quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

De mosquitos e de gentes...




E você, que conseguiu escapar da COVID, mon semblable e mon frère... como está encarando a DENGUE?

Multidões inteiras caçando mosquitos. Esses animaizinhos naïf que ficam planando ebriamente sobre nossas orelhas como minúsculos drones... Drones que, segundo a velhinha armênia, (aquela do lenço de seda amarela trazido dos arredores de Veneza), são pilotados por Mefistófeles... E a coisa está tão grave, que muita gente que conheço só sai de casa com um rosário amarrado às canelas e depois de ter consultado o I Ching (aquele com um prefácio do Jung); El libro egípcio de los muertos ou o Baralho Cigano... (aquele da Madame Lenormand).

Até as forças armadas estão na batalha. E é bizarro ver um soldado empunhando um fumacê (como se fosse um lança-mísseis) na direção dos cortiços e das montanhas de pneus, latas e garrafas pela metade, camisas de vênus jogadas nos estacionamentos, barracões abandonados e vasos chineses esquecidos sobre as tumbas... A mosquitada vinda do Egito (Aedis egipti), ou mesmo dos lixões periféricos parece mais treinada do que a dos anos anteriores. Ser abatido por um raio no meio de uma tempestade, tudo bem, mas por uma picada de mosquito, isso é demais! Arruina a vaidade, o amor próprio e a estima de qualquer um... E o Ministério da Saúde, vai entorpecendo a população com as clássicas promessas, as mesmas de Dom Pedro I e de Getúlio Vargas... E mobilizam especialistas. Prometem mais vacinas. Vendem repelentes até na entrada dos cabarés. Mandam as velhinhas se enfiarem dentro de seus mosquiteiros e queimarem suas velas de citronela ou de arruda por toda a casa e, por que não, uma ou outra também para São Francisco ide Assis, o patrono dos animais. Mosquito é animal? Na portaria dos prédios sempre há alguém relatando como foram os 14 dias de internamento, as dores nos cotovelos, nos joelhos e em todos os ossos, a febre, o medo de um momento para outro, bater as botas... A morte, o único problema político e filosófico realmente sério...Na lápide, a frase afetada e cabotina: abatido jovem e cheio de amigos, por um mosquito! Era honrado, monogamico, trabalhador e bom pai, ótimo marido... Foi abatido por um mísero mosquito! Saudades eternas! Que Deus tenha piedade, pelo menos de sua pobre e ficticia alma... e também da nossa! 

Problemas existenciais. Curiosamente, esses bichinhos voadores, com sua agulha frontal, fazem as pessoas refletirem sobre a condição humana bem mais do que os professores de ética e de fenomenologia. Ah, o existencialismo! Sartre e Kierkegaard. O ser e o nada! Mas o problema maior, é que o veneno do mosquito pode acionar dez ou doze outras doenças que estavam incubadas e latentes no doente. Um infarto, um AVC, por exemplo. Uma paranóia, a próstata, os rins, uma úlcera, o  nervo ciático, uma infecção na servical, a labirintite, um abalo no Sistema Nervoso Central, sem falar das infecções hospitalares e das dores de cabeça nunca antes sentidas, a visão conturbada e uma febre parecida àquela dos indígenas depois de, propositalmente, terem sido infectados pela varíola. Segundo relatos, a febre e o sofrimento daqueles pobres silvícolas era tanta que, arrependidos de terem nascido,  uns imploravam para que os outros lhe destroçassem a cabeça com uma pedra...

O Mendigo K, que tem asco de todas essas encenações reativas e burocráticas, perguntava a seus comparsas: Mas... e os esgotos, que ziguezagueiam a céu aberto pelo fundo dos barracos de 70% da população e há 500 anos? E as espumas do Rio Tietê, naquela pauliceia desvairada? E as privadas? E os idiotas que destruiram o cerrado para levantar cinco/seis prédios? Teriam alguma coisa a ver com essas brigadas de mosquitos? E o prefeito do Rio de Janeiro que presenteou os melhores alunos de matemática com uma viagem à Disney? Vou repetir: com uma viagem à Disney. Percebem a pobreza do imaginário, a domesticação inconsciente e a limitação desse ato? É mais ou menos como presentear uma borboleta que recém começou a voar, com uma volta ao redor de uma lâmpada de 300 watts. Disney um caralho! Deveriam ter sido presenteados com uma ida à lua; com uma visita à tumba de Poincaré (lá no Père Lachaise) ou com uma viagem pela transsiberiana, de San Petsburgo à Vladivostok... E o Bolsonaro, que, com 800 mil presos apodrecendo nas penitenciárias, (muitos ainda sem julgamento), está sendo processado por ter importunado uma baleia? E o planeta inteiro que está em silêncio diante do genocídio do povo palestino? E o cafezinho da esquina, pelo qual estão cobrando o mesmo preço de um quilo de café? E a censura de pensamento e às "fake news" que só faz fomentar a Candice nacional? Lembro que minha tataravó, enquanto fazia girar a pá que faz a polenta, gostava de falar sozinha e ir dizendo para seus interlocutores imaginários que sua tataravó já lhe dizia que, em seu tempo, os trapaceiros de turno, desde seus púlpitos, orientavam o populacho para que ficassem alertas, bem alertas, porque Lúcifer, (que era o Cara!) era especialista em seduzir e em espalhar notícias e provas falsificadas sobre coisas do mundo...  Sim, era a tirania e o combate às "fake news' daqueles tempos dementes e sombrios...

Enfim, como diria Vargas Vila: Eu não lhes concedo o direito de cidadania na urbe do pensamento!

Ou então, meu amigo baiano: e... vão fuder outro!







terça-feira, 30 de janeiro de 2024

Da ABIN ao Mr BIN...



"... Dêem-me três linhas dum homem, e eu me comprometo a descobrir nelas o suficiente para mandar o autor dessas três linhas ao cadafalso..."
Richelieu
















segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

A espionagem da ABIN e a dos CONFESSIONÁRIOS...





{ Procurai em tudo o ridículo; haveis de encontrá-lo...}
Jules Renard





O país ainda está assustado e exaltado com as notícias sobre uma suposta ABIN dentro da ABIN, que teria sido montada para, perversamente, bisbilhotar e espionar o cotidiano e a intimidade de adversários do ex-presidente Bolsonaro. E os jornais não param de mencionar que o aparelho espião, um tal First Mile, teria sido comprado pelo governo brasileiro, do governo de Israel. (Logo de Israel!) E mais: dizem que umas trinta mil pessoas teriam sido espionadas. Trinta mil? Mas isso é mais do que uma loucura! Segundo o zum, zum, zum, e a malignidade natural, apenas um ou outro dos possíveis espionados estariam verdadeiramente preocupados e, mesmo assim, mais por questões de fidelidade matrimonial, pelas escapadelas noturnas ali pelos lados da rodoviária, por pequenas trapaças e por tramóias bancárias do que por questões de ideologia e de coerência partidária. Todo mundo está esperando a divulgação da tal lista... e não ver o seu nome entre os trinta mil, (para a maioria dos supostos revolucionários) será quase uma declaração de insignificância... e de ser um Zero à esquerda, no cenário pátrio.... 

Um verdadeiro circo! Tanto dos espiões como dos espionados.

O Mendigo K, lendo as noticias sobre o assunto, colocou-me a mão no ombro e cochichou: É curioso que o mesmo pessoal que está tão preocupado com a suposta espionagem, não tenha, até hoje, se incomodado com a maior rede de espionagem que está instalada no país, há mais de 500 anos.., rede que todo mundo sabe onde fica e que, com a qual, ninguém se importa...

Fiquei curioso em saber que rede era aquela, e ele explicou, a meia-voz.

O confessionário! Os dados colhidos diariamente nos confessionários e as pesquisas realizadas ali, secretas e em nome de uma divindade, são mil vezes mais verossímeis até do que as do IBGE. Se a ABIN tem meia dúzia de funcionários, o Vaticano tem dois ou três confessionários funcionando 24 horas por dia em cada um dos 5568 municípios do país, local onde comparecem voluntariamente famílias de todos pedigrees (proletários, classes médias e burgueses e até as putas) para confidenciar suas intimidades (mais íntimas), seus desejos mais primitivos, seus crimes, amores e desamores, suas fantasias subversivas e suas tramóias mais abomináveis, sejam elas de ordem moral, sexual, econômicas, intelectuais, de saúde, políticas e etc.. 

- Diga-me tudo irmã... irmãzinha querida... Não apenas sobre as ações, mas também sobre os pensamentos...

Fez um silêncio e concluiu: Portanto, é importante entender que o conteúdo sócio, político, econômico  e psicológico, às vezes pertinente, das tais encíclicas, não é inventado pelo Papa e nem  inspirado pelo além... me entendes?

Disse isso e jogou sobre a mesa do bar o livreto de Norberto Valentini: LA POLÍTICA EN EL CONFESIONARIO, que acabara de resenhar, publicado em Milão em 1974...









domingo, 28 de janeiro de 2024

Gardênia azul! Duvido que alguém conheça outra favela com um nome tão feminino e tão romântico como esta aqui, de Jacarepaguá ... (Nome que emTupi-Guarani quer dizer: vale dos jacarés)




Gardênia Azul!
Apesar do nome...


 

Enfim, "Observe como a censura sempre perdoa os corvos 
e persegue as pombas..."
(Juvenal)












PENA DE VIDA & PENA DE MORTE... Eis a questão.




"É como se disséssemos que 

as ervilhas fazem brotar a primavera..."

Théophile Gautier





Por aqui, os burocratas ainda não se recuperaram do fátuo e fugaz horror que sentiram ao assistir a execução (por asfixia) daquele sujeito lá nos Estados Unidos. Mas não pensem que se trata de compaixão ou de algum tipo de humanismo, é só um histrionismo quase adolescente... E, como quase todo mundo por aqui, tem uma paixão secreta pelo imperialismo e pelos yanquis, fazem um malabarismo cretino para tratar do assunto sem comprometer a dignidade das 'autoridades' e dos patrões da Amérika... Sim, eu sei: a vergonha de lá não é muito diferente da vergonha daqui, com nossos 800 mil presos em penitenciárias medievais e condenados a vida. Pena de morte! Pena de vida! ... (Aqui entre nós: o último protesto, desafio e sarcasmo daquele executado foi demonstrar que aqueles energúmenos não conseguiram, depois de horas, encontrar suas veias...). Realmente, aquele barbarismo e aquele caráter vingativo não é privilégio apenas dos norte americanos e nem é uma loucura contemporânea, pós-moderna. Vem de longe, de muito longe, e já emporcalhou as mãos e a 'alma' de todas as nações. A história e a pré história, qualquer um sabe, sempre foi um córrego e um charco de sangue, de vinganças patológicas e, pior: por motivos cretinos e moralistas. Suplício! Depois de Cain, a espécie parece ter ficado adicta ao suplício. E não apenas contra os Outros, (sadismo) mas contra Si mesma (masoquismo). A propósito, uma civilização que assiste quieta e de boca aberta ao massacre dos ucranianos e dos palestinos, (por uns míseros alqueires de terra) nem poderia estar fazendo esse teatro de espanto diante da execução no Alabama e (para ser mais radical) nem mesmo ter o direito de seguir existindo. Exibo abaixo, (já que hoje é domingo e que os sinos já estão badalando...) algumas imagens do modus operandi, do qual nossos ancestrais se valiam (sempre em nome do Estado, do civismo e de Deus) para 'ajustar contas' com aqueles que não pensassem como eles ou que se atreviam a dizer o que pensavam. A propósito, entre os vira-latas mais idolatrados, Platão pode ser considerado um dos principais ideólogos e patrono das cadeiras elétricas, dos fornos, dos enforcamentos, da asfixia com gás e de inúmeras outras formas, uma mais cruel do que as outras, de repressão contra os 'descrentes'. (leia-se História do ateísmo, Georges Minois).
































quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

Ciência, religião, fake news... e muita trapaça... Credo, quia absurdum est...











'É muito frustrante e brochante, depois de dois mil anos (ou pelo menos depois do affair Giordano Bruno, 1595) ainda ter que seguir assistindo essa intriga de beócios entre a fé e a ciência. Ora, que cada um acredite naquilo que lhe aprouver, mas com a condição sine qua non de não encher o saco dos que acreditam em outras coisas ou em absolutamente nada... De acordo?

E depois, curiosamente, esse 'aumento da intolerância religiosa', como anuncia o jornal, parece ter coincidido com a instalação do Processo das FAKE NEWS no STF. Não lhes parece um dos poucos sucessos do judiciário na luta contra o noticiário falso e delirante? Credo, quia absurdum est...

Mas, diante do fomento, da legitimação e da defesa demagógica estatal de todo tipo de seitas, folclore e de superstições demenciais, como é que ficam os frequentadores da Pré Escola, do Nível Médio e das Universidades? Como é que as crianças, os jovens e até os velhos vão conseguir elaborar essa ambiguidade e essa confusão? Identificar a fronteira imaginária e fictícia entre o profano e o sagrado? Acreditar em Giordano Bruno ou em seus detratores? Afinal, é o sol ou a terra que se move? As mulheres engravidam pelo sêmen de um homem, pelo contacto com uma flor de lótus ou pela ação do vento? Pelo polenzinho que um beija flor, vindo do além, deposita lá entre os grandes lábios das matronas? E a lua, é a morada dos poetas, das bruxas, de Shiva e de nossas tiranas tataravós ou um rochedo frio e inabitável que ainda despencará sobre nossos jardins e quintais? Nossos cavalos de estimação, (das cores daqueles quatro do Apocalipse) quando morrem, vão viver num haras do shangri-la que está lá no meio de uma pradaria celestial ou desaparecem para sempre?

A química ou a alquimia?

O bem ou o mal?

A doença como uma punição divina ou como efeito das orelhas, dos pés e do rabo do porco na feijoada? 

O Dicionário filosófico de Voltaire ou a Kabala?

A medicina ou a feitiçaria?

Ficar com as hipóteses de Darwin, ou com as teses dos pescadores do Rio Jordão ou da seita do Moon? Com o pãozinho vagabundo e cheio de bromato da padaria da esquina ou com a inépcia do maná que cairá dos céus? Com a penicilina ou com os óleos de Israel e com os poderes da Pirâmide de Khéops? Acreditar em Freud ou em Cagliostro e nos Testemunhas de Jeová? Confiar mais numa 765  ou num patuá? Num tomógrafo computadorizado, ou na Pedra filosofal? Num ortopedista ou numa cartomante? Em Si Mesmo ou em alguma divindade ou em algum ser maligno surgido dos delírios grupais e que podem estar escondidos tanto no cós das cuecas como nos percursos intrincados das calcinhas (sejam elas feitas com sacos de farinha ou com algum tecido da Duloren????)

O natural ou o sobrenatural?

A física ou a metafísica?

A astronomia ou a astrologia?

A antropologia ou a teologia?

E depois, os malandrins que administram toda essa pantomima, fingem não saber as razões das filas estarem cada vez maiores ao redor dos presídios, dos  manicômios e do SUS... (A propósito, uma curiosidade: a queixa do Trump ontem, a respeito da 'diáspora' latino-americana para as fronteiras dos EEUU, fazia menção ao grande número de ex presidiários e de doentes mentais entre os imigrantes...)

Ora! Todos sabemos que o desbunde civilizacional é geral e imenso. Que a espécie está rodopiando numa bipolaridade espantosa e sem sair do lugar, há muito tempo. Fazendo um esforço imenso para acreditar em alguma bobagem que transcenda a cesta básica e essa mediocridade triunfante, e também, acreditem, para extinguir-se. (Vejam as idiotices lá em Gaza e lá na Ucrânia). Sim, sabemos que, uns mais, uns menos, todo mundo se sente traído por estar aqui, nesta penitenciária patética, sem bússola e sem astrolábio. Sim, todo mundo sabe disso...

Mas, assim mesmo, é importante tentar crescer e amadurecer! Essa "lógica" infanto-juvenil e caricatural e essa invenção de fantasmas (e + a crença de poder dialogar com eles) não fica bem nem num mundo cada vez mais trapaceiro, charlatanesco, gerontocrático e senil... Sim, sim, eu sei, como dizia Durkheim, que "a religião e a sua imagem reflete todos os aspectos da sociedade, mesmo os mais vulgares e os mais repugnantes"...

Enfim:  Que o Ministério da Saúde (e os governos) fiquem em silêncio e até legitimem o envenenamento das novas gerações com todas essas superstições e com toda essa baboseira animista, fetichista, totemista, xamanista, mística, descabida e esotérica, é um verdadeiro mistério...

Sim, pensar tudo isso é terapêutico.., mas sem esquecer da Sonata número 6, de Paganini: (desse gênio do violino que passou toda a vida perseguido pelos beócios da fé e acusado de ter um pacto com o diabo...)


 



segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

NELSON RODRIGUES: DE PROFANADOR A PROFANADO...

 



Quem me deu a noticia de que roubaram o busto de Nelson Rodrigues, lá no Cemitério São João Batista (Botafogo, RJ), foi a mulher do Mendigo K. E o fez com uma descarada ironia, já que considera o tal escritor, um dos maiores misóginos nacionais. Fiquei em silêncio enquanto ela ia citando frases anti feministas do defunto:

1. "Se uma moça entra no curso de jornalismo da PUC é que algo está acontecendo ou vai acontecer. Um dia, andei sondando a vida de três estagiárias, minhas companheiras. Uma era desquitada, outra ia se desquitar, a terceira estava com o desquite quase homologado. O dado estatístico impressiona - cem por cento desiludidas. (...) a estagiária entra na redação, pode passar lá duzentos anos e jamais será jornalista".

2. "Ninguém pode resistir a uma figura feminina que é ao mesmo tempo, desquitada, analisada, progressista e desiludida..."

3. E por uma coincidência realmente fatal, tinha como chefe uma mulher, uma santa senhora amarga, desiludida. Aos sessenta anos, é capaz de ver numa bruxa de disco infantil uma rival insuportável."

4. Você entendeu? Na véspera, queria ser enterrada com o marido. No dia seguinte, foge com um ourives. O que ele queria dizer, por outras palavras, é que a mulher só trata bem por sentimento de culpa."

 Como percebeu que eu não estava lhe dando grande atenção, agregou: E, você sabe, além de misógino, era reacionário e fanático por futebol!... E foi lendo o final da página 71 do livro que levava: 

"O grande acontecimento do século XIX foi a ascensão espantosa e fulminante do idiota. Até então, o idiota era apenas o idiota e como tal se comportava. Não vejam em minhas palavras nenhum exagero caricatural. E o primeiro a saber-se idiota era o próprio idiota. Não tinha ilusões. Julgando-se um inepto nato e hereditário, jamais se atreveu a mover uma palha ou tirar uma cadeira do lugar. Em 50 mil ou cem, ou duzentos anos, nunca um idiota ousou questionar os valores da vida. Simplesmente, não pensava. Os "melhores"pensavam por ele, sentiam por ele, decidiam por ele. Foi o século XIX que fez do idiota um ser histórico. E então, aquele sujeito que, há 500 anos, limitava-se a babar na gravata, aquele sujeito, dizia eu, passou a existir socialmente, economicamente, politicamente, , culturalmente, etc. Houve, em toda parte, a explosão triunfal dos idiotas. Muitos estranham a violência da nossa época. Eis um mistério nada misterioso. É o ódio do idiota, sempre humilhado, sempre ofendido, sempre frustrado e que agora reage com toda a potência do seu ressentimento.  Deve-se a Marx o formidável despertar dos idiotas..."

Colocou um ponto final e retirou-se sem dizer mais nada.

domingo, 21 de janeiro de 2024

Ualid Rabah... Uma aula importante...


















DA QUEDA... os coveiros, a cerveja e o desmoronamento da civilização...

 

Curiosamente, "... quando aparece um poeta numa 

família, todos os outros parentes se sentem mais unidos..."

Mario Luis Descotte





A noticia não diz se o padre já havia recitado o requiem aeternam, e nem em que idioma. O que se sabe é que, no sábado, durante um enterro aqui num cemitério do Distrito Federal, enquanto (familiares, amigos e curiosos) rezavam desgostosos e consternados diante do único problema filosófico sério, o terreno cedeu e várias pessoas caíram numa cova vizinha a do morto que estava sendo sepultado... O laudo dos bombeiros registra que entre os caídos houve apenas desmaios e ferimentos leves... Mas e os inquilinos daquela cova, o que teriam pensado? Voltar!? Jamais!
Naturalmente, os demagogos de boa lábia vão culpar os coveiros, a cerveja e a Caninha 21... pelo desmoronamento e pela queda... 
Por falar em queda, narcóticos espirituais e corporais, em  cerveja, em cachaça e em degradação estrutural, o Mendigo K, que, além de neto de alemães, é auxiliar de coveiro, aproveitou para lembrar (a outro coveiro presente ao ato), da 'profecia' feita por um filólogo alemão, ainda nos tempos de seu tataravô, a respeito da mediocrização e ruína dos povos:  
"Em nenhuma parte - foi dizendo enquanto afiava sua picareta - se abusou tanto dos dois grandes narcóticos europeus: a cerveja e o cristianismo. (...) Quanto pesadume mal -humorado, quanta paralisia, quanta umidade, quanta roupa caseira, quanta cerveja há na inteligência alemã! Como é possível que jovens que dedicam sua existência aos fins mais espirituais não sintam o primeiro instinto da espiritualidade, o instinto de conservação do espírito, e bebam cerveja? Onde não achar essa doce degeneração que produz a cerveja ao espírito? (...) Veja-se a degeneração do nosso primeiro livre pensador alemão, o prudente David Strauss que chegou a ser o autor de um evangelho da cerveja e de uma nova fé: a amável morena... fiel até a morte... Maldito espírito de mediocridade..."







sábado, 20 de janeiro de 2024

Depois de passar dois mil anos pisoteando a sexualidade... agora o Papa argentino vem com essa balela... Ora! Todo mundo sabe que a moral da igreja foi sempre um leito de Procusto...




 (Correio Braziliense de hoje)


E quem é que não se lembra, lá de sua infância, daquela beata toda vestida de preto, dos pés à cabeça, resmungando em tom de ameaça, esta frase cretina, (ditada por um demente das antigas), às meninas e aos aos meninos punheteiros: "Se o seu olho direito o induz a pecar, arranque‑o e lance‑o fora. Pois é melhor perder uma parte do seu corpo do que todo ele ser lançado no inferno..." (???) E mais: quem é que não se lembra que a invenção do "amor" foi uma estratégia da OMS e dos trapaceiros da época, para controlar uma 'pandemia' de gonorréia...
















quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

O fisco & o fiasco... as seitas, os impostos e a eterna discussão entre vivaldinos e palhaços...





Às quinta-feiras, costumo levantar-me quando termina a ladainha e o canto dos galos, quase de madrugada, para ir ao mercadinho da esquina ver se chegou nabo branco, bardana e ovos caipiras. A velhinha armênia estava lá, com cara de quem não dorme há uma semana e com os cabelos revoltos envolvidos naquele lenço amarelo de seda italiana trazido por seus ancestrais de uma aldeia que fica nos arredores de Veneza.. Cumprimentou-me com voz de homem e com aquela agressão matinal quase natural da senectude e foi ironizando: E aí, Bazzo? Também vais pedir isenção de impostos para tua igreja? Riu sarcasticamente e passou a discorrer sobre a polêmica que está em curso entre a Receita Federal e as Seitas, com seus gurus, padres, rabinos, pastores e etc, depois que foi suspensa a tal imunidade tributária religiosa. Agora os padres, os pastores, os gurus, os xamãs e todo tipo de trapaceiros (de Deus) terão que pagar impostos como qualquer outro habitante desta penitenciária estatal...

Ah!, (com tipo de advocatus diaboli, meteu-se na conversa o gerente da birosca, que é crente fanático): mas não podem fazer isto, pois desde 1988 a isenção está na Constituição! E somos absolutamente a favor que os Ministros de Confissão Religiosa sejam isentos de impostos, afinal, são eles que dão a própria vida para o consolo de nossa alma, que lutam para 'salvar' o homem... e que falsificam as chaves das portas de fundo do paraíso para que um dia possamos entrar sorrateiramente por lá....  São eles que dão esperanças e explicam para os ignorantes a natureza do desconhecido...

Sim, - retrucou a armênia, fingindo concordar com aquele idiota - como a Constituição é um adendo bíblico, é natural que, entre as trapaças metafísicas, haja também as trapaças monetárias... Você tem razão! Não apenas as igrejas, mas todas as bocas de fumo e as casas de luz vermelha também deveriam ser isentas de impostos... E mais, acrescentou o Mendigo K., que apareceu de surpresa: deveriam ter imunidade tributária além das bocas de fumo e das casas de luz vermelha - como sugere a companheira - também a Sutil Sociedade da Eterna Luz, acolhedora da asnologia; também o Templo dos Descendentes indiretos da família Godot (não confundir com Godard); a turma tímida e fatal que adora um entidade bicéfala; a Congregação única, verdadeira e sacrossanta edificada na ilha invisível dos degenerados; a Legião Santificada dos Filhos Iluminados da famosa Luz del Fuego, com suas serpentes; o Santuário dos Comedores de Nabo Branco por sugestão do Georges Osawa; o Subterrâneo Rosa do Barril abençoado e vazio que está oculto nos porões da transcendência; o Templo do rochedo inconsciente e iluminado por um dos cinco mil raios da penúltima tempestade; a facção da Saleta Sagrada das Bromélias, dos Blogueiros da fé e dos herdeiros fieis do Pau Brasil, (os únicos paus que não são ocos); A Turma do Rifle enferrujado; o Centro dos Borracheiros que foram tocados pelo cheiro dos pneus e que agora dominam a transubstanciação da feijoada em cocô e também a Confraria dos lunáticos e incansáveis adoradores da lua lilás e milagrosa... Também os Remanescentes da seita do velho Moon; Os Beneméritos Guardiões do Rabo de quati que foi encontrado boiando no Lago Paranoá, bem em frente à Península dos Ministros... e a Mansão das alcovas solares e das mães convertidas à fé solar... e a mais outras duzentas e tantas dessas Sociedades Anônimas e semi anônimas, instaladas por aí nos fundos dos quintais e em terrenos baldios e públicos... Enfim, parafraseando ao filólogo alemão e para colocar um ponto final nessa discussão entre palhaços: Viva a isenção total e absoluta de todos os tributos e valores...










terça-feira, 16 de janeiro de 2024

As chuvas, as tormentas e a Praça dos Milagres...



"A sabedoria quem sabe aparecesse sobre a Terra como um corvo, ao qual um ligeiro odor de carniça entusiasma?"

(F.N.)


Apesar de todo mundo estar meio apavorado com as frequentes chuvaradas e ventanias que têm se abatido sobre o país inteiro, mas principalmente sobre Rio de Janeiro e São Paulo, é importante reconhecer que elas estão tendo uma importância sociológica ímpar: estão demonstrando que o país, além das mentiras e dos cacarejos de alguns chauvinistas, e além de duas ou três avenidas onde se esconde a burguesia, está transformado numa verdadeira Praça dos milagres. Lembram da Praça dos Milagres lá na obra de Victor Hugo? É impressionante e quase inacreditável a quantidade de pobres, de miseráveis, de fodidos, de indigentes e de condenados da terra que as chuvaradas revelam e trazem à tona... E seus relatos e seus lamentos são de arrepiar até as sobrancelhas dos carecas... Como é possível que milhões de pessoas vivam piores do que ratos ao mesmo tempo que, um governo atrás do outro não se cansa de vangloriar-se dos trilhões que rende o AGRONEGÓCIO, a PETROBRAS; A BOLSA DE VALORES; e as TONELADAS DE OURO que os garimpeiros arrancam la na Amazônia? Sem falar dos 27% retirados mensalmente até do salário das putas? Para onde desaguam todas essas fortunas?

Se você acha que estou exagerando, preste atenção nas chuvaradas de amanhã e de depois de amanhã, aquela gente desnutrida (mas obesa), surfando e esquiando sobre colchões velhos, sobre geladeiras a querosene... Panelas vazias, crucifixos feitos de ossos, imagens de santos pregadas às portas de guarda-roupas... A lama e a merda das elites deixando marcas nos umbrais dos cortiços... e, pior: com os urubus, aparecendo como oráculos e profetas...

 E quando o horror passa, caia na real e aproveite para ler: O corcunda de Notre Dame, ele que dormia no campanário daquela catedral e que estava papando e perdidamente apaixonado por uma cigana chamada Esmeralda...

 









segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

E você, nobre revolucionário, se comove mais com o assassinato de crianças palestinas ou com o de crianças Ianomâmis????


"... Antes não ter um fim que ter um fim moral..."
(F.N).









E você, mon semblable e mon frère, está mais angustiado pelo assassinato em massa das crianças palestinas (pelos exércitos israelenses) ou pelo assassinato de crianças Ianomâmis, (pelas nossas ilustres autoridades)???

Quem acompanha as noticias dos massacres na Palestina e que viu o noticiário de ontem à noite sobre as aldeias Ianomâmis, mostrando aquelas crianças só em pele e osso, com aqueles olhares já terminais, pedindo socorro... quem viu aquelas imagens e, em seguida, conseguiu dormir, em paz e indiferente, é um cretino e um fascista... E não me venham amanhã com balelas filantrópicas, para passar o tempo, ou para arrecadar dinheiro, (apoiados pelo judiciário), fazer 'campanhas em defesa das crianças'; querendo, através de uma metafísica de palhaços, divinizar esses pirralhos e até defendendo punição para as mães que, no mercado, se negam a dar um pirulito para os seus...

E não escrevo isto movido por um humanismo poético, babaca, canalha e de padres, mas por meus instintos mais primitivos e selvagens...

E não adianta os hipócritas irem colocar-se de joelhos na catedral ou nos outros 200 templos espalhados pela cidade... e ficarem naquele histrionismo cacarejando besteiras para as paredes... E não adianta o governo, bufão, com todos seus gorduchinhos e suas gorduchinhas, ficar se escondendo nesse fisiologismo patético entre castas, famílias, Ongs, igrejas, policias e cartórios, colocando a culpa nos garimpeiros (que são apenas outros miseráveis, sobreviventes de desgraças semelhantes às que hoje sofrem os Ianomâmis). Deveria, isto sim, estar em peso lá nas aldeias, agora de manhã, não apenas para enfiar comida goela abaixo daquelas crianças, (já destruídas para sempre), mas para salvar o mínimo de dignidade que ainda mantem viva aquela gente e a nós... E quando falo dignidade, não o faço com o veneno moral e cretino que está contido nessa palavra, mas como sinônimo de culhões. Dizer dignidade, é dizer culhões! E é necessário salvar nossos culhões dessa imoralidade sem igual, dessa incompetência monstruosa, e dessa falta de desejo. Sim, a razão fundamental de toda essa pasmaceira, é a falta de desejo... Oxalá, os indígenas (que foram desarmados e debilitados para que se tornassem doentes), os que ainda não estão completamente domesticados, possam, hoje ou amanhã, de uma maneira ou de outra, vingar seus filhos dessa infâmia...

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EM TEMPO: Agora, para o cinismo e o teatro ficarem completos, só falta os bolsonaristas ameaçarem acusar o governo atual de genocídio junto à Corte Internacional, como recentemente fizeram os petistas, contra o governo Bolsonaro, pelo mesmo crime... E.., assim, de surtos em surtos, la nave vá...













quinta-feira, 11 de janeiro de 2024

E ali no Equador... El urubu travestido de condor, pasa...



"Gentleman-farmer"- é um labrego enriquecido que trocou os tamancos pelos sapatos, mas que se sente mais à vontade de tamancos..."(P)





Pela América Latina inteira, quase todo mundo, tanto da suposta esquerda, como da suposta direita e de outros bandos, fanaticamente religiosos e supostamente menos teatrais, todo mundo está expressando espanto com o ocorrido ontem e ante-ontem no Equador (fuga de presos das penitenciárias). E fazem referência, com muito horror, principalmente, à invasão dos rebeldes ao principal canal TC de televisão, à Universidade e à Paróquia rural de Quayaquil, três instituições que, tanto nos países subdesenvolvidos como nos mais ou menos, ainda são consideradas como Sanctus Santoruns. Curiosamente, um dos repórteres da tal TV que foi invadida, se chama Stálin e o presidente anterior do país, Lênin... E o Mussolini, onde estaria?

Enfim, que mensagens esses condenados estariam querendo nos passar? Se perguntam as freirinhas da Assistência Social...

Que escândalo! Que desaforo e que heresia! Murmuram as vedetes barbies dos horários "nobres", os camerógrafos, os barnabés acadêmicos e os padres...

Que horror e que perigo, toda essa bandidagem! Resmungam os velhotes aposentados e cabeças brancas lá pelas cinco da tarde, ali nas mesinhas da Kopenhague...

Meu Deus! E logo no Equador! No coração da América Latina!!! Esse galinheiro dos Estados Unidos... Ah! o Equador!.. Esse saudoso comedor e exportador de empanadas recheadas com bananas da terra...

Mas não é motivo para pânico! Cacareja um libertino. Isso faz parte do show e do zig-zag 'democrático'. E o show, como dizem nossas atrizes e também nossos novelógrafos: tem que continuar...

Falando sobre o assunto, o Mendigo K lembrou ao bando que o ouvia, que foi ali pelos lados do Equador, na Guiana inglesa, que em 1978, o pastor e guru americano Jim Jones (fundador da seita Templo dos povos), induziu mais de 900 pessoas a um suicídio coletivo...

Sim, tudo isso faz parte do show... Do show que tem que continuar...

Indiferente a toda essa pantomima latina, um urubu, malandramente travestido de condor, rodopia por sobre as penitenciárias temporariamente esvaziadas... como se estivesse grasnando: abaixo todas as prisões!!!














quarta-feira, 10 de janeiro de 2024

“A ideologia de género é a mais perigosa das colonizações ideológicas (Diz o Papa Francisco...)









A comunidade homossexual & anexos aqui da cidade está indignada com a recente declaração do papa Francisco de que "a ideologia de gênero é a mais perigosa das colonizações ideológicas".
Ali no boteco da esquina, que é um dos lugares preferidos da viadagem e das confrarias marginais, as discussões sobre este assunto, não tinham fim: Uns cuspiam fogo sobre o Papa argentino, inventando detalhes inverossímeis de sua biografia quando ainda vivia em Buenos Aires; outros o acusavam de ser, ele e o Vaticano, lacaios do imperialismo; outros descreviam em detalhes os crimes do cristianismo e a putaria dos papas ao longo da história, etc, etc. O mendigo K, que ouvia tudo atentamente, um pouco antes do boteco apagar as luzes e fechar as portas levantou-se meio cambaleante e, dirigindo-se à mesa ao lado falou com veemência: Tudo bem! Mas vocês estão esquecendo que o Papa Sixto IV, (aquele que 'construiu' a Capela Sistina e que, aliás, devia ser vosso patrono!) no meio de toda a putaria de sua época (1400), concedeu uma licença especial ao Colégio de Cardeais, para a pratica da sodomia durante os meses de verão...
Fez-se um breve silêncio e ele, antes de retirar-se, recomendou que vissem o documentário abaixo.











segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

A arte de perverter até mesmo as fotos... E antes que a tormenta desabe... (No meio de tudo, o inconfundível e exótico cheiro da cavalaria..).



 "... AUN CUANDO las palabras no son las mismas, el tono es harto conocido. En su alegoria de la caverna, Platón describe la miserable condición de unos prisioneros con la realidad misma...."

Frédéric Schiffter