Hoje, sábado, o mendigo K. apresentou-me sua nova mulher. Não apenas o seu tipo: um pano amarrado na cabeça, cheia de trapos e de bolsas, mas principalmente seu nome, Dulle, remetia quem a visse a um personagem famoso. Dulle? Repeti. Sim, como a Dulle Griet, ou Margarida a louca, de Bruegel. - respondeu, cheio de orgulho. Mas quando ela se afastou para ir em busca de um banheiro, ele me confidenciou: Bazzo, mais um Cavalo-de-Tróia na minha vida!
Caralho! Pensei.
Voltei para casa e fui vasculhar a obra de Bruegel. Estava lá, no detalhe de uma obra de Bruegel (o velho), a tal Dulle Griet. Uma bruxa do folclore flamengo que Bruegel resgatou e incluiu em um de seus quadros. E dizem que essa bruxa (que até chegou a ser idealizada pelas gorduchinhas feministas de Montparnase) era conhecida por ter ido até os portões dos infernos para desafiar os demonios.
Incrível, sua nova mulher era a cara dela, inclusive nos trapos que vestia, nas meias pretas que usava, no olhar de encrenqueira e no bastão que levava na mão direita, segundo ela, para proteger-se dos outros loucos e dos estupradores noturnos...
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