"Logra o teu próximo,
porque o teu próximo te lograria"
(Dickens)
O Primeiro pecado - dizia - todos vocês, e até nossos cachorros já sabem qual foi: a pretensão de Adão e Eva de comerem da 'fruta do conhecimento'. Foram interrompidos no meio da trepação e da sacanagem, expulsos daquele asilo e amaldiçoados para sempre. Lembram?
Mas teve também um SEGUNDO PECADO: o atrevimento daquelas tribos de beócios, de construírem uma torre para, através dela, invadirem o território divino. Que tal?
A maldição de um deus, latifundiário, tímido e inseguro, foi imediata: a partir de agora, - disse o demiurgo - , cada um de vocês, bando de facínoras filhos da puta e miseráveis, falará um idioma diferente e ninguém mais se entenderá nesse mundo de merda! [Voilà porquoi le langage de l'aliené et de l'álieniste sons tous deux des langues mortes. Chacun s'efforce de nier son propõe mensonge: le fou parle le langage faussé du 'symptôpme', le thérapeute utilize la terminologia truquée du 'diagnostic' et de ses traitements...] Thomas S. Szasz
Um dirá A e o outro entenderá B. E se matarão nos fundos dos botecos e dos quintais.., como lá na Palestina.., lá no Haiti e ali na Baixada Santista...
Enfim, deu nessa porra-louquice e nesse desvario que todos estamos vendo e vivendo...
"A rã atira-se à água, como se quisesse suicidar-se..."
Ramón Gómes de la Serna
Meu correspondente de Lagos (na Nigéria), acaba de enviar-me notícias variadas e surrealistas daquela cidade, entre elas a das histórias de feitiçaria (koro, ode ora) relacionadas a roubos mágicos de pênis (esquisitice que os freudianos e os psiquiatras de lá logo se apressaram em rotular de síndrome de retração genital). Quase uma epidemia naquele país entre os anos de 1975 e 1977. De um momento para outro, um sujeito, num ônibus, num mercado ou em qualquer lugar, depois de fazer contato com algum estranho, tinha a sensação de que seus genitais estavam desaparecendo. Apalpava as virilhas e não encontrava nada. Quando "identificava" o responsável e começava a gritar: me roubou o pênis! Me roubou o pênis!, a turma da rua que corria em seu socorro, quase sempre assassinava o culpado... Muitos eram até queimados vivos. Depois, na maca de um ambulatório, a vítima do feitiço, recebia o diagnóstico de que estava tudo bem e normal com suas ferramentas. (!)
O texto entrava em detalhes tão loucos, tão ameaçadores e de um surrealismo nunca imaginado a ponto de, conforme ia lendo, eu mesmo apalpar-me para ver se tudo estava bem.
Concluía seu relato sugerindo-me que lesse o livro de Frank Bures: Geografía de la locura (en busca del pene perdido y otros delírios colectivos), que acabara de enviar-me, sobre assunto tão fascinante, como ameaçador.