quinta-feira, 14 de março de 2024

A CONFUSÃO DE LÍNGUAS E O SEGUNDO PECADO...


"Se vós não fôsseis oprimidos, 
serieis opressores..."
(Bini)



Nesta manhã chuvosa de quinta-feira, apareceu entre a mendigada, um sujeito com um paletó azul e um livro negro em baixo do braço.  Apesar de toda a turma já ter comprado crack e pó por seu intermédio, se dizia pastor. E, de quinze em quinze minutos, fazia um pequeno sermão àqueles filhos de Cain esqueléticos e maltrapilhos.

O Primeiro pecado - dizia - todos vocês, e até nossos cachorros já sabem qual foi: a pretensão de Adão e Eva de comerem da 'fruta do conhecimento'. Foram interrompidos no meio da trepação e da sacanagem, expulsos daquele asilo e amaldiçoados para sempre. Lembram?

Mas teve também um SEGUNDO PECADO: o atrevimento daquelas tribos de beócios, de construírem uma torre para, através dela, invadirem o território divino. Que tal?

A maldição de um deus, latifundiário, tímido e inseguro, foi imediata: a partir de agora, - disse o demiurgo - , cada um de vocês, bando de facínoras filhos da puta e miseráveis, falará um idioma diferente e ninguém mais se entenderá nesse mundo de merda!  [Voilà porquoi le langage de l'aliené et de l'álieniste sons tous deux des langues mortes. Chacun s'efforce de  nier son propõe mensonge: le fou parle le langage faussé du 'symptôpme', le thérapeute utilize la terminologia truquée du 'diagnostic' et de ses traitements...] Thomas S. Szasz

Um dirá A e o outro entenderá B. E se matarão nos fundos dos botecos e dos quintais.., como lá na Palestina.., lá no Haiti e ali na Baixada Santista...

Enfim, deu nessa porra-louquice e nesse desvario que todos estamos vendo e vivendo...


segunda-feira, 11 de março de 2024

LOUCURA. A Nigéria e os ladrões de pênis...




"A rã atira-se à água, como se quisesse suicidar-se..."

Ramón Gómes de la Serna


Meu correspondente de Lagos (na Nigéria), acaba de enviar-me notícias variadas e surrealistas daquela cidade, entre elas a das histórias de feitiçaria (koro, ode ora) relacionadas a roubos mágicos de pênis (esquisitice que os freudianos e os psiquiatras de lá logo se apressaram em rotular de síndrome de retração genital). Quase uma epidemia naquele país entre os anos de 1975 e 1977. De um momento para outro, um sujeito, num ônibus, num mercado ou em qualquer lugar, depois de fazer contato com algum estranho, tinha a sensação de que seus genitais estavam desaparecendo. Apalpava as virilhas e não encontrava nada. Quando "identificava" o responsável e começava a gritar: me roubou o pênis! Me roubou o pênis!, a turma da rua que corria em seu socorro, quase sempre assassinava o culpado... Muitos eram até queimados vivos. Depois, na maca de um ambulatório, a vítima do feitiço, recebia o diagnóstico de que estava tudo bem e normal com suas ferramentas. (!)

O texto entrava em detalhes tão loucos, tão ameaçadores e de um surrealismo nunca imaginado a ponto de, conforme ia lendo, eu mesmo apalpar-me para ver se tudo estava bem.

Concluía seu relato sugerindo-me que lesse o livro de Frank Bures:  Geografía de la locura (en busca del pene perdido y otros delírios colectivos), que acabara de enviar-me, sobre assunto tão fascinante, como ameaçador.




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EM TEMPO - Como a relação LOUCURA/GEOGRAFIA E CULTURA, para mim, sempre esteve em pauta. Embrenhei-me na leitura.
"Além do koro, essa síndrome da retração dos genitais lá da Nigéria, - diz o autor - existia um monte de outras pelo mundo, tão bizarras quanto aquela. Na Malásia, - por exemplo - havia o amok, onde a pessoa afetada passava um tempo amargurada, depois entrava em uma fase homicida aleatória e depois não lembrava de nada. Também na Malásia algumas pessoas padeciam de latah, um estado hipnótico provocado por um susto repentino, cujas vítimas passavam a imitar as palavras e os gestos das pessoas ao seu redor. No Japão, algumas pessoas desenvolviam o taijin kyofusho, um pânico aterrador à vergonha alheia e com vários subtipos: sekimen-kyofu (fobia a enrubescer), subo-kyofu (fobia a um corpo disforme), djikoshisen-kyofu (fobia ao contacto visual direto), e jikoshu -kyofu (fobia ao próprio cheiro corporal). Também se diagnosticou entre os jovens japoneses uma espécie de pandemia silenciosa, o hikikomuri, um retiro social extremo. No Camboja, as pessoas sofriam de khydl cap (ataques de vento), uma substância parecida com vento que circulava pelo sangue. Na Índia, os homens temiam ser afetados pela síndrome conhecida por dhat, depois da perda de uma grande quantidade de sêmen, e na região do Rajastão o problema era a síndrome de gilhari cujos pacientes chegavam aos hospitais com a queixa de estarem com a nuca inchada causada por um tipo de lagarto que se movia por sob sua pele..."etc, etc, etc, etc... (páginas 58 e 59)
Diante de uma espécie tão louca e tão à flor-da-pele, é bom lembrar o conselho daquele médico e feiticeiro suíço conhecido por Paracelso: O médico deve ser um viageiro inveterado, pois deve inquirir permanentemente as loucuras mundo...









domingo, 10 de março de 2024