quinta-feira, 6 de agosto de 2020

Às capivaras, as batatas... as orquídeas e as tulipas...


"Sei que meu nascimento é fortuito, um acidente risível. Não obstante, tão logo me esqueço de mim mesmo, comporto-me como se fosse um evento capital, indispensável para o progresso e para o equilíbrio do  mundo..."
Emil Michel Cioran



Uma família numerosa e imensa de capivaras foi filmada agora de manhã, por moradores das margens do Lago Paranoá. Atravessava os jardins e as vias com toda a pompa. 
Os patriarcas e as matriarcas, na coluna da frente, e mais atrás os filhos e netos, os primos, as cunhadas, as sogras, as irmãs, os tios, os cunhados, as amantes, as avós, os guarda-costas, os agregados, parentes mais longínquos e até algumas visitas chegadas dos pântanos de Goiás Velho e de Minas Gerais, umas sem identidade e sem origem definida. Todos os membros, aparentemente bem hidratados e bem alimentados. 
Os moradores da região estão furiosos. Uns, até na eminência de testar seus fuzis com mira telescópica ou suas pistolas alemãs. E as donas das mansões estão indignadas porque já perceberam que suas orquídeas e até suas tulipas, trazidas da última viagem à Amsterdam, foram pisoteadas e devoradas... 
Mas as capivaras não dão a mínima importância, nem aos supostos atiradores e nem às queixas das elegantes madames, acostumadas a levantar às 11:00 da manhã e ir, ainda com seus delicados roupões, admirar a evolução noturna de seus carpelos e de suas pétalas...  Sem nenhum vestígio de misoginia, fico me perguntando: O que é que as faz acreditar que, para o bioma e para o mundo, são mais importantes do que as capivaras?
A plebe parece apoiar descaradamente a família de bestas, com o argumento de que elas estavam aqui pelos charcos do planalto bem antes das madames e bem antes inclusive dos pesadelos de Dom Bosco. Mas as elites respondem indignadas que esse é papo de marxistas e de comunistas invejosos...
E as capivaras seguem sua marcha, movidas, como todas as outras espécies, (inclusive a nossa!) apenas pelo estômago, sem destino e sem a menor preocupação com as discussões politico-filosóficas dos onanistas de plantão e muito menos com as teses de Marx e de Engels. Sem a menor preocupação em saber se estamos numa quinta-feira de pandemia ou numa primavera Negra. Ignoram veementemente os cacarejos da burguesia e os dos proletários, as últimas Encíclicas papais; as premonições dos espíritas, os  testes das novas vacinas, a Reforma Tributária e o Triste fim de Policarpo... 

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