terça-feira, 4 de agosto de 2020

O Mendigo K e a apologia dos cavalos...

Assisti aqui de minha janela o Mendigo K. dando um esporro no carroceiro que chicoteava seu cavalo, magro, com as costelas à mostra e com dois olhos de profunda melancolia.
- Não seja idiota! 
Lhe gritava ameaçadoramente.
Não tens ideia de que o cavalo e os asnos, foram, em parte, os dois grandes responsáveis pelo processo civilizatório? 
O carroceiro, com cara de quem estava cagando para o "Processo civilizatório", deu mais uma tragada em seu baseado e voltou a chicotear o animal.
O Mendigo, indignado, continuou: Esses pobres animais já foram escravizados o suficiente... Inclusive, na Primeira Guerra Mundial, mais de um milhão deles foram levados de navios para os locais dos enfrentamentos. A chacina foi terrivel! "Num único dia de combate, numa das batalhas, sete mil cavalos foram abatidos. Bombas e granadas simplesmente os reduziam a pedaços. E, para os sobreviventes da guerra, não houve medalhas. A maioria serviu de alimentação  para  os prisioneiros de guerra ou foi vendida para açougueiros franceses como carne ou para fazendeiros europeus para serem abatidos e convertidos em fertilizantes". Sabia disso? Tantos cavalos tiveram esse destino que o governo britânico lucrou fortunas com suas vendas. E foi por isso que "nas eras elisabetanas, dizia-se que a Inglaterra era o "paraíso das mulheres", o purgatório dos homens e o inferno dos cavalos". (D. Morris). 
O carroceiro, com o cigarro preso ao canto da boca, fez vibrar o chicote, acrescentou um palavrão ao novo golpe e partiu, ziguezagueando com sua carroça, feita praticamente de entulhos...

Um comentário:

  1. Nietzsche ao ver um cocheiro chicoteando um cavalo, abraçou o pescoço do animal para protegê-lo e caiu no chão. Havia enlouquecido? Muitos amigos que visitavam Nietzsche na clínica psiquiátrica duvidavam de sua doença e alguns de seus biógrafos afirmam que, longe de loucura, ele atingiu uma enorme sanidade.

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