terça-feira, 28 de dezembro de 2010

O ROMANTISMO DA PROSTITUIÇÃO (Carta de Cioran a Jacques Le Rider a propósito de Weininger)


Lendo seu livro sobre meu antigo e distante ídolo não pude deixar de pensar no acontecimento que foi para mim a leitura de Geschlecht und Charakter (sexo e caráter). Era 1928, eu tinha dezessete anos e, ávido de toda forma de excesso e de heresia gostava de extrair as últimas consequências de cada ideia, levar o rigor até a aberração, até a provocação, conferir ao furor a dignidade de um sistema. Dito com outras palavras: tudo me apaixonava salvo el matiz. Em Weininger me fascinava a exageração vertiginosa, o infinito dentro da negação, o repudio ao sentido comum, a intransigência mortífera, a busca de uma posição absoluta, a mania de conduzir um raciocínio até o ponto em que ele se destrói a si mesmo e arruína o edifício do qual faz parte. Além disso me fascinava sua obsessão pelo criminoso e pelo epiléptico (especialmente acentuada em Uber die letzten Dinge [sobre as coisas últimas], o culto pela fórmula genial e pela excomunhão arbitrária, a equiparação da mulher com o Nada e inclusive com algo menor. A esta afirmação devastadora minha adesão foi completa de entrada. O objeto desta carta é dar-lhe a conhecer as circunstâncias que me levaram a comungar com ditas teses extremas sobre o mencionado Nada. Circunstância trivial, se é que existe, que entretanto, ditaria meu comportamento durante vários anos, de fato durante toda minha existência de estudante. Ainda frequentava o Liceu e estava enamorado da filosofia e de uma... jovem, estudante como eu. Detalhe importante: não a conhecia pessoalmente, apesar de pertencer ao mesmo meio social que minha família. Como acontece frequentemente com os adolescentes, eu era cada vez mais insolente e tímido, mas minha timidez era maior que minha insolência. Durante mais de um ano suportei aquele suplício, que culminou no dia em que, lendo sob uma árvore no parque da cidade, de repente ouvi risadas. Quando me virei... vi que era ela em companhia de um de meus companheiros de classe, justamente o que mais desprezávamos e que era conhecido por todos como “o piolho”. Apesar de fazer cinquenta anos, recordo perfeitamente o que senti naquele instante. Mas me nego às precisões. O fato é que jurei no ato acabar com os “sentimentos”. E foi assim como me converti em um frequentador assíduo dos bordeis. Um ano depois dessa decepção, radical e corrente ao mesmo tempo, Weininger apareceu em minha vida. Eu me encontrava na situação ideal para compreendê-lo. Suas magníficas enormidades sobre as mulheres me embriagavam. Como era possível que eu tivesse me encaprichado com uma paródia de ser?, me perguntava sem cessar. Por que esse tormento, esse calvário por causa de uma ficção, de um Nada encarnado? Um predestinado havia chegado, por fim, para liberar-me. Porém aquela liberação me lançaria numa superstição que ele condenava, uma vez que caí nesse Romantik der Prostitution incompreensível para as pessoas sérias e que é uma especialidade do Este e do Sudeste da Europa. De qualquer forma, minha vida de estudante se desenvolveu sob o encanto da puta, à sombra de sua degradação protetora, calorosa e inclusive maternal. Weininger, proporcionando-me as razões filosóficas para execrar à mulher “honesta”, me curou do “amor” durante o período mais orgulhoso e frenético de minha vida. (em Ejercicios de admiracion y otros textos. Tusquets Editores, 1992.)

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

O CALENDÁRIO MAIA E AS CATÁSTROFES DE 2012...



Segundo o calendário e as crenças daqueles pobres indígenas o ano de 2012 será um ano de surpresas para nosso planeta, ano em que conheceremos o esplendor do caos e quando quase todos (não importa nosso signo) voaremos em desespero e aos pedaços pelos ares... O tal calendário sugere que o universo se colocará em cólera em 2012, que os mares sairão de seus berços, que estrelas e meteoritos incendiários despencarão aqui e ali, que as praias desaparecerão, que os ventos levarão nossas casas como se fossem penicos de plástico etc. etc. Pode até ser que tenham razão, mas bem que aqueles simplórios selvícolas poderiam ter previsto pelo menos a chegada dos bandidos europeus em suas terras e tribos evitando assim o pisoteamento de que foram vítimas. O curioso é que muita gente  que conheço, inclusive gente culta, já está ansiosa olhando para os “céus” em busca dos meteoritos que se espatifarão no quintal de suas casas, olhando 24 horas para o mar em busca das tsunamis que invadirão suas coberturas, suas garagens e suas igrejas... Há gente que não dorme esperando de terno e gravata e de malas prontas por alguma mensagem na escuridão da noite, por  alguma estrela guia ou por alguma inscrição reveladora rabiscada no meio das nuvens. A catástrofe lhes parece algo tão certo e tão inquestionável que estão até vendendo suas casas a beira-mar e migrando para regiões montanhosas do país. A propósito: se alguém que mora em Búzios, Ipanema, Ilha Bela, Bahamas ou lugares parecidos quiser negociar suas casas ou seus apartamentos em troca de amparo espiritual ou de orações, pode entrar em contato através do tel./01023-45834.


segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

APARECIDA ESTÁ BOMBANDO...

 Pelo fato do Santuário Nacional de Aparecida, neste final de semana ter batido o recorde de visitas, DEZ MILHÕES de romeiros (quinhentos mil a mais que dezembro de 2009) meu correspondente do Mato Grosso, indignado, enviou-me a seguinte reflexão:

[Com cada vez mais devotos fazendo romaria e ORANDO no "Santuário Nacional de Aparecida" é para se suspeitar que as coisas não andam bem neste país sarneyco... porque SOMENTE OS INFELIZES e EGOÍSTAS BUSCAM DEUS e seus "agentes" fora das suas próprias consciências (ou coração, como diz o Datenão da Band - já que não as possuem), para tentar resolver os "seus" problemas mais mundanos e mesquinhos: de dinheiro, de saúde e até de relacionamentos com parceiros. Desta forma, nada mais fazem que demonstrar a negação e um claro desrespeito à "clarividente justiça divina", colocando o "Altíssimo" ao nível das suas próprias misérias morais! Senhor, a culpa é Sua, por lhes conceder o "livre arbítrio"!... Perdoai-os por tanta estupidez!!! E... por favor, não esqueça o da Band...]

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Ao leitor.... As flores do mal...


A tolice, o pecado, o logro, a mesquinhez
Habitam nosso corpo e o espírito viciam,
E adoráveis remorsos sempre nos saciam,
Como o mendigo exibe a sua sordidez.
Fiéis ao pecado, a contrição nos amordaça;
Impomos alto preço à infâmia confessada,
E alegres retornamos à lodosa estrada,
Na ilusão de que o pranto as nódoas nos desfaça.
Na almofada do mal é Satã Trismegisto
Quem docemente nosso espírito consola,
E o metal puro da vontade estão se evoca
Por obra deste sábio que age sem ser visto.
É o diabo que nos move e até nos manuseia!
Em tudo que repugna, uma jóia encontramos;
Dia após dia, para o Inferno caminhamos,
Sem medo algum, dentro da treva que nauseia.
Assim como um voraz devasso beija e suga
O seio murcho que lhe oferta uma vadia,
Furtamos ao acaso uma carícia esguia
Para espremê-la qual laranja que se enruga.
Espesso, a fervilhar, qual um milhão de helmintos,
Em nosso crânio um povo de demônios cresce,
E, ao respirarmos, aos pulmões a morte desce,
Rio invisível, com lamentos indistintos.
Se o veneno, a paixão, o estupro, a punhalada
Não bordaram ainda com desenhos finos
A trama vã de nossos míseros destinos,
É que nossa alma arriscou pouco ou quase nada.
Em meio às hienas, às serpentes, aos chacais,
Aos símios, escorpiões, abutres e panteras,
Aos monstros ululantes e às viscosas feras,
No lodaçal de nossos vício ancestrais,
Um há mais feio, mais iníquo, mais imundo!
Sem grandes gestos ou sequer lançar um grito,
Da Terra, por prazer, faria um só detrito
E num bocejo imenso engoliria o mundo;
É o Tédio! - O olhar esquivo à mínima emoção,
Com patíbulos sonha, ao cachimbo agarrado.
Tu o conheces, leitor, ao monstro delicado
- Hipócrita leitor, meu igual, meu irmão.
(Charles Baudelaire)

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Noticias e entretenimentos insólitos...

Apenas no ano de 2010 os gestores, os executivos, os governantes, e os lobistas cumpliciados com “artistas” locais e nacionais desviaram aqui no DF 40 milhões dos “cofres estatais”. Justificativas: shows para as massas; os artistas devem ir onde o povo está; entretenimento para os trabalhadores; arte popular; exposições de alta relevância; filmes de longa, curta e micro metragens; divulgação da cultura; incentivo e circulação do saber e mais alguns neologismos infames que nem me lembro. Tudo superfaturado e tudo de qualidade visivelmente precária. Duvido que tenha ficado pelo menos uma centelha desses abacaxis na memória do populacho. Eu que assisti a quase todos, posso assegurar que quatro milhões já teria sido uma infâmia, imaginem então quarenta milhões. Mas agora não adianta os Ministérios, a polícia, as donas de casa e outras trupes de invejosos e moralistas espernearem. A grana já foi despachada para Paris, Londres, Hong Kong ou até mesmo enterrada nos jardins da Babilônia.

Prenderam o chefe do WikiLeaks com o argumento papal de que ele havia comido duas suecas sem camisinha. Como naquele país esse fato tem a conotação de estupro foi encarcerado. Ora, ou as tais mulheres eram retardadas mentais, paralíticas ou coisa parecida e não tinham soberania alguma ou então ele teria que tê-las forçado a tal. Só que quem conhece o diâmetro das coxas e o porte médio das suecas e já viu o físico do Julian Assange entende logo que essa segunda hipótese não seria possível e que, portanto, tudo não passa de uma calúnia com fins judiciários.

Dizem que a apresentadora e octogenária Hebe Camargo está saindo de uma empresa de TV para outra onde faturará mensalmente uns setecentos mil Euros. Para que? Para seguir fazendo as mesmas macaquices de décadas a uma platéia geriátrica. Enquanto isto os cirurgiões dos Hospitais Universitários ganham mil e oitocentos reais por mês e as turbas na periferia de Brasília seguem se matando por vinténs, churrasqueando vacas com aftosa e assando porcos pesteados.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

O WikiLeaks, a Imprensa domada e Rita Lee...

Além das obviedades e das frescuras que os acontecimentos relacionados ao WikiLeaks estão revelando, existe algo ainda mais sutil e mais importante neste fenômeno, ele está servindo como um canal clandestino através do qual alguns jornalistas, aqueles que não se venderam e nem se vendem a seus patrões podem "vazar", divulgar e publicar aquelas noticias "proibidas"e "congeladas"nos gavetões dos diretores de redação. Não é novidade para ninguém que a grande maioria dos repórteres e dos jornalistas está exausta e desolada de tanto seguir escrevendo mesmices, de tanto cobrir matrimônios, o Sete de Setembro e o dia de Cosme e Damião. Esses profissionais não escondem mais o tédio de tanto fazer a cobertura da posse de bandidos, dos shows natalinos, do final de ano, das missas de sétimo dia, das ereções dos pedófilos, viagens de madames, marcas de automóveis, legalização de condomínios, intimidades de goleiros, resenhas de best-sellers, fofocas de novelas, os benefícios do chá de artemísia, panegíricos mútuos entre poetinhas histriônicos etc, etc, etc. Ora, todos sabem que isso não tem nada a ver com a velha idéia de uma imprensa verdadeira e revolucionária... E como esse show diário de superficialidades tem sido eficiente para manter os rebanhos ruminando e os ignorantes cada vez mais acéfalos, mesmo que o WikiLeaks não de em nada, mesmo que amanhã seja incluído na conhecida música da Rita Lee (abaixo), pelo menos até agora ele tem servido para lembrar, à imprensa e a nós, quais notícias e quais informações realmente interessam...


quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

08 DE DEZEMBRO DE 1949...

Uma das pessoas que me felicitou pela data de hoje, fez questão de lembrar-me, maliciosamente, claro, que nasci numa aldeia chamada Santa Helena, no Estado de Santa Catarina e no dia de Nossa Senhora da Imaculada Conceição, portanto, estava evidente que havia existido uma espécie de conspiração para que eu me tornasse um lunático, um frade, um cardeal ou no mínimo um coroínha... Senti minhas orelhas pegando fogo! Imaginem se esse sujeito soubesse que minha família fazia questão de dizer-se Católica Apostólica Romana e que rezava diariamente a Salve Rainha na penumbra e em latim!

SALVE Regina, - ouvia-se ao cair das tardes - Mater misericordiae, vita, dulcedo, et spes nostra salve.Ad te clamamus, exsules filii Hevae;Ad te suspiramus, gementes et flentes in hac lacrimarum valle. Eia ergo, advocata nostra illos tuos misericordes oculos ad nos converte. Et Jesum, benedictum fructum ventris tui, nobis post hoc exilium ostende. O clemens, O pia, O dulcis Virgo Maria. Ora pro nobis, sancta Dei Genitrix.

Outro correspondente, com a mesma ironia, recordava-me que nasci no mês de dezembro (mês do suposto nascimento de Cristo) e, ainda por cima, no dia 8, número que para a Opus Dei primitiva era considerado símbolo da ressurreição e cuja perfeição se refletia no octógono da pia batismal ou do batistério como expressão do feminino, do seio da igreja etc. Senti meu coração fora de ritmo. Imaginem se soubesse que nasci exatamente às 08:00 da noite! Um judeu mexicano mandou-me três linhas apenas para informar-me que, por motivos cabalísticos, a circuncisão é feita sempre no oitavo dia depois do nascimento. Uma senhora esotérica cuja casa parece um bunker budista enviou-me uns folhetos onde aparece a famosa roda-simbolo do budismo com seus 8 raios e ao lado uma flor de lótus com suas 8 folhas. Essa mesma senhora escreveu no rodapé, em letras maiúsculas, que são 8 os caminhos que conduzem à perfeição, etc, etc. Um dos antigos discípulos de Rajneesh mandou-me uma estatueta de Vishu (o deus hinduísta) com seus 8 braços, enquanto o velhinho acupunturista, ao mesmo tempo em que me enfiava a oitava agulha no cotovelo esquerdo ia resmungando que no Japão, o número 8 é considerado o número de grandeza fundamentalmente incomensurável...

Por fim, um homem de ciência, ou quase, um psicólogo que já está a um passo do manicômio, bateu-me calorosamente nas costas e, dando voz a Aristóteles e a Pitágoras, querendo fazer-me acreditar que eu era mais do que era, lembrou que o 8 é um número perfeito, o primeiro número cúbico e que a perfeição de um número é alcançada sempre na terceira potência... Uffa!!!

No final do dia estava verdadeiramente exausto e apavorado com tantas bobagens e até mesmo com minha longinqua e obscura entrada no mundo. Nas horas que passei refletindo sobre esse assunto, conclui que o acontecimento mais importante desses momentos todos e que talvez tenha sido verdadeiramente decisivo para que eu não me tornasse um babaca fervoroso, foi o fato (e isto é quase um segredo) de o médico-parteiro aquele que me arrancou das entranhas de minha mãe ter um sobrenome bizarro e profano: chamava-se, sem brincadeira, Dr. Picanço.

VOCÊ E SEU AMOR SECRETO PELOS BANQUEIROS...

Você aí que no passado vivia berrando pelas ruas que os banqueiros deveriam ser todos enforcados, você que atirou mais de um coquetel molotov nas vidraças das agencias nacionais e estrangeiras e que agora, misteriosamente, os considera "um mal necessário" e até mesmo o "pilar central da democracia" deveria, além de ter vergonha na cara, ler com cuidado as trinta e tantas páginas secretas que, não faz muito, os caciques gringos do Citigroup enviaram para seus principais acionistas. Aquelas raposas engravatadas concluíram o óbvio: os EEUU não são mais uma democracia, mas sim uma Plutocracia, isto é, uma sociedade controlada por 1% da população, por aqueles que monopolizam 95% das riquezas. Os tais memorandos além de mencionar o abismo aberto entre os pobres e eles próprios (que se consideram descaradamente uma nova aristocracia) também chamam a atenção para as demandas sociais por uma melhor divisão das riquezas como uma ameaça cada vez maior. O fato dos não ricos terem o poder do voto os inquieta. O fato de eles, os remediados, terem 99% dos votos e nós apenas 1% é motivo de risco – alertam. Por que os 99% se submetem a 1%?, perguntam-se esses gestores da bandidagem financeira, e eles próprios respondem: ora, porque a maioria dos eleitores não ricos alimenta a ilusão de que um dia eles próprios, se continuarem se esforçando, dando o sangue e o melhor de si mesmos, chegarão a ser ricos como nós e ingressarão nas nossas confrarias. Esses mesmos banqueiros e grandes acionistas não escondem a satisfação pelo fato de verem tanta gente, tanto dentro como fora daquele pais, ter acreditado e se contaminado pela idéia fútil e caipira do “sonho americano”. Mas isso é só uma forma de desprezo a mais pela turba, pois nenhum deles demonstra ter a mínima intenção de dividir absolutamente nada com os correntistas e muito menos com o populacho.

domingo, 5 de dezembro de 2010

O repórter Datena e os ateus...

O Ministério Público Federal determinou nesta semana que o Sr Jose Luiz Datena (aquele gorduchinho e falastrão da Bandeirante) se retrate perante os ateus pelas bobagens preconceituosas e beatas que emitiu durante seu programa. É inacreditável que as concessões de TVs continuem sendo feitas a energúmenos e a manipuladores das massas sem nenhum controle social. Mas assim mesmo acho a decisão do MPF uma bobagem tola. Ao invés de obrigá-lo a retratar-se, deveria obrigá-lo a demonstrar em público que suas crenças teístas têm algum fundamento ou então, que tivesse que discursar pelo menos uns quinze minutos sobre seu Deus sem repetir a baboseira infame, infantil e mercantil que todos conhecemos. Claro que seria um fiasco espetacular. É impressionante que essa gente que defende a idéia de um Deus nesses moldes praticamente primatas acredite que seria amparada por ele. Duvido! Não é possível que uma divindade, fosse a que fosse, viesse a ser condescendente com esse tipo de picaretas e de alienados...

Pelas estradas do mundo...

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Dos esgotos de Paris e dos esgotos do Morro do Alemão...

Exatamente como Jean Valjean do romance Os miseráveis, os bandoleiros do Morro do Alemão se escafederam e saíram da cena de batalha através dos esgotos. Que tristes momentos devem ter experimentado ao terem que, além de deixar para trás montanhas de pó, toneladas de fumo, dúzias de armas automáticas, mergulharem na própria imundice... Todo mundo está curioso para saber onde se meteram, mas até agora não se tem a mínima idéia. Outra curiosidade, quase nacional, é a respeito de seus clientes, tanto das redondezas como dos bairros luxuosos e intocáveis daquela urbe, os tais artistas, os tais executivos, os tais agentes públicos, as madames desocupadas, os adolescentes desvairados, os intelectuais, os midiáticos, os delirantes e os porra-loucas em geral, quem irá fornecer-lhes a mercadoria neste breve período de turbulência?

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Os subterrâneos do Complexo do Alemão e o suicídio do criador do filme o Incrível exército de Brancaleone...

Suicidou-se hoje, aos noventa e tantos anos o cineasta e comediante Mario Monicelli. Aproveitou um vacilo da trupe de um hospital de Roma e lançou-se pela janela do quarto andar. Todo mundo sabe que foi ele o criador do filme O incrível exército de Brancaleone. Correm boatos maldosos aqui pela capital da República segundo os quais seu suicídio estaria relacionado à tomada do Complexo do Alemão. Não teria suportado ver a realidade sul-americana superando, e em muito, sua ficção. Pura maldade! Seja lá o motivo que for sua decisão traz novamente à tona o principal e maior de todos os problemas humanos: o suicídio. Tema intangível e que quando é discutido é sempre olhado do mesmo ângulo e com o mesmo estrabismo. Proibir uma pessoa adulta de sair da vida quando ela bem entender (e obrigá-la assim ao vexame de jogar-se furtivamente por uma janela, por exemplo) talvez seja o pior de todos os absurdos civilizatórios. É bem provável que esta mesma sociedade desvairada que busca neurótica e desesperadamente pela longevidade, um belo dia se permitirá oferecer àqueles que já estão fartos, formas bem mais dignas e respeitáveis de colocarem um ponto final em suas existências.

domingo, 28 de novembro de 2010

Rambos, pés de chinelo e o sensacionalismo da melancolia...

A decepção foi geral. Tanto os que torciam pelos bandidos como aqueles que apostavam nos policiais tiveram que contentar-se com um final melancólico. Só os meios de comunicação com seus fotógrafos, seus câmeras, seus repórteres e seus âncoras puderam faturar legal e iludir as massas por alguns dias. No front, nada. Só aquelas tartarugas enferrujadas e aqueles homens fantasiados de Rambo – de um lado – e aqueles pés de chinelo de outro. Uma rajada aqui, outra ali para não deixar o tédio tomar conta. Uns sacos de maconha aqui, uns pacotes de cocaína acolá, fuzis, cartuchos, balanças e bacias que os foragidos iam deixando pelo caminho, mas nenhum livro. Nenhum, nem sequer um Manual de guerrilhaA vida de Papillon, Como fabricar bombas caseiras, o Kamasutra, Como negociar com pó sem voltar ao pó, ou pelo menos uma Bíblia, nada. Ateus e analfabetos. O analfabetismo é epidêmico. Complexo do Alemão? Complexa mesmo é essa intriga entre Cain e Abel. Ou seria entre Abel e Cain? A comunidade obesa espiando pelas frestas dos barracos, um policial aponta para o nada, helicópteros das TVS privadas iludindo e atiçando as massas, outra rajada, a policia sob a chuva, os bandidos correndo morro acima com suas incômodas havaianas. Faixa de Gaza ou Muro das Lamentações? Frustrado e impressionado com o abismo que existe entre as palavras e os atos, fico imaginando como devem ter sido inacreditáveis os micos na guerra do Paraguai.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

A maldição de Paganini...

Dois anos e meio de violino renderam-me além do prazer imenso de vinte e tantas partituras dores incomodas nos cotovelos e nos punhos, transtorno que os especialistas classificam como DORT ou LER, e para as quais não há remédio pronto, só abstinência, paciência e fisioterapia. Raios infravermelhos, placas quentes, fisgadas eletromagnéticas, bolsas de gelo intercaladas com bolsas de água quente, muitos alongamentos associados as sete ou oito agulhas da acupuntura e às mãos hábeis e pecaminosas da expert em shiatsu. Segundo as inúmeras teses acadêmicas sobre o assunto, quase todos os violinistas sofrem ou já sofreram desse mal. Até já ouvi alguém jurando que esse tipo de dor advém de uma maldição de Paganini, de uma praga daquele louco genial que por ter rejeitado a extrema-unção, recebeu da igreja vingativa da época a proibição de que seu corpo fosse enterrado num cemitério. Daí o fato de seu cadáver ter ficado durante anos a espera de uma cova, até que seu filho conseguiu uma autorização junto ao Papa para o sepultamento. Finalmente foi depositado lá no cemitério de Parma, com todo o luxo e os requintes que um músico de seu calibre merece. Maldição paganiniana ou não essas dores têm servido para esclarecer-me duas coisas:

1) que nosso esqueleto é de uma precariedade lastimável.
2) que o violino não é instrumento para qualquer um, pois não se deixa manipular impunemente...

terça-feira, 23 de novembro de 2010

A simpática milionária de São Paulo e Al Capone...

Os crimes atribuidos a Tânia Bulhões em São Paulo e os atribuidos a Al Capone, em Chicago, foram de mesma natureza: sonegação fiscal. Al Capone (vendedor de antiguidades) pegou 11 anos de cadeia; a simpática empresária paulista (do ramo de perfumaria e decorações) pegou 04, mas de leves atividades filantrópicas e beneficentes. Terá que prestar serviços junto a uma entidade que assiste a deficientes visuais e já se sabe que irá instruí-los e adestrá-los no métier da perfumaria. Ah, e outra punição, esta mais dura ainda: não poderá ficar em Paris, Londres, Hong Kong ou Cote D'azur etc., por mais de 10 dias sem o consentimento das autoridades brasileiras. Por que 10 dias pode e quinze não pode só mesmo Chico Xavier poderia nos dizer. Que tal? Você aí vendedor de chinelos, funcionariozinho público, catador de latas, sapateiro de fundo de quintal, marceneiro, vendedor de espanadores, você que não pode contratar aquele ex-ministro para ser seu advogado, fique esperto, pois se desviar duzentos reais da Receita ou sonegar uma cesta básica correrá o risco de perder suas tralhas e de mofar numa jaula. E claro que eu não seria indelicado e insensível ao ponto de desejar que as desgraças da lei se abatessem sobre a mademoiselle em questão, se faço esta nota é apenas para relembrar que as coisas transcorrem aí pelos tribunais no mesmo clima, ritmo e frenesi de uma perfumaria e que a justiça aqui nos trópicos – apesar dos deslumbrados - é de um surrealismo interminável. 

NB: Alquém que já visitou a tumba de Al Capone lá em Chicago diz que viu esta inscrição na lápide: My Jesus mercy!

sábado, 20 de novembro de 2010

EM DEFESA DO NOBRE DEPUTADO TIRIRICA...

Não apenas o Tiririca é a cara falsificada do Brasil, mas também as leis e a justiça que quer impedi-lo de assumir seu cargo no Congresso Nacional. Que raciocínio é esse que possibilita e que até obriga analfabetos a votarem e a elegerem e que ao mesmo tempo os interdita de se candidatarem e de serem eleitos? E se uma pesquisa verdadeira demonstrasse que 70% (sendo otimista) de nossos eleitores têm o mesmo grau de escolaridade e de “substância”que o Tiririca? Pobreza mental da ameba residual que ainda trazemos ou aos tiriricas da vida ainda se resguarda apenas o status de bucha de canhão e de massa de manobra?

Se o Tiririca (com seu analfabetismo) não tem “substância” para ser deputado, como é que a tem para ser eleitor, e mais ainda, um homem público de televisão, formador de opinião e com uma audiência diária e nacional muito maior que a de qualquer parlamentar? Se a dialética dos nobres senadores e dos nobres deputados continua sendo “pão e circo” qual é o problema se um palhaço autêntico ingressar em suas fileiras? Pelo que tenho notícias, meus antepassados, aqueles que construíram Veneza, não sabiam interpretar texto nenhum e nem sabiam direito se Radicchi se escrevia com ch ou com x. Além disso, aqui entre nós, desde que se fundou a Republica nunca se exigiu dos deputados mais do que duas competências: contar dinheiro e saber quanto é 20%. 

Falsidade ideológica? Que porra é essa? Não sejamos perdulários! Se nunca tivemos ideologia alguma como poderíamos falsificá-la? Somos de uma estirpe que sempre confundiu ideologia com teologia e mesmo quando nos gabamos de algum ponto de vista “revolucionário”, no fundo, continuamos sendo apenas um parafuso ou uma porca da grande engrenagem ocidental chamada Opus Dei.

Se quiserem processar alguém por esse bafafá todo, que processem o MEC por tê-lo deixado crescer alienado das letras; que processem o STE por eternizar a perversão do voto; que processem o Ministério das Comunicações pelas concessões esdrúxulas das rádios e das Tvs; que processem os partidos que o usaram malignamente e que processem até mesmo Platão por ter legado ao mundo a República, essa legitima égua de Tróia. 

Enfim, por tudo isto, defendo a posse do Tiririca. E como moro a uns poucos quilômetros do Congresso Nacional, prometo estar fielmente lá nas arquibancadas sempre que o nobre deputado colocar as quatro patas na tribuna.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

UMA ODE AO ESTRAGÃO...

Você que já leu todos os livros sagrados e que até quis escrever um novo evangelho; você que já militou tanto como sindicalista como “pelego” de fábrica; você que já foi padre, herege, indiferente; você que num dia se achava o bambambam e no outro, com a mesma pompa, focinhava pelas tocas de raposas; você que numa semana discursava sobre a filosofia da miséria e na outra sobre a miséria da filosofia; você que pisoteou e foi pisoteado, você que fez apologia da Ficha Limpa para ocultar que é um Ficha Suja; você que ao longo de tua vida elegeu uma corja de larápios atrás da outra; você que se vende por um saco de farinha; você aí, com teu terno de três mil euros e com tua gravata de mafioso; você que já fez de tudo nesta puta existência e que mesmo assim continua na merda inclua o Estragão na tua vida! Abra tua cozinha e teu estômago para o Estragão, essa erva asiática que lhe fará momentaneamente feliz. Está escrito: uma sopa de anholini temperada com Estragão, seja feita numa lata de querosene ou numa sopeira celta é a verdadeira Graça e a verdadeira Glória que os ingenuos tanto imploram na penumbra de seus covis...

terça-feira, 16 de novembro de 2010

As bactérias hospitalares e a busca de santidade...

A mídia  informa obsessivamente  que as "bactérias hospitalares" estão espalhadas por todos os lados e que estão cada vez mais resistentes! Ora, que argumentos nos fariam acreditar no contrário? Como elas poderiam estar se debilitando? Sempre foi óbvio que após o sucateamento das instituições viria o sucateamento das pessoas, e vice-versa. E no meio de toda essa mentirada de incompetentes ressurge outro mito, a idéia de que o álcool gel e os detergentes salvarão o mundo. Balelas! Pensem nas legiões de doentes crônicos e úteis que povoam o país... Por menos que acreditem e por mais insólito que pareça existe uma relação sutil e quase secreta entre religião e sujeira, entre falta de esgotos e misticismo, entre doença e santidade. Vejam as reflexões de Cioran sobre esse assunto:

A santidade: fruto supremo da enfermidade. Quando se está saudável, parece monstruosa, ininteligível e ridícula. Mas, basta que esse Hamletismo automático chamado doença (ou neurose) reclame seus direitos para que os céus tomem forma e constituam o marco da inquietude. A gente se defende contra a santidade mantendo-se limpo já que ela advem de uma sujeira particular do corpo e da alma. Se o cristianismo tivesse proposto, em lugar do inverificável, a higiene, não encontrariamos em sua história um único santo. Mas cultivou nossas feridas (nossa culpa) e nossa sujeira, uma sujeira intrínseca e fosforescente. A saúde: arma decisiva contra a religião. Inventai o elixir universal e o céu desaparecerá. É inútil seduzir ao homem com outros ideais, sempre serão mais débeis que as enfermidades. Deus é nosso ferrugem, a deterioração insensível de nossa substância. Quando penetra em nós, temos a impressão de elevar-nos, mas baixamos mais e mais e quando chegamos ao fim coroa nossa decadência. "Salvos" para sempre? Superstição sinistra, cancro coberto de auréolas que roe a terra há milênios...”

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

VIVA A REPÚBLICA!!!


Como dizia George Clemenceau: Existem dois órgãos inúteis, a próstata e a Presidência da República...

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

CANNABIS & SENECTUDE......

Fracassou novamente o projeto californiano de legalizar a maconha. Se as plantas realmente nos compreendessem e pudessem se expressar – como acreditam alguns fanáticos – essa simplória e singela erva talvez já tivesse manifestado seu espanto diante de tamanha ambigüidade que o mundo lhe confere. Por um lado a idolatria e por outro a abominação. Alguns acreditam que o projeto só não foi aprovado porque estava mal formulado e que a proposta teria muito mais consistência se previsse a liberação de seu uso apenas para pessoas com mais de sessenta anos. Como assim? Indaguei ao autor dessa idéia. Os jovens não necessitam de droga nenhuma – respondeu-me categórico. Eles próprios, com seus hormônios, com seus sonhos e com seus ideais somados às mentiras do mundo são uns laboratórios ambulantes. O THC (ou o tetrahidrocanabiol contido na cannabis) é uma titica diante do princípio ativo que o cérebro de um jovem produz. Já o velho não... Ele sim precisa drogar-se para seguir sua viagem e para suportar tanto o teatro tedioso dos dias como o peso velhaco da história. Ao invés de passarem seus últimos anos trabalhando, rezando ou jogando dominó nas esquinas, os velhos os passariam flutuando na varanda de seus arranha-céus, bocejando na janela de suas mansardas ou "viajando" pelas estradas do mundo no meio da fumaceira de seus baseados... A eles sim o tetrahidrocanabiol teria uma utilidade única e transcendente.

domingo, 7 de novembro de 2010

LETIV PTACHOK...

Nestes dias de outono aqueles que por necessidade ou pelo simples prazer de vagabundear descerem aos subterrâneos do metro de Montmartre e vagarem sem compromisso por aqueles túneis e labirintos, uma hora ou outra se depararão com o casal Lhor e Dariya Kuhaykevych - ele com um acordeão e ela com sua voz - interpretando umas 19 musicas ucranianas. Entre elas, a de número sete, titulada Letiv Ptachok é estupenda. (Você pode ouví-la agora no link abaixo). No meio da pequena platéia que se aglomerou ao redor dos músicos havia três ou quatro ciganos, dois negros das guinés, um chinês e pelo menos um clochard, este, já entrando na velhice, com aquele aspecto quase medieval de europeu do Leste e com aquela embriagues misteriosa nos olhos que sempre os diferenciam do rebanho. Todos que passavam sentiam que havia algo de especial na voz daquela mulher e especialmente ele parecia atordoado e chocado pela força e pelo poder misterioso daquela musica. Mas, pelo menos durante o tempo que permaneci ali, não expressou nenhum gesto de "fraqueza" e nem deixou vazar nenhuma lágrima de silicone. Apenas se lhe via nas faces a lividez e a soberba de um chacal de rua, como se Paris, o  frio e o exilio lhe tivessem ensinado que "en toutes choses, nous devons savoir souffrir en silence...  Já, os ciganos, olhavam para todo aquele "romantismo"  dramático com uma certa desconfiança, como se lembrassem da frase de Madame de Stael: "L'amour est le tout de la vie d'une femme, il n'est qu'une saison dans la vie des hommes"...

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

A IRANIANA E AS NOSSAS MULHERES...

O mundo é realmente uma piada, um lugar repleto de contradições, bizarrices e desgraças. A condenação da iraniana Sakineh Ashtiani é um dos mais truculentos exemplos. Ah, mas é a cultura! Cultura? Em nome da cultura, do sexo e da fé é que se tem cometido os crimes mais estúpidos. E é importante lembrar que muitos dos humanistas de plantão que hoje se dizem indignados e fazem alarde com o trágico destino daquela mulher nunca se atreveram a abrir a boca para mencionar as centenas de milhares que aqui, ao nosso redor e sob nossas barbas também são cotidianamente "enforcadas"... Pense em quem você quiser, na mãe, na irmã, na tia, na serva, na vizinha, na amante, na filha, na neta... Apesar do silêncio e da ignorância generalizada, o universo feminino ainda constitui uma legião de condenadas, mesmo quando a maquiagem civilizatória e a demagogia vigente perpetuem o atual disfarce. 

Na semana passada quem é que não ouviu a história da defunta que, aqui entre nós, foi arrancada da tumba e estuprada? Necrofilia! Alguém consegue imaginar o clima durante a consumação do ato? Eis aí o homem, o pobre homem com seu pobre pau, esse ser sem porvir que insiste em permanecer nas entranhas da hiena...

Ezio Flavio Bazzo

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Os marqueteiros e a cama de Procusto...

Se o que um candidato diz do outro é mentira, então ele deveria ser imediatamente interditado. Se o que ele diz é verdade, o outro deveria ser imediatamente preso. Mas não há interdição e nem prisão alguma. Tudo é apenas um show milionário engendrado por três ou quatro marqueteiros anônimos e infames. Bandido daqui, bandido dali! Ladrão daqui, ladrão dali! Estelionatário daqui, prevaricador dali. Oportunista daqui, vivaldino dali. Vendilhão da pátria aqui, vendilhão da pátria ali! E o pior é que no fundo nem se sabe se há realmente uma pátria...

Nossas estatísticas, nossos relatórios, nossas prestações de contas, nossos balancetes, nossa dialética, nossas histórias, nossas justificativas, nossa lógica, nossas ameaças, nossos métodos para ajustar as coisas lembram, e muito, o método do salteador Procusto.

PARIS CONTINUA VALENDO UMA MISSA 5

sábado, 23 de outubro de 2010

PARIS CONTINUA VALENDO UMA MISSA 3

Mais de um milhão e meio de “militantes” marchando para a Bastille e cada um com a sua coleira, com sua bandeira e com a sua fé. Ter que trabalhar dois anos a mais como quer o Estado é realmente  uma desgraça, mas se comparados aos trinta e tantos já cumpridos não significam nada... A manhã está nublada, com chuva ou com sol Paris é sempre uma festa! A velharada do PCF parece mais ativa e entusiasmada do que nunca! As meninas e os meninos do liceu gritam antigos slogans e gostariam de reeditar o Maio de 68, mas como ressuscitar a Sartre? Aos socialistas só lhes faltam as batinas; os estrangeiros levam visível na cara o horror à possibilidade de terem que voltar para suas tribos; os Verdes anseiam por uma floresta que já virou cinza; os gays, lésbicas e derivados gostariam que o Sarkozy universalizasse a farra da pré-genitalidade; os corações dos anarquistas ainda palpitam em memória a Ravachol e só se contentam com a idéia de um incêndio generalizado; os comerciantes baixam as portas para preservar suas quinquilharias e a policia está lá, em cada esquina, pronta para “cumprir ordens”, descer o cacete e para defender algo que nem sabe o que é.  Enquanto isso, a velha monarquia do passado, os milionários, os donos dos bancos e do planeta não estão nem aí, fumam seus charutos confortavelmente em suas mansões ou em suas ilhas paradisíacas indiferentes a todas as manifestações da plebe. Acham até graça do desespero da "gentalha" por trabalho, por "qualidade de vida" e por migalhas. Tanto de um lado como de outro o que existe é a consciência de que por  detrás de todos os “movimentos sociais”, de todas as guerras, as ganâncias e as neuroses pessoais  está a frustração por saber que a vida é uma experiência inútil.

O trem que me leva ao aeroporto vai mais devagar por causa das greves. É evidente que ao invés de apenas quinze dias deveríamos passar a vida inteira em férias!


Aquisições:

- Petite philosophie du marcheur (Christophe Lamoure)
- Dieu n'est pas grand (Christopher Hitchens)
- Le goût de la marche (Textes choisis par Jacques Barozzi)
- Petit éloge de l'ironie (Vicent Delecroix)
- Politique du rebelle (Michel Onfray)
- Les nains et les elfes (Claude Lecouteux)
- Le mariage d'amour a-t-il échoué? (Pascal Bruckner)
- Le guide du routard (Praga)
- Le guide du routard (Roumanie et Bulgarie)
- Um violino tcheco
- Alfons Mucha - Maître de l'Art nouveau (Renate Ulmer)
- Um CD do Duo Yaoryna (Ukraine)
- Duas batatas de tulipas
- 1880 fotos.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

PARIS CONTINUA VALENDO UMA MISSA 2


La rue assourdissante autour de moi hurlait.
Longue, mince, en grand deuil, douleur majestueuse,
Une femme passa, d’une main fastueuse
Soulevant, balançant le feston et l’ourlet;
Agile et noble, avec sa jambe de statue.
Moi, je buvais, crispé comme un extravagant,
Dans son oeil, ciel livide où germe l’ouragan,
La douceur qui fascine et le plaisir qui tue.
Un éclair... puis la nuit! - Fugitive beauté
Dont le regard m’a fait soudainement renaitre,
Ne te verrai-je plus que dans l’éternité?
Ailleurs; bien loin d’ici! Trop tard!Jamais peut-être!
Car j’ignore où tu fuis, tu ne sais où je vais,
O toi que j’eusse aimée, ô toi qui le savais! 

(Uma passeante, de Charles Baudelaire)

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

PARIS CONTINUA VALENDO UMA MISSA 1

Olhando esse povo de perto nem dá para acreditar que ele tenha conseguido construír uma urbe e uma cidade como esta. Apesar da paranóia com o terrorismo Paris é o que existe de mais fascinante na terra, principalmente agora que os “bárbaros” invadiram praticamente tudo. Africanos, asiáticos, sul americanos, latinos em geral, ciganos, árabes, turcos, negros, japoneses, esquimós e o diabo a quatro tomaram Paris e para sempre. Não só mudaram a cor da cidade, mas também obrigaram os franceses a serem menos estupidos e a dançar a vida com mais leveza. A cada passo que se dá por aqui se tem a convicção de que, comparativamente,  o Brasil  é, em todos os sentidos, uma vila mergulhada no desamparo, na ignorância e no atraso. São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte e outras cidades que os ufanistas não se cansam de incensar, todas juntas, somadas, uma enfiada no rabo da outra e com seus escritores, intelectuais, empresários, políticos, charlatães, misticos, livrarias, bibliotecas, etc não chegam aos pés de um único arrondissement parisiense. Ah, pelo menos mil anos nos separam! Desde o mecanismo de descarga das privadas até às prateleiras de belas artes ou de arqueologia. E o pior, é que precisariamos viver uns quatrocentos anos para ter o sentimento de que se conseguiu vê-la por inteiro...

sábado, 16 de outubro de 2010

Outono de Praga - 2

 Sinais da dinastia dos Habsbourgs por todos os lados. Dizem que Praga já foi até o centro espiritual e político da velha Europa. Se é verdade não sei, mas catedrais é que não faltam por aqui, quase todas edificadas pelo príncipe Venceslau que, aliás, foi assassinado em 929 por seu irmão Boleslau. O Parricídio e o fratricídio foram sempre marcas das monarquias católicas e fajutas do mundo. Quem não quiser fazer os tours tradicionais por aqui, pode ir aos subterrâneos da cidade, ver os objetos medievais de tortura, ao museu do sexo, ao museu do comunismo etc. Esquisitices e bizarrices não faltam pelo mundo. E por falar em bizarrices, uma companhia tcheca de aviação faz três vôos curiosos: Praga/Fortaleza (Brasil); Praga/Varadero (Cuba) e Praga/Puket (Tailândia). Será que têm alguma coisa a ver com pedofilia? Ouço o guia histérico dizendo a um grupo de espanhóis que foi em 1896 que o gueto judeu de Praga foi aniquilado, que a tumba de Kafka está em outro cemitério e que foi em 1969 que Jan Palaok imolou-se em praça pública em protesto contra a invasão soviética. Como identificar o que é história e o que é estória. A neblina que sobe do rio VItava vai rodopiando na direção dos antigos edifícios stalinistas. Reinicio minha caminhada sentindo aquilo que dizia Raymond Devos: Mon pied droit est jaloux de mon pied gauche. Quand l’un avance, l’autre veur le dépasser. Et moi, comme un imbecile, je marche.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Outono de Praga - 1

Se não fossem os turistas Praga seria uma maravilha! Depois de pisoteados por Hitler e humilhados pelos soviéticos os tchecos parecem fascinados e felizes com os encantos da malandragem capitalista. Manadas de todas as raças e cores se acotovelam na ponte Charles, em frente ao relógio astronômico que marca além das horas o clima, o mês, o dia etc. Depois vão sedentos ao castelo e mais tarde comer um salsichão de meio metro lá na esquina da Nove Mesto e que custa 50 Coronas. Para fotografar o cemitério judeu 350,00 coronas. Kafka pra cá e Kafka pra lá, sem falar do Mucha e do Dvrak. Dizem que Dvorak – antes de ser compositor – foi aprendiz de açougueiro. Trocar moeda nas casas de câmbio sem ser roubado é quase um milagre. Aqui e ali tudo a mesma coisa, mas o que fazer se esse é o perfil da canalha capitalista? Você fala alemão? Você fala tcheco? Não! Então melhor ir para Cochabamba... As manadas comprando porcarias, bonequinhos, roupinhas, copinhos da bohemia, caixinhas de fósforos. A globalização, além de  tudo, acabou com o charme de ir ao fim do mundo e trazer de lá uma pedra ou um instrumento único e exótico. Agora, com a turba se arrastando pelo planeta a fora, tudo está condenado à mediocridade. Salsichas, vinhos, absinto, goulash e a neblina cobrindo tudo lá pelas seis da manhã, deixando vazar apenas uma réstia de luz para uma foto quase perfeita. Quando você vier para cá, lembre-se de meu conselho: o que há de melhor em Praga é um doce conhecido por "trolo", lá na rua Karlova 146.

domingo, 3 de outubro de 2010

E aí, já exerceu sua OBRIGAÇÃO "civica" e "cidadã"?

1- Na madrugada passada despencou uma chuvarada sobre a cidade. Além de aliviar a sensação de Saara melecou e dissolveu os milhares e milhares de pôsteres, placas, banners, faixas, adesivos e fotos que infestaram as ruas nestes últimos dias de campanha. Curiosamente, todos os candidatos estão rindo nas fotos. Não há uma única em que o dito cujo esteja sóbrio. Riem de que, afinal? Será que o populacho só vota em quem mostra descaradamente os dentes?


2- Recentemente um dos candidatos ao governo do DF reuniu-se com uns 1000 (mil) pastores da cidade e entorno. Dá para ter uma idéia do que isso significa, ou não?


3- Facções contrárias andaram se dando pauladas e pedradas aí pelos arredores do Palácio. A praxis e a consciência desses energúmenos, com relação à política e ao voto é exatamente a mesma de quando torcem por algum time de futebol ou por algum galo no pátio de uma casa de rinhas.


4- A maioria dos candidatos se vangloria de já estar no terceiro ou no quarto mandato. Essa ignomínia virou profissão.


5- Os agitadores de bandeiras nas esquinas ganham em média 15 reais por dia ou um prato de feijoada. São recrutados pelos astutos gerentes dos comitês e são praticamente todos pertencentes ao lupemproletariado. Isto é....


6- Na escola da esquina (onde fiz a foto) os que estão na fila estão visivelmente entediados, deve ser porque sabem que estão indo assinar uma procuração em branco para espertalhões e demagogos...


7- Como resolver essa questão? Perguntam-me. Bem, se ainda não é possível livrar-se definitivamente dessa pantomima e desse circo quadrienal pelo menos que os gatunos de turno sejam eleitos através de sorteio, como a Mega Sena. 

Ezio Flavio Bazzo

terça-feira, 28 de setembro de 2010

A falácia daquilo que eles prometem...

“Vamos erradicar a pobreza!” Como? Fuzilando oitenta milhões de fodidos?

“Vou aumentar o salário mínimo para 600!” O nome é tão vil quanto o valor. O salário “mínimo” só deveria ser praticado numa situação extrema de guerra, de peste ou de falência generalizada da economia.


“Vou colocar dois professores em cada sala de aula!” Pior ainda. Se um já faz tanto mal e causa tantos transtornos às crianças imaginem dois.


“Vamos investir 10% do PIB em educação!” Ah, então nas próximas décadas o adestramento será completo.


“Seremos o segundo maior país produtor de petróleo do mundo. Seremos uma Arábia Saudita tupiniquim!" É mesmo? Então será pior para nosso ar, para nossos mares e rios. Pobres de nossos pulmões! Um governo decente faria tudo para deixar esses fósseis nojentos e putrefatos lá no fundo da terra onde se encontram.


Vamos investir bilhões e bilhões em hospitais!" Ora, nada é mais reacionário, insalubre e iatrogênico de que um hospital. Não deveria existir mais de um ou dois em cada país e apenas para intervenções ultra-complexas. Não é novidade que a saúde hoje está pior do que quando se usava chá de quebra-pedra para todos os sintomas. E se houve algum progresso foi muito mais por conta do sabão e da creolina do que pelos "doutores" e pelas multinacionais de medicamentos. 


“Vamos disponibilizar remédios gratuitos para diabetes e para hipertensão!” Ora! Isso é uma idiotice! Seria muito mais fácil e barato obrigar a indústria a reduzir a quantidade de sódio e de açúcar com os quais envenena todos os alimentos. 


“Vamos fragmentar as grandes propriedades, dividir os rebanhos, enforcar os fazendeiros na porteira de seus latifúndios!” Tudo bem, mas quem é que tem culhões para isso?


“Vamos investir pesado em programas que garantam a dignidade e o respeito aos velhos da terceira idade!” E quem disse que todos os velhos merecem respeito?


“Não vamos dar tréguas à corrupção!” Venho ouvindo essa frase desde os seis anos de idade quando meu pai ligava o rádio, acendia um charuto e ficava atento às baboseiras de Getulio ou de Lupion.


“Podem votar no fulano que eu conheço! Esse é um homem digno! Está na luta há décadas e continua pobre! Esse tem nome limpo e eu recomendo! Etc,etc.Para quem já freqüentou um bordel é impossível não lembrar logo do discurso das cafetinas.

 
“Vamos construir saneamento básico pelo país a fora!” Duvido. Tudo indica que existe uma complexa e secreta relação entre política e esgotos a céu aberto.


"Farei tudo por esta cidade que amo, sempre ao lado de Nossa Senhora e do Menino Jesus!" (Sem comentários!!!)


“Nosso partido é contra o aborto!” Lógico! Pelo mesmo motivo que é contra a foda! No íntimo é também contra a vida!


“Vamos combater radicalmente o crack!” Ora, o crack é apenas o veículo através do qual legiões e legiões de desenganados se suicidam diariamente. Oferecer-lhes em troca do cachimbo um par de chinelos, uma sopa, um cobertor, uma bíblia ou um folheto de bons costumes é um sarcasmo ou no mínimo uma piada.


“Nosso partido reconhece as igrejas como parceiras e o papel fundamental delas para a paz social e para a o progresso humano!” Não precisava nem falar. Há quinze dias foram pedir benção aos rabinos da sociedade israelita de SP e nesta semana submeteram-se aos “altos questionamentos” da cúria metropolitana na Universidade Católica do DF. Se tivesse tempo iriam às mesquitas, às casas de umbanda, aos centros satânicos e até ao escritório dos lunáticos do Universo em Desencanto.

Ezio Flavio Bazzo

sábado, 25 de setembro de 2010

Como dizia um velho espírita: se sopras a brasa ela se acende, se a cobres de cuspe ela se apaga. Tudo acontece através da boca...

 Nesta semana uma pesquisa estrangeira indicou o Brasil como sendo o segundo país mais otimista do planeta só perdendo para a China delirante. E isto com todas as nossas desgraças cotidianas, com toda a roubalheira, com todo o misticismo, com a predominância dos “fichas sujas”, com um judiciário que se camufla no “empate”, com 90% das cidades e vilas sem bibliotecas, sem saneamento básico, com as escolas caindo, com os hospitais em pedaços, com os serviços de quinta qualidade, com as cadeias e os presídios lotados, com os pobres engordando como porcos e com centenas de homicídios bárbaros todos os dias. Aliás, a cidade do Recife acaba de instalar numa esquina da Praia de Boa Viagem (Joaquim Nabuco com Guilherme Pinto) sabem o que? Um relógio Contador de homicídios. O primeiro da história! Imaginem então a que grau patológico chegaria nosso otimismo se fossemos uma sociedade minimamente saudável e minimamente organizada. Essa babaquice otimista não lhes parece uma coisa de outro mundo? Algo assim como um transtorno de ordem genética??? Quem é que não está cada dia mais convicto de que os "búfalos" se apropriarão completamente da terra???  

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

As eleições, a propaganda, o voto e o sabão em pó...

Os gerentes do processo eleitoral estão euforicamente gastando fortunas em publicidade para convencer aos eleitores de que “devem votar” e votar “bem”! Votar “conscientes” naqueles candidatos que “melhor representem seus desejos”, naqueles que sejam “éticos”, que “não tenham ficha suja” etc., etc. Ora, puro jogo ilusionista e obsceno! Na verdade, as opções que os eleitores têm nesta terra “remissa e relaxada” – como dizia Anchieta - não são muito diferentes das que tem uma dona de casa quando vai ao mercado da esquina comprar sabão em pó. A liberdade que o gerente lhe garante é apenas a de, na mesma prateleira optar entre uma caixa de Omo, ou uma de Minerva; entre uma de Ace e uma de Brilhante. Ou não? E desde quando essa submissão  pode ser considerada livre escolha ou exercício de soberania? Desde quando essa opção tem alguma coisa a ver com liberdade? Pelo contrário, se parece bem mais à servidão, principalmente porque sabemos que a química de todos eles é a mesma e que só mudam realmente as embalagens e os nomes de fantasia...
E o mais dramático dessa idiotice é saber que não adianta espernear. O dia-a-dia não se cansa de nos mostrar que a vitória nunca será do desejo, mas sempre e sempre do que há de mais tirano, de mais vil e de mais desprezível nos instintos...

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

PEDOFILIA: pouca gente lembra que Papa é a conjugação do verbo papar na terceira pessoa...

Enquanto o Papa – por orientação de seus marqueteiros - vai dando a volta ao mundo e pedindo perdão às crianças enrabadas por “membros” do clero, nas paróquias daqui e dali, nas periferias, nas províncias e nos vilarejos de analfabetos, indiferentes a todo o teatro papal os padrecos continuam papando criancinhas, coroinhas e até mesmo algumas desavisadas beatas. Os ingressos para a missa que rezou em Birmingham custaram mais de trinta dólares. Que tal a nova forma de busine$? Sua permanência na Inglaterra não foi muito tranqüila, principalmente depois de cinicamente tentar ligar os ateus ao nazismo. No vídeo abaixo podemos ver o biólogo Richard Dawkins (autor do livro Deus um delírio) relembrando-lhe algumas verdades:



domingo, 19 de setembro de 2010

A ARTE DE PERSCRUTAR E DE DRIBLAR A MONOTONIA DO MUNDO...

Tive um sentimento curioso agora à tarde ao deparar-me com esse homem de olhar veloz e enigmático (clique sobre a foto para ver melhor sua expressão) recolhendo latas, garrafas e outras porcarias numa feira da cidade. Ia com sua bengala e com seu saco, recolhia algo aqui, algo ali, sentava-se uns minutos, perscrutava o mundo, acendia um cigarro, dava uma ou duas  longas e intermináveis baforadas, cumprimentava outros andarilhos e prosseguia sua marcha, quase  em estado onírico. Por coincidência havia lido pela manhã, na página 148 da Cabala do dinheiro um texto de I. L. Peretz sobre a chegada ao céu de um sujeito mais ou menos como ele que recolhia lixo nas ruas, que em vida jamais havia entrado em discórdias com quem quer que fosse e que ao morrer fora enterrado como indigente. A história usada pedagogicamente pelos rabinos é mais ou menos assim:
[Nos céus há um enorme alvoroço. Nunca haviam recebido tão ilustre alma, e todos acorreram ao tribunal celeste para receber aquela figura tão pura. O próprio Criador fez questão de oficiar o julgamento, enquanto o Promotor Celeste se contorcia de ódio pela causa que já percebera perdida. Bontche foi então trazido diante dos anjos, do Criador e do Promotor, que foi logo desistindo de fazer qualquer acusação. O Criador tomou então a palavra e, elogiando Bontche, lhe disse: “Tão maravilhoso foste em tua vida que tudo aqui nos céus é teu. Basta que peças e terás de tudo. Vamos, o que queres, alma pura?” Bontche olhou então com desconfiança e, tirando o chapéu, disse: “Tudo?” “Tudo!”Respondeu o Criador. “Então eu queria um café com leite e um pãozinho com manteiga”. Ao revelar isto, a decepção tomou conta dos céus. O Criador sentiu-se envergonhado e o Promotor não conteve sua risada. Bontche não era um justo – era um simplório].

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Observem como atrás de um Grande Corrupto sempre existe uma Grande Corrupta!

Nego peremptoriamente! Simplesmente nego! São apenas calúnias! E vamos apurar com o rigor mais profundo! A apuração mais rigorosa! Ah, isto é uma calúnia contra mim, contra minha família e contra minha honra! Querem ferir minha honra...

Ferir minha honra! Abrir uma chaga na minha honra! Não parece até uma oração de Santa Teresa D’Ávila!


Ah, e como é que ficam os homenzinhos babacas que passaram suas vidas idolatrando e idealizando o universo feminino, acreditando que a delinqüência, o mau caráter e a corrupção eram formas de perversão essencialmente masculinas? Que a testosterona seria a condição crucial para o Ato? No meio de um cataclismo de bandidagem feminil tiveram que  testemunhar sua aparição, cada vez mais autoritárias e em massa com seus impulsos turbinados e incontroláveis lotando rapidamente os presídios. A pergunta que se poderia fazer a qualquer um desses intelectuaizinhos de plantão seria: E agora? Como render honras funerárias a um malentendido? Como amparar-se à sombra do vazio?