domingo, 31 de maio de 2015

Nero e o profiteroli...

Apesar das escavações, das ruínas, dos milhares de anos de história, das pedras sacralizadas, dos representantes de deus, apesar da Via del Corso, da via Condotti, da piazza de Spagna, das memórias de Nero, de Adriano, de Marcherita de Savoya, de Vittorio Emanuele II e de Cleopatra, apesar de tudo, o melhor que se pode fazer em Roma num domingo como este é comer um profiteroli...

Algumas fúteis considerações sobre o cotidiano ou Kant e a razão prática...

1. Por aqui insistem em falar-me em inglês e eu insisto em falar-lhes em italiano. Como eles não sabem inglês e eu não sei italiano, vamos nos enrolando mutuamente e criando assim a possibilidade de reviver a folclórica anedota da Torre de Babel…

2. Se a meditação não te serviu até agora para curar doença alguma, - me dizia um paranóico - comece a usá-la, pelo menos, para prevenir-te dos batedores de carteira, principalmente nos ônibus e metrôs romanos. Ao invés de concentrar-te na inspiração e na expiração - como recomendam os mestres - concentre-te nos bolsos. Por mais ágil que seja o gatuno, assim que ele te encostar uma unha teu corpo já terá dado o alarme… 

3. Ao ver o cartaz acima num quiosque nos arredores da Basílica de São Paulo perguntei a um casal de peruanos que ocupava uma mesa bem em frente, o que significava a palavra granita . Ao que o marido me respondeu de imediato: granada. Achei estranho e fui conferir com o dono do boteco. Realmente não era granada, aquela arma explosiva tão conhecida e usada na América Latina, pelo Sendero Luminoso, Fugimori e etc, mas o nome de um doce muito apreciado por aqui desde a época de Marco Polo e de Cleópatra...

4. Por uma questão de higiêne, - me dizia um hipocondríaco numa parada de ônibus -, procure usar apenas uma das mãos nos ônibus e no metrô. Reservando a outra para limpar-se o nariz, os olhos e até mesmo o rabo, se for o caso…

5. Em pizzarias, bares, paradas de trem, portas de igrejas e etc, os italianos só falam em carros (máquinas). E não são apenas os homens não, o papo das mulheres também gira ao redor dessa quase divindade. E não é papo superficial, falam em cilindradas, marcas de pneus, tipo de combustão e etc. É provável que quando o Vaticano ruir, logo logo colocarão a Ferrari em seu lugar e uma escultura do Enzo Ferrari no lugar do papa…

6. No passado era fácil identificar alguém num surto psicótico pela rua. Ia falando sozinho, gesticulando, brigando, chutando caixas de lixo e etc. Hoje é necessário ter muito mais cuidado com os diagnósticos. É sempre importante aproximar-se antes do sujeito e verificar se o idiota não está, como quase todo mundo, com dois fones enfiados nos ouvidos...

Marimbondos...




sábado, 30 de maio de 2015

Porque hoje é sábado...

Hoje é sábado! Da Estação Termini para ir à Estação Lepanto (ao Vaticano) ou se toma o metrô direção Batistini ou se vai com o ônibus 64, um mais lotado do que o outro e onde se tem a oportunidade de sentir o hálito (mau) de gente do mundo inteiro. O bafo de onça é geral! Sem falar dos outros cheiros, claro. E nestas circunstâncias, como não lembrar daquele general brasileiro que confessou publicamente preferir o cheiro dos cavalos ao de sua espécie? Apesar de ser um general, tinha razão! E por falar em hálito, nada é pior no mundo do que o bafo de cerveja ou de vinho misturado com nicotina…
Ao chegar no Vaticano, não importa quantas vezes já se esteve por aqui, a primeira coisa que nos vem à memória é Benares. Só faltam os leprosos, os crematórios e um Ganges… Freiras e padres apressados pelas calçadas e por entre as colunas, beatos e convertidos de todas as confrarias, policias armados, espias disfarçados de noviças, mendigos, vendedores de todo tipo de merdas se acotovelam e se apalpam sagradamente no mais exótico e inesquecível teatro transcendente. E que não se estranhe se até os antigos agentes da KGB agora trabalhem para o papa… Todos fingem fugir da câmera, mas no fundo alimentam a fantasia narcisista de, amanhã, aparecerem na capa principal de um jornal, seja do NYT ou na da tribuna de Anápolis. Tropa de vagabundos metafísicos! Um exotismo: uma pomba branca deu um rasante por onde eu estava  fotografando um casal de japoneses que fazia uma self e cagou sobre minha lente. Com certeza é a mesma que recentemente pousou na mão do papa Francisco .
E a fila para a Basílica e para ver os afrescos da C. Sistina!
Muito maior que a que se pode ver na Praça Tian anmem (China) para ir dar uma olhada no cadáver de Mao Tsé Tung!
Quanto à abóboda da Capela Sistina, sem nenhuma ironia, conheci um pintorzinho de calçada em Pirinópolis, um pobre analfabeto das montanhas de Goiás, que colocaria Michelangelo no bolso…
Enfim, o que é curioso mesmo, é que parece que quanto mais se denuncia a igreja por roubalheiras e por pedofilia, mas popular ela se torna. E que não há mais dúvidas de que somos uma espécie que quanto mais é enrabada pelo Estado e pela Igreja, mas patriota e mais religiosa se torna...

Enquanto isso… E até que o calor da Índia não chegue por aqui...







quinta-feira, 28 de maio de 2015

E se o amor for só uma miragem…?

Na rue Gounoud, a uns duzentos metros do hotel onde me hospedo (uma antiga pensão russa onde Lênin e o dramaturgo Tchecov já foram hospedes, e onde este último escreveu sua peça mais conhecida As três irmãs) sempre passo em frente a uma "porta suspeita". Mulheres de todos os tipos se aglomeram ali e parecem estar disponíveis para quem quiser e tiver 50 Euros sobrando. Ontem até tive fantasias com uma que estava sentada num degrau lendo um livro com esse sugestivo e apropriado titulo: E se o amor for só uma miragem? Era uma moça que usava roupas berberes e que tinha a cor do deserto. Mas recuei. Atualmente me parece bizarro demais pagar uma mulher estranha para tirar a roupa, inclusive a mais íntima quase sempre enfiada em suas entranhas, vê-la ficar de joelhos ou de quatro sobre um tapete marroquino (falsificado) e ordenar: mete!
E depois que tudo já foi consumado, (consumatum est!) passar-lhe discretamente duas notas de vinte e mais cinco moedas de dois euros, atravessar a rua até um bar tunisiano que existe em frente e pedir um quebab com fritas… ou um sanduíche turco de cordeiro no pão árabe como se nada tivesse acontecido... 
Sei que isto parece o mais vagabundo dos moralismos, mas na verdade, posso assegurar-lhes, são legítimos restos e fragmentos de dignidade...

quarta-feira, 27 de maio de 2015

A arte da arte….


27 de maio de 1840...



Como até os taxistas e os açougueiros já esperavam, nenhuma noticia sobre os 175 anos da morte de Paganini. 
O jornal principal de Nice (NICE MATIN) exibe como manchete principal um otário fazendo uma selfie com o título: Selfie XXL. Já o de Genova (IL GIORNALE), dá na primeira página uma idiotice sobre Voto inquinato e a lenga-lenga de um padre sobre exorcismo…





Sempre é bom lembrar que a mídia (jornalistas e editores) consciente ou inconscientemente têm ao longo da história tanto mistificado e sacralizado idiotas como lançado no anonimato alguns gênios...
Como escreveu o jornalista Albert Londres já em seu In Terre d'ébène (La traite des Noirs, de 1929, parágrafo que está na primera página do livro Nous sommes CHARLIE (Librerie Genérale Française, 2015), publicado recentemente depois do massacre no Charlie: 
"Je demeure convaincu qu'un journaliste n'est pas un enfant de choeur et que son rôle ne consiste pas à précéder les processions, la main plongée dans une corbeille de pétales de rose. Notre métier n'est pas de faire plaisir, non plus de faire du tort. Il est de porter la plume dans la plaie"
VIVA PAGANINI E SEU ATEISMO!

terça-feira, 26 de maio de 2015

3, rue de la prefecture - Vieux Nice

Segundo um especialista em música aqui da Bibliothèque Municipale, Paganini não morreu num hospital (como escrevi no post anterior), mas sim no segundo andar deste prédio da Vieux Nice, 3 rue de la prefecture (carriera  dóu gouvèrnou). 
O apartamento de cima está à venda e no térreo há um Palais immobilier. Na frente, esquina com a rue Saint-Gaétan existe uma patisserier/Chocolatier, por onde, de meia em meia hora passa até um daqueles bondinhos cheios de turistas idiotas não para homenagear o violinista, evidentemente, mas para ir encher as tripas de pizza em algum lugar... A antiga moradia do compositor dos 24 Caprichos fica ironicamente a uns 200 metros de um Palácio da Justiça e de um tal Palais Rusca na Praça San Domeneque. Um pouco mais afastado, mas ainda numa das esquinas da praça, para dar um clima ainda mais exótico à minha "pesquisa", está uma funerária com o nome pomposo de Pompes Funebres Lamy Trouvain. Amanhã, dia 27 de maio farão (farão ou fará?) 175 anos de sua morte. Vamos ver se os jornais daqui e de Gênova farão alguma menção ao fato. Como me dizia um taxista: se fosse um filho-de-puta qualquer, seria até feriado!








Amanhã, 27 de maio, 175 anos da morte de Paganini aqui num hospital de Nice...



sábado, 23 de maio de 2015

A longevidade do renascimento….






Engana-se quem achar que o Renascimento já parou de dar frutos. Aqui na Itália, pelo menos, registrei três inovações renascentistas: O bilhete de ônibus que vale por minutos, o chá de camomila e derivados cuja infusione pode ser in acqua fredda, e esse "instrumento" que aparece na foto abaixo para lavar-se o cu ou a xota, substituindo os nossos incomodos, arcáicos e enferrujados chuveirinhos.

A alma encantadora das ruas...