sexta-feira, 30 de março de 2012

Putas contra contesãs...


Além de inédita é também curiosa a greve que as prostitutas, principalmente as da categoria master, estão promovendo desde quarta-feira na Espanha contra os banqueiros. Em protesto contra a crise econômica naquele país, se negam peremptoriamente a abrir as pernas para eles enquanto estes não cumprirem com rigor com suas “responsabilidades fiscais”, facilitando linhas de crédito para famílias arruinadas, para empresas que estão a meio passo do abismo e etc. Que tal? Algo parecido só se viu mesmo lá na dramaturgia de Aristófanes. Lideradas por uma senhora chamada Lisístrata, há dois mil e quinhentos anos atrás, as mulheres entraram em greve de sexo obrigando seus maridos a acabarem com a Guerra idiota e fratricida entre atenienses e espartanos, guerra que parecia não ter fim. Parece que lá deu certo. Já, com as senhoras espanholas, tenho minhas dúvidas, pois elas não sabem com quem estão mexendo... Não lhes parece extremamente simbólico que essas duas profissões entrem em confronto, logo elas que têm tudo a ver uma com a outra, que têm as mesmas origens e que funcionam de maneira idêntica??? Ninguém ignora o rigor da simbiose que sempre houve entre essas duas atividades e muito menos o tempo em que usura e prostituição vieram de mãos dadas rebolando por la media-luz de los siglos...

Putas contra contesãs...


Além de inédita é também curiosa a greve que as prostitutas, principalmente as da categoria master, estão promovendo desde quarta-feira na Espanha contra os banqueiros. Em protesto contra a crise econômica naquele país, se negam peremptoriamente a abrir as pernas para eles enquanto estes não cumprirem com rigor com suas “responsabilidades fiscais”, facilitando linhas de crédito para famílias arruinadas, para empresas que estão a meio passo do abismo e etc. Que tal? Algo parecido só se viu mesmo lá na dramaturgia de Aristófanes. Lideradas por uma senhora chamada Lisístrata, há dois mil e quinhentos anos atrás, as mulheres entraram em greve de sexo obrigando seus maridos a acabarem com a Guerra idiota e fratricida entre atenienses e espartanos, guerra que parecia não ter fim. Parece que lá deu certo. Já, com as senhoras espanholas, tenho minhas dúvidas, pois elas não sabem com quem estão mexendo... Não lhes parece extremamente simbólico que essas duas profissões entrem em confronto, logo elas que têm tudo a ver uma com a outra, que têm as mesmas origens e que funcionam de maneira idêntica??? Ninguém ignora o rigor da simbiose que sempre houve entre essas duas atividades e muito menos o tempo em que usura e prostituição vieram de mãos dadas rebolando por la media-luz de los siglos...

quinta-feira, 29 de março de 2012

Quintessência da quinta...

I. Demóstenes foi um menino e um adolescente gago. Com enorme esforço conseguiu curar-se, aprendeu oratória e chegou a uma posição de muita confiança e destaque na política. Depois, repentinamente, de uma hora para outra, viu decair tanto sua reputação quanto sua influência. Chegou mesmo a ser condenado por ter se deixado comprar por outros políticos. Foi preso mas conseguiu fugir, exilando-se por longo período. Quando percebeu que estava cercado pela polícia suicidou-se ingerindo veneno. Viveu na Grécia de 384 a 322 a.C. Uma de suas frases mais conhecidas era esta: “Pequenas oportunidades são muitas vezes o começo de grandes empreendimentos”.

II. Como você, todo mundo já esperava: o Congresso aprovou o consumo de bebidas alcoólicas nas arquibancadas dos jogos de 2014. O que, com certeza, deve ter influenciado nessa decisão liberal dos deputados foi a peleia e os homicídios de rua entre as torcidas na semana passada: sóbrias elas são um perigo!, - devem ter refletido os representantes da turba. Como consolo e como contra partida aprovaram também o desconto nos ingressos para velhinhos, para deficientes e para adolescentes...

III. A pesquisa de ontem concluiu que no Brasil se está lendo menos. Menos do que anteontem, isto é, nada. Um ou dois livros por ano por cabeça! Aliás, no topo das vendas continua o livro Ágape, do padre Marcelo, uma recopilação infantil e quase demente da bíblia e de anedotas do gênero.

IV. É provável que Tales de Mileto, Benjamin Franklin, Faraday etc., ao descobrirem como gerar e como armazenar eletricidade, nunca tenham imaginado que se viesse destinar sua descoberta também para a tortura. Depois das maquinetas usadas nos porões das ditaduras, das cadeiras elétricas, dos eletrochoques nos manicômios... agora qualquer idiota (em nome do Estado) pode levar uma das tais “armas de choque” na cintura e dispará-la contra quem achar conveniente... A sociedade ainda pagará um preço muito alto por sua burrice, complacência e passividade...

V. Quando se têm menos de cinquenta anos, - dizia-me o mendigo da rodoviária - normalmente o que mais nos interessa nos jornais são as listas de acompanhantes. Depois dos cinquenta só se têm interesse mesmo é pelos obituários. A mortandade diária de conhecidos, amigos, contemporâneos, ex-colegas, desconhecidos e vizinhos etc., só é comparável às históricas guerras civis. E a sociedade se une hipocritamente ao redor dos féretros em panegíricos, em elogios descabidos e em bravatas quase escatológicas... Se quando vivos eram considerados uns chatos, uns verdadeiros energúmenos reacionários, basta morrer para tornarem-se gênios, maiorais, personalidades... encantos de pessoas. Fundam-se logo institutos, congregações e até bordéis com o sobrenome dos mortos. E no funeral, ao lado da cova ou do forno, estão todos lá com suas mentirinhas ensaiadas e seus óculos escuros olhando cinicamente uns para os outros como que querendo adivinhar quem será a vítima e o defunto da vez... Sinceramente, numa boa: a vida é uma furada. Depois de tantas mentiras instituídas e comercializadas, qualquer zé mané percebe que ela não passa de uma barulhenta carroça que se desloca em direção a quatro estações, uma mais absurda, vingativa e terrível que a outra: estação 1: velhice. Estação 2: doença. Estação 3: morte. Estação 4: o nada. Desejar boa viagem é apenas mais um sarcasmo...


Em tempo & a propósito:

Vale a pena ver a beleza e o desespero deste poema do Millôr:

Papáverum Millôr

Enterrem meu corpo em qualquer lugar.
Que não seja, porém, um cemitério.
De preferência, mata;
Na Gávea, na Tijuca, em Jacarepaguá.
Na tumba, em letras fundas,
Que o tempo não destrua,
Meu nome gravado claramente.
De modo que, um dia,
Um casal desgarrado
Em busca de sossego
Ou de saciedade solitária,
Me descubra entre folhas,
Detritos vegetais,
Cheiros de bichos mortos.
(Como eu).
E, como uma longa árvore desgalhada
Levantou um pouco a lage do meu túmulo
Com a raiz poderosa,
Haja a vaga impressão
De que não estou na morada.

Não sairei, prometo.
Estarei fenecendo normalmente
Em meu canteiro final.
E o casal repetirá meu nome,
Sem saber quem eu fui,
E se irá embora,
Preso à angústia infinita
Do ser e do não ser.
Ficarei entre ratos, lagartos,
Sol e chuva ocasionais,
Este sim, imortais.
Até que, um dia, de mim caia a semente
De onde há de brotar a flor
Que eu peço que se chame
Papáverum Millôr


Quintessência da quinta...

I. Demóstenes foi um menino e um adolescente gago. Com enorme esforço conseguiu curar-se, aprendeu oratória e chegou a uma posição de muita confiança e destaque na política. Depois, repentinamente, de uma hora para outra, viu decair tanto sua reputação quanto sua influência. Chegou mesmo a ser condenado por ter se deixado comprar por outros políticos. Foi preso mas conseguiu fugir, exilando-se por longo período. Quando percebeu que estava cercado pela polícia suicidou-se ingerindo veneno. Viveu na Grécia de 384 a 322 a.C. Uma de suas frases mais conhecidas era esta: “Pequenas oportunidades são muitas vezes o começo de grandes empreendimentos”.

II. Como você, todo mundo já esperava: o Congresso aprovou o consumo de bebidas alcoólicas nas arquibancadas dos jogos de 2014. O que, com certeza, deve ter influenciado nessa decisão liberal dos deputados foi a peleia e os homicídios de rua entre as torcidas na semana passada: sóbrias elas são um perigo!, - devem ter refletido os representantes da turba. Como consolo e como contra partida aprovaram também o desconto nos ingressos para velhinhos, para deficientes e para adolescentes...

III. A pesquisa de ontem concluiu que no Brasil se está lendo menos. Menos do que anteontem, isto é, nada. Um ou dois livros por ano por cabeça! Aliás, no topo das vendas continua o livro Ágape, do padre Marcelo, uma recopilação infantil e quase demente da bíblia e de anedotas do gênero.

IV. É provável que Tales de Mileto, Benjamin Franklin, Faraday etc., ao descobrirem como gerar e como armazenar eletricidade, nunca tenham imaginado que se viesse destinar sua descoberta também para a tortura. Depois das maquinetas usadas nos porões das ditaduras, das cadeiras elétricas, dos eletrochoques nos manicômios... agora qualquer idiota (em nome do Estado) pode levar uma das tais “armas de choque” na cintura e dispará-la contra quem achar conveniente... A sociedade ainda pagará um preço muito alto por sua burrice, complacência e passividade...

V. Quando se têm menos de cinquenta anos, - dizia-me o mendigo da rodoviária - normalmente o que mais nos interessa nos jornais são as listas de acompanhantes. Depois dos cinquenta só se têm interesse mesmo é pelos obituários. A mortandade diária de conhecidos, amigos, contemporâneos, ex-colegas, desconhecidos e vizinhos etc., só é comparável às históricas guerras civis. E a sociedade se une hipocritamente ao redor dos féretros em panegíricos, em elogios descabidos e em bravatas quase escatológicas... Se quando vivos eram considerados uns chatos, uns verdadeiros energúmenos reacionários, basta morrer para tornarem-se gênios, maiorais, personalidades... encantos de pessoas. Fundam-se logo institutos, congregações e até bordéis com o sobrenome dos mortos. E no funeral, ao lado da cova ou do forno, estão todos lá com suas mentirinhas ensaiadas e seus óculos escuros olhando cinicamente uns para os outros como que querendo adivinhar quem será a vítima e o defunto da vez... Sinceramente, numa boa: a vida é uma furada. Depois de tantas mentiras instituídas e comercializadas, qualquer zé mané percebe que ela não passa de uma barulhenta carroça que se desloca em direção a quatro estações, uma mais absurda, vingativa e terrível que a outra: estação 1: velhice. Estação 2: doença. Estação 3: morte. Estação 4: o nada. Desejar boa viagem é apenas mais um sarcasmo...


Em tempo & a propósito:

Vale a pena ver a beleza e o desespero deste poema do Millôr:

Papáverum Millôr

Enterrem meu corpo em qualquer lugar.
Que não seja, porém, um cemitério.
De preferência, mata;
Na Gávea, na Tijuca, em Jacarepaguá.
Na tumba, em letras fundas,
Que o tempo não destrua,
Meu nome gravado claramente.
De modo que, um dia,
Um casal desgarrado
Em busca de sossego
Ou de saciedade solitária,
Me descubra entre folhas,
Detritos vegetais,
Cheiros de bichos mortos.
(Como eu).
E, como uma longa árvore desgalhada
Levantou um pouco a lage do meu túmulo
Com a raiz poderosa,
Haja a vaga impressão
De que não estou na morada.

Não sairei, prometo.
Estarei fenecendo normalmente
Em meu canteiro final.
E o casal repetirá meu nome,
Sem saber quem eu fui,
E se irá embora,
Preso à angústia infinita
Do ser e do não ser.
Ficarei entre ratos, lagartos,
Sol e chuva ocasionais,
Este sim, imortais.
Até que, um dia, de mim caia a semente
De onde há de brotar a flor
Que eu peço que se chame
Papáverum Millôr


quarta-feira, 28 de março de 2012

BRICS-A-BRACS...


Quem é que não está se consumindo de inveja dos “sortudos” que acabam de chegar na Índia para participar das reuniões e dos coquetéis dos tais BRICS??? Se o populacho e seus descendentes que vivem com 512 reais por mês soubessem o número de vivaldinos da esquerda, do centro, da direita, ambidestros etc., que neste exato momento está circulando pelo planeta a fora por conta do Estado e sob o pretexto de estar “promovendo o Bem-Estar-Social-Planetário” entraria em colapso. UNESCO, ONU, FAO, BRICS, FMI, ACI, GATT, OMC, OIT, PNUD, OEA, ALCA, BID, CIC, BIRD, UIT, OMI, OMS, CEPAL etc., etc. Quem é que ainda duvida que a Revolução Francesa foi uma farsa e que a monarquia está mais vigente do que nunca???

Assuntos banais e quase sempre de interesse apenas das mesmas raposas, assuntos que poderiam muito bem ser tratados por telefone, por e-mail ou mesmo por telepatia, para os espertinhos políticos e burocratas são ótimos pretextos para viagens e diárias que nem Marco Polo imaginou. Badaladas reuniões internacionais com aviões, comitivas, corpos diplomáticos, seguranças, espias, maletas, curandeiros, maquiadores, intérpretes, puxa sacos, cozinheiros, fotógrafos, especialistas em historiografia, polígrafos…

Mas, sinceramente, me digam qual é o burocrata ou não burocrata que nunca sonhou em ir para a Índia e mais, com tudo pago? As noitadas de Nova Déli são imperdíveis! Ravi Shankar na penumbra dos cafés é quase um luxo só das castas superiores.! Olhar para aquela beleza exótica dos janelões das suítes do Taj Mahal Hotel é a glória… Ir comprar bugigangas para os subalternos e até uma sítara para a amante no Old Delhi Bazaar então, é tudo o que um diplomata menor sabe fazer! E, claro, mandar aqueles cartõezinhos idiotas aos amigos de infortúnio:

- Oí!!! Estou na Índia e lembrei-me de você!!! Sabe que até agora só vi mesmo gente com tipo de brâmane!!! Onde estariam os párias???Soube que um louco tocou fogo em sí mesmo numa rua próxima daqui... Meu Deus, como existe gente louca!!!

No outro dia escapulir da balela das reuniões e dar um pulo até a Déli antiga é de praxe… Ir à casa onde Gandhi viveu e foi assassinado é um programa demagógico inevitável e depois, claro, ir deliciar-se com uns cubos de carne cozidos ao creme du curry... E Jaipur? Apesar da pimenta indiana estar incendiando o rabo de todos, por que não dar uma escapadela até Jaipur? Ninguém é de ferro, não é verdade? Onde ficam mesmo os templos eróticos? Khajuraho? Ah! Que tal fretarmos um aviãozinho??? Ah, a Índia é tão grande e tão fascinante!!! Murmuram afetados e por telefone para com suas velhas e cúmplices secretárias... E depois concluem, meio melancólicos: Não sei como os pessimistas ainda insistem em dizer que a vida é uma desgraça!!!

BRICS-A-BRACS...


Quem é que não está se consumindo de inveja dos “sortudos” que acabam de chegar na Índia para participar das reuniões e dos coquetéis dos tais BRICS??? Se o populacho e seus descendentes que vivem com 512 reais por mês soubessem o número de vivaldinos da esquerda, do centro, da direita, ambidestros etc., que neste exato momento está circulando pelo planeta a fora por conta do Estado e sob o pretexto de estar “promovendo o Bem-Estar-Social-Planetário” entraria em colapso. UNESCO, ONU, FAO, BRICS, FMI, ACI, GATT, OMC, OIT, PNUD, OEA, ALCA, BID, CIC, BIRD, UIT, OMI, OMS, CEPAL etc., etc. Quem é que ainda duvida que a Revolução Francesa foi uma farsa e que a monarquia está mais vigente do que nunca???

Assuntos banais e quase sempre de interesse apenas das mesmas raposas, assuntos que poderiam muito bem ser tratados por telefone, por e-mail ou mesmo por telepatia, para os espertinhos políticos e burocratas são ótimos pretextos para viagens e diárias que nem Marco Polo imaginou. Badaladas reuniões internacionais com aviões, comitivas, corpos diplomáticos, seguranças, espias, maletas, curandeiros, maquiadores, intérpretes, puxa sacos, cozinheiros, fotógrafos, especialistas em historiografia, polígrafos…

Mas, sinceramente, me digam qual é o burocrata ou não burocrata que nunca sonhou em ir para a Índia e mais, com tudo pago? As noitadas de Nova Déli são imperdíveis! Ravi Shankar na penumbra dos cafés é quase um luxo só das castas superiores.! Olhar para aquela beleza exótica dos janelões das suítes do Taj Mahal Hotel é a glória… Ir comprar bugigangas para os subalternos e até uma sítara para a amante no Old Delhi Bazaar então, é tudo o que um diplomata menor sabe fazer! E, claro, mandar aqueles cartõezinhos idiotas aos amigos de infortúnio:

- Oí!!! Estou na Índia e lembrei-me de você!!! Sabe que até agora só vi mesmo gente com tipo de brâmane!!! Onde estariam os párias???Soube que um louco tocou fogo em sí mesmo numa rua próxima daqui... Meu Deus, como existe gente louca!!!

No outro dia escapulir da balela das reuniões e dar um pulo até a Déli antiga é de praxe… Ir à casa onde Gandhi viveu e foi assassinado é um programa demagógico inevitável e depois, claro, ir deliciar-se com uns cubos de carne cozidos ao creme du curry... E Jaipur? Apesar da pimenta indiana estar incendiando o rabo de todos, por que não dar uma escapadela até Jaipur? Ninguém é de ferro, não é verdade? Onde ficam mesmo os templos eróticos? Khajuraho? Ah! Que tal fretarmos um aviãozinho??? Ah, a Índia é tão grande e tão fascinante!!! Murmuram afetados e por telefone para com suas velhas e cúmplices secretárias... E depois concluem, meio melancólicos: Não sei como os pessimistas ainda insistem em dizer que a vida é uma desgraça!!!

Música...

Música...

domingo, 25 de março de 2012

Sou um terrorista fracassado, ainda não coloquei uma bomba em minha alma!!! (E.M.Cioran)

A cidade está em alvoroço e a imprensa aproveitou para encher três ou quatro páginas com a prisão em Curitiba dos dois jovens que pregavam ódio contra mulheres, negros, gays, anarquistas, judeus, estrangeiros, nordestinos, esquerdistas etc. e que, segundo as próprias e confessas bravatas na internet, planejavam cometer um atentado contra alunos da Universidade de Brasília. Haja ódio para tanto! Não seria mais fácil declarar logo ódio ao mundo inteiro e jogar-se depois ao mar?! Para odiar, mesmo que fosse apenas os negros, apenas os nordestinos, apenas os estrangeiros etc., já exigiria uma energia imensa, imaginem para odiar tantos grupos e tanta gente ao mesmo tempo... Energia, aliás, que parece ausente e improvável no perfil dos acusados. Skinheads? Mas nem sequer são carecas! Não é fácil odiar! Não é fácil ter 26 ou 32 anos nesses tempos! O risco de vir a ser um babaca, um alienado, um torpe, um racista, um fanático, um presidiário, um frouxo, um beato, um degenerado, um banana ou um terroristazinho suicida é imenso. Eram discípulos de Hitler? Sim, mas de que Hitler? Do Hitler socialista ou do Hitler nazista? Todo mundo sabe que o Fuhrer alemão, assim como Mussolini, antes de descambarem para o fascismo eram socialistas convictos. Ou não?! Odeiam os negros. Por que? Odeiam as mulheres. Por que? Odeiam os anarquistas. Por que?
E por que então não os deixamos falar de seu ódio? De suas cóleras? De suas intolerâncias? O fundo de uma cadeia nunca foi o melhor lugar dos mundos para ninguém, nem para eles e não servirá para esclarecer nada, pelo contrário, sufocará uma temática que interessa verdadeiramente a todos. O Congresso Nacional ou a própria Universidade deveriam convocá-los para que falem aberta e livremente de seus ódios, mais ou menos como fazem com os outros tantos que estão por aí sempre com espaços garantidos para tagarelar horas e horas-a-fio sobre seus amores. Deveriam dispor de uma tribuna para que esclareçam suas desavenças, suas necessidades de vingança, suas crenças e medos. Está mais do que claro que na gênese da grande maioria dos transgressores sociais - e a polícia sabe ou deveria saber - existe uma necessidade imensa (e inconsciente) de ser punido, castigado, preso e esculhambado pelos moralistas de plantão. Qual é o caminho mais fácil para que essa necessidade se concretize? Praticar um crime. O de Toulouse, na semana passada, conseguiu a bala nos miolos pela qual tanto ansiava. O soldado gringo no Afganistão terá sua electric chair. O da Noruega, recentemente, também conseguiu ser enjaulado para sempre. Deixou uma brochura de umas mil e quinhentas páginas sobre seus ódios, nas quais, inclusive, cita o Brasil umas dez vezes. Será que os nossos não levam pelo menos algum bilhete nos bolsos? Não sei se sabem, mas as ações recentes de criminalidade contra o patrimônio, contra os costumes e contra a pessoa, só aqui DF, foram de tirar o chapéu: Cento e onze mil só em 2008 e cento e dez mil só em 2009. Que tal? Estamos ou não estamos em plena e desvairada guerra civil? E quem é que não sabe ou que não intui onde está instalada a usina de todo esse ódio?
Voltando ao assunto, como sabemos que os dois moços presos não foram gerados em proveta nem deixados aqui no Planalto Central por uma aeronave marciana, e como não temos ainda nenhuma prova de que o crime é transmitido geneticamente (apesar das velhas e caducas teorias de Lombroso) é evidente que devem ter sugado essas crenças de algum lugar. Não nasceram odiando as mulheres! É obvio que não nasceram odiando os nordestinos e que não começaram a odiar os judeus ainda quando engatinhavam! Devem ter mamado esses preconceitos, esses preceitos e esses ódios em algum lugar, não é verdade? Em alguma teta, seja na da mãe, na da pátria ou na da cortesã da esquina, não é verdade? Você aí que está palitando os dentes e apenas assistindo de longe os acontecimentos está realmente seguro de que não tem nada a ver com isso? Você aí que se esconde atrás dessa grossa e cara gravata, não vê nesses dois jovens nada que lhe diga respeito? Você aí que têm uma coleção de máscaras em seu armário, onde estava quando esses pseudo-terroristas ainda andavam por aí de fraldas? Você aí que ziguezagueando de falcatruas em falcatruas mudou completamente de status, teria condições de tornar pública sua história e seus mais secretos desejos?

Sou um terrorista fracassado, ainda não coloquei uma bomba em minha alma!!! (E.M.Cioran)

A cidade está em alvoroço e a imprensa aproveitou para encher três ou quatro páginas com a prisão em Curitiba dos dois jovens que pregavam ódio contra mulheres, negros, gays, anarquistas, judeus, estrangeiros, nordestinos, esquerdistas etc. e que, segundo as próprias e confessas bravatas na internet, planejavam cometer um atentado contra alunos da Universidade de Brasília. Haja ódio para tanto! Não seria mais fácil declarar logo ódio ao mundo inteiro e jogar-se depois ao mar?! Para odiar, mesmo que fosse apenas os negros, apenas os nordestinos, apenas os estrangeiros etc., já exigiria uma energia imensa, imaginem para odiar tantos grupos e tanta gente ao mesmo tempo... Energia, aliás, que parece ausente e improvável no perfil dos acusados. Skinheads? Mas nem sequer são carecas! Não é fácil odiar! Não é fácil ter 26 ou 32 anos nesses tempos! O risco de vir a ser um babaca, um alienado, um torpe, um racista, um fanático, um presidiário, um frouxo, um beato, um degenerado, um banana ou um terroristazinho suicida é imenso. Eram discípulos de Hitler? Sim, mas de que Hitler? Do Hitler socialista ou do Hitler nazista? Todo mundo sabe que o Fuhrer alemão, assim como Mussolini, antes de descambarem para o fascismo eram socialistas convictos. Ou não?! Odeiam os negros. Por que? Odeiam as mulheres. Por que? Odeiam os anarquistas. Por que?
E por que então não os deixamos falar de seu ódio? De suas cóleras? De suas intolerâncias? O fundo de uma cadeia nunca foi o melhor lugar dos mundos para ninguém, nem para eles e não servirá para esclarecer nada, pelo contrário, sufocará uma temática que interessa verdadeiramente a todos. O Congresso Nacional ou a própria Universidade deveriam convocá-los para que falem aberta e livremente de seus ódios, mais ou menos como fazem com os outros tantos que estão por aí sempre com espaços garantidos para tagarelar horas e horas-a-fio sobre seus amores. Deveriam dispor de uma tribuna para que esclareçam suas desavenças, suas necessidades de vingança, suas crenças e medos. Está mais do que claro que na gênese da grande maioria dos transgressores sociais - e a polícia sabe ou deveria saber - existe uma necessidade imensa (e inconsciente) de ser punido, castigado, preso e esculhambado pelos moralistas de plantão. Qual é o caminho mais fácil para que essa necessidade se concretize? Praticar um crime. O de Toulouse, na semana passada, conseguiu a bala nos miolos pela qual tanto ansiava. O soldado gringo no Afganistão terá sua electric chair. O da Noruega, recentemente, também conseguiu ser enjaulado para sempre. Deixou uma brochura de umas mil e quinhentas páginas sobre seus ódios, nas quais, inclusive, cita o Brasil umas dez vezes. Será que os nossos não levam pelo menos algum bilhete nos bolsos? Não sei se sabem, mas as ações recentes de criminalidade contra o patrimônio, contra os costumes e contra a pessoa, só aqui DF, foram de tirar o chapéu: Cento e onze mil só em 2008 e cento e dez mil só em 2009. Que tal? Estamos ou não estamos em plena e desvairada guerra civil? E quem é que não sabe ou que não intui onde está instalada a usina de todo esse ódio?
Voltando ao assunto, como sabemos que os dois moços presos não foram gerados em proveta nem deixados aqui no Planalto Central por uma aeronave marciana, e como não temos ainda nenhuma prova de que o crime é transmitido geneticamente (apesar das velhas e caducas teorias de Lombroso) é evidente que devem ter sugado essas crenças de algum lugar. Não nasceram odiando as mulheres! É obvio que não nasceram odiando os nordestinos e que não começaram a odiar os judeus ainda quando engatinhavam! Devem ter mamado esses preconceitos, esses preceitos e esses ódios em algum lugar, não é verdade? Em alguma teta, seja na da mãe, na da pátria ou na da cortesã da esquina, não é verdade? Você aí que está palitando os dentes e apenas assistindo de longe os acontecimentos está realmente seguro de que não tem nada a ver com isso? Você aí que se esconde atrás dessa grossa e cara gravata, não vê nesses dois jovens nada que lhe diga respeito? Você aí que têm uma coleção de máscaras em seu armário, onde estava quando esses pseudo-terroristas ainda andavam por aí de fraldas? Você aí que ziguezagueando de falcatruas em falcatruas mudou completamente de status, teria condições de tornar pública sua história e seus mais secretos desejos?

Ao som dos bandolins...

Ao som dos bandolins...

quinta-feira, 22 de março de 2012

Bye Bye dona Anastásia...


Ontem de madrugada, quando ainda chafurdava em Crime e Castigo recebi esta foto e a notícia de que essa velhinha de 105 anos suicidou-se há dois dias lá na Rússia. Cento e cinco anos?! Ela mesma parece já ter declarado aos vizinhos que estava de saco cheio. Aliás, tem que ter muito saco para suportar esse circo repetitivo e essa mediocridade universal por tanto tempo!!! Deve ter conhecido os Czares, visto Lênin, Stalin, Trotsky, passado férias na Sibéria, curtido as vísceras no vodca, ouvido a lenda do Anão dos Montes Urais, recitado algum poema de Puchkin, o mais famoso dos poetas russos, por ironia, descendente de escravos africanos. Confesso que essa notícia veio dar um tempero especial ao texto de Dostoievski que, como disse, estava lendo. Um pouco antes havia sublinhado uma expressão, não sei se comum na Rússia daquele tempo, mas que me pareceu curiosa, rica e digna de uma nota. Diante de uma situação onde seria conveniente fazer-se de "coitadinho" e "inspirar piedade", um dos mais loucos personagens dessa novela usou a expressão: "vou precisar recitar os versos de Lázaro". A lenda de Lázaro, todo mundo conhece, está lá em Lucas, Cap.16, Versículos de 19-31.

Na semana passada os burocratas da UNESCO estiveram por aqui fazendo uma "vistoria" na cidade para ver se renovam seu status de Patrimônio Universal da Humanidade ou se a mandam tombar literalmente. Por mim, seria uma ótima ideia. Mandaria construir em seu lugar uma outra com arquitetura vitoriana, cheia de ruelas, becos, canais, prédios feitos em pedras, telhados coloridos, janelões abertos para as nuvens, escadarias em círculo, mosaicos "sarracenos" nas paredes, porões, sótãos, caramanchões, lagoas, geleiras artificiais... e, o mais interessante, com muitos, muitos galos. Cada casa que tivesse um galo teria uma redução de impostos. Por que galos? Porque uma cidade sem galos é sempre um cemitério. Nada energiza mais uma vila, uma cidade e mesmo uma metrópole do que aqueles cantares soberbos das cinco da manhã. Prestem atenção como foi depois que se retiraram os galos dos meios urbanos que aumentou vertiginosamente a incidência de neuroses e de depressões. Uma ou duas vezes por mês viajo aqui pela região montanhosa de Goiás Velho, ou lá pelos lados de Alto Paraíso, só para ouvir os galos abrindo o peito madrugada-a-dentro no meio daquela solidão interplanetária...

Bye Bye dona Anastásia...


Ontem de madrugada, quando ainda chafurdava em Crime e Castigo recebi esta foto e a notícia de que essa velhinha de 105 anos suicidou-se há dois dias lá na Rússia. Cento e cinco anos?! Ela mesma parece já ter declarado aos vizinhos que estava de saco cheio. Aliás, tem que ter muito saco para suportar esse circo repetitivo e essa mediocridade universal por tanto tempo!!! Deve ter conhecido os Czares, visto Lênin, Stalin, Trotsky, passado férias na Sibéria, curtido as vísceras no vodca, ouvido a lenda do Anão dos Montes Urais, recitado algum poema de Puchkin, o mais famoso dos poetas russos, por ironia, descendente de escravos africanos. Confesso que essa notícia veio dar um tempero especial ao texto de Dostoievski que, como disse, estava lendo. Um pouco antes havia sublinhado uma expressão, não sei se comum na Rússia daquele tempo, mas que me pareceu curiosa, rica e digna de uma nota. Diante de uma situação onde seria conveniente fazer-se de "coitadinho" e "inspirar piedade", um dos mais loucos personagens dessa novela usou a expressão: "vou precisar recitar os versos de Lázaro". A lenda de Lázaro, todo mundo conhece, está lá em Lucas, Cap.16, Versículos de 19-31.

Na semana passada os burocratas da UNESCO estiveram por aqui fazendo uma "vistoria" na cidade para ver se renovam seu status de Patrimônio Universal da Humanidade ou se a mandam tombar literalmente. Por mim, seria uma ótima ideia. Mandaria construir em seu lugar uma outra com arquitetura vitoriana, cheia de ruelas, becos, canais, prédios feitos em pedras, telhados coloridos, janelões abertos para as nuvens, escadarias em círculo, mosaicos "sarracenos" nas paredes, porões, sótãos, caramanchões, lagoas, geleiras artificiais... e, o mais interessante, com muitos, muitos galos. Cada casa que tivesse um galo teria uma redução de impostos. Por que galos? Porque uma cidade sem galos é sempre um cemitério. Nada energiza mais uma vila, uma cidade e mesmo uma metrópole do que aqueles cantares soberbos das cinco da manhã. Prestem atenção como foi depois que se retiraram os galos dos meios urbanos que aumentou vertiginosamente a incidência de neuroses e de depressões. Uma ou duas vezes por mês viajo aqui pela região montanhosa de Goiás Velho, ou lá pelos lados de Alto Paraíso, só para ouvir os galos abrindo o peito madrugada-a-dentro no meio daquela solidão interplanetária...

quarta-feira, 21 de março de 2012

A sedução do dinheiro...

De quando em quando, mais para angariar audiência do que por amor a honestidade e à pátria, uma ou outra das conhecidas tevês instalam armadilhas no caminhos das renomadas ratazanas nacionais e promovem um escândalo de corrupção nas hordas públicas. O resultado é matemático e sempre o mesmo: no outro dias aparecem os doutores de reconhecido saber, os juízes, os parlamentares (e outros...) expressando sua pantomima e sua indignação; a mídia mostra a PF intimando os gatunos; os ministros babam na gravata de tanta “surpresa”; os órgãos envolvidos simulam o cancelamento dos contratos; os senadores promovem uma sessão de lamúrias moralistas dedicada só ao assunto; a autoridade máxima manda fazer uma devassa nas contas dos envolvidos; os bispos da CNBB dizem que essa prática não é nem um pouco cristã; os advogados dos acusados vêm a público e dão um show tão abominável de mentiras que deveria matar de vergonha a Ordem dos Advogados do Brasil, etc... enquanto o populacho, em sua insignificância e malignidade, goza por aí torcendo e acreditando na desgraça eminente dos corruptos. Pura ilusão! Três ou quatro dias depois a febre diminui, a doença nacional regride, os sintomas desaparecem (apesar das causas seguirem tão robustas como antes) e voltam a ficar latentes até que novamente passam a interessar a outra mídia ou a algum outro desvairado e obsessivo Don Quixote. No escândalo desta vez, como o ritual da gatunagem foi filmado pudemos ver a expressão corporal e ouvir as falas dos acusados. Quê material precioso para os filósofos e para os antropólogos!!! Aqueles homens e em especial aquela gorducha sim são os verdadeiros representantes de nossa espécie...


Obs: A respeito do dinheiro e da riqueza, deixem de ser ingenuos. Prestem atenção, façam as contas, olhem ao vosso redor e não se iludam de que é possível ser rico sem ser um ladrão.

A sedução do dinheiro...

De quando em quando, mais para angariar audiência do que por amor a honestidade e à pátria, uma ou outra das conhecidas tevês instalam armadilhas no caminhos das renomadas ratazanas nacionais e promovem um escândalo de corrupção nas hordas públicas. O resultado é matemático e sempre o mesmo: no outro dias aparecem os doutores de reconhecido saber, os juízes, os parlamentares (e outros...) expressando sua pantomima e sua indignação; a mídia mostra a PF intimando os gatunos; os ministros babam na gravata de tanta “surpresa”; os órgãos envolvidos simulam o cancelamento dos contratos; os senadores promovem uma sessão de lamúrias moralistas dedicada só ao assunto; a autoridade máxima manda fazer uma devassa nas contas dos envolvidos; os bispos da CNBB dizem que essa prática não é nem um pouco cristã; os advogados dos acusados vêm a público e dão um show tão abominável de mentiras que deveria matar de vergonha a Ordem dos Advogados do Brasil, etc... enquanto o populacho, em sua insignificância e malignidade, goza por aí torcendo e acreditando na desgraça eminente dos corruptos. Pura ilusão! Três ou quatro dias depois a febre diminui, a doença nacional regride, os sintomas desaparecem (apesar das causas seguirem tão robustas como antes) e voltam a ficar latentes até que novamente passam a interessar a outra mídia ou a algum outro desvairado e obsessivo Don Quixote. No escândalo desta vez, como o ritual da gatunagem foi filmado pudemos ver a expressão corporal e ouvir as falas dos acusados. Quê material precioso para os filósofos e para os antropólogos!!! Aqueles homens e em especial aquela gorducha sim são os verdadeiros representantes de nossa espécie...


Obs: A respeito do dinheiro e da riqueza, deixem de ser ingenuos. Prestem atenção, façam as contas, olhem ao vosso redor e não se iludam de que é possível ser rico sem ser um ladrão.

segunda-feira, 19 de março de 2012

Eles não sabem que lhes estamos trazendo a peste...


Só quem já viveu por lá é que sabe quanto o México é realmente um país especial onde até os criminosos e o crime organizado têm nomes históricos e românticos. Um dos maiores cartéis de drogas do momento, por exemplo, se intitula Cavaleiros Templários e tem como dirigente um tal de Orozco! Nome grafado com as mesmas letras daquele do inconfundível muralista. Que beleza!!! Dizem que é uma dissidência de outro grupo que se chama La família. Mas isto não importa, o que me pareceu mais fascinante foi o comunicado que os tais Cavaleiros Templários enviaram às autoridades e aos grupos rivais garantindo que durante a visita do Papa ao estado de Guanajuato reinará a mais perfeita paz! Que manifestação de fé e de hombridade! Não conheço nada mais transcendente e espantoso de que a imagem de um bandido de joelhos, as mãos postas e resmungando uma oração com a cara voltada para o além... Nem a Camorra da terra do visitante é tão religiosa. Uma autenticidade e uma ética superior até mesmo a dos legendários Cavaleiros de Cristo da Idade Média. Claro que a cruzada agora - e as últimas decapitações que o digam - é bem mais pragmática. E digam o que quiserem, mas que é bastante simbólica essa trégua com a chegada do Papa, é. Seria algo como um ato de fervoroso reconhecimento ao Poderoso Chefão? Claro que não devem lembrar ou nem mesmo saber que lá num passado longínquo (1312) foi exatamente um Papa (Clemente) quem aniquilou com a Ordem onde buscaram inspiração... Em Cuba, por onde o representante de Deus também passará, pelo contrário, as chamadas Damas de Blanco, (mulheres de presos políticos) não garantem trégua alguma e prometem criar um auê e um tumulto diante das luxuosas anáguas do Sumo Pontífice... Lendo essas notícias, além de uma nostalgia imensa pelo México, me veio em mente outra vez a lenda de que enquanto o navio europeu que levava Freud e Jung ia aportando na Baia de NY, ao ver a multidão de curiosos e de neuróticos que os esperavam para ouvirem as primeiras conferências sobre a psicanálise, Freud teria cochichado ao colega alemão: eles não sabem que lhes estamos trazendo a peste.


Obs: este texto foi publicado 42 minutos antes do terremoto.

Eles não sabem que lhes estamos trazendo a peste...


Só quem já viveu por lá é que sabe quanto o México é realmente um país especial onde até os criminosos e o crime organizado têm nomes históricos e românticos. Um dos maiores cartéis de drogas do momento, por exemplo, se intitula Cavaleiros Templários e tem como dirigente um tal de Orozco! Nome grafado com as mesmas letras daquele do inconfundível muralista. Que beleza!!! Dizem que é uma dissidência de outro grupo que se chama La família. Mas isto não importa, o que me pareceu mais fascinante foi o comunicado que os tais Cavaleiros Templários enviaram às autoridades e aos grupos rivais garantindo que durante a visita do Papa ao estado de Guanajuato reinará a mais perfeita paz! Que manifestação de fé e de hombridade! Não conheço nada mais transcendente e espantoso de que a imagem de um bandido de joelhos, as mãos postas e resmungando uma oração com a cara voltada para o além... Nem a Camorra da terra do visitante é tão religiosa. Uma autenticidade e uma ética superior até mesmo a dos legendários Cavaleiros de Cristo da Idade Média. Claro que a cruzada agora - e as últimas decapitações que o digam - é bem mais pragmática. E digam o que quiserem, mas que é bastante simbólica essa trégua com a chegada do Papa, é. Seria algo como um ato de fervoroso reconhecimento ao Poderoso Chefão? Claro que não devem lembrar ou nem mesmo saber que lá num passado longínquo (1312) foi exatamente um Papa (Clemente) quem aniquilou com a Ordem onde buscaram inspiração... Em Cuba, por onde o representante de Deus também passará, pelo contrário, as chamadas Damas de Blanco, (mulheres de presos políticos) não garantem trégua alguma e prometem criar um auê e um tumulto diante das luxuosas anáguas do Sumo Pontífice... Lendo essas notícias, além de uma nostalgia imensa pelo México, me veio em mente outra vez a lenda de que enquanto o navio europeu que levava Freud e Jung ia aportando na Baia de NY, ao ver a multidão de curiosos e de neuróticos que os esperavam para ouvirem as primeiras conferências sobre a psicanálise, Freud teria cochichado ao colega alemão: eles não sabem que lhes estamos trazendo a peste.


Obs: este texto foi publicado 42 minutos antes do terremoto.

Compaixão e sexualidade...




Eu, que frequentemente tenho tido sentimentos e pensamentos piores que os dos jumentos para com o mundo e para com seus sete bilhões de homo sapiens (mais homo que sapiens), surpreendi-me ontem num transe intenso de compaixão por meu cachorro em sua longa e ridícula abstinência sexual. Trata-se de um Lhasa apso com um porte mais do que viril, umas patas de leão, duas bolas como ameixas japonesas, um latido de tremer as persianas e com um olhar de fazer qualquer cadelinha desinibida ficar molhada e de orelhas em pé, mas até agora nada... E já está com cinco anos!!!! O que, comparativamente, equivale a um homem de uns cinquenta. Já deixei-o correr atrás de todas as que passaram aqui por minha casa, fossem da raça que fossem; levei-o disfarçadamente aos pets lotados; coloquei anuncio em jornais dominicais; até propus um “enlace” a dona de uma cachorrinha marrom da mesma raça; fiz amizade com um sujeito pra lá de maluco e mau caráter que anda com uma toda preta com os pelos das orelhas enroscando na calçada, e nada... Uma menina elegante com menos de trinta anos quase chamou a polícia quando o deixei dar uma cavalgada em sua casta maltês. Um psicanalista com mais de noventa anos e que nas horas livres é também veterinário até sugeriu-me que buscasse alguma alternativa num Sex shop etc,. Porra! Chegar a isso não! Que mundo reacionário!!! A teoria da repressão sexual que levou indiretamente Wilhelm Reich à morte não lhes parece estar mais vigente do que nunca por aí? Aliás, ontem a noite voltei a ler a Função do orgasmo. Por mais curioso que pareça, as donas e os donos de cadelas têm para com elas o mesmo pudor e o mesmo cuidado que têm para com suas filhas virgens e adolescentes. Projetam nos animais as suas ideologias, seus traumas, seus moralismos e suas interdições libidinosas… Mas, será que eu não estaria fazendo a mesma coisa, projetando no meu cão a minha luxuria e a minha libertinagem? – indagou-me uma gorducha, cônscia de suas banhas e dona de uma poodle mais parecida a uma ovelha empertigada. Claro que não! Retruquei apressado, mas sem muita convicção e reforcei minha defesa agregando: qualquer um que tenha um pouco de “humanidade” se compadece ao ver o pobre cachorro copulando a vida inteira com almofadas, trepando nas pernas de mesas, em degraus de escadas, com um dicionário de sânscrito e até mesmo com sua própria sombra. Não é verdade?

Compaixão e sexualidade...




Eu, que frequentemente tenho tido sentimentos e pensamentos piores que os dos jumentos para com o mundo e para com seus sete bilhões de homo sapiens (mais homo que sapiens), surpreendi-me ontem num transe intenso de compaixão por meu cachorro em sua longa e ridícula abstinência sexual. Trata-se de um Lhasa apso com um porte mais do que viril, umas patas de leão, duas bolas como ameixas japonesas, um latido de tremer as persianas e com um olhar de fazer qualquer cadelinha desinibida ficar molhada e de orelhas em pé, mas até agora nada... E já está com cinco anos!!!! O que, comparativamente, equivale a um homem de uns cinquenta. Já deixei-o correr atrás de todas as que passaram aqui por minha casa, fossem da raça que fossem; levei-o disfarçadamente aos pets lotados; coloquei anuncio em jornais dominicais; até propus um “enlace” a dona de uma cachorrinha marrom da mesma raça; fiz amizade com um sujeito pra lá de maluco e mau caráter que anda com uma toda preta com os pelos das orelhas enroscando na calçada, e nada... Uma menina elegante com menos de trinta anos quase chamou a polícia quando o deixei dar uma cavalgada em sua casta maltês. Um psicanalista com mais de noventa anos e que nas horas livres é também veterinário até sugeriu-me que buscasse alguma alternativa num Sex shop etc,. Porra! Chegar a isso não! Que mundo reacionário!!! A teoria da repressão sexual que levou indiretamente Wilhelm Reich à morte não lhes parece estar mais vigente do que nunca por aí? Aliás, ontem a noite voltei a ler a Função do orgasmo. Por mais curioso que pareça, as donas e os donos de cadelas têm para com elas o mesmo pudor e o mesmo cuidado que têm para com suas filhas virgens e adolescentes. Projetam nos animais as suas ideologias, seus traumas, seus moralismos e suas interdições libidinosas… Mas, será que eu não estaria fazendo a mesma coisa, projetando no meu cão a minha luxuria e a minha libertinagem? – indagou-me uma gorducha, cônscia de suas banhas e dona de uma poodle mais parecida a uma ovelha empertigada. Claro que não! Retruquei apressado, mas sem muita convicção e reforcei minha defesa agregando: qualquer um que tenha um pouco de “humanidade” se compadece ao ver o pobre cachorro copulando a vida inteira com almofadas, trepando nas pernas de mesas, em degraus de escadas, com um dicionário de sânscrito e até mesmo com sua própria sombra. Não é verdade?

sábado, 17 de março de 2012

Munducurus, Rousseau e os bons selvagens...

Os ingênuos, ignorantes, explorados e gananciosos indígenas que deixaram os portugueses, os espanhóis, os franceses, os holandeses e etc., cagarem em suas cabeças, comerem suas mulheres e jogarem seus filhos para os cães lá por 1500/1600, são os mesmos que agora estão vendendo suas terras a empresas como a irlandesa Celestial Green. Vejam que nome romântico e paradisíaco!

Cento e vinte milhões de dólares para a conta dos mundurucus por um pedaço de floresta maior que o país dos compradores… Duvido que não tenha um “intermediário” brasileiro e de colarinho branco na jogada, como houve lá nos tempos dos saques do Pau-Brasil e dos “droguistas do sertão”. E a pergunta principal nem é: o que os gringos vão fazer com essas terras e com tudo o que há nelas, mas o que os indígenas vão aprontar com toda essa grana. Acabarão por matarem-se uns aos outros? Irão morar à margem direita do Sena em Paris? Comprarão limusines japonesas? Talheres de prata? Trocarão o cauim e a cachaça por uísque escocês? Começarão a aparecer no Ratinho e no Faustão? Fundarão um banco? Descobrirão o agiotismo? Montarão algo como o Moulin Rouge nos arredores de Belém do Pará? Financiarão a campanha de um pajé para o Senado? Fundarão a Igreja da pólvora e de Tupã?? Industrializarão a guasca?

E onde estavam os ecologistas de plantão? As Ongs? Os Verdes, a CNBB, os nacionalistas, os florestófilos? Onde estavam os poetas naturalistas, a FUNAI, os “serviços de intelligentsia” e outros dorminhocos que deixaram que essa barganha acontecesse? Onde estava a direitona da Opus Dei ou os engravatadinhos da TFP que sempre gostam de fingir que defendem o patrimônio nacional? Onde estavam metidas as Esquerdas Unidas que tanto se preocupam com o destino do Irã e da Síria, mas que não viram acontecer sob suas barrigas esse descarado cambalacho? Pois nem é necessário ser um sertanista ou um visionário para entender que se no passado eram os portugueses - como escreveu o Frei Vicente Salvador - que andavam como caranguejos arranhando o litoral, atualmente são essas organizações forasteiras e "filantrópicas" que planam como abutres por sobre o desamparo de "nossos" nativos e sobre a solidão e o abandono de "nossas" selvas...

Obs: Sempre que coloco o ponto final em cada um destes textos, que geralmente são engendrados por impulso e no máximo em vinte minutos, ao fazer uma leitura dos mesmos sempre tenho a desagradável (e inconfessável) sensação de identificar aqui e ali algúm secreto e vergonhoso vestígio de moralismo funambulesco.

Munducurus, Rousseau e os bons selvagens...

Os ingênuos, ignorantes, explorados e gananciosos indígenas que deixaram os portugueses, os espanhóis, os franceses, os holandeses e etc., cagarem em suas cabeças, comerem suas mulheres e jogarem seus filhos para os cães lá por 1500/1600, são os mesmos que agora estão vendendo suas terras a empresas como a irlandesa Celestial Green. Vejam que nome romântico e paradisíaco!

Cento e vinte milhões de dólares para a conta dos mundurucus por um pedaço de floresta maior que o país dos compradores… Duvido que não tenha um “intermediário” brasileiro e de colarinho branco na jogada, como houve lá nos tempos dos saques do Pau-Brasil e dos “droguistas do sertão”. E a pergunta principal nem é: o que os gringos vão fazer com essas terras e com tudo o que há nelas, mas o que os indígenas vão aprontar com toda essa grana. Acabarão por matarem-se uns aos outros? Irão morar à margem direita do Sena em Paris? Comprarão limusines japonesas? Talheres de prata? Trocarão o cauim e a cachaça por uísque escocês? Começarão a aparecer no Ratinho e no Faustão? Fundarão um banco? Descobrirão o agiotismo? Montarão algo como o Moulin Rouge nos arredores de Belém do Pará? Financiarão a campanha de um pajé para o Senado? Fundarão a Igreja da pólvora e de Tupã?? Industrializarão a guasca?

E onde estavam os ecologistas de plantão? As Ongs? Os Verdes, a CNBB, os nacionalistas, os florestófilos? Onde estavam os poetas naturalistas, a FUNAI, os “serviços de intelligentsia” e outros dorminhocos que deixaram que essa barganha acontecesse? Onde estava a direitona da Opus Dei ou os engravatadinhos da TFP que sempre gostam de fingir que defendem o patrimônio nacional? Onde estavam metidas as Esquerdas Unidas que tanto se preocupam com o destino do Irã e da Síria, mas que não viram acontecer sob suas barrigas esse descarado cambalacho? Pois nem é necessário ser um sertanista ou um visionário para entender que se no passado eram os portugueses - como escreveu o Frei Vicente Salvador - que andavam como caranguejos arranhando o litoral, atualmente são essas organizações forasteiras e "filantrópicas" que planam como abutres por sobre o desamparo de "nossos" nativos e sobre a solidão e o abandono de "nossas" selvas...

Obs: Sempre que coloco o ponto final em cada um destes textos, que geralmente são engendrados por impulso e no máximo em vinte minutos, ao fazer uma leitura dos mesmos sempre tenho a desagradável (e inconfessável) sensação de identificar aqui e ali algúm secreto e vergonhoso vestígio de moralismo funambulesco.