"O diplomata é o último representante duma tribo nômade, à qual o mundo moderno ainda concede a liberdade de perambular com enfeites de penas na cabeça..."
Bernard Shaw
Realmente há alguma semelhança, mas, neste confinamento, como perder o espetáculo que a CPI está nos proporcionando? Sabe-se lá quando é que haverá outra epidemia? Não é?
Na reunião de hoje, o inquirido foi um ex-chanceler, de nome Ernesto. Como é que deixaram um cara chamado Ernesto ser chanceler? Também foi pisoteado. Só não lhe deram uns tapas por pouco. Duvido que quem já passou por uma prisão não tenha identificado de cara naqueles inquiridores algo dos alcaguetes de policia nos fundos de uma cadeia. Uma lástima e uma deslealdade! O papel do Presidente da mesa junto ao declarante, também lembra o ritual nas cadeias, um pouco antes do preso ser interrogado e torturado. Segundo ex-presos, lá no horror das cadeias, sempre chega um policial "bonzinho" dando conselhos e fingindo se solidarizar com o suspeito: Amigo, conheço sua trajetória! Não minta! Diga só a verdade! Todo mundo aqui quer o seu bem! Diga a verdade! Não manche a sua história! Preserve seu curriculum.
Tudo bem, é o jogo de uma civilização perversa e desmoralizada... e depois, não é lá muito legal mentir, não é? Mas esse jogo é muito desleal. E há um senador de voz estridente que quase entra em surto quando interroga o suspeito. Com certeza, quando deixar de ser senador será convidado por mais de uma delegacia de policia do país para as sessões de interrogatório. Melancólico & abominável! E, no meio de todo esse frenesi, praticamente ninguém mencionou, verdadeiramente, os 440 mil mortos...
Brics; OMS; ONU; Olavo de Carvalho; Spray nasal; Covax Facility; Genebra; muitas reuniões em Genebra... Um resort nos Alpes! Uma xícara de chocolate fumegante e uma balzaquiana enfiada em sua pele de raposa indo buscar a filhinha de 18 que está esquiando em Haspen... Quem é que não gostaria? E a cloroquina retorna à cena. Mas Dr., é apenas um remédio para malária! Os gerontocratas insistiam em saber a "intenção" de um artigo escrito pelo interrogado: O comunavírus. E por qual motivo ele amava mais os EEUU do que Pekin? Mais ao Trump do que ao Xi Jimping? O ex chanceler fazia de tudo para tentar desviar a rota descarada dos senadores, mas não domina adequadamente a linguagem como é de praxe entre seus congêneres. (Penso em Pablo Neruda, em Guimarães Rosa, no Octavio Paz, no Vinícios de Morais e em uma centena de outros vivaldinos que passaram a vida de embaixada em embaixada, tomando champanhe, indo às boulangeries e escrevendo poesias...). Mas o Ernesto não consegue dar ênfase a uma ou outra inverdade como os grandes profissionais. Além disso, sabia estar cercado por especialistas no ramo. Citou um autor italiano que não consegui identificar e até mesmo o guru atual dos intelectuais da PUC: Slavoj Zizek. Tudo em vão. Penso numa definição antiga de diplomata: "Um homem investido na função de evitar os conflitos que não existiriam, se não houvesse diplomatas..."
Mas o ataque mais radical feito ao tal Ernesto, foi feito pela porta-voz da bancada feminina que o desqualificou sem perdão.
Enquanto ela ia lançando contra ele um ataque legítimo, mas desproporcional, eu pensava num texto escrito pela famosa escritora francesa Gabriele Colette, filha de um veterano de guerra, com o titulo: AQUELES DIAS. Escreveu a senhora Colette: "Durante um período mínimo de três dias - que se repete, com intervalos regulares, doze vezes por ano - a mulher deixa de ser mulher. É uma escrava periódica. É uma criatura desequilibrada, exasperada. Eu estremeço, lembrando-me de que, numa comissão parlamentar ou num júri, uma revolução importante para o Estado, ou para a vida de um homem, possa depender de uma mulher possuída pelo demônio fisiológico..."
Quando a nobre senadora concluiu seu ataque, o câmera deu um zoom sobre o pobre Ernesto, que estava reduzido a um menino de cinco anos de idade que havia sido surpreendido brincando com o pintinho de um amiguinho no banheiro...
A quarta-feira parecia interminável, e ao longe, ainda se ouvia as batidas de um bumbo imaginário...
Volto às lições de Kant sobre o direito de mentir...
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