sexta-feira, 30 de setembro de 2022

O último debate e as abstenções...


"Todo critico que se negue a admitir a possibilidade dum cavalo galopar num tomate, é um idiota..."(André Breton)



O formato escolhido para o tal "debate de ideias", foi o mais opressor, manipulador e abusivo de todos. Aquelas idas e vindas, aqueles dez metros entre as cadeiras e o púlpito, (observem como a marcha dos candidatos dizia mais do que suas palavras...) o cronometro e a interrupção das intervenções (e logo depois da novela PANTANAL), tudo dava a impressão de se tratar, ora de um noviciado de freiras; ora de um grêmio estudantil e ora de uma rinha de galos. E, curiosamente, nossos ilustres candidatos se submetiam ao animador de platéias como ginasianos em vésperas de exames ou como se estivessem num dos tantos e patéticos programas de entretenimento. Apenas um ou outro deixava escapar um impulso, uma ou outra indignação (um instinto primitivo). Só esforços imensos para, através de superstições, tentar diferenciar-se dos oponentes e capturar eleitores. Mas em vão! A gestalt era própria para um Karaokê mambembe e reduzia cada um deles a um Zé Mané. Não sei exatamente o quê, mas havia algo de grotesco lá.... Tentou-se até exumar correligionários... Eles, que tanto sonham em ser estadistas, que em seus gabinetes e palácios são tão delirantes e onipotentes, como foram se submeter a esse vexame? A intenção dos idealizadores do debate teria sido exatamente esta, ou a impostura foi casual? Ou foram as circunstâncias?

Fiz isto, fiz aquilo... 

Somos um país estupendo... Vou fazer isto e mais aquilo... 

Nós isto e nós aquilo...

Enquanto lá fora, à meia quadra dos estúdios, a ralé, as balas perdidas, a turma do crack e os condenados da terra, rugiam e  esperavam por alguma migalha e por alguma corruptela... E o Cristo redentor, que a dois mil anos espera pelo impossível lá no topo daquela pedra sagrada, exausto de toda aquela putaria à beira-mar, de quando em quando baixava dissimuladamente os braços em total decepção e desolação...

Sim, se não fosse a presença do padre Kelmon, dentro de seus arreios, o debate  teria causado ainda mais solidão e desesperança política... teria sido ainda mais brochante e fútil... (e alterado para mais o índice de abstenções).

E era inevitável, quando se olhava para o padre, ver atrás daquela figura (infanto-juvenil) a foto de seu chefe (foto que girou o mundo) empunhando duas pistolas automáticas. 

Com um cristo crucificado pendurado ao pescoço, insistia: Precisamos de mais catequese! Acusou Che Guevara (sin perder la ternura jamás...) de assassino e fez de Cristo seu cabo eleitoral. Ali naquele púlpito profano, bradava contra seus oponentes: somos 84 milhões de cristãos no país, e os padres deveriam merecer mais respeito... Tudo bem, mas e o Estado laico? Não foi a Revolução Francesa que construiu um tapume entre o Estado e a igreja?

Tremeu as pálpebras quando uma das candidatas perguntou-lhe se - pelas baboseiras que proferia - não tinha medo de ir para o inferno, para em seguida qualificá-lo de ser um "padre de festa junina". O que seria um padre de festa junina? Ficou confuso diante da "alma feminina". Até pensou em contestar-lhe: "candidata, meu ponto de partida não é o homem normal na terra normal, mas um homem infernal num inferno terrestre...", mas calou-se.

A noite já ia longe e, aproveitando a surrealista presença de um "púlpito" no cenário profano, falou-se até em extrema-unção. Quantas extremas-unções você administrou aos moribundos do covid? Perguntou-lhe a candidata. Pensei na extrema-unção de Paganini. E na morte de Azorka, o cachorro de Yeremias Smith, em Humilhados e ofendidos, de Dostoiesvski...

Depois, foi a vez de outro candidato, já fatigado, acusar o padre de ser um "laranja" e de estar apenas fantasiado de padre. Metalinguagem pra cá e metalinguagem pra lá...

Me acusaram até de estar travestido. (voltou ao assunto, logo depois).

 Foi o apogeu daquele show de superstições...

Na radiola, Yasmin Levy, amaldiçoando: "que tu corazón se vuelva una piedra..."

Antes de enfiar-me definitivamente em baixo das cobertas, liguei para o Mendigo K para saber quanto estaria custando uma passagem para Pasárgada (só ida)... Ele, que também havia assistido aquela triste pantomima e estava furioso, me mandou consultar a Manoel Bandeira numa sessão espírita... Fez um breve silêncio e agregou: Bazzo, "Se o homem se esgota em sua realidade temporal, é porque é apenas um personagem, um argumento de novela e nada mais. Em resumo: nosso semelhante..."


 


terça-feira, 27 de setembro de 2022

PARADOXOS... Ou, o blablabla lançado sobre os ouvidos do populacho...

"Trata-se de um gênero de discurso duplamente abusivo, que consiste em abusar das palavras para abusar, pura e simplesmente. Assim, o demagogo, o sedutor, e o camelô ilustram, sob a denominação comum de charlatães, os especialistas do blábláblá, mas seu representante é sobretudo o sofista, que, segundo uma tradição filosófica inaugurada por Platão, encarnaria esse charlatão, cumulando unicamente nele os vícios dos três anteriores. Esse traficante da sofia adularia ora os figurões, ora a ralé, desvirtuaria os espíritos jovens ao atraí-los para si, e, por último não deixaria de enaltecer suas qualidades de pedagogo, para vendê-las a quem desse mais..."

Frederic Schiffter

(IN: Sobre o blablabla dos filósofos, p. 21)

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Na adolescência, o livro que mais gostava de consultar em minhas idas à Biblioteca, era o de Max Nordau, com um título, - para mim incompreensível e inacessível, naquela época de ignorância & obscurantismo juvenil: - PARADOXOS.

Hoje, assistindo à campanha eleitoral e aos crimes estúpidos que vêm sendo praticados em nome de um ou de outro candidato, voltei ao assunto. Paradoxos! Não é um paradoxo que se siga garganteando que as eleições são o pilar fundamental das democracias quando, ao mesmo tempo, se sabe que 85% dos votantes (dos eleitores) são analfabetos que não conseguem interpretar uma fala e um texto com mais de cinco linhas? 

Como fazer-se entender nessa Torre de Babel contemporânea? 

E de que serve a "escolha" e a "preferência" dessa gente atordoada pelo blábláblá vigente? Dessa gente que se vai ao teatro assistir a uma peça onde ocorre um parricídio, na saída, quer acionar a polícia para prender o ator?

Sim, isso é muito ridículo! É eternizar o subdesenvolvimento... e sempre as mesmas famílias no poder... 

E não me venham com aquela lengalenga de que esse pensamento é elitista, de que os ignorantes também são gente, que também irão ao paraíso! e que o voto é direito (e obrigação) de todos. Que um governo de filósofos, de pensadores e de eruditos (como pretendia Platão) seria mil vezes mais perverso, bizarro e cruel... etc.

Tudo bem! Entendo...

Mas, que tal se propor a erradicar essa patologia em seis meses? Sim, em seis meses, porque um país que em seis meses não consegue alfabetizar seu povo, bem que poderia voltar a ser colônia... 

A propósito, a alfabetização está no programa de algum dos ilustres candidatos? Ou haveria um interesse particular no 'seio' das elites políticas, em manter essa legião de energúmenos atuante e presente na sociedade e nas urnas?

Que tal passar a investir mais no cérebro do que no estômago do rebanho? Ao invés da trapaça da cesta básica, que tal uma biblioteca básica?

E... as balzaquianas, (lembram?) em plena terça-feira, continuavam louvando a Era de Aquarius, agora, na esquina de minha casa... Teriam enlouquecido?






domingo, 25 de setembro de 2022

E... às vésperas do espetáculo...





"Os macedônios embriagavam os escravos, para edificar as crianças com o espetáculo da embriaguês..."(P.)


E a campanha eleitoral está no auge. 

No domingo que vem já teremos um novo  "interventor". 

Neste domingo a cidade acordou com um sol chocho e com o som de alto-falantes, uns no sul, outros no norte. Haveria fla-flu hoje?, se perguntavam em ressaca os burocratas mais alienados. Depois, mais atentos, ouviam o nome do Lula e do Bolsonaro sendo gritados por megafones. Bandeiras, slogans, tiros, buzinas, frases ainda dos tempos do Getulio Vargas. E os monopólios da mídia, em "disputa", inventando debates, tentando criar um clima para fisgar mais anunciantes. E, curiosamente, nos tais debates, todos têm ideias quase geniais que, se levadas à prática, transformariam o país num paraíso em menos de cinco anos. Por que não pensar num governo coletivo? Se eles se unissem e governassem juntos, como seria? Sim, na essência, pensam e dizem as mesmas coisas. Deus, parece tremular no coração de todos! E deve ser o mesmo, não é verdade? E a família? Ah, a família! Todos parecem ter uma fixação na família! Na Sagrada Família! Ah! naturalmente, não devem ter lido nunca os prontuários dos hospícios e absolutamente nada de D. Cooper e de R. Laing...

No debate de ontem, por exemplo, o momento crucial foi quando a candidata Simone Tebet, rebatendo um candidato padre, deixou claro que não se confessaria com ele. O padreco esmoreceu. Pensei, meio maliciosamente: o que aquela simpática mulher, latifundiária e ainda sedutora, teria a contar, de joelhos, a um padre? E pior: a um padre de extrema direita e da igreja ortodoxa? Que culpas? E que pecados poderia estar cometendo? Confessar-se? De onde surgiu essa aberração? Sabe-se que já era praticada nas religiões antigas da Pérsia, India e do Extremo Oriente e pelos que se faziam iniciar nos mistérios de Eleusis e de Samotrácia... E não esqueço que foi surrupiada e saqueada daquelas tribos pelo catolicismo e que Freud, por sua vez, a plagiou do católicos. Tanto no confessionário como no divã: Diga tudo o que lhe vem a mente...



E, para aumentar minha frustração, não ouvi da boca de nenhum dos ilustres candidatos, que, se eleito, no dia seguinte, encomendará a construção de uma estrada de ferro que cortará o país do Ceará à Foz do Iguaçu e que, com barris de vinho e violinos a bordo, desbancará a Transiberiana em charme, luxo, embriaguez e imponência. O resto, - mon semblable e mon frère - a educação, a saúde, os empregos, as moradias, o Imposto Único, o Estado laico, o esvaziamento das penitenciárias, a beatificação da CLT, a salvação do lumpemproletariado, a longevidade, o preço dos remédios, a segurança, a igualdade de gêneros e de fé, a liberdade de expressão, o carisma, a democracia, o combate à aporofobia, as cinco refeições por dia... o adeus à corrupção, a picanha, a cachaça, as cartelas de viagra para todo mundo, a santificação da Amazônia, tudo isso são balelas e bobagens pra boi dormir...

sábado, 24 de setembro de 2022

BARULHO: O liquidificador e a gênese dos transtornos mentais das donas de casa...


"Não digas: que silêncio! Digas: eu não ouço nada!"

(Lição de um mestre à sua Lolita)


Acabo de comprar um liquidificador novo. Novíssimo! Vermelho! Com dez velocidades! Com um copo de vidro parecido com aqueles que se fabrica lá em Murano e em outras ilhas venezianas. A vendedora jurou-me que era uma peça futurista e o que existia de mais avançado no mundo. Quase um símbolo do Iluminismo! E mais: que havia nela o selo do inmetro, dando garantias de que a quantidade de barulho estava dentro do que é preconizado pela pós modernidade, pelos vivaldinos da OMS e pelas máfias do Comércio. Tudo mentira. Até os surdos que passeavam nos jardins lá em baixo, voltaram a cabeça em direção às minhas janelas. Bem mais do que 80 db! O que estariam fazendo os burocratas da saúde pública? Os copos, usados e esquecidos na pia, entraram em convulsão e a própria pia tremulava como se eu tivesse ligado um terremoto de 6,4 graus Richter. Inacreditável! Imaginem como deve ficar o Sistema Nervoso Central das velhinhas e das donas de casa que, todas as manhãs e todas as tardes, e às vezes até de madrugada (em sua servidão contemporânea) devem preparar um suquinho ou uma sopinha para os filhos e para o cafetão de plantão...

Só não o destruí com a marreta que sempre tenho ao alcance da mão, porque pensei nos quase 100 euros que havia transferido para a conta daqueles  mercenários. 

Sem lembrar que hoje é sábado, liguei para a fábrica. Silêncio! Liguei para um número que estava na bolsa e fui atendido por uma dessas mocinhas robôs: 

Obrigado por ligar! Disque 1 se é para falar sobre seu liquidificador... 

Fiz um discurso! Esbravejei que não era um idiota e nem surdo! Amaldiçoei os fabricantes. Recitei-lhe duas ou três teses de Bakunin e de Marx sobre as mercadorias inúteis, sobre a alienação, e sobre a cumplicidade dos operários na fabricação dessas e de uma infinidade de outras merdas. Ameacei criminalizar todo e qualquer tipo de propaganda. Coloquei a sociedade internacional de surdos na linha, falei de  labirintite  e de tampões. Da vida confinada em apartamentos de 28 metros quadrados! De uma dona de casa que botou fogo em seu barraco depois de ouvir por três minutos o ruído de seu liquidificador. Mencionei o Papa argentino e sua predileção por tangos e pelo silêncio naquelas alcovas sagradas. Falei sobre silêncio dos mestres Zen. Sobre a superlotação dos hospícios! Da imbecilidade generalizada. Dos malefícios irreversíveis do barulho sobre a libido da humanidade... Os vizinhos vieram bater à minha porta para saber se eu havia esquecido uma britadeira ligada. E tudo isso na velocidade 2. Havia outras 8 velocidades. Liguei para o INMETRO. (Silêncio). Liguei para a meu amigo psiquiatra e para um neurologista que estava trocando figurinhas ali na banca do Brito e os dois concordaram que, se se pretende evitar a loucura precoce, antes de ligar um liquidificador é recomendado tomar 14 gotinhas de Rivotril...

A  moça, no outro lado da linha, se derretia em gentilezas. Encostei o telefone no dito cujo e passei para a velocidade 8. Que horror! resmungou cheia de sensualidade. Pensei automaticamente na Cicciolina...

Voltei à loja para trocar aquela merda e pensando em protagonizar uma Ação Direta... mas, no caminho, lembrei: hoje é sábado... e fui ouvindo uma milonga, que fez meus instintos voltarem à normalidade. Afinal, tratava-se apenas de um liquidificador. E depois - raciocinei -, segundo Bauman, até o amor é liquido!!! 

Na loja, (não confundir com igreja maçônica) enquanto a trupe de vendedores inventava duas ou três mentiras para defender seus patrões e para ludibriar-me, eu ia perguntando para meus fantasmas: O que é um ladrão? E eles me respondiam em uma só voz: um comerciante no escuro!

Na esquina, um grupo de balzaquianas que haviam ficado fixadas nos anos 70, apoiadas por dois violonistas e um pandeiro, cantavam eufóricas, aquela conhecida homenagem à Era de Aquarius... (que virá depois do ano 2600!!!)






quinta-feira, 22 de setembro de 2022

Putin, Céline, Manu Tchau, a guerra e as armas nucleares...




 "PROCURAI EM TUDO O RIDÍCULO; HAVEIS DE ENCONTRÁ-LO" 

(Jules Renard)

 








Apesar de alguns meses atrás o Lula, numa reunião na UERJ, - falando da guerra entre Russia e Ucrania -  ter garantido que "os motivos para o conflito, seriam resolvidos no Brasil em uma mesa de bar regada a cerveja", a guerra por lá, depois de sete meses, parece se agravar. 

O Putin sobre seu cavalo e com seu rosário no pescoço ameaça mandar o planeta pelos ares com o mesmo cinismo com que os Estados Unidos em agosto de 45, com suas bombas atômicas, derreteram Hiroshima e Nagasaki... Ouvir a turma que estava na reunião da ONU fingir espanto e indignação diante das ameaças de Putin, dava a impressão de que não eram deste mundo, e que não se lembravam do que os anfitriões daquela reunião haviam protagonizado sobre o Japão, não faz muito...

Que gente!

E o que sobrará do planeta se essa fábrica de loucos e esses idiotas não forem internados a tempo?

E você, - mon senblable e mon frère - estaria disposto a morrer por Biden, por Zelensky ou por Putin?

Quando fiz esta pergunta ao mendigo K, nesta quarta-feira, ele, ironizando, me respondeu, com uma frase de Céline: "Oh sim, tudo vai acabar! Ufa! Já vimos muita coisa... aos sessenta e cinco anos e lá vai fumaça., porra, que importância tem para a gente a pior das piores arqui-bombas H?... Z?... Y?... Um sopro! Uma ninharia! Mas o que é horrível é o sentimento de ter perdido tanto tempo e de ter feito toneladas de esforços por esse bando horroroso e diabólico de bêbados, filhos-das-putas, puxa-sacos..."

 



quarta-feira, 21 de setembro de 2022

Henry Miller e os primeiros dias da primavera...


 Desde os anos 1983, quando vivia em Barcelona e comprei lá, numa livraria da Ramblas, pelos lados do Mercado San Jose, o livro PRIMAVERA NEGRA, de Henry Miller (Titulo original Black Spring, Editorial Bruguera, 1979)  - com esta epígrafe, já na primeira página: "Lo que no está en plena calle es falso, inventado, es decir, literatura"-, todos os anos, nos primeiros dias de cada primavera, num ritual meio de palerma e meio de beato, costumo abrir essa relíquia estupenda, como se fosse a Cabala, o I Ching ou um outro oráculo profano qualquer e ler um parágrafo ao azar e a media-voz.

Hoje, 21 de setembro, com o "inverno" dando adeus, com os sabiás numa cantoria compulsiva e interminável e com os ipês brancos dando um show de luxuria, de magnificência e de narcisismo que contrasta com a canalhice tradicional da cidade, desci à rua e o abri: página 49. 

"Soy un hombre que mea ampliamente y com frecuencia, lo cual, me dicen, es un signo de gran actividad mental. No obstante, soy un hombre angustiado cuando camino por las calles de Nueva York. Me pregunto constantemente donde estará la próxima parada y si podré aguantar tanto tiempo. En invierno, cuando estás sin un real y con hambre, es grato detenerse unos minutos en un subterráneo y caliente retrete público, pero cuando llega la primavera, es totalmente distinto. A uno le gusta mear al sol, entre seres humanos que te miran y te sonríen desde arriba. Y aunque una mujer en cuclillas sobre un orinal de porcelana no sea precisamente una visión gozosa, ningún hombre con el menor sentimiento puede negar que el espectáculo de un hombre, de pie tras un pedazo de hojalata, mirando hacia el gentío con una sonrisa satisfecha, cómoda y vacía, con una expresión placentera, reminiscente y agradable, no sea una buena cosa. Aliviar una vejiga llena es uno de los grandes placeres humanos..."



 
















segunda-feira, 19 de setembro de 2022

Sexo, maternidade e parto: A lei Federal número 11.108, Artigo 19, seria uma espécie de rendição e o reconhecimento da supremacia da barbárie...?




"Esmaga a cabeça da víbora, com o punho de teu inimigo. Daí resultará necessariamente uma vantagem para ti: se o teu inimigo vencer, a víbora morrerá; se for ele quem levar a pior, terás um inimigo de menos..." (Saâdi)

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Na semana passada foi publicada a Lei Federal 11.108.

Não apenas os fora-da-lei, mas qualquer sujeito que ainda consiga raciocinar, lendo a tal Lei, entende que é uma capitulação social. Que, finalmente, se reconhece, por ofício, que a barbarie se infiltrou em todos os labirintos sociais e que está tudo dominado... Depois de repetidas e frequentes histórias de parturientes, (mulheres grávidas que na hora do parto foram abusadas sexualmente, por médicos, enfermeiros ou extra-terrestres), essa LEI determina que em qualquer lugar onde a gestante estiver, submetendo-se a exames ou "dando a luz", deve estar acompanhada (além do Staff da clínica) por alguém de sua confiança, isto é: por alguém que, supostamente, não queira estuprá-la... 

A necessidade de se ter que lançar uma Lei como esta, em pleno século XXI, é ou não é uma declaração de que, apesar de todas as balelas e de todo o folclore renascentista e humanista; apesar de todas as novenas e as peregrinações, o desvario e a loucura se generalizaram? (Observem como, de uma maneira ou de outra, quem acaba sendo inspirador e autor do Código Penal são os próprios bandidos).

É ou não é uma rendição? Uma tomada de consciência de que a psicopatia está fora de controle e de que a civilização é um fracasso?  De que todas as tertúlias poéticas e todo o espetáculo estatal; todo o blábláblá religioso, democrático, místico, judiciário, idílico, libertário, apostólico, revolucionário, penitenciário, comunitário, otimista, republicano, igualitário, iluminista, independente, soberano, pós e hiper-moderno, acadêmico, analítico, esperançoso, místico, capitalista, pedagógico, monárquico e beato... e a própria luta de classes (além de uma ou outra alucinação), não serviram para nada?

A propósito, o que estaria acontecendo com a genitalidade masculina? O que teria acontecido com esses idiotas ao longo dos séculos? E sobre o quê, afinal, estaria edificada essa psicopatia?


domingo, 18 de setembro de 2022

Penúltimo fragmento do Vade mecum da vagabundagem... ( um livro escrito sob o som de Cesária Évora, em breve nos semáforos...)




"Todo trabalho nesta sociedade é uma prostituição. Vender sua força de trabalho ou sua inteligência, não é a mesma coisa que vender seu corpo a um cliente?[1]


De ex caçadores de pintassilgos que iam em bandos nas excursões ao redor das Cataratas do Iguaçu, íamos agora ingerindo e semeando niilismo por todos os lados, inventando nosso laissez faire e nossa vida à deriva. No final da tarde, às vezes com a noite já feita, esperávamos na porta dos mercados ou das fábricas uma ou outra menina de nossa idade, que já trabalhava, e a acompanhávamos de mãos dadas, até sua casa, (quase sempre uma senzala) na periferia. Eram meninas quase analfabetas, singelas, filhas de proletários fodidos, adestradas para o casamento, com nomes de santas, que trabalhavam em manufaturas,[2] como balconistas em grandes armazéns ou em pequenos armarinhos, para melhorar os rendimentos familiares. Antes de tirarem o uniforme e deixarem o local de trabalho, trocavam as roupas íntimas, ajeitavam os cabelos e os lábios diante de um pequeno espelho, limpavam o nariz e vinham ao nosso encontro iludidas, - esperançosas de um casamento ou, pelo menos, de uma mancebia -, tímidas, em roupas pobres, mas sensuais e viciadas no consentimento, fingiam acreditar em tudo que lhes dizíamos. Quando víamos aquele ‘exército' de trabalhadoras saindo pelos portões ao mesmo tempo, não conseguíamos reprimir um sentimento feroz e um aperto no peito. Era melancólico! Escravas! Seus olhinhos refletiam a servidão e o medo de morrer de fome. Algumas já faziam uso de tranquilizantes. Febres, gripes, corrimentos, princípio de úlceras, alergias, fibromialgia... E o que era mais decepcionante era perceber que, num gesto ou em outro, aquelas inofensivas operárias, sob a égide do suor, pareciam querer imitar as mulheres dos patrões ou as atrizes de novelas. Havia algo de muito pobre, tóxico, doentio e de infantil nelas. Uma espécie de imbecilização proveniente dos programas de entretenimento... Algo como uma singeleza e uma simplicidade voluntária! Os corpos já marcados pela obediência e pela insalubridade. (Como diria M. Perrot: Les corps au travail est um corps menacé).  Casar, nos previnia o Werner, era uma espécie de suicídio! Jogar a própria vida no lixo! Aquilo nos dava ainda mais consciência de quanto a sociedade era fraudulenta e pensávamos na fábrica de roupas Triangle Shirtwaist, que lá em Nova Iorque, décadas antes, havia pegado fogo e queimado uma centena de mulheres.[3] Nossos gestos iniciáticos eram romanticamente lamentáveis. Cheios de eufemismos, nos dávamos as mãos e íamos em silêncio pelas ruas solitárias, duas misérias de mãos dadas, mergulhados em nosso amor furtivo. Eram umas pobres e mini proletárias que repetiam conosco tudo o que viam e ouviam de suas mães miseráveis e bordelines, fazendo com seus pais, autênticos burros de carga. Sentíamos que, do nada, precisavam vingar-se de alguma coisa e, o pior, em nós, como se fossemos seus pais, patrões ou irmãos. Como se em vidas passadas as tivéssemos estuprado, escravizado e desqualificado. Acorrentadas a um passado sem redenção! E quando percebiam que estávamos de pau duro, ficavam transtornadas. Pareciam querer saltar pela janela. Não sabiam o que fazer. Uma pantomima mais do que cruel e histérica. Fomos desenvolvendo um ódio mortal pela doutrina do meio-termo. Mas ainda éramos um poço de ignorância, não tínhamos uma visão aprofundada de nada, éramos aprendizes de aprendizes de cozinheiros dos feiticeiros... e seguíamos até rindo dos meandros de nossa condição e do nosso percurso. Mas, é verdade, as tínhamos idealizadas! De vez em quando, alguém de nossas famílias nos lembrava do conselho que uma velha cortesã veneziana havia dado a Rousseau: “lascia le donne e studia matemática!”[4] O que se poderia fazer e falar? O ônibus ia rasgando a monotonia da hora. Num ou em outro semáforo entravam os soldados em busca de algum ‘subversivo’. Ela apertava minha mão e com deboche, cochichava em meu ouvido: Miragens patrióticas! Eis aí os gatunos fardados! Cabeludo! Mãos para cima! Estudante de sociologia?! Comunista! De vez em quando desapareciam com um universitário quase de nossa idade. E os barnabés de todas as categorias não diziam nada. Compactuavam com aqueles psicopatas. Prisioneiros de seus trabalhos, contentavam-se em passar a vida amaldiçoando o capitalismo, a burguesia, o imperialismo e os patrões, mas sem resultado prático algum. Tinham fé na CLT como os beatos tinham na bíblia e no catecismo romano. Acreditavam que ela os protegia e que poderia vir a libertá-los um dia. E seguiam trabalhando dez ou doze horas diárias para ganhar uma miséria. Era difícil entender por que não se rebelavam... Difícil ver que continuavam como ovelhas dando continuidade àquele circo de horrores, quando poderiam, em uma única noite, com um único isqueiro, resolver definitivamente a questão...

Havia ditaduras e turbulências em vários lugares do mundo. Uma mais vil do que a outra, e todas relacionadas a dinheiro, trabalho, capital, poder e à cabeça dos subalternos... O massacre de Sabra e Chalita, num acampamento de refugiados em Beirute, era comentado com espanto por todos os lados. O fato dos judeus e dos árabes não conseguirem interromper uma briga iniciada há séculos, ainda nos tempos de Pilatos, nos parecia uma prova de que a espécie era cretina e não valia grande coisa. Todo mundo analisava, explicava, justificava, escrevia em defesa de um bando ou do outro, enxugavam o sangue, cada um com seu sudário, cantavam hosanas, cada um a seu Deus, e tudo ficava por isso mesmo. De um sujeito meio árabe e meio francês, se ouviu a frase: chacun de nous a une blessure secrète dans laquelle il se réfugie. Parole! Parole! Parole! O mundo estava intoxicado de palavras. 

Algumas vezes fazia frio, e antes de despedir-nos, nos jardins ou junto ao portão de suas casas, sempre precárias, nos masturbávamos furtivamente por debaixo de nossos casacões vagabundos, mesmo sabendo que por detrás das cortinas alguém de sua família, empenhado em casá-la, a esperava e nos vigiava… Apesar de ignorantes, intuíamos que aquele ritual tinha algo de escatológico. Dois adolescentes tacanhos, no meio da noite, às vezes até com a geada cobrindo o buquê azul das hortênsias, escravos de nossa adolescência, fodidos econômica e socialmente, ali, no meio do frio, se bolinando, escravos, além de tudo, de nosso egoísmo e de nossos hormônios! Quê miséria era aquela? E, o pior, é que aquele gozo nos enchia de alegria, de segurança e de ilusões… Seria aquilo o egoísmo dos genes? Havíamos ouvido dizer que, segundo Beckett, “les femmes flairent un phallus en l’air à plus de dix kilomètres et se demanden, Comment a-t-il pu me voir celui-là?” A noite! O frio! O tesão! Quando a mão deslizando por entre elásticos, botões, tecidos, chegava lá, entre as pernas, e descia por sobre aquela penugem, até tocar aquela greta entre duas colinas, sob uma folha de figueira, que se umedecia, aquilo tinha sobre mim um efeito transcendente, como se estivesse levando um choque, recebendo na veia uma poção poderosa de ópio. Alienação! Era, posso dizer, um sentimento e um experimento misterioso e quase místico que reduzia momentaneamente meus níveis de consciência. A xota! O ópio do povo! Sim, o ópio do povo não era a religião, como havia dito Marx, e nem o trabalho, como pensávamos, o ópio era a xota.[5] Misteriosamente, delas, nunca ouvíamos nada. Se gostavam, se não gostavam... Isso era para nós um mistério! Confusas entre tesão, religião e misticismo, ficavam quietinhas, se deixavam penetrar quase como múmias e, no máximo, deixavam escapar uns gemidos quase de dor ou de remorso, como se estivessem sempre pensando no pai, no inferno, no trabalho de amanhã, em suas marmitas e até querendo culpabilizar-nos. Naturalmente, era a repressão sexual, o veneno religioso. A voz interior de uma avó fdp que alertava: cuidado para não virem a ser umas putas. Dediquem-se a trabalhar! Uma mulher só é mulher, se trabalha! Independente desse silêncio e dessa frustração, nós gozávamos. Era o máximo! Uma maravilha! E a embriaguez  daquele gozo se estendia por dois ou três dias, até por semanas… Quando então, nos víamos novamente à porta da fábrica lá pelas 6 da tarde…como mendigos, escravos do desejo, à espera, enquanto o por do sol se refletia no telhado de vidro do alpendre. Com frequência ouvíamos um zé mané qualquer (patrão ou operário) recitando a frase mais cabotina daqueles tempos: o sol brilha para todos! (Abelhas domésticas voejavam a flor das mesquinharias e das imundices! - Diria Fialho d'Almeida).

E o mundo erótico – completava um cigano – é tão redondo como o mundo real: sempre nos afastamos para encontrar-nos, de alguma maneira e recomeçar.[6] E foi naquele período em que começamos, como todo mundo, a atuar a comédia do amor. Eu te amo! Eu também! Puro teatro! Nem sabíamos o que estávamos dizendo mas, havíamos aprendido, sabe-se lá de quem, que aquilo era um protocolo indispensável.

A ilusão da CLT! A abnegação! A escravidão disfarçada! A máquina social, os impostos, as correntes, as neuroses impostas pelo mercado financeiro e as ilusorias promessas de um grandioso porvir, propaladas diariamente pelos trapaceiros de turno. E as universidades e as escolas em geral (essas filiais das sacristias) sutilmente, adestrando adolescentes para a obediência e para a escravidão disfarçada... Sair da universidade direto para uma empresa, para uma fábrica ou para uma indústria era a gloria máxima! Trapaças de ponta a ponta! Era a sociedade, as velhas e os velhos customizados, crentes de que o trabalho, ao invés de uma fábrica de loucos, poderia vir-a-ser também uma espécie de gerador de dignidade... (!!!)

As geadas, os cafezais, o ouro, a guerra, as leis, a ditadura, o Milagre Brasileiro, as penitenciárias, as drogas, a cleptocracia e as políticas sociais para manter sempre disponível a tal “mão de obra” e o tal exército de reserva... (Na bolsa, sempre um livro de Knut Hamsun). Os ruídos no interior daqueles imensos barracões, os gemidos do lumpemproletariado, o vai-e-vem de empregados, mudos, passivos, marginalizados (síndrome de Bartleby), as vozes dos superiores abafando as dos subalternos… Líamos com repulsa esta frase de um personagem de Górki: O homem deve trabalhar e viver resignado! E como contraponto, quase como uma oração, resmungávamos a frase de Horkheimer, que alguém nos havia dito que estaria lá em seu livro Crítica da razão instrumental:

"A fábrica é o protótipo da existência humana. As pessoas, as mercadorias e as coisas são todas colocadas na mesma esteira e vão para os mesmos depósitos, de onde são distribuídas para o consumo…"

Nos compadecíamos delas, dos trabalhadores, da escravidão contemporânea e de nós mesmos e esperávamos ao redor das fábricas como cães ao redor dos açougues... Próximo a um dos portões por onde as operárias saiam, todas as tardes, ficava um homem ainda jovem, com tipo de cigano, que estava sempre com uma garrafa de conhaque e com  seu acordeão, tocando músicas antigas, de filmes. E parecia ter uma relação ébria e quase religiosa com aquele instrumento. Gostávamos imensamente de ouvir as canções que tocava. Se Fialho de Almeida o visse – me alertava uma das operárias -, seguramente murmuraria: como é possível que sobreviva nesse plebeu alcoólico, a mais aristocrática alma que a música tem soltado das misérias da carne...




[1]Declaração de uma operária francesa, no Libération, 1976. Citado por Chassagne e Montracher, idem, p.22

[2] Manufaturas = fazer com as mãos.

[3]  Foi no dia 8 de março de 1911 e morreram 120 mulheres queimadas. As portas de saída estavam bloqueadas. O acidente escancarou as péssimas condições de trabalho e a insalubridade a que aquelas mulheres estavam submetidas, obrigadas a trabalhar até 14 horas diárias, por um salário de merda.

[4] Pitigrilli, idem, p. 54.

[5] E não adiantava um ou outro professor, um ou outro velho desiludido qualquer querer nos prevenir de que o sexo era um engano mortal, mais ou menos como o Cavalo de Tróia, e que o gozo era uma espécie de relincho para alerta-nos. A lição de moral era inócua e vexatória! Já era tarde. Éramos adictos aos relinchos! Cavalo de Tróia? Fomos em busca de Homero. Aquela chatice grega se parecia à chatice dos Lusíadas... Mais tarde a achamos parecida também com a chatice do Bhagavad Gita e de outras bobagens épicas. Quem não consegue dizer o que sente em menos de trinta páginas é um charlatão.

[6] Kanfer, Stefan, p. 178. [7] 

  

sábado, 17 de setembro de 2022

quinta-feira, 15 de setembro de 2022

"Mandei matar a Kirchner! Serei como San Martín..". (La verdadera amante argentina???!!!)



Se é que se pode acreditar nos prontuários da policia argentina, a B. U. namorada do brasileiro que ameaçou atirar na vice presidente argentina (Cristina Kirchner) teria confessado: Mandei matar a Kirchner! Enviei um cara para matar a Cristina! (O cara era seu namorado brasileiro), Serei como San Martin...   (San Martin, todo mundo sabe, foi o General a quem se atribui a Libertação Argentina). Mas então, o crime envolveria também um transtorno de gênero? Seria esse, então, o verdadeiro pedigree da famosa amante argentina!?...

Além do fato da pistola ter falhado e do estado delirante da moça, o que chama atenção é o lugar que as mulheres, cada dia mais, vêm ocupando no mundo do despotismo, das trapaças e do crime. A penitenciária feminina, aqui de Brasília, por exemplo, está superlotada. Além disso, também é importante observar o papel de babacas que os homens vêm assumindo cada dia mais em suas relações amorosas-afetivas. 

Mandei meu babaca dar um tiro na Vice Presidente, - escreveu a mandante para uma amiga -. E o babaca, domado, foi, mesmo sem saber atirar... (O que uma vulva não faz!!!)

E, segundo os periódicos, a tática interrogativa do promotor C.R. para com a moça, parece ter sido baseada numa mistura mambembe de Freud com Carlos Gardel... E os jornalistas, mais ou menos com a mesma 'metalinguagem', escreveram: (O crime não foi consumado). Frase que remete qualquer um a: o Ato não foi consumado! (!)

 E os babacas se multiplicam. Passam anos de cócoras, até que um dia, transtornados,  tentam, bruscamente, colocar-se na ponta dos pés, mas perdem o equilíbrio, partem para o feminicídio e vão turbinar as estatísticas dos criminosos e apodrecer numa jaula...

Se Borges ainda caminhasse lá por Buenos Aires, ouvindo o grito dos camelôs; o lamento dos tangueiros e as noticias do cotidiano, é provável que, arregalando aqueles olhos cegos, murmurasse: Ah! esas personas, que se ignoran, están salvando el mundo...





quarta-feira, 14 de setembro de 2022

Os abusos da memória / Je vous salue Mary Elizabeth...



"Sei que acreditam que o ódio se aplaca: 

De nenhuma maneira! O esquecimento não entra em nossos corações"

Paul Déroulède

(citado por Todorov)



Nesta quarta-feira com um clima que lembra as Dunas de Merzouga e com dois funerais de famosos em curso, o Mendigo K apareceu na padaria exibindo o livro Los abusos de la memoria, de Tzvetan Todorov. Chegou logo dramatizando o possível cumprimento de Godard à Rainha Elizabeth, ambos na fila para entrar pelos fundos do paraíso: Je vous salue Mary Elizabeth! E que bom que você não está mais lá, naquele caixão miserável, sendo arrastada de um lado para outro por aquele bando de idiotas...

E em seguida foi destrinchando alguns trechos do livro:

1. "...Os regimes autoritários do século XX revelaram a existência de um perigo que ninguém ainda havia suspeitado: a supressão da memória;

2. O imperador azteca Itzcoatl, no princípio do século XV, havia ordenado a destruição de todas as estrelas e de todos os livros para poder compor a tradição à sua maneira;

3.  Depois de compreender que as conquistas das terras e dos homens passava pela conquista da informação e da comunicação, as tiranias do século XX sistematizaram sua apropriação da memória e aspiraram a controlá-la até em seus rincões mais recônditos;

4.  Se diz que nas ilhas solovetskiye, (campo de trabalho forçado soviético) se acabava a tiros com as gaivotas para que não pudessem levar consigo mensagens dos prisioneiros;

5. Himmler, a propósito da 'solução final', teria dito: "É uma página gloriosa de nossa história que nunca foi escrita o que jamais o será".;

6. Nenhuma instituição superior, dentro do Estado, deveria poder dizer: você não tem direito de buscar por si mesmo a verdade dos fatos, aqueles que não aceitam a versão oficial do passado serão castigados;

7. A memória não é responsável apenas por nossas convicções, mas também por nossos sentimentos...;

8. Separados de nossas tradições, embrutecidos pela exigências de uma sociedade do ócio e desprovidos de curiosidade espiritual, assim como de familiaridade com as grandes obras do passado, estaríamos condenados a festejar alegremente o esquecimento e a contentar-nos com os medíocres prazeres do momento. Em tal caso, a memória estaria ameaçada, não pela supressão de informações, mas por seu excesso. Os estados democráticos conduziriam a população ao mesmo destino dos regimes autoritários, isto é, ao reino da barbarie..."

 



terça-feira, 13 de setembro de 2022

Nova onda! O último e definitivo curta metragem de Godard...


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CINEMA? - "Lanterna mágica aperfeiçoada para um bebê de três anos... " (Paul Sonday)

"O cinema pode tornar-se uma arte, mas com a condição de suspender o filme e projetar só os títulos..."(B. Shaw).

"Um logro rápido pregado ao nervo ótico..."(G.G.Tuor).

"Uma distração de hilotas..."(Duhamel).




 













San Francisco, 1906...