as vacas! E as luzinhas de Wuhan piscando! E a musiquinha terrível e reacionária da Noite Feliz! Olhe o João de Barro que, por distração, montou seu iglu ao lado do poleiro de um carcará! E os amigos ocultos? E a missa do galo? Olhem o Galo da Meia noite! Para quem os galos cantam, afinal? E as declarações de amor e de felicidades despachadas por Whatsapp? E as manchetes dos jornais, nem um pouco laicas! E o populacho refratário a qualquer chispa de razão, mugindo! E o pisca-pisca dos celulares! E os braços dos presos para fora das grades das penitenciarias, clamando por um Habeas corpus... por um indulto, por uma saidinha, por uma visita íntima... ou por um Feliz Ano Novo! Feliz Natal! Olhe os governadores queimando pólvora de graça para anestesiar os pagadores de impostos e de propinas! Olhem o Papa, saudoso dos tangos argentinos, como um papagaio, voltando a falar em URBI et ORBI... Olhem os iates deslizando pelo lago quase encantado, lá pela meia noite, com uma menina febril, na proa, dançando a dança do ventre sob o clarão de uma lua esplendorosa, cínica e indiferente... Ouçam o estouro da quinta Veuve Clicquot e o tilintar das taças vindas da Bulgária... Ao fundo do firmamento, por trás dos tentáculos da burocracia, segundo a velhinha do lenço de seda amarela, uma mistura de manchas dá a impressão de ser um imenso retábulo pagão! Ah, - apesar da sociedade ser uma estufa para o cultivo dessa planta venenosa conhecida por  hipocrisia -, como somos felizes! Pelo menos nestes dias! Graças a Deus, estamos vivos! Não estamos entre os 600 e tantos mil que foram para o país sem retorno! Mas... Mas... Quem sabe até quando! O que virá no amanhã? 

De tão realizados e esperançosos, desta vez vamos "cumprir a promessa"e o regime de emagrecimento no primeiro dia de 2002 e nos preparar para reeleger o Bolsonaro ou para reeleger o Lula! Ah! como somos democratas! E livres! E racionais! Viva o livre arbítrio! Os canalhas se sucedem no poder há 1 século, enquanto os evangélicos e os católicos cada um atrás de suas máscaras e de suas ficções, disputam descaradamente o dízimo estatal & clandestino... Sim, mas tudo isso é normal! Faz parte do folclore que propunha Platão. É a República! Viva a turba refratária a tudo o que tem uma fagulha de razão e que marcha de cabeça baixa... e Deus acima, abaixo e ao lado de tudo e de todos... surdo, mudo e cego...

A primeira que ouvi fazendo-me esta provocação, destrocei com uma espécie de espada que comprei numa feira do Azerbaijão. A segunda, atirei pela janela... E as outras, mais cuidadosas, continuavam me olhando com ironia... E com quê olhares! Resolvi observá-las também. Afinal, os olhos... são os olhos... Não são a expressão da alma, como diziam nossos antepassados? E nossa convivência não é de agora... e depois, fui eu que as arranquei lá dos cafundós mexicanos para trazê-las para este circo renascentista e para este covil iluminista/lusitano... Estado de Guerrero! Guanajuato! Chiapas! Campeche! Michoacán!... O que é que aqueles melancólicos nativos pretenderam colocar em seus olhares? Estavam projetando os próprios, de desespero e de capitulação, ou os de cobiça, dos espanhóis? Ah, os espanhóis, aqueles evangelistas e catequizadores trambiqueiros que os obrigavam a negociar uma tonelada de ouro em troca de um salame e meia tonelada de prata em troca da Bíblia ou da apostila do Directorium inquisitorum, porquê, para o deleite dos deuses e dos monarcas de lá, era necessário revestir as estátuas de madeira da Catedral barroca de Toledo com lâminas de ouro... Ah, e elas seguem me observando... Umas, simpáticas e cheias de gratidão, outras visivelmente enfezadas... Mas apesar de quererem  dar-se uma importância maior do que têm, me parecem apenas aquilo que dizia Oto Bihalji-Merin: "o símbolo de alienação mais antigo que se conhece".

Passo para a biblioteca e elas seguem me olhando com ironia, mas já com um olhar até mais simpático. Agora penso num palestrante lá da UNAM, N. Rubio, V.J.: "O homem que se coloca uma máscara transforma, mesmo que seja temporariamente, seu ser e se põe em comunicação com o outro mundo. Sai de sua insignificância, de seu anonimato, de seu permanente desamparo e se converte num ser superior, poderoso e temível. Exerce de repente, um poder inesperado sobre seus semelhantes, que o eleva sobre eles..." Já, para Laing, a vaca sagrada da antipsiquiatria, "sob o manto de uma outra personalidade, a pessoa pode agir com muito mais competência"... Daí, talvez, os disfarces dos Césares quando deambulavam pelos prostíbulos; daí a capa e o batom dos travestis; o capuz dos torturadores...

Saio para a varanda e lá, as que adquiri nas montanhas de Huatla, nos arredores da cabana de Maria Sabina, me olham com a sobriedade de sempre. Ufa! Uma delas, zoomorfica, pendurada à altura de meus olhos, ao ver que me preparava para fotografá-la, murmurou, quase num tom fraternal, esta frase de John Everard: "Se estiveres sempre agarrado à letra da palavra, sempre lambendo-a, sempre mascando-a, que grande coisa fazes? Não admira que estejas tão faminto..."