domingo, 30 de setembro de 2012

O ESPETÁCULO EXÓTICO DA MORTE...

Entre todos os espetáculos que a cultura (entenda-se o comércio & as religiões) tem promovido e tornado obrigatórios na vida do populacho (nascimento, casamento, bodas disto e bodas daquilo, aniversários etc.,) não apenas nas classes mais endinheiradas, mas até mesmo entre os fodidos da terra, o funeral é um dos mais caros, dos mais exóticos e o mais transcendente... A morte de uns mobiliza a indústria das UTIS, do check up, dos medicamentos inúteis, da mega-industrialização do câncer, das funerárias com seu mármore e granito falsificados, das floriculturas, dos voos de helicópteros com aquela chuva de pétalas murchas, das mais diversas mídias, da máfia dos advogados que levará 10% sobre o inventário, dos cartórios com seus donos anônimos, dos lacaios ou dos vassalos da casa que aproveitam para surrupiar do ex-patrão, um anel aqui e um colar de brilhantes acolá e, claro, dos religiosos das mais diversas facções que na sacristia ou no camarim disputam o direito de derramar suas melancólicas exéquias sobre aquele abastado corpo já quase putrefato... sempre com a esperança de que o morto tenha deixado uma doação milionária para sua seita, para com ela bancar seus vícios e suas taras celibatárias... Isto, sem falar do chamado "mundo dos artistas", o conhecido bando dos narcisistas e de puxa-sacos, essa corja e legião de petimetres que está sempre lá ao lado do caixão de alguma "estrela" se promovendo mutuamente num coorporativismo indecente, dando beijinhos nos defuntos, consolando os inconsoláveis, soltando pombos brancos e fazendo elogios impróprios aos que já partiram desta para pior... E sempre com as frases  prontas, os ternos e os tailleurs pretos, aquelas cabeleiras propositadamente despenteadas, os óculos da moda para ocultarem uma tristeza contrafeita...
Já, quando o morto é um anônimo e um fodido qualquer, as coisas mudam, mas o ritual da morte continua oferecendo um espetáculo imperdível. O morto, fulminado por um infarto, por uma overdose de cana ou por uma peixeira, fica horas e horas lá no meio da rua coberto por um jornal ou por uma toalha de bar... As moscas logo aparecem. A horda fica ao redor do cadáver falando alto, esbravejando, conjecturando, dizendo bobagens, inventando hipóteses esotéricas, fazendo orações incompreensíveis... A polícia foi avisada mas não aparece. O coveiro, com sua sabedoria fúnebre, já deixou um buraco aberto para poder tomar tranquilamente uns tragos no final de semana sem ser importunado... Neca de flores. Neca de declarações bombásticas... Ninguém querendo exibir seu Armani.... Nenhum poetinha querendo resmungar seus versos ou um seminarista cantando uma estrofe... É apenas um morto que nem sequer leva identidade no bolso e que, ao contrário do morto burguês, foi desta para melhor! Quando coincide de passar um helicóptero da polícia por sobre o féretro, a turba se excita, mas logo descobre que é por pura coincidência, a nave está levando o governador ou algum outro mandatário para outro endereço, um churrasco ou alguma jogatina... Raramente há lágrimas e muito menos selinhos insalubres naquela boca mais do que maldita. Ao invés de pombos, abutres. Nunca há padres e nem pastores interessados em ir até lá apenas para endereçar aos fundos do inferno aquele ser desalmado... E o pior: em seu inventário nunca há nada destinado ao Estado e nem para a Igreja... Esta é a sua última e impotente vingança.......

sábado, 29 de setembro de 2012

Rascunho: Anões, ou da pequenez humana... [2]

...A história que  mais gostava de ouvir há uns 55 anos atrás, ao redor do fogão com os pinhões sapecando na chapa, os gatos ronronando em meu colo e a geada escorrendo silenciosa pelas forquilhas dos pessegueiros era a de uns tios implacáveis e justiceiros que nem cheguei a conhecer.  Muito antes de minha vinda ao mundo, meu avô materno teria sido uma espécie de delegado de polícia naquele "velho oeste" indomável e naqueles cafundós de solidão indescritível onde reinava por todos os lados a mais genuína das bandidagens. Numa certa madrugada - seguia a narrativa entre pinhões e ronronares de gatos - dois homens a cavalo bateram à porta de nossa casa - uma daquelas casas de arquitetura colonial tirolesa, azul, com rendas nas janelas, um galo no chaminé, com porão e sótão onde ficavam os queijos, os salames e as cervejas feitas em casa - e quando meu pai, o "homem da lei" destravou a janela os dois forasteiros o crivaram de balas... Era madrugada. O relinchar dos cavalos... o sangue e os gritos... a luz precária das lamparinas... O cheiro da pólvora... Mas não foram muito longe. Meus irmãos foram ao encalço deles, cada um com uma carabina italiana e, no mesmo dia, apenas algumas horas depois, lhes deram um destino semelhante e igualmente trágico...
E a narradora então fazia uma minúscula pausa, amassava um pinhão com um martelo de madeira e concluia num dialeto quase primitivo, especial só para aqueles momentos, e olhando diretamente para mim que, enfiado numa camisa xadrez de pelúcia, com olhos quase fora das órbitas e as unhas cravadas na penugem dos felinos já não tinha mais fôlego: É, meu filho... aqueles eram tempos de dente por dente e de olho por olho!!!

Rascunho: ANÕES... ou da pequenez humana...

Eis-me aqui, outra vez, numa esquina longínqua do mundo tentando, através de mais este palavrório repetitivo e vagabundo, empurrar goela abaixo de leitores imaginários outros disparates e outros foguetões de artifício travestidos de literatura
Ao chegar, no fim da tarde de ontem, vi escrito em chinês num dos caibros de aço de uma ponte sobre o rio Suzhou: Não há milagres! Só mesmo o fermento é que pode multiplicar os pães... Ainda bem!
Na primeira página de meu “breviário” de viagem releio o relato de um homem esquelético que falava de seu pai e de sua lambreta desgovernada que numa das tantas sinistroses diárias foram parar no meio das ferragens de uma caminhonete. - Sabe o que é ter que recolher os ossos do pai asfalto afora?... Sabe o que é recolher numa lata de querosene o cotovelo, depois os dedos e a rótula do joelho do próprio pai? No final de seu lamento filosofou: Ah, somos os únicos animais que sabemos em detalhes como será o final!
Um prédio nem novo e nem velho com um cheiro forte e azedo de cigarros levitando sobre os imensos tapetes vermelhos que se bifurcam por todos os corredores e por todos os lados... As lamparinas da época do ópio ou do tempo de Confúcio com certeza deviam ser muito mais originais... Todo mundo conhece o mau gosto chinês. Há também um lustre maior que uma roda de carroça no hall e na porta de um dos elevadores um singelo relógio que registra, além do tempo, a humidade, a temperatura e os dias... 16:19 horas do dia 17 de junho... Relógio: essa promiscuidade de engrenagens que só fazem lembrar o inexorável e engendrar defuntos... Chove em Xangai. Numa moldura de bambu sobre a cama o desenho desbotado e quase invisível de uma chinesinha pré-adolescente, uma verdadeira Lolita com seus joelhos delicados e seu leque vermelho em movimento convidando os forasteiros para ingressarem nos labirintos de seu inferno... ou de seu shangri-lá...
Era de prodigiosa bandidagem! De prodigiosa excrecência! Com a vida sem solução como a de Crane, ensaio estas primeiras linhas aqui no quarto 67 do Hotel Nanjing. Um hotel relativamente barato, com escovas de dentes, sabonetes e chinelos para os hóspedes. Quem é que ainda não ouviu falar em Xangai! Das seculares noitadas regadas a Papoila papaver somniferum e pelo Kama-Sutra! Cidade dos primeiros passos de Mao e do Partido Comunista Chinês! Fui à sua antiga casa, ali na rua Maoming, 120-5-9. Cheguei lá por acaso, pois não sou daqueles sujeitos que passam a vida debruçados sobre lendas, mapas, traduções, setas, símbolos mandarins... Viajo movido pelo faro e pelos instintos e sempre longe dos roteiros construídos para as massas... Tenho horror a mistificações políticas e problemas gravíssimos com todo e qualquer tipo de autoritarismo, chefe, pai-patrão, honrarias e até mesmo com aqueles que ostentam uma, digamos, legítima autoridade. Ao culto e à veneração de personalidades, então..., dedico o mais genuíno e verdadeiro dos ascos. Apesar dos dias e dos pesares ainda não me livrei da convicção de que todo Ser, na essência, é um incompetente e um zé banana sem nenhum atributo. O individuo idolatrado na rua – dizia Nietzsche em algum lugar de sua obra e com outras palavras – em casa, para sua mulher, continua sendo um bosta, um chimpanzé peludo e fedorento – Claro que os mais sonhadores e maníacos até podem realizar alguma notória façanha aí por esse vasto mundo, algum gesto de aparente grandiosidade durante seus setenta anos... Mas, ter que viver setenta anos!!! Uma grande marcha aqui, uma revolução cultural acolá... Um grande trambique  que o torne milionário! Chefe! Bandido! Eleger-se presidente disto ou daquilo! Mas a ponto de merecer uma estátua!? De ser canonizado? Embalsamado? Cultuado? Idolatrado? Que se crie um Instituto ou uma igreja em sua memória? Isso não! Nenhuma peregrinação nos deveria interessar mais que aquela ao fundo de si mesmo... Talvez não seja por acaso que este livro pretenda tratar apenas de gente pequena, de pigmeus, seres em miniatura, da pequenez humana... Um tratado sobre anões!
Lembra de algum? Quanto media o Mao? O Getúlio? O Chaplin? O Nelson Ned? Aquele pintor e narigudo francês conhecido por Toulouse Lautrec? E Giacomo Leopardi que tinha um metro e quarenta e que era corcunda, que morreu com quarenta anos? Teria advindo daí a obscura visão que proclamava sobre a vida? Ou nem precisa ser anão para intuir esse horror? Com quantos centímetros se descamba para a categoria dos pigmeus ou se eleva para a dos gigantes? Dizem que Mao comia sete ou oito mulheres por dia, que não escovava os dentes nem tomava banho e que no decorrer de tantas andanças e de tantas xotas foi, finalmente, agraciado com as erupções lunares e prepucianas de um herpes... Sabe-se que entre os que seus adversários denominavam a “gang dos quatro” era ele o fodão-mor... Era ele quem dava carta branca para seus fanáticos seguidores estapearem e pisotearem intelectuais, poetinhas, professores, artistas em geral e outros histéricos da China de então... Não posso negar que sempre que alguém fala em estapear intelectuais sinto um certo prazer. Reeducar ou reeducar-se! Haverá tarefa mais impossível do que esta? Melhor dedicar-se à quiromancia... De qualquer maneira, a Grande Marcha foi um show! Cem mil homens desvairados por todos aqueles quilômetros a pé e em farrapos deixando para trás muito alimento para os abutres. Nem sei se por aqui existem abutres. Não me refiro aos corvos do cemitério de Londres, nem ao condor das cordilheiras dos Andes, me remeto aos abutres brasileiros... aqueles que se fingem de mortos e de deprimidos no topo dos postes ou nas galharadas à beira das estradas... A guerra! As verdades! A mentira condensada em cartuchos! O que não faz o desejo de poder! E a ânsia de foder! No Brasil também tivemos uma Grande Marcha, a do Carlos Prestes e inclusive, bem antes da de Mao (1925-1927). Mais humilde e singela, de apenas mil e quinhentos homens... Não deu certo. Foram destroçados pelo caminho. No caminho haviam muitos pedregulhos – diria o poetinha mineiro. Um fiasco heroico. As milícias sertanejas dos latifundiários nordestinos abortaram com garruchas e paus aquela ideia quase religiosa e delirante de revolucionar e de salvar a pátria... Com certeza o velho comunista (que naquela época era jovem) ainda não sabia que o “amor” do cão é sempre e sempre para com aquele que lhe dá um osso ou um naco de polenta e não para com aquele que promete arrancar-lhe a coleira!!!  
Na pagina seguinte do “breviário”, recordo a mãe que acabara de ouvir de sua filha que, como os filhotes de tubarão, gostaria de tê-la devorado por dentro. Por coincidência ela já era uma mãe oca! De onde advém essa ânsia de carnificina? Como esquecer a prisão uterina onde se esteve confinado por mais que uma eternidade? É evidente que nesse lugar mais do que sombrio não é o calendário gregoriano que conta... Essa mesma mulher narrava um sonho repetitivo onde ratazanas imensas apareciam de madrugada para ingressar nos “galinheiros” e devorar os miolos das aves. Em algumas noites até vinte pintinhos e uma dúzia de filhotes de patos foram devorados. As velhas chocas investiam inutilmente sobre aqueles animais rabudos e asquerosos – dizia ela -, mas a mãe dos patos não... E comiam, como já disse, só os miolos. Que preferência macabra a desses ratos!!! E ainda há quem deles faça apologia...
Levanto os olhos para a China. Na calçada da frente, no meio da fumaceira, da gritaria, dos cheiros das frituras e da comilança em geral, um mendigo cego e bem barbeado executa em seu violino de duas cordas (erhu) uma melodia antiga, sabe-se lá de qual dinastia... Estranhos esses instrumentos. Um pedaço de madeira, duas cordas, uma caixa de ressonância tipo berimbau e um arco semelhante ao dos violinos europeus. Não sei se foi coincidência, mas todos os que avistei tocando esse instrumento eram cegos... Alguma relação entre as trevas e as sete notas ou as sete cores do arco-íris? Um ali na saída do metrô, outro sobre uma passarela, outro na avenida Naijing, outro nas proximidades do Museu, outro lá no meio de toda a confusão de uma ferroviária... Uma toalha velha sobre os joelhos para proteger-se da poeira do breu, alpargatas e camisa ao estilo de Mao, os dedos deformados sustentando o arco e aqueles dois ocos no lugar dos olhos voltados para as nuvens... Impossível ver um cego sem lembrar daquela minha tia, anã e cega, bem como do Borges, o argentino bibliotecário que num de seus poemas escreveu: "Yo que soy el que ahora está cantando seré mañana el misterioso, el muerto, el morador de un mágico desierto, orbe sin antes ni después ni cuándo..."



quarta-feira, 26 de setembro de 2012

O travestimento dos sentimentos e das idéias através das palavras...

    Sarney na ONU, 1985
     Dilma, ONU, 2012


Ouvindo o discurso da presidente Dilma lá na ONU lembrei que, por acaso, tenho aqui um rascunho do pronunciamento que o então presidente Sarney fez daquele mesmo "púlpito" em 1985, na abertura da Quadragésima Assembléia Geral. Se compararmos os dois, quem parece verdadeiramente "esquerdista",  "revolucionário" e até libertário, por incrível que pareça, é o Sr. Sarney, comprovando, mais uma vez, que a linguagem e as palavras são iguais ou até mais volúveis e dissimuladas que as cortesãs. Também nos possibilita ver que de lá para cá, nesses quase trinta anos, o mundo, com suas ninharias e putarias continuou exatamente o mesmo, de tal maneira, que se a presidente Dilma tivesse repetido ontem a mesma lengalenga sarneyana de três décadas atrás, teria arrancado os mesmos aplausos e os mesmos grunhidos daquela plateia imensa de crápulas e de vigaristas. Vejam alguns fragmentos da fala e do show de hipocrisia do nobre maranhense naquela oportunidade: 

I. O mundo não pode ter paz enquanto existir uma boca faminta em qualquer lugar da terra, uma criança morrendo sem leite, um ser humano agonizando pela falta de pão. O século que virá será o século da socialização dos alimentos. A imagem da Mater Dolorosa dos desertos africanos nos humilha...

II. ...Mas há um problema maior, que permeia as relações internacionais e que insidiosamente ameaça a todos, pobres e ricos. Os pobres, pela desestabilização; os ricos, pela insegurança e todos pelo desmoronamento, se nossa postura for de imobilidade...

III. Guerra e democracia, guerra e liberdade são termos incompatíveis. Só prevalecem soluções pacíficas e consensuais quando existem nações livres e democraticamente desenvolvidas, instituições permanentes, poderes funcionando, povo decidindo...

IV. A paz de hoje ainda não é a paz, é a dissimulação da guerra...

V. Depois da prosperidade, quando veio a recessão, passou a reinar mais a selva predatória de Hobbes do que a fecunda anarquia de Adam Smith...

VI. A ciência e a técnica estão aí, através da engenharia genética, anunciando uma nova era de abundância. A humanidade foi capaz de romper as barreiras da terra e partir para as estrelas longínquas, não pode ser incapaz de extirpar a fome...

VII. A equalização de oportunidades é o alimento da liberdade social, para que o mercado sirva aos homens em vez dos homens serem servos do mercado. Sem diversidade de valores e múltiplas formas de vida não viceja a liberdade, que se estiola no privilégio e se afoga na opressão...

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

E prossegue Giacomo Leopardi... [3]

"Assim é o homem. E esse vicio a que me refiro, tão bárbaro, tão grotesco e contrário à concepção de criatura racional, constitui verdadeira chaga da espécie humana; não há condição humana, nação nobre ou século que esse mal não tenha contaminado. Italianos, franceses, ingleses, alemães; homens experientes, preparadíssimos em todas em todas as outras coisas, pródigos em engenho e valor, exímios conhecedores da vida social, elegantíssimos de maneiras, amantes de espreitar as tolices e motejá-las, todos tornam-se crianças ferozes ao recitarem as próprias produções. Assim como esse vício é dos tempos modernos, também o foi dos tempos de Horácio, a quem já parecia insuportável, e dos tempos de Marcia, que, quando inquirido por alguém por que não lia seus versos, respondia: "para não ouvir os teus". Nas melhores épocas da Grécia, conforme se conta, Diógenes, o cínico, encontrando-se, junto a outros, todos mortificados de tédio, em uma de tais lições e entrevendo, nas mãos do autor o branco do papel no final do livro, disse: "Animai-vos, amigos, vejo a terra". Hoje, a situação é tal que os ouvintes, mesmo forçados, a custo conseguem satisfazer às necessidades dos autores. De forma que alguns conhecidos meus, homens industriosos, considerando esse ponto e convencidos de que recitar as próprias criações seja uma das necessidades humanas, pensaram em dar-lhe sustento e ao mesmo tempo transformá-la, como se transformam todas as necessidades públicas, em utilidade privada. Para levá-lo a termo, em breve abrirão escolas, academias e ateneus de ouvintes, onde a qualquer hora do dia ou da noite, eles ou funcionários remunerados por eles ouvirão leituras, por preços determinados, que serão: para prosa, pela primeira hora, um escudo; pela segunda, dois; pela terceira, quatro; pela quarta, oito, numa progressão aritmética. Para poesia, o dobro. Se desejada a releitura de certo trecho, como ocorre, uma lira por verso. Se o ouvinte adormecesse, seria devolvida ao leitor a terça parte do preço pago. Em caso de convulsões, síncopes e outros acidentes, leves ou graves, que pudessem ocorrer a uma e outra partes durante a leitura, a escola seria provida de essências e medicamentos, gratuitamente oferecidos. E, assim, transformando em objeto de 
lucro algo até então infrutífero, isto é, os 
ouvidos, um novo caminho se abrirá para a indústria, com aumento da riqueza geral."

E... continuava Leopardi... [2]

"Se a recitação persiste e o ator percebe o bocejo, logo o estirar-se e finalmente o contorcer-se, além de inúmeros outros índicios das angustias mortais que o infeliz ouvinte experimenta, nem por isso se cala ou lhe dá descanso, mas cada vez mais feroz e obstinado, continua a bradar e arengar por horas, antes, quase que por dias e noites inteiras, até tornar-se rouco e até que, tendo durante longo tempo mortificado o ouvinte, sinta-se exaurido, embora não saciado. Certo é que experimenta um prazer quase sobre-humano e prodigioso em torturar dessa forma e durante esse tempo o próximo, porquanto tais pessoas, por este, deixam todos os outros prazeres, esquecendo o sono e o alimento e desaparecem-lhes dos olhos a vida e o mundo. E esse prazer consiste na firme convicção do homem em despertar admiração e dar prazer a quem ouve: do contrário tanto valeria recitar ao deserto como às pessoas. Ora, como afirmei, cada um sabe, por experiência, qual é o prazer de quem ouve (digo propositadamente ouve, a não escuta) e quem recita é capaz de reconhecê-lo, mas eu digo que a um prazer tal muitos haveriam de preferir males físicos tremendos. Até as mais belas criações e as de maior preço tornam-se terrivelmente enfadonhas se recitadas pelo próprio autor; a este propósito, um filólogo meu amigo observou que se Otávia, ao ouvir 
Virgilio ler o canto VI da Eneida, tenha 
realmente perdido os sentidos, é provável que isso se desse, não tanto pela memória do filho Marcelo, como 
dizem, mas pelo tédio da leitura..."

Giacomo Leopardi... Ou: o mestre pessimista de Recanati...

Foi o mendigo K., quem lembrou que está acontecendo um Festival de Cinema na cidade...  Vendo minha cara de desinteresse e de déjà vu, retrucou: - tenha paciência, cada um engana, mente e foge do tédio como pode... Desta vez levava no fundo de um saco plástico, desses vagabundos de mercado, um livro de Giacomo Leopardi. Giacomo Leopadi!? Por coincidência, lembrei de imediato, em minha casa paterna & materna, além de uma bíblia, que ninguém lia e de um espesso tratado sobre curas fitoterápicas havia um outro livreto, não me recordo o título, (talvez Opúsculos morais) que era exatamente desse tal Leopardi. Quando o vi por primeira vez achei que se tratasse de mais um santo ou então de algum escrito sobre leopardos... A obra desse genial pessimista que ficava lá no meio de umas estatuetas de anjos, escapulários, copos de água benta, cartuchos de revólver etc., de um dia para outro sumiu. Nunca mais a vi e nunca mais pensei nela... É curioso que me apareça agora, meio século depois, em formato de Obra Completa, impressa em papel bíblia e nas mãos de um mendigo...  E este fez questão de mostrar-me que estava lendo o texto que vai da página 478 até 480. Vi logo que se tratava do horror que é ter que ouvir poesias, escritos ou recitações dos outros. Dizia Leopardi:

 "Se tivesse o engenho de Cervantes, escreveria um livro, como ele o fez para purgar a Espanha da imitação dos cavaleiros andantes, eu o faria para purgar a Itália, ou antes, o mundo civilizado, de um vício que, tendo em mente a mansuetude dos costumes atuais, e talvez mesmo sem considerá-la, não é menos feroz e nem menos bárbaro que os vestígios da ferocidade dos tempos medievais castigados por Cervantes. Refiro-me ao vício de ler ou de recitar para outros as próprias criações que, sendo antiquissimo, foi, em séculos anteriores, mazela tolerável, porque rara; mas agora que todos têm ambições literárias, e coisa dificílima é encontrar alguém que não seja autor, tornou-se um flagelo, uma calamidade pública e uma nova tribulação para a espécie humana. E não é gracejo, mas inteira verdade afirmar que para esse autor os conhecimentos são suspeitos e as amizades, perigosas, e que não há hora e nem local para o temível assalto ao inocente, que será constrangido, ali mesmo ou adiante, ao suplício de ouvir prosas sem fim e versos incontáveis, não mais sob o pretexto da opinião, que por longo tempo susteve tais recitacões, mas simples e exclusivamente para gozo do autor e pelo gosto do aplauso inevitável. Creio, em sã consciência, que em pouquíssimas ocasiões se denuncie mais claramente, por um lado, a frivolidade da condição humana e o extremo da cegueira, ou antes, da estupidez a que chega o ser humano, levado pelo amor-próprio; e por outro, quanto nosso espírito se possa iludir, como se observa no negócio de recitar as próprias criações. Mesmo consciente do tormento indescritível que representa ouvir composições alheias e vendo transtornadas e esmorecidas as pessoas convidadas a esse espetáculo particular, que por sua vez alegam toda sorte de impedimentos para escusarem-se, esquivarem-se e 
retraírem-se a mais não poder, há quem, com ânimo ferrenho, com perseverânça admirável, como um urso 
esfaimado, procure e persiga sua vítima por toda a cidade e, alcançando-a, arraste-a ao local destinado...."

sábado, 22 de setembro de 2012

De cães, de mendigos, de putas e de eleições...

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Apesar dos pesares, ninguém pode negar que viver neste século está sendo uma "viagem" realmente fora do comum. Para qualquer lado que se olhe se vê uma bizarrice maior e mais estupenda do que a outra. E, além disso, todas as supostas verdades foram pisoteadas, esmerdeadas, descontruídas e em seus lugares colocados fragmentos de delírios, pedaços de ilusões, fragmentos de fobias, resquícios de desejos, amontoados de perversidades, destroços de certezas... e o mundo segue indiferente cada vez mais como uma imensa bola de falácias, com cada um dos sete bilhões de babacas brincando com seus celulares, com seus vibradores e com suas neuroses à beira do abismo... Da trilogia delirante do Egalité, Fraternité et Liberté não há mais nem vestígios e os demagogos de agora estão tentando emplacar uma outra, mais impossível ainda, a da Ética, da Transparência e da Responsabilidade, mesmo quando é sabido que por detrás das máscaras e por dentro de cada um habita, no mínimo, um Al Capone e uma Camorra... Aliás,  por falar nisso, alguns brasileiros da caravana Rio 2016 que foram recentemente passear em Londres estão sendo acusados por aquele país de terem roubado documentos da Organização das Olimpíadas de lá... A hipótese de ser uma calúnia é quase nula. Também um brasileiro acaba de ser preso em Estocolmo acusado de querer assassinar o rei sueco... Não deve ser brasileiro! Não seria uma reencarnação do anarquista Gaetano Bresci, aquele que colocou uma bomba no caminho de Umberto I? E nunca a psiquiatria foi tão demandada e útil para os advogados de defesa como agora... Por enquanto ainda é necessário provar que o sujeito está desvairado e loco, mas muito em breve todos os laudos serão dispensáveis... Em Nanchang, nos cafundós da China, pouco antes de começar um encontro religioso de Budistas, os organizadores do evento enjaularam dezenas de mendigos para que não importunassem aos sóbrios e puros participantes... Ora! Mas Buda não foi o mais ilustre e o mais importante de todos os pedintes??? Já em Hanói, no lendário Vietnã, ali onde ainda há ossos de soldados gringos e franceses, são os cachorros, de todas as raças e tamanhos, que aguardam em jaulas o momento de serem papados pela turma insaciável dos homo sapiens... Ah!, e no universo do sexo, numa cidade da Inglaterra, Conisbrough, as mulheres da vida estão batendo de porta em porta para oferecer seus serviços, principalmente a aposentados e a velhotes, claro que se alguma dona de casa ou se alguma criança se interessar...  E por falar em crianças, a Comissão Especial instituída na Austrália para mapear os abusos sexuais de padres contra menores, já identificou uns setecentos casos e dizem que há mais de seis mil só na cidade de Vitória... Quê bizarro! De onde advém essa veneração dos clérigos e dos sacerdotes pelo reto e pelo cu? Teria surgido com o Iluminismo? Ou seria o resultado de uma mutação equivocada de genes ainda lá entre os trogloditas? Pobre e miserável espécie!!! Sim, há uma novidade também nas próximas eleições nacionais: dizem que o eleitor, na hora de manipular a urna eletrônica terá mais uma alternativa: além das já existentes uma nova tecla trará em vermelho a palavra: FODAM-SE!!!

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

ALZHÉIMER - Auto-retratos de William Utermohlen


                         1967 - Auto-retrato do artista antes de começar a sofrer de Alzhéimer

                                           1996 - No início da enfermidade





                              1997 - Um ano após a manifestação da doença

                               1998 - Dois anos após a manifestação da doença

                                        1999 - Três anos após a manifestação da doença

                2000 - Último auto-retrato, feito quatro anos após a manifestação da doença.

 Ler a matéria do jornal El Pais no link abaixo:
http://sociedad.elpais.com/sociedad/2012/09/19/actualidad/1348071805_613092.html

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Mausoléus: o de Mao e o de JK...




 Recentemente passei umas boas horas em fila na Praça Tiananmen para atravessar outra vez o mausoléu do velho Mao Tsé Tung e rever o estado do defunto. Nada de bolsas, de isqueiros, canivetes, câmeras, telefones, garrafas de água... Estava lá, na mesma posição, um terno preto e com a fachada até melhor que a de vinte anos atrás... Veneração e silêncio absoluto. Nem a respiração se ouvia, a dos fanáticos e a própria. Ingresso gratuíto e cada um com uma flor amarela para depositar num lugar apropriado e a uns cinco metros das canelas do esquife... Nenhuma inscrição, nada!
Hoje entrei novamente aqui onde jaz o cadáver de JK. Ingresso R$ 10,00. No topo das escadarias uma inscrição ambígua: Aqui Deus habita para sempre! Fiquei em dúvida: estão se referindo ao Demiurgo ou ao ilustre Caixeiro viajante? Contrariamente ao rigor chinês, entrei com bolsa, com isqueiro, com canivete, câmera, uma garrafa de água, telefone, pen drive e outros badulaques perigosos da modernidade... Seremos para sempre os mesmos distraídos tanto nas burocracias da vida como nas burocracias da morte? Alguém me lembra que herdamos dos navegadores portugueses não apenas a falta de rumo e essa cordialidade falsa e mascarada, mas também essa espécie de anarquismo estéril e inútil, aliás, esse anti-anarquismo! Desta vez vim para ver apenas a biblioteca do morto. Uns mil e quinhentos, dois mil livros, todos com capa dura, em ordem e intocáveis. - Quantos teria lido? Ouvi a indagação de uma visitante ao "guia", um senhor todo de branco que para não ser pedante com a bobalhona secundarista e injusto para com o defunto, deu voltas e mais voltas para, por fim, admitir que o ex-presidente "tinha sim o hábito da leitura". Ela entendeu hálito. Depois moveu as orelhas em admiração... Me veio a dúvida: afinal, ter o hábito da leitura é uma virtude ou um vício? Uma riqueza ou uma miséria? Depende daquilo que se lê! Nós, que já somos putas velhas nesse métier e que temos lá nossas invejáveis bibliotecas domésticas, sabemos que, em muitos casos, elas são como espingardas muito bem lubrificadas que se tem em casa apenas para impressionar os inimigos e para turbinar nossa autoestima, mas que, na verdade, se passa a vida inteira sem usá-las. Estou diante das estantes. Uma foto do morto com aquele olhar de cigano da Boêmia insiste em observar-me. A cada movimento que faço um censor dispara como se estivesse denunciando meu exagerado interesse para com os títulos ou como se no meio daquelas páginas houvesse algo bem mais raro e valioso que os chatos corolários de caduquices que conhecemos... O "guia", vestido como um pai de santo me tranquiliza. Puxei a caneta e fui anotando "ao azar" alguns dos títulos que o nobre defunto provavelmente tenha lido:

-Três raparigas modernas (Magali.....)
-El jardim de Epicuro (A. France)
-As sete mulheres de Barba Azul (A. France)
-O poder da carne ( R. Marchard)
-O sentido trágico da vida (Unamuno)
-Fracturas y luxaciones (Terencio...)
-Traité de gynecologie (Faure-Siredey)
-The practice de urology (Leon Herman)
-Jules César (W. Fowler)
-Dr. aqui está o seu chapéu (J. Jerger)
-Vols. 3,5,6,7 e 9 da Comédia Humana (Balzac)
-1 volume espesso de Moliére
-O exemplar repetido de O marquez de Barbacena ( J. Calogenas)
-Um sonho de pobre (H. Campos)
-História secreta do Brasil (B. Barroso)
-A vida de Jesus ( F. Mauriac)
-Poncio Pilatos (G. Silveira)...

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

E a guerra esotérica está definitivamente lançada...





“Se você rezar por chuva por bastante tempo, ela eventualmente cai. Se você rezar para que enxurradas se acalmem, elas eventualmente o farão. O mesmo acontece na ausência de preces.” Steve Allen

“Um metafísico é um cego num quarto escuro à procura de um gato preto que não está lá, e um teólogo é o tipo que encontra o gato.” Anónimo

“A religião é a maior arma na guerra contra a realidade.” Anónimo

“Ajude a preservar a crença dos seus filhos no Papai Noel. Diga-lhes que o Papai Noel irá mandá-los para o inferno se eles não acreditarem nele.” Anónimo

“Como todas as religiões, a Sagrada Religião da Unicórnio Rosa Invisível é baseada sobre Lógica e Fé. Nós temos Fé que Ela é Rosa; nós Logicamente sabemos que Ela é Invisível, porque nós não podemos vê-la.” Anónimo, paródia criada por ateus

“Duas mãos trabalhando fazem mais que milhares unidas rezando.” Anónimo

“Cristianismo: Mais seguro do que uma lobotomia, mas tão eficaz quanto...” Anónimo

“Os fundamentalistas negam que a evolução aconteceu; eles negam que a terra e o universo como um todo tem mais do que alguns milhares de anos, e assim por diante. Existem amplas evidências científicas que os fundamentalistas estão errados nesses assuntos, e que as suas noções de cosmogonia possuem tanta base em factos quanto a Fada do Dente possui.” Isaac Asimov

“Lida propriamente, a Bíblia é a força mais potente para o ateísmo jamais concebida.” Isaac Asimov

“Eu sou ateu, sou sim. Levei um longo tempo para dizer isso. Eu tenho sido um ateu por anos e anos, mas de algum modo eu senti que era intelectualmente inaceitável dizer que alguém é um ateu, porque isso assumia um conhecimento que ninguém tem. De algum modo era melhor dizer que alguém era um humanista ou agnóstico. Eu não tenho a evidência para provar que Deus não existe, mas eu suspeito tanto que ele não existe que eu não quero perder o meu tempo.” Isaac Asimov

“Afirmar que “Deus fez isso” não é nada mais do que uma admissão de ignorância vestida enganadoramente como uma explicação.” Peter Atkins

“A verdade não tem que ser aceita com fé. Os cientistas não seguram suas mãos todo Domingo, cantando, “Sim a gravidade é real! Eu vou ter fé! Eu vou ser forte! Amen.”" Dan Barker, ex-evangélico e autor

“Eu sou ateu porque não há evidência para a existência de Deus. Isso deve ser tudo o que se precisa dizer sobre isso: sem evidência, sem crença.” Dan Barker, Perdendo a Fé na Fé: De Padre A Ateu

“Afirmar que a terra gira em torno do sol é tão errôneo quanto afirmar que Jesus não nasceu de uma virgem.” Cardeal Bellarmino (1615, durante o julgamento de Galileu)

“O local próprio para o estudo das crenças religiosas é numa igreja ou no templo, em casa, ou num curso sobre religiões comparadas, mas não numa aula de biologia. Não há lugar no nosso mundo para uma ideologia que procura mentes fechadas, força à obediência, e retorna o mundo a um paraíso que nunca existiu. Os estudantes devem aprender que o universo pode ser confrontado e entendido, que ideias e autoridades devem ser questionadas, que uma mente aberta é uma coisa boa. A educação não existe para confirmar a superstição das pessoas, e as crianças não aprendem a pensar quando elas são alimentadas apenas com dogmas.” Tim Berra, “Evolução e o Mito do Criacionismo”

“Infiel: Em Nova Iorque, alguém que não acredita na religião Cristã; em Constantinopla, alguém que acredita.” Ambrose Bierce

“Religião é como quimioterapia, ela pode resolver um problema, mas pode causar um milhão de outros.” John Bledsoe

“Religião é uma coisa excelente para manter as pessoas comuns quietas.” Napoleão Bonaparte, imperador Francês

“Qualquer um que se engaja na prática de psicoterapia se confronta todo dia com a devastação forjada pelos ensinamentos da religião.” Nathaniel Branden, Ph.D.

“Se a bíblia está errada ao nos dizer de onde viemos, como podemos confiar nela ao dizer para onde iremos?” Justin Brown

“Acreditar é mais fácil do que pensar. Daí existirem muito mais crentes do que pensadores.” Bruce Calvert

“O homem aponta, e Deus desaponta.” Miguel de Cervantes (1547-1616), escritor Espanhol. Sancho Pança, em Don Quixote, pt. 2, liv. 6, cáp. 22 (1615)

“Por simples senso comum não acredito em Deus, em nenhum.” Charlie Chaplin, no “Manual do Ateísta Perfeito” por Rius

“O cientista anseia encontrar e por fim compreender a verdade; O homem religioso quer que a verdade se encaixe no seu molde preconcebido. Então, como resultado… O cientista altera a sua percepção conforme os factos; O homem religioso tenta mudar os factos conforme suas crenças.” Anónimo

“A Bíblia foi interpretada para justificar práticas más tal como, por exemplo, a escravidão, a carnificina de prisioneiros de guerra, os sádicos assassinos de mulheres acusadas de serem bruxas, punição capital por centenas de ofensas, poligamia e crueldade com animais. Foi usada para encorajar a crença na mais grosseira superstição e para desencorajar o livre ensino de verdades científicas. Nós não devemos nunca esquecer que, bem e mal, fluem da bíblia. Ela, portanto, não está acima da crítica.” Steve Allen
 
“Os criacionistas fazem soar como se uma ‘teoria’ fosse algo que você sonhou após ter ficado bêbado a noite toda.” Isaac Asimov

“Eu não temo morrer e ir para o Inferno ou (o que seria consideravelmente pior) ir para a versão popularizada do Paraíso. Eu espero que a morte seja um nada e, por me remover todos os medos possíveis da morte, eu sou muito agradecido ao ateísmo.” Isaac Asimov, como citado na Corvallis Secular Society, 1997

“A terra é achatada, e qualquer um que negue essa afirmação é um ateu e merece ser punido.”
Sheik Abdel-Aziz Ibn Baaz, autoridade religiosa suprema, Édito Muçulmano religioso, 1993, Arábia Saudita

Enquanto isso... nos lupanares da côrte....

terça-feira, 18 de setembro de 2012

A INTUIÇÃO DO BEBÊ E O ÚNICO PROBLEMA FILOSÓFICO SÉRIO...


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Ontem foi a vez da Favela do Moinho transmutar-se em cinzas... Segundo os registros dos colecionadores de desgraças, esse incêndio é o Trigésimo Oitavo do mês, só em favelas de São Paulo. Existiria algum piromaníaco tentando eliminar essa pobre gente através do fogo? Curiosamente foi causado pela bizarrice de um casal "homoafetivo" em uma briga de "amor". Um de 37 e o outro de 38 anos, sendo que o primeiro atendia pelo nome de Jesus e o segundo por Damião... Dizem que Jesus, louco (a) de ciúmes instalou um maçarico no bujão de gás e incendiou literalmente o "amante"... Para dar mais ênfase à histeria, Jesus, o incendiário enlouquecido de "amor", aproveitou e meteu fogo também na favela... 
Como não enlouquecer também de ódio vivendo nesses cortiços infames??? 
Talvez não exista sentimento de solidão e de horror maior do que assistir àquela multidão fugindo em desespero por entre as labaredas com suas tralhas e filhos às costas.., sabendo que logo na esquina mora um apresentadorzinho de TV semialfabetizado que ganha dois três milhões mensais! Que na mansão da outra esquina mora um senhor que é senador da república há quarenta anos! Que na cobertura de 600 metros que fica mais abaixo vive um jogador de futebol analfabeto que tem outros sete imóveis como aquele.  Que na mesma rua vive uma senhora com ares de rainha, outra que já foi vereadora, outra prefeita, uma ex-deputada, um juiz, um governador, um ministro de estado etc.., todos narcisistas incompetentes que nunca fizeram merda nenhuma para alterar a catalepsia mental e a realidade social daqueles miseráveis... Não, não é só o capitalismo, mas também o cérebro dessa gente que fede!!!
Depois, vem o velho e conhecido ritual do circo republicano: vão chegando os bombeiros, os curiosos, a polícia, a midia, as ambulâncias, os pastores, as "carpideiras" estatais, os vereadores, os prefeitos, os senadores, os dermatologistas voluntários e os paxás milenaristas da arquidiocese... Chegam telegramas dos sindicatos, das Ongs, dos ex-presidentes da república, chegam as beatas trazendo cobertores, novalgina e sobras de pizzas para os sobreviventes que logo são transportados e amontoados como porcos num ou noutro barracão, mas só até que os tições se apaguem... E amanhã, bem cedinho, os sobreviventes estarão novamente lá (naqueles terrenos malditos, quase sempre de propriedade de alguma multinacional) com os cabelos ainda chamuscados e como formigas no meio da fuligem e dos esqueletos das geladeiras e das televisões levantando novamente seus cárceres e suas tumbas individuais... Vivem no meio dessa desgraça disfarçada de cidadania e de soberania, exatamente como seus avós, em silêncio e submissos, há mais de cem anos. 
Na outra ponta, gerações e mais gerações de políticos e de farsantes que já passaram por lá fazendo demagogia, que já encheram todo mundo de promessas, que já roubaram a sua parte, que envelheceram na roubalheira "aristocrática" e que enrabaram meio mundo. Muitos desses larápios ainda estão na ativa, outros jazem sem culpa alguma apodrecidos em ricos mausoléus espalhados pela cidade... Acreditem: não há chances de acontecer melhoria alguma para os pobres, fodidos e desgraçados da terra.

domingo, 16 de setembro de 2012

O FIM DOS HOMENS e a ascensão das mulheres...

“The End of Men”? This is not a title; it is a sound bite. But Hanna Rosin means it. The revolution feminists have been waiting for, she says, is happening now, before our very eyes. Men are losing their grip, patriarchy is crumbling and we are reaching “the end of 200,000 years of human history and the beginning of a new era” in which women — and womanly skills and traits — are on the rise. Women around the world, she reports, are increasingly dominant in work, education, households; even in love and marriage. The stubborn fact that in most countries women remain underrepresented in the higher precincts of power and still don’t get equal pay for equal work seems to her a quaint holdover, “the last artifacts of a vanishing age rather than a permanent configuration.”
THE END OF MEN
And the Rise of Women
By Hanna Rosin

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Mais censura, agora na culta ABL contra a pobre e cobiçada vagina...

RIO - A Academia Brasileira de Letras (ABL) censurou a transmissão ao vivo, em seu site, da conferência "O sexo não é mais como era", proferida na quarta-feira passada pelo professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Jorge Coli. A palestra fazia parte do ciclo "Mutações - O futuro não é mais o que era", organizado pelo filósofo Adauto Novaes, e discutia o sexo e a pornografia no contexto atual de avanço do moralismo e do conservadorismo. Ao apresentar o quadro "A origem do mundo", de Gustave Courbet, e usar a palavra "buceta", a transmissão foi cortada.
Em nota publicada no site do ciclo "Mutações", Coli afirma que "tratava-se de uma análise reflexiva sobre as noções de pornografia, erotismo e sexualidade dentro das artes. Ela (a conferência) sublinhava o caráter conservador do moralismo atual e criticava os puritanismos repressivos que oprimem o imaginário, e não apenas ele". O professor explica que foi informado do corte quando citou "o trecho de um autor que continha algumas palavras indelicadas (crítica de Philippe Murray ao quadro de Courbet, "A origem do mundo", publicada em 1991 na revista Art Press)". Coli alega que, no início da sua apresentação, duas obras de Jeff Koons também foram suprimidas.
Em nota, a ABL afirmou que a transmissão ao vivo das conferências do ciclo não é uma obrigação contratual confirmou a suspensão da exibição. O texto diz que a medida "foi autorizada por não estar em conformidade com os parâmetros que permitem a sua utilização, notadamente diante das advertências apresentadas pelo conferencista, prof. Jorge Coli, entre outras, de que envolvia imagens impróprias até 18 anos e de que iria tratar de pornografia. O público-alvo das mensagens da Academia via internet abrange todas as idades, em destaque jovens estudantes de todos os graus de ensino". A ABL se posicionou contra qualquer forma de censura, mas "que é também consciente de sua responsabilidade da matéria que divulga em seu site".
O filósofo Adauto Novaes, responsável pelo "Mutações", criticou a medida da Academia. Para ele, a interrupção da transmissão é mais um sintoma da guinada conservadora e moralista observada recentemente no mundo e que era objeto da palestra.
- A ABL só entrou em contato comigo hoje para falar sobre o conteúdo da resposta que seria encaminhada aos jornais. Eu discordo totalmente. Há um conservadorismo geral dominando, li uma reportagem hoje que até censuraram a palavra vagina no título de um livro (a Apple censurou a obra de Naomi Wolf). Há um processo muito reacionário no mundo, no campo da política e da moral. Em um ciclo passado do “Mutações” tivemos uma conferência que falou do assunto de maneira muito mais aberta, no Palácio Gustavo Capanema. Hoje o conservadorismo é muito maior do que nos anos 1960 e 1970 - afirma o filósofo. (O GLOBO, 14-09-2012)
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Nota: Observem que o próprio Jornal (O Globo) que dá a notícia da censura, também está sutilmente censurando a imagem com a  tarja onde imprime o texto... A psicopatia a respeito da xota é geral!!!


Mais censura, agora na culta ABL contra a pobre e cobiçada vagina...

RIO - A Academia Brasileira de Letras (ABL) censurou a transmissão ao vivo, em seu site, da conferência "O sexo não é mais como era", proferida na quarta-feira passada pelo professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Jorge Coli. A palestra fazia parte do ciclo "Mutações - O futuro não é mais o que era", organizado pelo filósofo Adauto Novaes, e discutia o sexo e a pornografia no contexto atual de avanço do moralismo e do conservadorismo. Ao apresentar o quadro "A origem do mundo", de Gustave Courbet, e usar a palavra "buceta", a transmissão foi cortada.
Em nota publicada no site do ciclo "Mutações", Coli afirma que "tratava-se de uma análise reflexiva sobre as noções de pornografia, erotismo e sexualidade dentro das artes. Ela (a conferência) sublinhava o caráter conservador do moralismo atual e criticava os puritanismos repressivos que oprimem o imaginário, e não apenas ele". O professor explica que foi informado do corte quando citou "o trecho de um autor que continha algumas palavras indelicadas (crítica de Philippe Murray ao quadro de Courbet, "A origem do mundo", publicada em 1991 na revista Art Press)". Coli alega que, no início da sua apresentação, duas obras de Jeff Koons também foram suprimidas.
Em nota, a ABL afirmou que a transmissão ao vivo das conferências do ciclo não é uma obrigação contratual confirmou a suspensão da exibição. O texto diz que a medida "foi autorizada por não estar em conformidade com os parâmetros que permitem a sua utilização, notadamente diante das advertências apresentadas pelo conferencista, prof. Jorge Coli, entre outras, de que envolvia imagens impróprias até 18 anos e de que iria tratar de pornografia. O público-alvo das mensagens da Academia via internet abrange todas as idades, em destaque jovens estudantes de todos os graus de ensino". A ABL se posicionou contra qualquer forma de censura, mas "que é também consciente de sua responsabilidade da matéria que divulga em seu site".
O filósofo Adauto Novaes, responsável pelo "Mutações", criticou a medida da Academia. Para ele, a interrupção da transmissão é mais um sintoma da guinada conservadora e moralista observada recentemente no mundo e que era objeto da palestra.
- A ABL só entrou em contato comigo hoje para falar sobre o conteúdo da resposta que seria encaminhada aos jornais. Eu discordo totalmente. Há um conservadorismo geral dominando, li uma reportagem hoje que até censuraram a palavra vagina no título de um livro (a Apple censurou a obra de Naomi Wolf). Há um processo muito reacionário no mundo, no campo da política e da moral. Em um ciclo passado do “Mutações” tivemos uma conferência que falou do assunto de maneira muito mais aberta, no Palácio Gustavo Capanema. Hoje o conservadorismo é muito maior do que nos anos 1960 e 1970 - afirma o filósofo. (O GLOBO, 14-09-2012)
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Nota: Observem que o próprio Jornal (O Globo) que dá a notícia da censura, também está sutilmente censurando a imagem com a  tarja onde imprime o texto... A psicopatia a respeito da xota é geral!!!


quinta-feira, 13 de setembro de 2012

A VAGINA, DE NAOMI WOLF...



Na loja do iTunes(administrada pela Apple) o título do e-book de Naomi Wolf: Vagina - uma nova biografia, acaba de ser parcialmente censurado. A palavra vagina aparece apenas com o V e com alguns asteriscos como se se tratasse de um palavrão ou de uma blasfêmia. Não faz muito, um outro título, agora de Eve Ensler intitulado Os monólogos da vaginatambém recebeu o mesmo tratamento por essa mesma loja e há mais ou menos um ano o facebook, vítima da mesma fobia, chegou a censurar a famosa pintura de Courbet titulada A origem do mundo, onde esse órgão que parece causar tanto pavor, está escancarado. O que acontece, afinal com esses censores? Seriam homens ou mulheres? Pudicos ou pervertidos? Misóginos ou tarados? Transtornados pelo tesão, pelo pânico ou pelo moralismo? 
Claro que isso não é novidade, pois praticamente todas as religiões fundamentaram seu apartheid contra as mulheres por puro conflito e por pura misoginia, daí talvez a motivação que levou a autora a tentar construir em seu ensaio uma nova biografia sobre a referida "entidade". E todos sabemos que mesmo os "comedores" de plantão, que andam por aí com a mão direita no bolso, com os bigodes empinados e com as tais pilulazinhas nas tripas, não escondem que têm um sentimento estranho e ambíguo por essa "parte" misteriosa e inacessível da mulher... Seria o fato de termos todos nascido por ali? 
Os comerciantes não se cansam de propagandear cremes, perfumes, lubrificantes, truques e mais truques para lidar e tratar a dita cuja... e de quinze em quinze dias as mulheres estão lá, obsessivamente, se depilando como numa estratégia preventiva para não correrem o risco de espantarem o macho...
A literatura antropológica e psicológica está repleta de mitos e de dados culturais a respeito do medo e do cuidado que tanto os homens como as próprias mulheres sempre tiveram com relação à essa peça dos genitais femininos. E é conhecido o relato que o psicanalista Ferenczi anotou em seus casos clínicos da mãe que quando queria intimidar seu filhinho levantava o vestido diante dele e lhe mostrava a vulva... A propósito, na pintura acima, intitulada misteriosamente de Violação, o que Magritte estaria querendo insinuar???
Inclusive os homossexuais masculinos que costumam jurar que fizeram sua opção genital livre e soberanamente, com frequência confessam terem experimentado desde sempre um verdadeiro horror e repugnância pela "tarântula". Tarântula!? Haverá analogia mais terrorífica do que esta?
E as feministas, que nas épocas desvairadas levavam cartazes defendendo a ideia de que nas mulheres não havia outro tipo de orgasmo a não ser o orgasmo clitoriano, não estariam também negando a vagina? 
Claro que existem as exceções, a menina esbelta e sedutora - por exemplo - que num encontro anarquista em Quebec levava orgulhosamente um botonno lado esquerdo de sua jaqueta com a seguinte inscrição: I have a vagina!!!