[... O Tribunal diz: "Se eu errar, a Apelação reparará."A Apelação diz: "Se eu errar, a Cassação há de remediar."E a Cassação diz: "Não há vícios de forma.] P. (Página 216 de uma de suas 37 obras)
Quem achava que o ex-Ministro Pazuello era um bobalhão que mal sabia o que estava fazendo, hoje, ao vê-lo diante dos senadores dando nós em pingos d'água e construindo paradoxos e sofismas teve que rever seu conceito.
A tal "oitiva", que durou praticamente todo o dia, foi um show à parte. Mas ninguém pode negar que, mesmo não estando vestido com sua roupa de general, o tratamento que recebeu foi mais cordial do que o das testemunhas que o antecederam. Quando chegou ao auditório, por exemplo, quatro inquiridores transbordando simpatias e pisando em ovos, foram a seu encontro de braços abertos. Um deles, até esteve rouco durante todo o trabalho. Normal! Todos sabemos que no Brasil, desde os tempos das caravelas, os padres, os generais, os advogados e os médicos sempre foram merecedores de uma deferência e de uma benevolência especial. (coisas de lusitanos!)
Começou fazendo um histórico de seu curriculum. Uma curiosidade: Nasceu em Manaus, de uma mãe gaúcha e de um pai judeu. Quem é que poderia imaginar que uma mulher gaúcha iria encontrar e casar-se com um homem judeu lá na beirada da selva Amazônica? Fez carreira militar nas mais conhecidas escolas, chegou a ser general e entrou numa fria ao aceitar o cargo de Ministro da saúde, no meio de uma pandemia que desmascarou o sistema sanitário do mundo, e que pelo jeito entrará para a história como um desastre parecido ao da gripe espanhola de 1918...
O tamanho de seus olhos pareciam diminuir quando os lançava sobre a platéia que, ele sabia, pretendia responsabilizá-lo pelas quase 500 mil mortes da pandemia... Quando, logo de inicio, mencionou que tanto sua mãe como seu pai haviam morrido recentemente, entendi que se tratava quase de uma capitulação, quase um pedido de compaixão. Mas que não foi atendido. Na primeira meia hora tudo parecia ir bem. Com os níveis de testosterona normais, não fazia o jogo dos inquiridores e parecia convicto de suas respostas, apesar delas, na sua maioria, não coincidirem em nada com os ofícios, os videos, os cartazes, os papeis e outras provas que os senadores exibiam em frenesi. As datas! As malditas datas! E o chamaram de mentiroso várias vezes. O que deve sentir um general ao ouvir uma acusação destas, sabendo que a caserna inteira o está assistindo? Eu o escutava enquanto ia pensando: "nunca deveríamos obrigar alguém a mentir, perguntando-lhe sobre seu passado..."
E quando o ex-ministro mencionava os bilhões que foram enviados para a pasta de saúde de seus estados, todo mundo revirava as nádegas nas cadeiras e as pupilas se lhes dilatavam...112 bilhões! 122 bilhões? E saber que o sistema de saúde nos estados continua sucateado... Penso: com esse dinheiro poderíamos ter, no país inteiro, Centros Clínicos superiores aos da Noruega.
Toda vez que tirava a máscara para esvaziar o copo que lhe havia sido colocado à frente, o mendigo K me cochichava: Está vacilando! Um general não pode ser ingênuo a esse ponto. Numa situação destas se tem que trazer uma garrafa de água de casa. Lembra de Sócrates? Foi assim que lhe administraram a cicuta...
Os que conhecem a estrutura dos serviços públicos no país, em geral, mas principalmente a dos órgão de saúde, quem conhece o surrealismo e o amadorismo geral nestas áreas, tinham uma certa tendência em acreditar em suas explicações... Mas não era o caso de quem o interpelava. E, para fragiliza-lo, falavam das famílias dos mortos pela pandemia e lhe atribuíam a responsabilidade por toda mortandade... Realmente, algo abominável para um general, mais ou menos como acusa-lo de ter levado sua tropa para uma emboscada...
Meio em desespero, começou a praticar uma espécie de mitomania... O que, aliás, nossa burocracia e nossa política é quase uma chocadeira desse transtorno... Recebia flechas de todos os lados e foi se desmanchando aos poucos.
Não vi o final, mas dizem que adoeceu, que teve uma indisposição, uma hipoglicemia, uma tontura, uma ameaça de síncope, uma falta de OXIGÊNIO, e que, por ironia, teve que ser "socorrido" e logo por um daqueles senadores, médico que o havia estado olhando por horas com uma antipatia incontida... Todos fingiam preocupação e, com um certo sadismo, arriscavam dar seu diagnóstico. Síndrome vasovagal! Que porra é essa?
Algum colega tem um oxímetro aí?
O Mendigo K era o único que afirmava: Bazzo, todo desmaio é sempre uma defesa psíquica do sujeito; um truque para sair de cena quando a situação interna ou externa é intolerável...
A reunião foi cancelada. Todos aqueles engravatados saíram, uns segurando o cotovelo dos outros e cochichando... Sabe-se lá o que!
Foi o primeiro Round, ouvi de uma excelência! Amanhã será o segundo... Mas, pelo que parece, não houve ganho algum para a pátria e nem para o Zé da esquina... Uma velhinha espírita que está sempre por lá patrulhando os espíritos e que jura que a cloroquina faz milagres, afirmava em voz alta a um senador, que durante toda a sessão ouvia os quase 439 mil mortos que davam longas gargalhadas por trás das cortinas de fumaça do mundo...
E de longe, bem de longe, vinham as batidas dos bumbos imaginários... como se estivessem insistindo que tudo isso é um horror reacionário e que diz respeito a uma humanidade que não vale e que não merece absolutamente nada...
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