"O leite de minhas cabras é veneno para os tolos e não quero que nenhuma delas seja culpada da morte de alguém, nem mesmo de um tolo..."
Mikhail Naimy, p. 13
Um sol amarelado e estupendo se espalha por sobre a cobertura dos prédios. Hoje é segunda-Feira! Mas as ruas estão vazias! Não se vê ninguém nas janelas ou nas varandas. Ninguém passeando com seus cachorros... Nenhuma velhinha falando sozinha enquanto umedece os vasos lá à sombra de uma ou outra árvore nativa do cerrado. Um ou outro casal desorientado, brigando e se agredindo como idiotas e por bagatelas... Os estacionamentos estão cheios (o teto dos carros empoeirados, os pneus murchos e o virabrequim enferrujado). Os burocratas, os aposentados e outros tipos (cada um em seu cárcere particular) aproveitam o confinamento para dormir.
Mas, dormir?
O dia inteiro?
Será que esqueceram que um dia, com vírus ou sem vírus, se dormirá para sempre!?
Sei, que não necessariamente estão deprimidos, mas não querer sair da cama, mesmo sem poder ir para a rua, com um sol amarelo desses, pode ser sim um sinal de que a serotonina e a testosterona estão em baixa. Penso na música Plegaria a un labrador, dos anos 70: (Victor Jarra) Levántate!
O Mendigo K apareceu solitário lá em baixo. Estava com um casacão de inverno que lhe foi presenteado, segundo ele, por uma beata da confraria Rosicrucianum, no princípio de agosto. Estava com o LIVRO DE MIRDAD, nas mãos, e me lembrou: Bazzo, com a desgraça lá no Líbano, voltei a ler o Livro de Mirdad. Sabia que este livro é tão importante que até o Rajnesh (o maior e mais fantástico charlatão de todos os tempos) declarava abertamente que gostaria de ter sido ele seu autor???... (Pensei: pronto! O confinamento e o isolamento, como era de se esperar, já o transformaram num pobre místico e num pobre esotérico!).
O mais surpreendente, foi ver que o livro estava escrito em árabe. Foi então que revelou-me, por alto, que seu avô era do mesmo país do autor do livro: Mikhail Naimy.
Seguiu falando, com visível pena, da tragédia acontecida no Líbano e, antes de seguir seu caminho fez este lamento: Pior ou tão grave quanto a explosão no porto, é saber que lá, como aqui, vinte ou trinta famílias devoram tudo o que lhes cai nas mãos! Que tudo está dominado! E que nossos países, com suas multidões silenciosas e dorminhocas, vão se torturando e debatendo por séculos, numa desgraça atrás da outra... E sempre, como se dizia na época de meu avô: prometendo aterrar o poço depois que a vaca já caiu nele... Pensei: ao invés de mandarem o Temer para lá, (na tal Missão Humanitária) deveriam mandar a Ele... (o Mendigo)
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