segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

O ladrão e os cães ...

Recentemente proibiram os novos inquilinos da Papuda de frequentarem a biblioteca do presídio por mais de duas horas/dia e, inclusive, de ficarem com livros nas celas. Percebem como até os carcereiros seguem implementando e executando rigorosamente a política nacional de horror à leitura? E depois, ainda ficam com a demagogia paralela de "incentivar a leitura" e de promover os clássicos! Deveria ser exatamente o contrário: cada cela uma biblioteca! Cada livro lido, um mês de prisão a menos! (os do Paulo Coelho e a Bíblia não valem). E o preso que não lesse nada no primeiro ano teria automaticamente sua pena convertida em prisão perpétua... Quem sabe, de algum desses bandidos não surja uma obra prima!? Não podemos esquecer da Casa dos mortos escrito por Dostoievski na prisão da Sibéria, nem da filosofia de Sade atrás das grades da Bastilha e nem do Diário da prisão, de Ho Chi Minh. Assim como de nosso Graciliano Ramos com sua Angústia e com suas memórias. Voltaire, Gramsci, Jean Genet, Marco Polo. Cervantes que iniciou seu Don Quixote na cadeia de Sevilha e Oscar Wilde que escreveu preso o seu De profundis. Sem falar de John Cieland que, quando preso, escreveu Memórias de uma mulher de prazer. E por falar em leitura e em livros, acabo de ler O ladrão e os cães, do egípcio Naghib Mahfuz. Devorei sua última página aqui no cais da cidadela de Itacaré, rodeado de moscas e submerso em emanações de esgotos por todos os lados. Enfim, o ano novo está aí. Não se iludam, será pior do que este. Como escreveu o prisioneiro Chester Himes numa cadeia gringa: O passado fará você chorar... ____ DATA VENIA: esqueci de mencionar o velho Hitler, que também escreveu seu MEIN KANPF no período em que esteve enjaulado...

domingo, 22 de dezembro de 2013

Poesia da encantadora alma das ruas...

"... Oh! O amor! Eu ouvira o amor sexagenário, o amor doloroso, o amor liliput desse menage de crianças! Todos tinham chegado ao mesmo fim tragico, hontem creaturas dignas, hoje com as mãos vermelhas de sangue, amanhã condemnados por um juiz indiferente (...) Que estranha psychologia a dessas flores magnificas do jardim do crime! Que poderoso transformador o amor! bem dizia Tennyson, ao  evocá-lo: 'Thou madest life, um man and brute, thou madest death'... Eu começara a minha visita á beira do desespero, na purpura de uma moita de lyrios vermelhos (...) Com os corações em sangue, vira uma collecção de assassinos, desde um velho lamentável até uma criança honesta, postos fóra da sociedade pelo descario, pela loucura que a paixão sopra no mundo... (...) O sol é esmagador! Pesa como chumbo. Todos esses semblantes têm qualquer cousa de revoltado e de tímido, de desafio e medo. Percebe-se o terror das pessoas importantes e o desejo secreto de apedrejá-las, essa mistura antagonica que faz o respeito da ralé... (...) A musa da cidade, a musa constante e anonyma, que tange todas as cordas da vida e é como a alma da multidão, a musa triste e vagabunda, é livre, é pobre, é humilde. E por isso todos lhe soffrem a ingenua fascinação, por isso a voz de um vagabundo, nas noites de luar, enche de lágrimas os olhos dos mais frios, por isso ninguem ha que não a ame - flôr de ideal nascida nas sargetas, sonho perpetuo da cidade á margem da poesia riso e lagrima, poesia da encantadora alma das ruas...!"
João do Rio

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Noticias do mundo...

"A biblioteca 
do colégio era o Jardim da Imbecilidade: livros absurdos de religião, manuais de teologia de uma profundidade mentirosa, vidas de santos falsas e pueris, livros de propaganda católica mordazes e violentos..."
V.V.

E o circo continua planeta a fora!.. Na mesma semana em que os ucranianos derrubaram e pisotearam uma estátua de Lênin na praça central de Kiev, foi inaugurado um busto de Hugo Chaves no bairro Zamalek do Cairo. Gostaria imensamente de saber o que diriam dessa bizarrice, além de Cleopatra, os velhos faraós. Ramsés II - por exemplo -, ou os sábios arquitetos das pirâmides de Gizé... Também por aqui, nas  ex colônias hispânicas e ibérica, praticamente em cada praça há alguém em bronze com uma espada, uma cruz ou uma bandeira em punho montado em seu fogoso cavalo... Torpe tendência ao patriotismo e à idolatria! Heróis! De quê mesmo? Ou a homenagem, como se perguntava Vargas Vila, é sempre aos cavalos?

E os deputados do DF reservaram 50 milhões para gastar com eventos culturais em 2014. Que nobre, súbito e exagerado amor pelas artes!!! Equivale a dizer que toda essa fortuna será repassada para os sete ou oito grupos de hienas que estão frequentemente farejando, cacarejando e rebolando por aí, nos palcos, sem agregar absolutamente nada que valha ao "espírito" do populacho... Com esse dinheiro daria - entre outras coisas - para construir as sedes dos 46 CAPS que os doentes mentais da região esperam há anos...

Todo mundo que mora lá pelos lados do antigo café da rua 8 ouviu o estrondo da explosão que transformou em ruínas um prédio de dois andares. Presenciei um velhote de uns 90 anos infiltrado no meio dos angustiados moradores dirigindo-se ao tenente do Corpo de Bombeiros com esta reflexão: 
- Depois que resolveram engarrafar o gás aumentou a paranóia do mundo..! Como é possível dormir sossegado sabendo que na casa dos vizinhos de baixo, de cima e dos lados há uma bomba dessas pronta para explodir? Ouviu a explicação racional, comedida e consoladora do bombeiro e arrematou: ouvi até um pastor afirmando que deus depositou esse gás no fundo da terra e em  lugares estratégicos do planeta para, quando achar conveniente, ser mais fácil mandar tudo pelos ares...

 Mergulhei na leitura de um livro intitulado 1434, de Gavin Menzies. Aqueles que gostam de ironizar o chinezinho que todas as noites circula pelos botecos aqui da Asa Norte vendendo singelamente aquelas miniaturas da Cidade Proibida, brinquedos de plástico, porcarias luminosas e fazendo propaganda da enciclopédia Yongle Dadian,  deveriam lê-lo. E também, evidentemente, e até com mais urgência, aqueles que ainda continuam acreditando que o Renascimento se deu a partir das idéias e dos ideais clássicos da Grécia e de Roma...  Não é verdade! Tudo foi desencadeado pela China, inclusive os supostos inventos de Leonardo da Vinci e o mapa mundi, aquele que possibilitou a Colombo e a sua trupe de portugueses lançarem-se sôfrega e loucamente pelos sete mares...

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Paradoxos da pocilga...

Você aí que ganha um salário mínimo ou um pouco mais, que já vendeu sangue, suor, sono, dignidade, os filhos, sexo, a saúde, cabelos, liberdade, córneas e até a alma para manter-se vivo neste pandemônio de bestas e de loucos, sabe quanto uma empresa de TV acaba de oferecer para que uma de suas cômicas senhoritas permaneça naquela rede? R$: 500 mil por mês! Quinhentos mil! Você que ganha R$: 600 reais, igual a R$: 7 mil e duzentos por ano,  precisaria trabalhar em sua escravidão quase oitenta anos para faturar o que a simpática mocinha ganha por mês. Que tal? Isto não lhe deixa feliz às vésperas do Natal? Não lhe dá ânimo para levantar mais cedo e ir bestificado e em jejum, como um guapeca, para sua escravidão, nobre cidadão? 
E ela não é a única. Praticamente todos esses personagens que estão diariamente no ar lhe intoxicando com idiotices e lhe injetando fezes nas veias e no esôfago tem salários parecidos.., daí para maior. 
Que tal!? É a lei da livre concorrência? São os cânones do livre mercado!? As consequencias da meritocracia? 
Não! São os resultados da putaria social e os paradoxos da pocilga...

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Mister Jantjie.., esse é dos nossos...

Voltando a falar (pela última vez) sobre as exéquias do Mandela, solenidade onde apesar de todo mundo ter obsessivamente dado destaque a presença do Obama, do irmão do Fidel, a uma senhora nórdica e a outros exibicionistas que estiveram batendo ponto por lá, na verdade, o grande personagem daquela cerimônia, a quem queremos render nossas homenagens, foi Jantjie, o sujeito que ficou "traduzindo" a fala daqueles demagogos para a linguagem dos surdos, sem saber absolutamente nada do assunto. Claro que ele  assumiu o papel de embusteiro pensando apenas em faturar uns dólares, mas o que acabou simbolicamente fazendo, foi muito mais do que isto. Vejam no video abaixo como os gestos e sinais desse cínico farsante não têm nada a ver com nada, mais ou menos como a discurseira que lá estava sendo proferida. A  comunidade de surdos do mundo, com razão, está indignada e ultrajada, uma vez que perdeu o conteúdo do show.., mas na verdade, quando descobrir que não perdeu nada, voltará a acalmar-se... E não só não perdeu nada, como foi poupada pelo suposto "intérprete" de ouvir as mesmas lengalengas e baboseiras de sempre. 
Descoberta a fraude, nosso camarada Jantjie, que poderia ter se justificado dizendo que.., afinal, ali só havia impostores como ele, preferiu inventar outra mentira, ainda mais complexa: que era esquizofrênico. Ora! Ser esquizofrênico não é para qualquer um! Enfim.., é sempre bom lembrar que, como dizia T. Szasz em seu livro Le péché second: "se para a família do doente e para a sociedade, a doença mental é um 'problema', para o paciente é sempre uma 'solução'".




quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Sol entre nuvens...


"A hora sem testemunhas em que toda a polidez hipócrita e toda a filosofia altruísta se despem, como importunas flanelas, ficando em cena o carnivoro trágico..."
F. de Almeida 


Sol entre nuvens, tanto aqui na capital como pelo restante desse imenso "país dos inquéritos". Observem como tanto na esfera federal, como na estadual, como na municipal e até parroquial, os representantes de deus e do povo não fazem outra coisa além de acusarem-se mutuamente. De quê? De corrupção, deslealdade e de crimes... Inquéritos! Só há inquéritos por todos os lados! Somos a pátria tupinambá dos inquéritos! A população está viciada em inquéritos! Só a profissão de advogado é fecunda e próspera aqui nos trópicos. Talvez, até nunca mais se consiga limpar nossa história. Por outro lado, se fossemos honestos e honrados...  quem sabe... não poderíamos até morrer de melancolia e de tédio!?...
Mataram seis ou sete nesta madrugada por aí nos arredores. Mas isto não atrapalha em nada nem os planos do Papai Noel e nem as "caixinhas", essa legalização da humilhação e da mendicância que anualmente se prolifera... E o show continua lá em Pretória. Encheram as veias do Mandela de formol para retardar seu apodrecimento e satisfazer aos necrófilos. Nunca as palavras e os adjetivos foram usados de forma tão audaz, cínica e alcoviteira por aqueles engravatados com suas bocas inundadas de misticismo. Uma infâmia com o morto! E amanhã, com o mito já debaixo da terra se pode serenamente retomar o circo, voltar a viver de calotes e de desgraças sociais. A pobreza da condição humana é tão devastadora que nos obriga a passar séculos e séculos atrás de algo, de pelo menos algo e de alguém que nos possa sinalar minimamente o arcabouço de uma ilusão e de alguma transcendência... 
A respeito de Mandela, apesar de sua história heróica, não alterou verdadeiramente nem sequer uma vírgula das loucuras do mundo. Somos imutáveis! Nossa personalidade avariada é imutável!
Dos girassóis que cultivo aqui nas alturas dos Jardins da Babilônia, acaba de explodir meia dúzia de estupendas, cor de cobre e arrogantes mandalas...

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

As especialidades médicas na arte de Jose Perez...



                                           O urologista

                                 O caos na saúde

                                                     O quiroprático

                                               A enfermeira

                                       O obstetra

                                      O oftalmologista

                                             O patologista

                                       O cirurgião plástico

                                                           O psiquiatra

                                             O veterinário

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

A VAGINA... (Um artigo de Eliane Brum)


Será que a revolução sexual falhou? Não é curioso que, neste ponto da aventura humana, o órgão feminino ainda ameace tanto? Evelyn Ruman, Casey Jenkins e Naomi Wolf são algumas das artistas que questionam a naturalização da violência contra o desejo das mulheres

Evelyn Ruman conta que desembarcou no Vaticano sentindo-se uma espiã da Guerra Fria. Ela tinha se imposto uma missão arriscada, subversiva. Dentro do bolso da sacola de equipamento fotográfico havia um vidrinho com um líquido vermelho e um tanto viscoso. Evelyn se agachou, abriu a tampa e jogou seu conteúdo no chão. O fluido se espalhou sobre a calçada, as pedras. Ela sacou a câmera fotográfica e começou a documentar sua transgressão. Desenrolou a imagem de uma mulher nua, de costas, e a estendeu no chão. O vermelho agora escorria de interiores femininos. Nenhum guarda apareceu para impedi-la, nenhum turista a perturbou. Missão cumprida. Evelyn acabara de jogar sangue menstrual no centro do poder católico.
- Por que você quis fazer isso?, pergunto a ela. “Porque a Igreja Católica representa tudo aquilo que vem oprimindo as mulheres por séculos, tornando a vagina algo feio e fazendo do sangue menstrual uma coisa nojenta.”
Era janeiro de 2012 e Evelyn participava da Bienal Internacional de Arte de Roma. Durante dois anos ela armazenara seu sangue menstrual na geladeira de casa, em São Paulo, para realizar exposição que chamou de Sangro, logo existo. Seu casal de filhos, hoje com 23 e 18 anos, brincava que era o “carnição da mamãe”. Ao fazer esse percurso artístico, Evelyn se preparava para um momento doloroso para uma mulher: ter seu útero arrancado devido a um mioma. “Sempre gostei muito de menstruar”, diz ela.
Quando foi a Roma, Evelyn percebeu que sua menstruação estava atrasada. Para consumar seu objetivo, precisou pedir um pouco de sangue a uma feminista italiana, Sara Sacerdócio. Fez sua performance com sangue emprestado. A foto (ao lado) é uma das 27 imagens exibidas no EG2O (Escritório Galeria 2Olhares), na cidade histórica de Paraty, no litoral fluminense, até 6 de janeiro. Cinco delas ilustram esta coluna.
Evelyn trabalha desde 1988 com a autoimagem de mulheres. Presidiárias, internas de manicômios judiciários e instituições psiquiátricas comuns, camponesas de origem indígena, meninas com síndrome de Down, soropositivas para o vírus da Aids, ameaçadas por violência doméstica, velhas. Mulheres que a maioria prefere não enxergar. Nunca teve dificuldade para expor seu trabalho, premiado e reconhecido internacionalmente. Mas, quando tentou exibir sua obra moldada em sangue menstrual, encontrou as portas fechadas. Para mostrar o rosto de mulheres condenadas à invisibilidade, foi acolhida. Para mostrar seu corpo que sangra pela vagina não havia espaço. Talvez porque, ao expor o que se prefere escondido e envergonhado, a vítima tivesse virado o jogo. Em vez de compaixão, agora provocava medo.
 Evelyn descobriu-se sozinha. Mesmo outras mulheres, amigas fotógrafas, em todo o resto libertárias, classificaram suas fotos como “nojentas”. “Só consegui fazer a exposição porque abri minha própria galeria”, diz Evelyn. “Dá vontade de botar uma câmera para filmar a reação de nojo das pessoas, muitas delas mulheres, quando veem as fotos e percebem que é sangue menstrual, sangue que saiu de uma vagina, a minha. Se o sangue saísse de um pinto, será que teriam tanto nojo?”
 (Estou presumindo, claro, mas acredito que parte daqueles que leem este texto, a esta altura já soltaram alguns “que noooojo!”. Acertei? Ao comentar com alguns amigos que pretendia escrever sobre o tema, a reação foi: “Mas por quê?”. Por causa desta tua cara, respondi.)
Neste exato momento, a australiana Casey Jenkins realiza a performance que intitulou de Casting Off My Womb (em tradução livre, Tricotando o meu útero). A cada manhã, ela enfia um novelo de lã clara na sua vagina e tricota um cachecol. Ao menstruar, o tricô ganha rajados de vermelho sanguíneo e molhado. (vídeo aqui). O objetivo da intervenção, conforme ela declarou à imprensa, é tornar a vagina da mulher “menos chocante ou assustadora”. Casey queria mostrar que “a vagina não morde” ao ligá-la a um ato acolhedor e “quentinho”, identificado com avozinhas clássicas, como o de tricotar uma manta. O cachecol uterino que passa sensualmente pela vagina de Casey, acaricia seus grandes e pequenos lábios e faz cócegas no seu clitóris estará concluído ao final de 28 dias.
 (Mais nojo?)
O que, afinal, Casey está tricotando, lá no outro lado do mundo? O que Evelyn está tentando nos dizer com seu sangue, no lado de cá do mundo?
É provável que a escritora americana Naomi Wolf, autora de Vagina: uma biografia, que acaba de ser lançado em português pela Geração Editorial, tenha razão ao dizer que “a revolução ocidental sexual falhou”. Ou, pelo menos, “não funcionou bem o suficiente para as mulheres”. A própria trajetória do livro é a prova de que a vagina segue sendo ameaçadora – como corpo, como imagem, como palavra. Me arriscaria a dizer que até mais ameaçadora do que em décadas passadas. Quando a obra foi lançada, em 2012, no mercado de língua inglesa, a loja virtual da Apple colocou asteriscos no título: V****a. A velha vagina, censurada pela marca que representa o ápice do avanço tecnológico do nosso tempo, foi quase uma performance da denúncia contida no livro. Mas involuntária, o que torna tudo mais interessante. Me parece que o episódio fala mais de um momento de potência da vagina do que de vitimização.
Em seu livro, Naomi Wolf compreende a vagina como “o órgão sexual feminino como um todo, dos lábios ao clitóris, do introito ao colo do útero”. Esse todo forma uma complexa rede neural, na qual há pelo menos três centros sexuais – o clitóris, a vagina, o colo do útero – e possivelmente um quarto – os mamilos. Naomi defende que a vagina não é apenas carne, mas um componente vital do cérebro feminino, ligando o prazer sexual amoroso à criatividade, à autoconfiança e à inteligência da mulher. A conclusão é óbvia e não é nova, nem por isso menos importante: massacrar a vagina – ignorando-a ou tornando-a algo sujo, proibido e chulo, seja pelas palavras ou pelas ações – massacra as mulheres na inteireza do que são. Ao aniquilar a vagina, aniquila-se a mulher inteira, sequestra-se a sua potência. “Ao contrário do que somos levados a crer, a vagina está longe de ser livre no Ocidente nos dias de hoje”, diz Naomi. “Tanto pela falta de respeito como pela falta de entendimento do papel que ela exerce.”
Criticada até mesmo por parte das feministas, a biografia da vagina faz um percurso bastante curioso. Mesmo quem a elogia tem sempre uma graça para dizer, uma piadinha, algo que garanta um distanciamento desta escritora que a certo momento chega a falar em “dança da deusa”. Parece continuar obrigatório ser engraçadinho com qualquer menção à palavra vagina. Adultos maduros se expressam como se fossem adolescentes soltando risadinhas, o que em si já diz bastante coisa. Ao anunciar que escrevia o livro, Naomi foi recebida para um jantar entre amigos com um cardápio temático: massa em forma de vaginas e grandes (bem grandes mesmo) salsichas. Como finalização, filés de salmão, referindo-se ao cheiro de peixe relacionado ao órgão sexual feminino. Para aqueles homens intelectualizados de Nova York, a obviedade, um tanto bocejante, parecia muito divertida. Depois da “homenagem”, Naomi amargou um bloqueio criativo: por seis meses não conseguiu escrever uma palavra do livro. “Senti que havia sido punida – tanto no nível criativo quanto no físico – por ir a um lugar aonde as mulheres não deviam ir”, conta.
Se o livro de Naomi Wolf apresenta generalizações e pode ser questionado em alguns ou vários aspectos, como todos os livros, aliás, acho difícil que alguém, seja homem ou mulher, não tenha a vida ampliada por questões mais interessantes depois de ler Vagina: uma biografia. Se não fosse por mais nada, pelo simples fato de que, para muitos, demais, a vagina ainda é uma fenda, uma ferida, um buraco.
A pergunta que Evelyn, Casey e a própria Naomi nos propõe, a partir da expressão de cada uma, é por que, no século 21, no Ocidente, a vagina ainda provoca tanto antagonismo. E que efeito isso tem sobre a experiência cotidiana das mulheres, principalmente, mas também a dos homens. Ou sobre como isso empobrece enormemente a nossa vida sexual e afetiva, assim como a nossa vida como um todo. O maior mérito de cada uma delas ao se arriscar ao escárnio público – e, neste caso, sempre se pode contar com ele – é o de questionar a naturalização de um olhar sobre a vagina e as mulheres que nos viola a todas. E talvez a todos. Ao naturalizá-lo, oculta-se a trama histórica e não linear em que esse olhar foi sendo tecido, assim como as relações de poder que o determinam.
Não é tremendamente instigante que, neste ponto da aventura humana, a vagina das mulheres ainda assombre tanto que a violência contra ela parece ter recrudescido? Na época em que as revistas femininas ocupam uma parte considerável de suas páginas com lições para melhorar a performance sexual das mulheres, a vagina, aquela que parece não caber neste discurso atlético, vive tempos de escândalo. No mesmo período em que a Apple censurou a vagina como palavra no título do livro de Naomi Wolf, no Brasil o crítico de arte Jorge Coli teve interrompida a transmissão pela internet de sua palestra pela Academia Brasileira de Letras. Foi censurado no momento em que pronunciou a palavra “buceta” e mostrou A origem do mundo, o famoso quadro do francês Gustave Courbet, que retrata uma vagina entre coxas abertas. Ao longo de sua acidentada trajetória, o quadro esteve coberto por um véu, fosse uma cortina ou mesmo uma outra pintura. Só foi exposto sem nada ocultando-o depois que a família de seu último dono, o psicanalista Jacques Lacan, o doou ao Museu D’Orsay. Em fevereiro deste ano, a revista francesa Paris Match anunciou um “furo de reportagem”: a descoberta do suposto rosto da vagina famosa. Desta vez, o rosto que tentaram lhe impor, como uma parte faltante, teria a função de um véu definitivo. (Escrevi sobre isso aqui e aqui.)
Evelyn, Casey, Naomi, assim como outras artistas mundo afora, têm corajosamente tentado nos chamar a atenção para o fato de que tanto a censura quanto a piada ocultam algo que precisa ser enfrentado. Enfrentado porque estreita a nossa vida psíquica, afetiva e sexual, mas também porque é gerador de violência. Nas universidades brasileiras, os trotes às calouras têm se transformado nos últimos anos em episódios chocantes de agressões contra mulheres. Na Universidade de Brasília (UnB), em 2011, calouras tiveram de lamber leite condensado numa linguiça encapada com camisinha. Em 2012, na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), duas estudantes foram amarradas a um poste. Os veteranos vestiram-se de policiais militares e colocaram camisinhas na ponta de cassetetes, obrigando-as a chupar os bastões. Em 2013, na UFMG, uma estudante com o corpo pintado de preto carregava um cartaz que dizia “caloura Chica da Silva”, em alusão à famosa escrava com este nome. As mãos estavam presas por uma corrente, que era controlada por um veterano. Também neste ano, uma caloura da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia denunciou à polícia ter sido obrigada a lamber pênis e testículos de bois. Ela desmaiou, sua boca sangrava. Na Universidade de São Paulo, no campus de São Carlos, realizou-se o concurso “Miss Bixete”, no qual as calouras são obrigadas a fazer um “desfile de beleza” repleto de situações humilhantes. Durante o trote, veteranos tiraram a roupa e simularam fazer sexo com uma boneca inflável. Distribuíram ainda um panfleto parodiando o best-seller Cinquenta Tons de Cinza, com os seguintes dizeres: “Cinquenta golpes de cinta – a cura para o fogo no rabo dessa mulherada mal comida”. A série de violências sexuais contra as calouras torna-se ainda mais espantosa – e é preciso se espantar muito – se pensarmos que foram perpetradas por homens jovens e escolarizados, nascidos pós-revolução sexual, filhos de mulheres que usam anticoncepcionais e trabalham fora de casa.
Na semana passada, o radialista Fabiano Gomes, da Rádio Correio, da Paraíba, afirmou no programa Correio Debate que a polícia não deveria perder seu tempo investigando os casos em que homens divulgaram na internet imagens de mulheres nuas ou em relações sexuais. Ele se referia a um caso ocorrido na cidade paraibana de Pombal e ao recente suicídio de Júlia dos Santos, de 17 anos, no Piauí. Júlia e a gaúcha Giana Fabi, de 16 anos, enforcaram-se em outubro depois de sofrerem linchamento moral por terem fotos e vídeos íntimos postados nas redes sociais. Algumas das frases usadas pelo radialista: “Sem-vergonha é quem manda foto nua para o namorado”, “Foram pro espelho mostrar o chibiu”, “A cocotinha tirou foto nua pro namorado bater punheta”.
Se houve reação formal de repúdio ao episódio, vale a pena prestar atenção também na gravação, para escutar a opinião dos ouvintes, homens e também mulheres, ao apoiar as agressões do radialista. Se os comentários são uma amostra do senso comum, as meninas que mostraram seus corpos nus a homens em quem confiavam são “vagabundas”. É aterrador constatar que, às vésperas de 2014, depois de todas as conquistas feministas, num país governado pela primeira vez por uma mulher, duas adolescentes tenham sido tão humilhadas por terem seus corpos e seu desejo sexual expostos que preferiram morrer. Ao sacrificarem-se (ou serem sacrificadas), seguem sendo humilhadas. Na segunda década do século 21, no Brasil associado ao mito da liberação sexual dos trópicos, o corpo e o desejo feminino são tão ameaçadores que a morte não basta.
A violência contra a vagina é disseminada no cotidiano, dentro de casa, no trabalho, no percurso entre a casa e o trabalho, em todos os espaços, mesmo os de lazer. As mulheres estão tão habituadas a ela desde que nascem que já a internalizaram como “normal”. Ou reagem muito menos do que deveriam, resignadas por uma vida inteira de agressões tão corriqueiras que fingem não ligar. Que neste contexto ainda consigam ter desejo sexual e prazer com suas vaginas é um tanto impressionante.
Como ilustração, um resumo de alguns – só alguns – momentos da minha trajetória pessoal. Na primeira vez em que fui tocada por um homem, eu era criança. O homem era um menino ainda menor do que eu. Ao passar por mim na rua da cidade pequena, deu um tapa forte na minha vagina e disse: “bucetuda”. Foi meu primeiro contato. Voltei para casa chorando, mas me sentia tão envergonhada por ter uma vagina que não contei a ninguém. Adolescente, ao caminhar no centro de Porto Alegre de minissaia, um homem cuspiu nas minhas coxas. No ônibus lotado da faculdade, tentaram se masturbar na minha bunda mais de uma vez. Num Dia das Mães levei minha filha de nove anos ao cinema. Um homem sentou-se ao nosso lado e começou a se acariciar. Adulta, no trabalho, nas redações por onde passei, ouvi de tudo sobre a vagina, assim como minhas colegas. A melhor de todas: “A mulher é a parte chata da buceta”. Era dita por um homem inteligente e realmente gentil, que acreditava estar fazendo uma graça com colegas “sem frescura”. Nós ríamos para não sermos “a parte chata – e ainda por cima sem humor – da buceta”. Toda vez que escrevo algo que contraria algum grupo, como determinada polícia, recebo ameaças como: “vou te estuprar” ou “quero ver tua buceta”. Quando um líder evangélico discordou de um artigo que escrevi sobre as mudanças no Brasil provocadas pelo crescimento das igrejas neopentecostais, ao dar uma entrevista para o New York Times, entre todas as palavras disponíveis para me definir, ele escolheu esta: “tramp”. E lá estava eu, tomando café tranquilamente num sábado pela manhã, na minha casa, com minha família, quando o telefone começou a tocar: “Você viu que foi chamada de vagabunda no Times?”.
Assim é. Hoje, agora. E não me parece que a resposta para a violência naturalizada contra a vagina e o desejo sexual feminino seja transformar-se numa atleta sexual com orgasmos performáticos. Este é possivelmente um padrão para o consumo e para o mercado, muito mais à imagem, também estereotipada, do que seria um comportamento masculino na cama. Soa como uma resposta à repressão histórica, mas na prática está mais para uma embalagem palatável e enganadora para a mesma repressão, na medida em que não deixa de ser mais uma tentativa de controle sobre o corpo e o desejo feminino. A imagem da atleta sexual, determinada e agressiva, pode ser só uma outra prisão para as mulheres. A vagina e o desejo feminino, diferentes em cada uma, são muito mais complexos e potentes do que isso. Vale a pena lembrar que, na pornografia, a mulher que expõe sua vagina, seu ânus, sua nudez em cada detalhe e em close é aquela da qual menos sabemos.
Por tudo isso Evelyn, Casey e Naomi são tão importantes. O livro de Naomi costuma peregrinar por diferentes seções das livrarias, da pornografia a assuntos gerais, já que parece não haver lugar para encaixar a vagina. Evelyn precisou abrir uma galeria para conseguir expor suas fotos com sangue menstrual. E as matérias sobre Casey, na internet, em geral são colocadas em seções da vida “bizarra”, misturada a outras “bizarrices” como, por exemplo, vender carne de rato. A revista Time, que teve a clarividência de colocar sua performance como “arte”, decidiu fazer um título engraçadinho: Not Available on Etsy: This Woman Knits With Her, Uhhh Yeah (em tradução livre: “Não disponível na Etsy: esta mulher tricota com sua, hããã... Isso mesmo”) Sim, a vagina parece continuar impronunciável.
Quem escreve sempre tem um desejo. O meu é que talvez, em vez de dizer “que nojo!”, ao ler este texto você contenha a agressão ou a piada, sempre mais fáceis porque calam a possibilidade de reflexão. E comece a pensar sobre a vagina e o papel que cada um de nós desempenha, tanto nos atos quanto nas palavras quanto nas omissões, mesmo naqueles comentários que você acredita ser apenas uma mostra de humor, na reprodução de uma cultura de estupro e morte das mulheres. Morte física, mas também psíquica e criativa. Morte do desejo. Uma cultura que tem se ampliado e alcançado parâmetros novos com o poder de difusão da internet.
Se a violência contra a vagina tem aparecido – e em alguns casos aumentado – em diferentes espaços da sociedade, é legítimo pensar que o ímpeto de fortalecer a resposta repressiva ao desejo feminino possa revelar que as mulheres estejam assumindo um controle maior sobre seus corpos e a sua sexualidade. Neste sentido, a necessidade de fazer vítimas seria uma reação ao fato de as mulheres se recusarem com maior veemência a ocupar o lugar de vítimas. Nesta hipótese, a “Marcha das Vadias”, que começou no Canadá e ganhou o mundo e também o Brasil, é um exemplo contundente de uma ação feminina que desloca o imaginário, ao se apropriar da palavra da violência e transformá-la numa afirmação de potência, embaralhando a lógica machista. Mais uma vez, a vagina vive tempos turbulentos. Que são tempos de violência, já sabemos. Que sejam tempos de libertação, depende de nós.

Publicado hoje no jornal EL PAIS
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Eliane Brum é escritora, repórter e documentarista. Autora dos livros de não ficção A Vida Que Ninguém vê, O Olho da Rua e A Menina Quebrada e do romance Uma Duas. Email: elianebrum@uol.com.br . Twitter: @brumelianebrum

sábado, 7 de dezembro de 2013

Sobre o esquife do Mandela II.

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Encontrei o mendigo K., na escada rolante da rodoviária. Estava furioso no meio daquela barulheira e daquelas imagens pré históricas, com gente levando malas na cabeça, sacos e bujões de gás nas costas, mendigos e aleijados para todos os lados, filas, máquinas lambe-lambe, pasteleiros, os ônibus cobrindo todo mundo de fumaça, policiais de todos os tipos, gente comendo nos degraus, bandidos disfarçados de papai-noel, vendedores de contrabando, os cameras de uma televisão boliviana reclamando que haviam sido roubados, meninos de rua, travestis, loucos, putinhas menores de idade, gente dormindo junto às paredes, cachorros sem dono, ratazanas por debaixo dos quiosques de cana...
Arrastou-me para um lugar menos poluído e esbravejou: 
- Não posso acreditar! Por favor, chame o SAMU que alguma coisa de muito grave deve estar acontecendo com meu cérebro! 
Viu o que os jornais estão noticiando? A nossa presidente vai ao funeral do Mandela e vai levar com ela, sabe quem? O Lula, o Fernando Henrique, o Sarney e o Collor! Você acredita numa coisa dessas? Que relação doentia e exagerada com o poder e com a morte! De onde advêm essa espécie de furor funerário e místico???
Deu um soco na parede e continuou.
 Não é possível! Alguma coisa de grave deve estar acontecendo! 
Imagine: o país nessa merda toda e os cinco batendo papo e dando gargalhadas lá nas alturas, no meio das nuvens como verdadeiros nababos, cada um narrando sua saga pelo poder, espichados nas poltronas confortáveis do Boing, bebericando Martinis, mastigando damascos e olhando com impudor pela janelinha para esta pobre terra de panacas, de eleitores porras-loucas, ébrios de desgraças e de submissão!!! Não, não é possível! Não tem sentido enxovalhar assim os sonhos das massas! 
O que aconteceu com nossa dignidade? O que foi feito com nossa autocrítica? Cade nosso bom senso? E nossa tupiniquim vergonha na cara? Vão fazer o quê lá? Assistir a uma missa? Não há um único ombudsman no Palácio..? Bah! O próprio Mandela deve enojar-se com essa encenação cretina e carnavalesca! 
E depois.., pensando bem.., uma missa!? Não parece uma burla? O que os negros têm a ver com missa? Só falta ser rezada em latim perdulário e pelo papa argentino! Me diga: o que os africanos têm a ver com missa? Por que abandonaram suas crenças milenárias? Por que o suposto fim do apartheid não lhes devolveu suas verdadeiras crenças e tradições??? 

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Sobre o esquife de Mandela...

"Ninguém predica em nome de Marco Aurélio: como não se dirigia mais que a si mesmo, não teve nem discípulos e nem sectários..." Cioran

Prestem atenção como quando morre um homem do porte de Mandela, se forma rapidamente pelo planeta a fora uma onda de hipocrisia e de demagogia impressionante, como se se tratasse de fiéis e de discípulos fervorosos daquele que morreu, e como se seus ensinamentos estivessem prestes a transformar o mundo num paraíso. No caso específico desse líder africano, como se todos os apartheids do mundo tivessem sido abolidos, como se os racismos e as segregações fossem coisas do passado. Pura demagogia! E não seria de causar espanto a ninguém se na fila dos bajuladores aparecessem inclusive os chefes da Ku Klux Klan e os gerentes dos neonazis... Até mesmo os hipócritas que ficaram em silêncio durante seus vinte e tantos anos de cadeia surgem nas sacadas de seus palácios com frases de efeito. Políticos ladrões segregacionistas e corruptos lamentam e até deixam correr lágrimas diante do fato, escravocratas modernos, tiranos disfarçados, racistas enrustidos... todos participam do minuto de silêncio diante da morte desse homem que, apesar da aparência de bonheur, deve ter colecionado traições, mentiras e covardias de todos os tipos.
E depois, apesar de Mandela, a África inteira continua um horror de subdesenvolvimento, a América latina é uma miséria só; a Ásia abriga milhões e milhões de párias e de desgraçados, as periferias das grandes cidades ocidentais são verdadeiras cloacas, o Brasil está mergulhado num festival de misérias e de homicídios, cada um mais escabroso que o outro, as penitenciárias e os hospícios do planeta estão transbordando... E há dois anos o mundo e esses farsantes que dizem lamentar a morte do Mandela assistem impassíveis a mortandade na Síria...
É uma ilusão e uma infantilidade achar que destruir o apartheid exterior significa livrar-se do apartheid interior. A espécie é bipolar e feroz. Se move como uma gangorra, ora nas nuvens, ora nos abismos. Tantos suspiros e tanta comoção é sempre suspeita. Lembra aquilo que os psicólogos chamam de formação reativa...
 Mas, independente disso, todos os farsantes profissionais querem ir ao funeral, gostam de ver-se lá, de paletó e de óculos escuros jogando uma rosa sobre o esquife. Precisam sair bem na foto, ganhar as próximas eleições, fazer parte da história, mesmo que seja como ratos entre duas vigas...

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Excelência, e se seu nome estiver na lista dos travestis...?

[...O que os homens dizem não se escreve, e só vos chamarão esses nomes feios enquanto lhes não tapardes a boca, esse buraco caluniador, com libras em oiro, ou na sua falta, com moedas de cinco tostões...]
Vautrin, na Comédia Humana, de Balzac


Excelência, e se seu nome estiver na agenda dos travestis? 
Esse é o bullying do dia por aqui, tanto entre os executivos e políticos como entre outros pretensiosos pés-de-chinelo. Refere-se a operação policial que nesta madrugada enjaulou uma dúzia de rufiões, cafetões, cafetinas e etc., que negociavam corpos e genitais na cidade. Observem como quando se trata de prostituição todo mundo tem a sensação de estar afetiva e familiarmente envolvido e como todo mundo fica meio excitado. As mães ficam logo apreensivas e com medo de ver nos noticiários a foto das filhas e até dos filhos pulando a janela de algum lupanário. A mídia se apressa em noticiar intimidades, falam logo em modelos, princesas, vadias que foram capas de revista. Especulam sobre  marcas de carros, mencionam nomes, dizem que o fulano já comeu esta ou aquela, que o cachê vai de 5 a 10 mil reais, que há também travestis e transsexuais metidos na história e, claro, que agendas com dezenas e dezenas de nomes de clientes estão nas mãos da polícia... muitos dos quais, aliás, que até gostariam que seus nomes fossem divulgados... 
Cada porteiro de prédio e cada entregador de pizza ou de gás conhece a história de pelo menos um prefeito, um governador, um vereador, um líder eclesiástico ou de outro personagem republicano qualquer que vem lá dos cafundós da pátria para Brasília com o pretexto de discutir projetos sociais, de "capturar recursos", de propor "emendas" para "sua gente" e para seu estado etc.., mas  que, cuando desciende la noche sobre los pórticos de la inocencia, com outros membros do conhecido proletariado de bacharéis, cai na gandaia e na ficção da "alta putaria" e paga, com dinheiro que não é seu, verdadeiras fortunas para estar efemeramente nos braços dessas simpáticas malandrinhas de aluguel. 
Verdade ou mentira? 
Sabe-se que há muita mistificação, muita alienação, muito exagero, muita ficção e muita encenação feita sob medida para visitantes e otários desse naipe.., coisas que lembram além das sinuosidades e meandros coloniais apenas o atavismo de máfias!

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Novos esclarecimento sobre nossas origens... Ou, no Princípio não era o Verbo como queria João, mas sim o porco!!!


Eugene Mc Carthy, geneticista da Universidade da Geórgia, com um pós doutoramento na área de hibridização de animais, acaba de declarar em um site científico algo que, por intuição, sempre acreditei: "os humanos são frutos do acasalamento entre o chimpanzé e o porco".
Sinceramente, quem é que 
olhando-se com calma no espelho, de costas, de lado e de cócoras, não identifica lá, no meio dos disfarces, muitas características suínas?
Além de todas nossas conhecidas semelhanças com os chimpanzés, observem como a pele sem pelos, nossa espessa camada de gordura subcutânea, os olhos claros, os narizes protuberantes e os cílios pesados são genuínos atributos dos porcos... 
Essa notícia, que pode até assustar e decepcionar muitos narcisistas, traz um alívio para os filósofos, pois finalmente se começa a entender as razões de todas as nossas insistentes tentativas de transformar o mundo numa pocilga...
A curiosidade maior, agora, está em saber se foi o porco que comeu uma macaca ou se foi um chimpanzé que papou uma porca...