Impressionante! Vale a pena fazer esse exercício.
A lógica, o discurso e o credo dos dois lados é literalmente o mesmo, só mudando o perfil dos heróis e dos bandidos. Curiosamente, discursam e contam suas aventuras heróicas, suas últimas odisseias contra o Mal do mundo, orgulhosos e entusiasmados, com ares de sumos sacerdotes diante do altar do Estado, como se não tivesse havido ontem... E como se as ruínas não estivessem visíveis por todos os lados, envenenando e obstruindo os caminhos. Nas entrelinhas, um show de melancolia!
Uma novidade: Deixaram de lado (ou pelo menos minimizaram) aquele recurso linguistico estúpido de explicar problemas sociais usando o futebol como metáfora: "em time que está ganhando não se mexe"; etc, etc. Agora passaram a usar a metáfora religiosa, que é até mais ridícula: tudo virou luta do diabo contra deus; do bem contra o mal; da humildade contra a arrogância; do egoísmo contra o filantropismo; do amor à Natureza contra os incêndios da Natureza; da ajuda aos pobres contra o aniquilamento dos pobres; do paraíso verde/amarelo contra o paraíso vermelho; do socialismo contra o fascismo e etc.
Impressionante. E se algum militante, por impertinência ou por despreparo lhes interrompe o frenesi da palestra para uma pergunta fora do script, a resposta é sempre idêntica a que dariam seus opositores. Os "socialistas" dão uma resposta que cheira a fascismo e os "fascistas" dão uma resposta que cheira a socialismo. Incrível! Difícil, quase impossível traçar a fronteira entre o tal socialismo e o tal fascismo! E, por mais escolados que sejam, não vão além das crendices do último século em nada, em absolutamente nada... Estão, de um lado e de outro, imobilizados numa choradeira sem fim e sem conseguirem funcionar dentro de um, digamos, razoamento adulto e laico, a altura destes dias de miséria e de caos. Pura fé! Puro sectarismo! Misticismo barato e politico. Por mais esforço que se faça para encontrar uma diferença (adulta) entre eles, se acaba sempre chegando à triste conclusão de André Glucksmann: Os ideólogos oficiais dos partidos de esquerda e de direita fumam o mesmo cachimbo, mesmo quando seus Paraísos Artificiais divergem.
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