sábado, 29 de janeiro de 2022

COM AÇÚCAR COM AFETO / OU: Chico Buarque também tem seus momentos de bundão...

Emparedado pelas feministas por sua música Com açúcar com afeto (1967), Chico Buarque, vacilou e preferiu negar seu trabalho que é um dos melhores de sua carreira e que ainda hoje retrata a dinâmica de muitas relações amorosas. Inacreditável! Ele que sempre foi considerado porta voz dos mais contraditórios e rebuscados sentimentos femininos, agora é enquadrado por um grupo de mulheres que parece ter outro conceito tanto sobre o açúcar como sobre o afeto...

"As feministas têm razão, vou sempre dar razão às feministas."

Recuando diante dos protestos dessas mulheres, parece um menininho com medo da mamãe. Recuo que não passará impune: terá que explicar-se ao universo feminino, de domésticas a executivas, que passam o dia inteiro cantarolando essa música. Sem falar que, pelo andar da carruagem, em breve, terá que abdicar de outras canções, também "machistas", também admiráveis tipo: Atrás da porta; Mulheres de Atenas e etc.

E a defunta Nara, será que também amarelaria, em nome da misandria atual?

Enfim, esse retrocesso teria sido realmente um vacilo ou foi apenas mais uma jogada comercial, feita lá de uma luxuosa boulangerie parisiense?
 
Ah, no fim das contas, é importante que essas simplórias & implacáveis contestatárias de plantão entendam que, na verdade, bem lá no fundo, nem era amor, era cilada. Cilada! Cilada...



A dialektiké... e um elogio aos negacionistas...


"Para aquele que não consegue fazer da ciência trampolim para atingir esferas mais altas, ela se torna pesada porta de ferro que se fecha às suas costas e o esmaga..." (P)




Nestes tempos em que a indigência do mundo foi e está sendo evidenciada pelo vírus, (vírus que ninguém sabe se realmente veio da China, da Cochinchina, de Washington, da Itália ou das penas de ganso que estufam os travesseiros de nossas casas), emergiram também os chamados negacionistas: aqueles que negam a epidemia; que negam os conselhos da OMS; que não acreditam na eficiência das vacinas e que inclusive juram que elas são iatrogênicas, isto é, que, no futuro, desencadearão um outro tipo de doença nos vacinados. Esses 'negacionistas' se tornaram os 'bodes expiatórios' do rebanho e são insultados, não apenas por seus pares, leigos e iletrados, mas até mesmo pelos doutores que deveriam, em algum momento de suas vidas, ter aprendido, de Sócrates ou de Marx, as bases da dialética.

Apesar dos latidos da turba, foram eles, esses negacionistas que, ao longo da história da ciência e da técnica, vieram exigindo e garantindo que se navegue com um mínimo de segurança. Se não fossem eles, se o rebanho, de cabeça baixa, tivesse acreditado de cara em tudo, já teríamos naufragado e desaparecido e o mundo seria, agora, um imenso e lúgubre cemitério. 

Ouçam, sem preconceito, os argumentos dos 'negacionistas' e os dos 'não negacionistas'. Como nossa história e mesmo o nosso presente está recheado de panacéias, de mentiras e de fracassos, o único instrumento que temos para optar por uns ou pelos outros, pelos que negam ou pelos que afirmam, é uma fé quase anímica. A crença e o credo. A aposta, naquela tese que nos garante uma maior ou uma menor ilusão, esperança e consolo.

Portanto, ao invés de atirar pedras nestas pessoas que duvidam e que negam, é importante reconhecer sua importância, já que muitas delas leram Nêmesis da medicina, de Ivan Illich. E que são elas que obrigam os comerciantes e os expropriadores da saúde a provarem por A+B, a validade de seus produtos. Elas que nos obrigam a resgatar a arte do diálogo que a dialética nos brinda e entender que os lados que se opõem são complementares e fundamentais, que formam uma unidade em debate, até que uma 'verdade verdadeira', prevaleça.  Lembram da TESE, da ANTÍTESE e da SÍNTESE? Onde estão os Barnabés que passaram a vida inteira decorando as encíclicas de Sócrates e as de Marx, e que agora, como manés, não admitem e se escandalizam com as afirmações contrárias?

Enfim, os negacionistas (inclusive os que há dentro de você, mas que você os nega) são a antítese, os que garantem o caminho e o trânsito entre as idéias. E que evitam que o curral e o aprisco inteiro (apenas para fingir-se de politicamente correto) se coloque de joelhos diante de qualquer aventura imperial. Por quê haveríamos de acreditar piamente em alguma coisa que nos vem de uma indústria de trapaceiros? De gente que, sabidamente, inventou os motivos da Primeira e da Segunda guerras mundiais, apenas por delírios e com fins econômicos? E que sustentam seus países há séculos, apenas com os medicamentos que empurram guela abaixo das regiões mais fodidas do mundo?

Viva a TESE, a ANTÍTESE e a SÍNTESE! Viva a dialektiké!

Viva os negacionistas! Eles que nos convidam a abrir os olhos, os ouvidos e a sair do estado hipnótico e da catalepsia em que nos encontramos. Eles que relutam em admitir que a ciência se torne a quarta religião predominante no mundo (cristianismo, islamismo, judaísmo, cientificismo) e que venha a tornar-se, ainda mais, o lábaro dos imbecis. Viva essa gente que por puro pânico, por pura intuição e por pura impotência, obrigam os gestores desse circo a nos apresentarem provas mais cabais e mais convincentes de seus produtos, de seus negócios e de seus trambiques... 

 


quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

Esse teria se dado bem no mundo do circo e do teatro. Logo virará cardeal ou assumirá o lugar do argentino...



"Le voisin du dessus, le voisin du dessous, le voisin de droite et le voisin de gauche sont quatre avatars indifférenciés
 du même imbécile; vous êtes le cinquième..."
Philippe Pastorino
(IN: La fabrique de fous)

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terça-feira, 25 de janeiro de 2022

Depois dos vexames escancarados pelo vírus, não lhes incomoda o fato de 8 bilhões de pessoas acreditarem, sem contestação, que a terra é redonda?



 "Le catholicisme de gauche est un protestantisme de merde"

Leon Bloy

(Citado por Olavo, O imbecil coletivo, p. 18)

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A morte de Olavo de Carvalho está sendo o tema principal das discussões de hoje, tanto entre os que o leram como entre os que estão apenas repetindo os chavões dos vira-latas que, de alunos, transformaram-se em detratores. Curiosamente, ninguém até agora mencionou a última calunia que montaram contra ele: a da terra ser plana, ao invés de redonda. Fincam suas ironias e suas malignidades principalmente no seu anti comunismo, na suposição dele ter sido o guru do Bolsonaro e um charlatão da filosofia. E riem. Trocam manchetes dos jornais onde ele aparece satirizado, com seu cigarro e suas pilhas de livros, mandando todo mundo tomar no cu e etc.

Teriam lido seus livros, ou estariam apenas repetindo a senha decretada pela seita e pelo partido?

Eu, que frequentemente via seus videos, via nele uma erudição incomparável. O que me incomodava era seu catolicismo fanático e também a estatueta de uma santa que havia na sua retaguarda, lá entre seus livros. Tinha tudo para ser da TFP e até do Opus Dei,  (como a imensa maioria de seus opositores aqui no Brasil), mas ao mesmo tempo, parecia disposto e capaz de tocar o foda-se sobre tudo, até sobre o sagrado e sobre seu pulmão que, de minuto em minuto, enchia de fumaça. Só vim compreender realmente porque foi banido do país, depois de ler seu livro O IMBECIL COLETIVO II. Vejam o sub-titulo: A Longa Marcha da Vaca para o Brejo, logo atrás dela Os filhos da PUC.

A explicação estava aí, e também nestes outros itens do sumário:

1. Um povo sem espelho

2. Fariseus e hipócritas

3. As prostitutas no dicionário

4. Filosofia como emprego

5. Miséria da filosofia nacional

6. Ao Jornal do Brasil

7.  A O Estado de São Paulo

8.  A O Globo

9.  À Revista República

10. À Folha de São Paulo

11. Da interpretação do texto à expressão corporal

12.  Como vencer um debate sem precisar debater

13. Ideologia Mentecapta.

Por não estar alinhado com ninguém foi empurrado para o exílio, e lá morreu, certamente lançando alguns mísseis verbais sobre esta pátria que ao mesmo tempo que queima incenso tresloucada à uma democracia imaginária, nos bastidores, esgrime os mais abomináveis truques da maledicência contra quem rejeita a canga e ousa pensar por si próprio...

 Agora.., que fiquem discursando para os já convertidos e falando sozinhos... Enquanto a alienação e a miséria avançam!



A miséria do trabalho!

"Chegamos a tal grau de imbecilidade que o trabalho passa a ser não só honroso, mas até sagrado, não sendo senão uma triste necessidade..." ( Remy de Gourmont)

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Em breve, nos semáforos: VADE MÉCUM DOS VAGABUNDOS.

 



segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

O MITO DA CAVERNA: DE Platão a Bolsonaro.

Se não fossem as mulheres, o homem ainda estaria agachado em uma caverna comendo carne crua. Nós só construímos a civilização com fim de impressionar nossas namoradas.” (O.W.)

Capadócia
 

Bom Jesus da Lapa

O Decreto do governo tratando das cavernas e da exploração de 'cavidades', tem causado um verdadeiro frenesi, não só entre os morcegos (que as habitam) e entre os espeleólogos (que vivem delas), mas inclusive entre os apóstolos do inconsciente. A caverna como símbolo! Que, inclusive, nos remete, entre outras aventuras, à caverna do nascimento.... Ao trauma do nascimento e ao grito primal! E, na tentativa de defender a implosão ou a santificação desses buracos naturais, surgem clichês de todos os tipos. Há clichês vindos dos partidos, da academia e da sacristia. Sociológicos; filosóficos; psicológicos; geológicos; teológicos; esotéricos; agrários; românticos e até poéticos... (e de gente que não é aconselhável encontrar sem um revólver no bolso!). Ah, uma caverna! Quantas histórias de amor e quantas contaminações transcorreram no interior dessas cavidades! A beleza das estalactites e o zum zum dos ratos voadores! As inscrições enigmáticas nas paredes! Lembram de Lascaux e de todas aquelas pinturas rupestres? Quantas almas já habitaram por lá? Inclusive i nostri nonni. E para onde foram? E quem é que ainda não passou uma 'lua-de-mel' nas cavernas/hotéis da Capadócia? 

Curiosamente, nestes tempos modernos, todo mundo se considera meio obcecado e meio especialista por buracos e em cavidades!

Quando se fala em cavernas, a maioria logo pensa na metáfora platônica. Eu, ao contrário, viajo logo em pensamentos para o Santuário de Bom Jesus da Lapa, (gruta dos milagres) na Bahia, edificado no interior de uma caverna imensa e às margens do Rio São Francisco. Uma maravilha geológica, antropológica e até teológica! Quem não teve chances de, através dos livros e dos barnabés da pedagogia, compreender as bizarrices da Idade Média, passando um final de semana por lá, ficará completamente realizado. 

Depois, salto para a caverna de Patmos, onde João teria  escrito o apocalipse. E depois, penso na caverna diante da qual ouviu-se o brado de Zaratustra, olhando para o sol: “Grande astro! Que seria da tua felicidade se te faltassem aqueles a quem iluminas? Faz dez anos que te abeiras da minha caverna, e, sem mim, sem a minha águia e a minha serpente, haver-te-ias cansado da tua luz e deste caminho".

O que o conflito com esse Decreto também evidenciou, foi a quantidade desses buracos que existem no Brasil. Dizem que só em Minas Gerais, catalogados, são uns 300, sem falar dos do Piauí, do Ceará e eteceterá. Evidentemente essa descoberta fará os sociólogos, os historiadores, os arqueólogos e até mesmo os astrólogos, reformularem a compreensão que se tem e que se propaga a respeito da trajetória das populações que por aqui floresceram. 

Quem foi, afinal, que teria dado o primeiro passo para fora? E de onde nos vem essa nostalgia e essa obsessão em preservá-las? Indicariam alguma novidade sobre nossa ancestralidade? Alguma bobagem de natureza filogenética, ainda não muito bem esclarecida? 

Independente do Decreto e da indignação dos espeleólogos, o  importante mesmo, é fazer de tudo para transcender as cavernas da ignorância...

sábado, 22 de janeiro de 2022

O sentimento trágico da vida...

Como hoje é sábado, tudo parece mais tranquilo no mundo. As pessoas dormem até mais tarde e até conseguem 'dar uma' antes de sairem da cama isto, se a patroa não teve algum pesadelo e se não está de mau humor. Saem para passear e puxam um fumo nos jardins da Babilônia. Enquanto o THC (Tetra-hidrocarbinol) não é absorvido pela árvore brônquica e pela pleura dos pulmões, ficam olhando para a fumaça que sobe ziguezagueando no meio das orquídeas, para nunca mais voltar... Porque, afinal, hoje é sábado. Lembram do sábado inglês?

Outros fumadores sentem o cheiro da erva fumegante de longe e vão se acercando como hienas. Dão a senha, se identificam e logo o baseado está circulando, de boca em boca, num arremedo animista, sem nenhuma preocupação com a nova cepa e nem com a espiroqueta da sífilis. Os jardins fervilham de aromas, cores, borboletas, abelhas e de pequenos besouros que mergulham de flor-em-flor e depois, saciados, levantam voo com aqueles corpos que contradizem todas as leis da aerodinâmica...

O Mendigo K estava lá, num dos bancos do jardim, concentrado em sua leitura. Sabem o que lia? O sentimento trágico da vida, do Unamuno. Ao seu lado, um vaso com a muda de uma planta exótica que pretendia roubar. Quando me viu, colocou-se em pé para recitar-me a frase de um tal Horácio Valpole, que o Unamuno cita: "A vida é uma tragédia para os que sentem e uma comédia para os que pensam..." 

E o cheiro da cannabis ia se espalhando pelo mundo... Quem é que poderia imaginar que uma ervazinha de merda dessas, viria a ter tantos devotos e a mobilizar todas as policias do mundo? Um mundo como diria Unamuno, cada dia mais entulhado de babacas e cada dia mais alucinado por um sentimento trágico, como se denunciasse uma pressa em acabar..

- Ai!, tenho um pressentimento de que alguma coisa está para acontecer! O que foi aquela luz que cruzou sobre Minas Gerais? E a explosão submarina em Tonga? E o pio dessas corujas nos fundos da igreja grega? O que dizem os astros e os profetas? Por que a fumaça está indo na direção de uma única  orquídea? Por que os galos cantaram mais cedo? 

O telefone toca: Ai!, será que aconteceu alguma coisa? 

O telefone não toca: Ai!, o que será que aconteceu??? 

 Bah! Basta você olhar fixamente para alguém, para que esse alguém  já se sinta no direito de aproximar-se para fazer o relato ou a previsão de alguma nova desgraça... 

Será que foi assim também lá na época de Pinel? Nos milênios obscuros da espécie e lá nos tempos das caravanas?... 

 


sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

Os rios, os cortiços e o pensamento mágico...


"O espírito de Deus movendo-se sobre as águas, foi tomado como 'a grande evaporação que ocorreu assim que os sólidos começaram a cristalizar-se'..." 

Gustav Jahoda 

(IN: A psicologia da superstição)

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Minha correspondente de São Paulo enviou-me imagens da enchente de ontem nas ruas daquela cidade. Imagens feitas da cobertura de um chalé, edificado na parte mais endinheirada da cidade, herdado e habitado por ela, que até ja traduziu alguns capítulos do Das Kapital. Primeiro seu avô, depois seu pai, foram duas aves de rapina competentes e muito bem relacionadas, o que possibilitou que se tornassem milionários no meio e às custas daquela Ilíada de fodidos e de indigentes.

As águas de janeiro desciam em fúria por aquelas avenidas e becos, levando ratos, seringas usadas, máscaras, cachimbos com restos de crack; mentiras e dejetos de todos os tipos. Uma reprise dos últimos acontecimentos na Bahia e em Minas Gerais.

Se a história, segundo o Apostolo Marx, se repete pela primeira vez como tragédia e pela segunda, como farsa, - dizia ela - como será lá pela terceira e oitava vez?  

Onde está meu 18 Brumário?

E a tendência, não só dos "gestores" mas até mesmo das vítimas, dos que viram suas tralhas sairem boiando sem rumo, é culpar os rios. As chuvas. A estação. Uma peroba que os kaingangs derrubaram no ano passado; o alinhamento dos astros; Netuno na garagem de Vênus e, por fim, a falta de orações e de sacrifícios. Os deuses estariam chateados, frustrados, decepcionados com a putaria desmedida do mundo... E quando os bombeiros chegam com pompas, naqueles caminhões fantásticos, cheios de luzes piscando, com aquele espírito cristão transbordando e com três ou quatro repórteres pendurados nos estribos, com suas respectivas câmeras televisivas.., os flagelados regridem. Tornam-se crianças outra vez. Aparecem vestidos com o uniforme de alguma fábrica, de algum supermercado, de alguma confraria de lunáticos, com rosários, estatuas, bíblias e cachorros no colo, olhando para cima, porque acreditam que o portão do reino dos céus está naquela direção e sempre prontos para dar ao sobrenatural o 'benefício da dúvida'. E agradecem a Poseidom por, pelo menos, não serem águas do Rio Tietê! Contam que perderam as únicas duas xícaras que tinham e choram para o câmera-man que foi enviado para lá, unicamente para registrar as lágrimas (o vale de lágrimas), e mergulham, como crianças, no pensamento mágico e no fosso das superstições!

Tudo se resolverá! A vida é mais importante que nossa geladeira e que nossos colchões! Se lá na Bahia o povo coloca todas as esperanças nas mãos de Iemanjá, e em Minas Gerais, nas mãos de Nossa senhora da Piedade (aquela do Aleijadinho); aqui em São Paulo deixamos tudo nas mãos de nossa padroeira: Nossa senhora da Conceição! E o rio haverá de voltar a seu leito! O prefeito é muito humano e, com os milhões que recebeu ontem, haverá de reconstruir nossos cortiços, e no mesmíssimo lugar! Sim, aqui nas margens, porque amamos admirar esse rio, a bruma que sobe das espumas; escovar nossos dentes nessa água cheia de detritos... Ver o espírito de Deus movendo-se sobre as ondas revoltas... Para a ralé, doutor, até as enchentes têm lá o seu encanto. E o povo brasileiro, que tem um coração bondoso demais, haverá de nos sufocar e de nos intoxicar com tantos cobertores e tantas cestas básicas.

Sim, minha senhora, mas e o ano que vem? Quando janeiro voltar? Quando os Kaingangs derrubarem outra peroba? Quando Netuno se alinhar novamente com Vênus? E quando os deuses estiverem novamente de saco cheio e na fase maníaca? E quando os cortiços já estiveram ruindo e o prefeito estiver esquiando nos Alpes?

Ah, doutor, não vamos ser pessimistas! Esta aqui até que está um pouco melhor que a de 1929! Queremos a volta do Maluf! Ou pelo menos do Quercia! Do Collor! Do Fernando Henrique! Do Lula! Da Dilma! Do Getulio Vargas! Do Prudente de Morais! De algum imperador português! (uma vizinha se intrometeu na conversa palavra lembrar daquele macumbeiro do Maranhão). Ah, sim: queremos a volta do Sarney! E no ano que vem a gente vê como é que fica! A gente deixa tudo sair boiando por aí novamente. Nós mesmos passamos a vida inteira boiando... A vida é um boiar permanente! Um dia a história haverá de se repetir, nem como tragédia e nem como farsa... mas como glamour e como um orgasmo interminável...  ( Falou em orgasmo, como se estivesse falando da Santíssima Trindade ou de uma sincope!)



quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

Uma curiosidade...


"O fanatismo é incorruptível: se mata por uma idéia, pode, igualmente, fazer-se matar por ela" E.M.C.

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Uma curiosidade: hoje recebi quase uma dúzia de mensagens, videos, opiniões, elogios, espantos, gestos de indignação e de euforia, associados a uma mensagem que um tal Lima Duarte teria enviado para uma tal Regina Duarte a respeito do Bolsonaro, etc etc, etc... Uma loucura geral. E tudo cheirando a misticismo, fanatismo, cultura oral e  religiosidade.

Sinceramente, (por pura curiosidade antropológica), li e ouvi todas essas mensagens que, evidentemente, me provocaram uma brochada existencial profunda. O que se poderia esperar dessa gente que passa a vida alimentando-se de bagatelas? Para mim, o tal Lima Duarte, a tal Regina Duarte e o tal Bolsonaro contam menos do que o voo de uma mosca...








quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

E naqueles tempos...

Mais um século perdido...

 "Como, então, não voltar-se para a poesia? Ela tem - como a vida -  a desculpa de não provar absolutamente nada..." Cioran

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Nesta quarta-feita de sol exuberante, a primeira propaganda que apareceu na tela de meu computador, foi a de uma poção para aumentar o tamanho do pau, (a moça da propaganda dizia tê-la trazido da África e ao invés de pau, dizia 'seu amigão'). A segunda, logo em seguida, foi de outra moça, mas agora jurando que se você investir em uma determinada cripto-moeda você pode tornar-se um bilionário em 6 meses. De pau grande e bilionário!!!... O que mais alguém poderia desejar neste mundinho de bosta e super-povoado de boçais, não é verdade?

Mas isto não é tudo: encontrei a velhinha armênia no mercado. Estava radiante. Dizia ao 'mercador' que quando o dia amanhece assim, cheio de luz e de sol, de latido de cães ao longe e de andorinhas entrando pela varanda do décimo sétimo andar, é tomada por uma alegria quase infantil, quase infinita e até sem sentido... E observava: e não pense que isto tem alguma coisa a ver com 'estado maníaco'.

Ficou ainda mais feliz quando me viu. Estava com um brócolis japonês e um vidrinho de Chimichurri nas mãos e veio ao meu encontro, dizendo: Bazzo, estou cada dia mais convencida de que este século também está perdido... Fez um breve silêncio e irônica, continuou: apesar de que esta semana foi pródiga em sedativos televisivos... Com as escolas fechadas há dois anos e com as televisões 24 horas ligadas, tanto nos cortiços como nas mansões, a imbecilização e a estultícia estão garantidas. Dificilmente nos recuperaremos neste século...

Nesta semana, você deve ter visto, inauguraram um novo programa do tal Faustão (agora, duas horas por dia), que será seguido pelo de um  um tal Zeca, sendo que o restante do tempo (o restante das 24 horas) está tomado por programas religiosos de todos os tipos (um mais hipnótico & demente do que o outro) e por esportes, idem. Que tal? E o rebanho parece entusiasmado! A psicopatia é ou não é geral!? Quem é que conseguiria escapar de um massacre e de um processo de idiotização desta magnitude? Observe: as crianças, as donas de casa e seus respectivos maridos estão visível e literalmente cada dia mais imbecilizados... E ainda com essa merda de pandemia... iriam fazer o quê? E sem falar que num outro canal, também nesta semana, abriram um novo Big Brother... Caralho!, mas isso é uma overdose! Aí é demais! (Atenção com as extremidades e os lábios de cor azulada; com a sonolência; desorientação e a náusea!) Não é possível que não se tome uma providencia!... Quem é que conseguirá recuperar a saúde mental dessa gente? Fez um longo silêncio enquanto examinava o balcão de manjericão e de outras especiarias... E o quê diz a dúzia de candidatos à Presidência da República a esse respeito? Nada! Medíocres! Um bando de merdas! Não conseguem sair dos clichês ainda de Dom João VI... Os psiquiatras, os psicanalistas, os psicólogos e até os veterinários deveriam manifestar-se! Ou, será que preferem passar a vida inteira queimando incenso e enxugando gelo?

Olhou para os lados, aproximou-se um pouco e, numa atitude quase íntima, tocando-me o braço e baixando o tom de voz, arrematou: desse jeito, Bazzo, mesmo com a poção africana (para aumentar o tamanho do pau) e com os investimentos em cripto-moeda (para ficar bilionário em 6 meses), duvido que alguém possa escapar do pior dos abismos... Mais um século perdido!

 


sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

Eu sei porque os pássaros engaiolados cantam... (Maya Angelou)

"Mas, afinal, o que é o burguês? 
Resposta: um porco que desejaria morrer de velho"
(Léon de Bloy)




Os negros alienados estão radiantes e os negros militantes estão furiosos com o aparecimento de Maya Angelou estampada numa moeda de 25 centavos de dólar nos EEUU. (Mas, - resmungam - numa moeda de apenas 25 cents? Não existiria aí ainda algum resquícios de supremacia?)
Para os primeiros, é uma honra e o reconhecimento de uma mulher negra, com um currículo invejável (E pluribus Unum!)... Já, para os militantes, é outra demagogia branca, um truque para acalmar a fúria latente dos guetos e dos remanescentes dos black Power. Eu, depois de conhecer a trajetória dessa mulher, me alinho mais com os negros alienados pois, mesmo que seja uma demagogia e um malabarismo luterano, o importante é que essa mulher, está aí. Quem é que, por mais medíocre que seja, não gostaria de ver sua própria cara estampada numa moeda? Ou numa medalha!? E quem é que vagabundeando pelo Cairo e pelo interior do Egito, não acabou sendo engambelado por um trapaceiro beduíno e comprando uma moeda com a suposta cara de Cleópatra?
 E depois... quem é que, até ontem, sabia da existência dessa tal Maya Angelou? Dela que escreveu, entre outros, o livro: Eu sei porque os pássaros engaiolados cantam? Que viajou pela Africa, que foi motorista de ônibus em San Francisco, garçonete, cozinheira, dançarina, prostituta e até amiga e camarada de Malcom X?
Queriam o quê? Que estampassem um perfil do Jalil Abdul ou da trupe inteira dos Panteras Negras numa nota de 100 dólares? Aí já é delirar demais. Esperar demais de um povo que, apesar da propaganda, tem dificuldade para ir além das salsichas e dos hambúrgueres...




 

ANTROPOLOGIA - Um manual para mulheres heterossexuais...

  "La historia de los esfuerzos del hombre para someter a la naturaleza es también la historia del sometimiento del hombre por el hombre... " (Max Horkheimer, in: Critica de la razón instrumental)






terça-feira, 11 de janeiro de 2022

O discurso quase eclesiástico do Ministro...

 


Até meus dez ou doze anos, as lendas que mais ouvia eram sempre sobre demônios. Dos quinze aos 30, sobre terroristas. Na primeira fase, era o demônio inventado pelos pobres e miseráveis nômades do paleolítico; na segunda fase, eram os terroristas vindos da União Soviética e da Albania, inventados pelos paranóicos da repressão policial. O primeiro, era um ser sedento por almas. Já, os segundos... o que queriam mesmo os segundos??? A guerra social? Ineptas quimeras!

Depois, essas bobagens foram aos poucos se esfumando. Apenas um ou outro idiota ainda seguia dando eco àquelas insanidades. 
Agora, de repente e curiosamente, um ministro, vem outra vez com essas lendas! O que estaria acontecendo? "As redes sociais fizeram surgir demônios que hibernavam à sombra" Diz. E "terroristas verbais  agora estão disseminando o ódio!" Ora! Isso é uma babaquice. Uma fantasia senil e reacionária, um bric-a-brac metafísico e tenebroso secretamente a serviço de uma determinada seita dominante, para assustar e para adestrar crianças na obediência e na disciplina (essas duas irmãs da servidão!). Abominamos essa insistência na antropopatia e essa obsessão em demonizar o ódio... Quando é que nos livraremos dessa visão maniqueísta? Qual é, afinal, o conflito com a existência do ódio? Sem ele, quem é que teria levantado as Muralhas da China? Traçado as Rotas da Seda? As Pirâmides do Egito? Aberto o Canal do Panamá, regado os Jardins da Babilônia e derrubado os portões da Bastille? Quem é que teria escrito Dos Delitos e das Penas? Mandado engendrar o Antigo e o Neo Testamento? E quem é que sustentaria esse teatro espetacular das aparências? Ora, sem ele, ainda estaríamos atolados como bactérias às margens dos pântanos. Ele faz parte de nossas vidas como as lufadas de ar que invadem nossos cortiços nestas manhãs sem grandes ilusões e sem porvir... 
Data vênia, (ilustre Ministro), mas não há demônio nenhum, nem nas sombras e nem na mais transparente luminosidade! E o terrorismo verbal, se é que existe, é fundamental para arrancar o populacho das trevas e da hibernação! É um antídoto para o mutismo, para o silêncio sepulcral e para as discussões entre palhaços que foi implantada no país desde que os portugueses encheram suas caravelas de ouro e de pedras preciosas e partiram... Nada é proibido! Tudo pode ser dito! Fake News?  Que noticia é mais fake do que a que afirma a existência do Demônio, do Diabo, do Satanás, de Belzebu e de congêneres? E mesmo assim é propagada livre e diariamente por aí, sem que ninguém se afete? Aliás, o mundo, as civilizações e as sociedades em geral foram e estão todas edificadas sobre mentiras, das mais cretinas às mais melancólicas...
Viva a Internet! Essa expressão máxima da razão, do raciocínio, da malandragem e do cinismo humano! O ato mais revolucionário de todos os tempos! 
E se ela abriu as portas para que todo e qualquer tipo de energúmeno possa se expressar, isto também é ótimo! Seu objetivo principal era exatamente este! Viva a dialética dos energúmenos! Viva a modificação genética da espécie! Já somos suficientemente adultos para saber que a fronteira entre a lógica e a verdade de um poeta, a de um cientista e a de um açougueiro é praticamente invisível.
Enfim, já que falamos em demônios, repetimos a pergunta que se fazia René Riesel: Como sair do inferno permanecendo nele?


segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

INDULTO - 522, não voltaram... e apenas das prisões do Rio de Janeiro?

"Quem perdeu tudo, ainda tem bastante, se lhe resta um fiapo de esperança..."
(Trilussa)




Hoje, a discussão entre a confraria de mendigos ali na esplanada dos ministérios, girava ao redor dos presos, no Rio de Janeiro, que receberam indulto de Natal e Fim de Ano e que desapareceram. 522, apenas no Estado do Rio de Janeiro, deserdaram. Não voltaram. E não eram ladrões de galinha e nem de latas de atum no Carrefour. Eram, segundo dizem, bandidaços! Imaginem no resto do país. No Maranhão; no Amazonas; no Ceará...

Você Voltaria? Era a pergunta que o Mendigo K fazia a cada um da confraria. E a resposta era sempre a mesma: em nenhuma hipótese! 

Como todos eles já conhecem o horror, a solidão e a porralouquice das cadeias e do Sistema Judiciário, não hesitavam em responder que deserdariam para sempre e para nunca mais voltar... E arrematavam: essa fuga evidencia mais a estupidez dos carcereiros do que a desonestidade dos presos.

522! Um pelotão! Praticamente um "exército", e até bem maior que os oficiais de alguns países latino-americanos...

 

A alma encantadora das ruas...

"Os séculos passam, deslizam, levando as coisas fúteis e os acontecimentos notáveis. Só persiste e fica, legado das gerações cada vez maior, o amor da rua..."(João do Rio)
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terça-feira, 4 de janeiro de 2022

Mulheres & vacas...


"Não afirmarei que a presença da mulher idiotize o homem; seria afirmação demasiado categórica. Limito-me a salientar o fato seguinte: estás à mesa de café ou do restaurante, com alguns amigos, debatendo um tema de importância: literatura, arte, ciência. Entram no local algumas moças bonitas, tomam a mesa vizinha da vossa, olhando-vos de soslaio. Pois bem: a partir desse momento, vós não direis nem fareis senão tolices..."

(Enrique Méndez Calzada)

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Minha correspondente da Coréia do Sul acaba de enviar-me a noticia de que por lá está a maior crise e discussão em torno da principal indústria coreana de laticínios, por esta ter divulgado um vídeo comercial/propagandístico de seus produtos, comparando mulheres a vacas. 

Insisti para ver o vídeo, mas ele já não estava mais disponível. Segundo ela, o vídeo mostrava várias mulheres de quatro, num campo, na posição de quem pasta, e que vão se transformando em vacas... 

Ela me dizia que ainda não se sabe se a censura foi promovida pelos ruralistas ou pelas confrarias identitárias... E que o despirocado governante da vizinha Coréia do Norte, orgulhoso de seu exército feminino, está eufórico com a repercussão negativa do escândalo. Coisas do capitalismo e do imperialismo - diz!

Curiosamente, essa comparação entre mulheres e vacas tem se repetido com mais frequência do que se imagina, às vezes de forma descarada outras, de maneira sutil. Seria pela questão das tetas? Da engorda? Do leite e da amamentação? Do mesmo tempo de gestação para parir um filhote? E da afetividade por eles? Memórias inconscientes da mãe? Pensando na doença da vaca louca, ou na Índia, onde as vacas são sagradas? Misoginia ou idolatria?

Quem é que não se lembra da música do Bussunda, Mãe é mãe... vaca é vaca...

E da sorveteria Icecreamists (em Covent Garden), em Londres que, não faz muito, dispunha em seu menu, sorvetes produzidos com leite materno?

Enfim, - sem muita convicção, resmungava indignada a mulher do Mendigo K - quando é que se conseguirá recuperar a sanidade?





domingo, 2 de janeiro de 2022

Finalmente, uma boa noticia... de ANO NOVO...


"A falta de  idéias para trocar, os imbecis inventaram retângulos de papelão pintado para permutar: as cartas do jogo..."

Schopenhauer

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Finalmente uma boa notícia para os pedagogos e para as alucinadas, preocupadas e dedicadas mães de família que hibernam e acordam diante da TV: Agora, a partir da próxima semana, além do tal Mion e do tal Hulk, teremos novamente o Faustão... e não apenas aos domingos, como no ANO VELHO, mas todos os dias da semana e do ANO NOVO e por mais de duas horas/dia! Os 'artistas' e os anunciantes, excitados e entusiasmados, já fazem fila diante do 'novo' e revolucionário programa. E o MEC, que está há décadas perdido em novenas e em onanismos, poderá, finalmente, fechar as portas...

Ah, e os delirantes da Summerhill poderão ser internados! Mas e o que se fará com os discípulos da freira Maria Montessori? Paulo Freire poderá, também, finalmente, ser jogado no lixo. Piaget, enterrado no panteão dos velhos caducos. Os especialistas em Anna Freud, podem aposentar-se...  E El pequeno libro rojo de la escuela, ser, finalmente, considerado subversivo & confiscado pelos 'clows influencers' e gerentes dos monopólios midiáticos... 

E assim.., de aberração em aberração, de devastação em devastação e de anomalia em anomalia, a estupidez nos sufocará definitivamente... Feliz ano novo a todos, enfiados em casa, jogando baralho; a TV ligada; um ou outro filminho pornográfico e... de vez em quando, ouvindo a colombiana Sonora dinamita

Lástima grande que sea verdad tanta miséria!



sábado, 1 de janeiro de 2022

Os loucos da Virgem do Rosário... E a Nova Jerusalém...



[... O homem é um quadrúmano lúbrico; a sua razão apóia-se em fantasmas; a sua virtude, em mentiras ...]
J.P.Sartre
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Meu correspondente mexicano, especialista em demências contemporâneas, acaba de enviar-me este pequeno documentário de uma comunidade que existe no estado de Michoacán, daquele país... 
Mesmo seguindo rigorosamente os preceitos de George Devereux (Da ansiedade ao método), termina sua correspondência com este lamento: Bazzo.., e saber que nossos DNAs são praticamente idênticos aos desses pobres alienados...