A coisa, socialmente, está tão grave por aqui, que há até gente fingindo que é do PCC e que poetas vêm sendo esculachados e arrastados para fora dos vagões do metrô por estarem ali vendendo suas poesias e, - segundo os vigias - com suas rimas, enchendo o saco dos passageiros... Mas, o curioso, é que a aboboreira ali em baixo de minha varanda, continua florindo no seu ciclo secular, sem dar mostras de nenhuma afetação. Das 6:00 da manha até às 8:00 suas flores estão sempre exuberantes, com um amarelo de gema de ovo. Depois, quando os raios de sol começam a alcança-las, vão se intimidando, se desbotando, passando malandra e sedutoramente pelos 100 tons do amarelo; se fechando sobre si mesmas, ocultando com um certo pudor seus androceus e seus gineceus e, por fim, fazendo-se de mortas, para, amanhã cedo, voltarem a exibir-se novamente. Sim, sei, é o teatro e a pantomima das ervas...
E minha relação afetiva com essa planta é de tal complexidade, que um dia cheguei até a ouvi-la dialogando e aconselhando uma outra, também rastejante e mais jovem, de sua espécie, dizia: Se te entregas logo, o amor durará um dia; se te negares sempre, o amor será eterno...
Um dos livros que mais me fascinaram na infância e mesmo depois, nas universidades, quando fingia estudar outras coisas, foi exatamente A vida secreta das plantas. Lembro, com um certo fascínio, que nas manhãs geladas e vagabundas daqueles tempos, lia também e com o mesmo entusiasmo, A vida secreta das pedras.
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