"Eu sou um farmacêutico sem farmácia; e tu és a nota mundana da minha farmácia imaginária..."
Pitigrilli
Estou cada dia mais grato e mais admirado com a eficiência e resistência de minha máquina de lavar. Lençóis toalhas, cuecas, trapos de todos os tipos... Praticamente durante dois anos, duas vezes por semana, com qualquer tipo de sabão, realizando seu trabalho sem queixar-se e sem apresentar nenhum sintoma. Todos os botões, as mangueiras, os parafusos, as hélices, os pés, o rebolado, tudo funcionando. Impressionante!
Por outro lado, estou cada dia mais decepcionado com a linguagem, com a comunicação e com a honestidade intelectual. Ouvi ontem as 6 horas do interrogatório na CPI, do contra-almirante da marinha e diretor geral da ANVISA. Um sujeito competente e lúcido. E mais tarde, nos jornais da noite e nos canais alternativos ouvi as reportagens sobre o tal interrogatório. Tudo distorcido! Meias verdades! Verdades falsificadas! Distorções de seita, foco exagerado num detalhe, pouca luz em outro detalhe. Uma prostituição da linguagem! E não estou me referindo a estagiariazinhas não, mas a putas velhas que até se orgulham de já ter gerenciado redações de grandes oligopólios... Seria apenas por mau caratismo, transtorno de personalidade e por desonestidade intelectual, ou por realmente terem entendido daquela maneira? Algum distúrbio cognitivo? Mas de que natureza? Problemas inconscientes? Mas instalados em que idade? Uma palavra, uma frase, um assunto que no contexto teve peso 2, nas noticias era dado com um peso 8. Já, o que no interrogatório teve tempo 8, nas reportagens foi ignorado... Na essência, tudo falsificado. Incrível. E todas as reportagens colocaram foco no caso da bula da cloroquina. No suposto delírio de uma médica japonesa de "alterar a bula da tal hidroxicloroquina" e na vacina russa. Impressionante a falsificação e a adulteração, não apenas das palavras, mas até das intenções... E tudo isso em plena epidemia!, o que nos dá a certeza de que depois que toda essa merda passar, continuaremos tão ftp e tão mentirosos como antes... Que miséria! (Mas reconheço que aprendi o significado da expressão off label)
Se o interrogatório de 6 horas acontecido ontem, foi distorcido dessa maneira, imaginem então como vieram sendo construídas e escritas, as parábolas, e as histórias dos 6000 anos que nos precedem e principalmente os assuntos relacionados a milagres e à gênese do mundo... Imaginem a descrição dessa gente sobre, por exemplo, os jardins de Hiroshima ou das noitadas de Nero (!)... De onde nos vem essa necessidade de, a todo momento, flertar com a mentira? Essa incontrolável atração pela mitomania? Eu, que sempre defendi a idéia de que tanto os ginecologistas, como as mães e como os policiais, antes de ingressarem em suas atividades e profissões deveriam passar por uns cinco anos de psicoterapia, agora entendo que o mesmo deve ser exigido também aos jornalistas. (Para entender a importância de minha recomendação, lembrem do caso do Roger Abdelmassih, lá em São Paulo. Revejam o caso do pequeno Henry lá no Rio de Janeiro e do pequeno Gael de Freitas, de 3 anos assassinado ontem em São Paulo. Sobre a polícia, é só rever as imagens lá da favela do Jacarezinho...)
Aliás, falando em interpretação errada ou distorcida, quem é que não se lembra da historinha que a tia contava lá na pré escola a respeito da descrição daqueles três cegos apalpando um elefante?
Discutindo este assunto com o Mendigo K, ele me lembrou, no meio de muito cinismo, a história de um pastor, um padre e um rabino, num barco salva-vidas, "que decidiram dar graças a Deus por terem escapado do naufrágio. Mas que o texto de suas respectivas orações era diferente. 'Entretanto há de haver um ponto de contacto, nas nossas três liturgias' - disse o padre - . Naturalmente, aprovou o pastor. Rezemos esse. Sim - apoiou o rabino - . O ponto de contacto é a coleta de esmolas..."
E la nave va... Provavelmente se dissolverá como o foguete chinês, ao reentrar na atmosfera...
É por isso que as máquinas, aos poucos, irão substituir os seres humanos.
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