segunda-feira, 17 de agosto de 2020

Esquerda e Direita: Apesar dos Paraísos Artificiais de cada bando divergirem, fumam o mesmo cachimbo...






 Enquanto os "virologistas" não conseguem cumprir com suas obrigações básicas e elementares (depois da pandemia a confiança depositada neles deverá ser revista...), incluí na minha Rotina do Cárcere, pelo menos uma hora/diária para assistir, via internet, programas, videos, entrevistas, sermões, delações, injurias, discussões, panegíricos, calunias, delírios e manifestações de fé, dos dois grupos que lutam entre si para lotear o país: a tal esquerda e a tal direita. Qual seria a intenção real dessa gente? Le Goff, se perguntado, possivelmente nos lembraria: "No final do século, XI ao inicio do século XIII, a concepção de pecado e de penitência muda profundamente, se espiritualiza, se interioriza. De agora em diante, a gravidade do pecado é medida pela intenção do pecador..."  
E se o curioso insistisse, é bem provável que ele complementasse sua fala com a tese de um outro sujeito do século XII: "as autoridades têm um nariz de cera, maleável ao gosto dos exegetas e dos utilizadores."

Impressionante! Vale a pena fazer esse exercício. 

A lógica, o discurso e o credo dos dois lados é literalmente o mesmo, só  mudando o perfil dos heróis e dos bandidos. Curiosamente, discursam e contam suas aventuras heróicas, suas últimas odisseias contra o Mal do mundo, orgulhosos e entusiasmados, com ares de sumos sacerdotes diante do altar do Estado, como se não tivesse havido ontem... E como se as ruínas não estivessem visíveis por todos os lados, envenenando e obstruindo os caminhos. Nas entrelinhas, um show de melancolia!

Uma novidade: Deixaram de lado (ou pelo menos minimizaram) aquele recurso linguistico estúpido de explicar problemas sociais usando o futebol como metáfora: "em time que está ganhando não se mexe"; etc, etc. Agora passaram a usar a metáfora religiosa, que é até mais ridícula: tudo virou luta do diabo contra deus; do bem contra o mal; da humildade contra a arrogância; do egoísmo contra o filantropismo; do amor à Natureza contra os incêndios da Natureza; da ajuda aos pobres contra o aniquilamento dos pobres; do paraíso verde/amarelo contra o paraíso vermelho; do socialismo contra o fascismo e etc.

Impressionante.  E se algum militante, por impertinência ou por despreparo  lhes interrompe o frenesi da palestra para uma pergunta fora do script, a resposta é sempre idêntica a que dariam seus opositores.  Os "socialistas" dão uma resposta que cheira a fascismo e os "fascistas" dão uma resposta que cheira a socialismo. Incrível! Difícil, quase impossível traçar a fronteira entre o tal socialismo e o tal fascismo! E, por mais escolados que sejam, não vão além das crendices do último século em nada, em absolutamente nada... Estão, de um lado e de outro, imobilizados numa choradeira sem fim e sem conseguirem funcionar dentro de um, digamos, razoamento adulto e laico, a altura destes dias de miséria e de caos. Pura fé! Puro sectarismo! Misticismo barato e politico. Por mais esforço que se faça para encontrar uma diferença (adulta) entre eles, se acaba sempre chegando à triste conclusão de André Glucksmann: Os ideólogos oficiais dos partidos de esquerda e de direita fumam o mesmo cachimbo, mesmo quando seus Paraísos Artificiais divergem.






Nenhum comentário:

Postar um comentário