segunda-feira, 31 de maio de 2021

Cachaça, maconha e futebol...

Uma semana depois do Papa argentino ter "reclamado" que no Brasil se bebe mais cachaça do que se reza e do Bolsonaro referir-se às manifestações contra ele ocorridas no sábado, como tendo sido uma manifestação de falta de maconha, hoje, pateticamente, o Brasil, caindo na malandragem da Colombia e da Argentina aceitou idilicamente, sediar por aqui a tal COPA AMÉRICA. Esse passatempo de tapados... (E, o mais grave, é que são tapados de todas as ideologias... Que no âmbito da estupidez somos todos bundões e ambidestros...)

E o absurdo é de tamanha grandeza, que até os três ou quatro canais de televisão e de rádios que estão há décadas (com seus influenciadores e tratadores de zoo) domesticando, entorpecendo e idiotizando a população com futebol, -  essa espécie de crack vagabundo -, estão escandalizados. Caralho! Será que o Papa, o Bolsonaro e os argentinos teriam razão? Somos então um país de obnubilados? De idiotas que não saberíamos viver sem cachaça, sem a erva e sem futebol? 

Com uma epidemia que promete lançar-se sobre nós através de mais  uma meia dúzia de ondas; com a vacinação indo a passos de paralíticos; com os cientistas envergonhados, dando entrevistas em falsete de suas casas, com meia dúzia de estatuetas de santos na retaguarda e com o santificado SUS derretendo e até entrando em combustão espontânea, o que é que essa gente está verdadeiramente querendo? E algumas autoridades, para justificar o absurdo, voltaram a garantir que se os jogos ocorrerem aqui no país, "todos os protocolos sanitários e preventivos serão cumpridos nos estádios!" Ora, é mais ou menos como saber que uma profissional de bordel está no auge de uma infecção grave e, ao invés de interditá-la, pedir aos clientes que tenham cuidado; que usem camisinha, que evitem penetrações demoradas, que sejam o mais breve possível e que se lavem com Violeta Genciana... Ora, isso é uma idiotice!

Queremos ir aos estádios! 

Queremos desanuviar o espírito!!! Mas que espirito? 

Não, não dá mais para ter ilusões: os que parecem estúpidos o são realmente!

Bem que a epidemia poderia ser um pretexto para congelar essa psicopatologia coletiva por uns vinte anos; para obrigar os larápios  a devolverem o dinheiro que desviaram na construção desses coliseus e, para em seguida, aproveitando a grama, transforma-los em apriscos e currais para ovelhas, vacas e búfalos...

Estariam bebendo demais? Fumando fora do recomendado ou só pensando na última jogada do ponta esquerda de seus times?

Bah! Estou cada dia mais convicto de que quando, finalmente, chegarmos no inferno, tudo para nós lá, até as labaredas, nos parecerá extremamente lógico, harmonioso e até revolucionário...

A noite já despencou sobre a cidade. Além dos rufar dos tambores lá longe, bem longe, e de um cheiro de castidade que não sei de onde vem, passam por cima de minha casa duas ou três estrelas nômades e perdidas...




Jessy Martens...

sábado, 29 de maio de 2021

Meu correspondente em Buenos Aires e os trambiques com a Pfizer...



 Meu correspondente em Buenos Aires, tomando um capuchinho com uma medialuna numa esquina da Calle Corrientes, me informa que também lá o contrato de vacinas do governo com a Pfizer está sendo problemático e que a população porteña em geral, o repudia porque o considera, nos termos em que está sendo proposto, um descarado cambalacho.

Curiosamente, além da Argentina, da Índia, e do Brasil, pelo que se sabe, ninguém mais esperneou e ninguém se negou a assinar um contrato que o Pazuello classificou de "leonino". Leonino? Muito mais do que isso! Só mesmo os idiotas, os pamonhas e os lambe-botas internacionais poderiam assinar um contrato desses; aceitar aquelas cláusulas. Lembra delas? 

O Terceiro Mundo, apesar da alienação doentia a que está submetido, não esquece um velho ditado latino: "quem te fez uma patifaria, repetirá a façanha..."

Uma curiosidade: quem rejeitou, ou pelo menos contestou o contrato naqueles termos, fomos nós, os brasileiros; os argentinos e os indianos. Gente acostumada a "dar nó em pingos d'água". Sinal de que nos resta, pelo menos, além da malandragem, um pingo de dignidade.

E você, com essa cara de bunda e com essa personalidade de subalterno, que continua fazendo demagogia sobre esse assunto, seja você milionário, novo rico ou um pé de chinelo qualquer, duvido que se for à farmácia da esquina comprar um rolo de papel higiênico e observar que na embalagem o fabricante se exime de qualquer responsabilidade caso seu uso venha a lhe causar bolhas inter glutia ou irritação nos grandes lábios, duvido que você o compraria. Mesmo tendo que pagar por ele apenas 3 reais... É exatamente a mesma coisa, seu babaca!

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Em tempo: e que isto nos sirva para lembrar que é uma sandice e uma idiotice ficar se pavoneando por exportar porcos, frangos e soja, para os gorduchos dos impérios, quando, frequentemente, temos que implorar, de quatro, pela importação até de aspirinas...

 


 

sexta-feira, 28 de maio de 2021

A máscara da morte rubra (E.A.Poe)

Meu correspondente do Rio de Janeiro, acaba de enviar-me o conto: A máscara da morte rubra, de Edgard Allan Poe. Leia. Está disponível em pdf.

quarta-feira, 26 de maio de 2021

Enquanto o Papa chamava os brasileiros de "cachaceiros sem salvação", ali na Colombia, os manifestantes tocavam fogo no Palácio da Justiça...




"Mas o que é horrível é o sentimento de ter perdido tanto tempo e ter feito toneladas de esforços por esse bando horroroso e diabólico de bêbados, filhos da putas e puxa sacos..."

Céline (Norte)

Neste começo de noite, o assunto ali na esquina, entre paus d'água, gardênias e boleros, era a brincadeira que o Papa argentino fez hoje, lá no Vaticano, a respeito do povo brasileiro, ao dar uma benção a um padre da Paraíba. 

-Ah, vocês no Brasil não terão salvação!  Fez uma cruz com o dedo polegar na testa do padre paraibano e concluiu: Muita cachaça e pouca reza!

Foi uma brincadeira simpática. Mas o que todo mundo queria saber era o que o teria levado a fazê-la?? O que, realmente, o teria motivado? Lembranças das noites de tango nos arredores de Buenos Aires? Teria sentido o bafo de nosso reverendo? Ou foram as noticias que lhe chegam sistematicamente através da imensa rede de espionagem que são os confessionários? Estaria mentalmente revendo o pensamento de Celine?

Não, não dá ainda para saber o que motivou a fala do pontífice. Mas os clientes do bar estavam um pouco desgostosos com a piada. Com toda a sensibilidade que conhecemos nos bêbados e com toda a compulsão por encrencas que o álcool provoca, diziam-se magoados e ofendidos. Um deles declarou em voz alta: o que mais me enfureceu nem foi a brincadeira do Papa, mas a submissão do padre paraibano ao pedir-lhe que rezasse para o povo brasileiro. Um vira lata sem testosterona! Um outro, até, para fazer um contraponto ao Principe dos apóstolos, tirou do bolso um rosário que, segundo ele, sua mãe havia trazido de lá e o colocou sobre a mesa, no meio dos copos vazios e ensalivados. E jurava rezar, bêbado ou não, todos os dias antes de ir para a cama e até mesmo antes de fornicar e brincar libidinosamente com sua mulher.... Os outros riam. Lançavam impropérios contra o representante de Deus no ocidente e até fizeram um brinde em sua homenagem. O cheiro da cachaça nos remetia aos alambiques lá no meio dos canaviais de Salinas... O mais tímido deles, que dizia estar em tratamento (complicações de Wernicke) e que só bebia de vez em quando, retirou do bolso interno de um casacão tipo aqueles dos militares russos um livro em péssimo estado e o colocou sobre o rosário e a mesa molhada. Tratava-se do livro Carta a uma nação cristã, de Sam Harris, com prefácio de Richard Dawkins.

Conhecem? Foi perguntando aos demais. Ninguém respondeu. Todos deveriam lê-lo, recomendou. 

Em seguida, meio irritado, abriu o livro e leu teatralmente estas seis ou sete linhas  que estavam sublinhadas e que, segundo ele,  estavam lá em Provérbios; lá no Levítico; no Êxodo; no Deuteronômio; em Marcos; e em Mateus:... "Sempre que os filhos saem da linha, devemos bater neles com uma vara. Se eles tiverem a pouca-vergonha de nos responder com insolência devemos matá-los. Também devemos apedrejar pessoas até a morte por heresia, adultério, homossexualismo, por trabalhar no sábado, adorar imagens, praticar feitiçaria e etc."

Os colegas de mesa riam em total embriaguês sem saber exatamente a razão. O dono do livro, depois de voltar a colocá-lo no bolso interno do casaco, levantando a garrafa, parafraseou de Marx, sua velha e conhecida frase: a religião é a cachaça do povo!

Todos gargalharam prazerosamente.

E de lá do meio da noite ainda chegavam até o bar, o rufar impressionante dos tambores imaginários e de alguns boleros impregnados de melancolia e de religiosidade... Sem falar das labaredas queimando o Palácio da Justiça lá na Colombia...



terça-feira, 25 de maio de 2021

A Dra Maira na CPI e o caso do órgão reprodutor masculino na entrada da Fiocruz...



"A esperança é uma isca que nos estende o futuro, para nos lograr mais uma vez..."

(Renato Taddeo)


Voltamos à CPI. 

Os rituais são sempre os mesmos. Hoje foi a vez de uma médica do Ministério da Saúde que apresentou um curriculum de fazer inveja.  Mesmo assim, costumam chama-la pejorativamente de Capitã cloroquina. Quem pensava que bullying só ocorria lá entre as crianças do primeiro grau, passou a saber que isto também reaparece na Terceira Idade.

Logo de início ela desestabilizou o Presidente da mesa negando-se a cumprimenta-lo de mão aberta. Estamos no auge da epidemia! Em seguida se tocaram cordialmente os punhos como mandam os cientistas e os burocratas da OMS.

Para espanto da casa, o senador redator, antes de dirigir suas perguntas e ela, passou a fazer um relato de como foi o julgamento de um dos principais assassinos da Gestapo, no Tribunal de Nuremberg, detalhando, inclusive, que o referido capanga de Hitler havia se suicidado na prisão... A médica empalideceu.  A idéia macabra do redator foi uma idéia tão impertinente e tão fora da realidade que a própria conib (confederação israelita do Brasil) manifestou-se. Curiosamente, na semana anterior, outra excelência, para intimidar a um outro depoente, fez o relato do destino de outro criminoso nazi Adolf Eichman, que foi julgado e condenado à morte em 1962. Naquele dia, o fato causou tal espanto na Comissão a ponto de decidirem que a menção àquele bandido fosse excluída das notas taquigráficas...

Enfim, como estavam ali diante da "capitã cloroquina", naturalmente voltaram a falar da cloroquina. Faz milagre? Não faz milagre nenhum! É anti-viral ou anti-protozoário? Enquanto a discussão ficava nesse tema parecendo não ter fim, eu ia lembrando que Lutero, em sua época, para problemas neurológicos graves, recomendava a ingestão de pequenos fragmentos da própria caca do paciente, pela manhã. Bioética; neonatologia; Goering; E a variante que pode ter vindo do Ganges; Metanálise... (o que é isso?) In VITRO (o que é isso?) Medicamentos of label. 70% dos medicamentos que estão nas farmácias são of label e só servem para os presunçosos! (Mas o que é isso?) E a imunidade de rebanho. Rebanho? Ora, estão insinuando que isto aqui é um aprisco? A senhora sabe diferenciar um vírus de um protozoário? Disparou o senador e médico lá da terra do Gregorio de Matos. Mas tudo com suavidade e dentro da ética corporativista. (pero, no mucho!). Data vênia., mas quais são suas fontes? A OMS? Mas a OMS, excelência, durante a crise do HIV chegou a orientar que as mães contaminadas continuassem amamentando! E o oxigênio? E Manaus? Quando ela começava a falar que a saúde lá, às margens do Rio Negro, era um fim de mundo, que encontrou ambulatórios trancados com correntes e cadeados, sem remédio, sem leitos, com 40 óbitos domésticos por dia, com pacientes que, jogados pelos corredores, a agarravam pelas pernas pedindo socorro, era imediatamente interrompida. E nas noites de luar amazonenses, lá pelos lados da Igarapé de Manaus, excelências, havia também o assobio do curupira... Eu ficava até de madrugada à janela para ouvir a acusma. Sabem o que é a acusma, excelências?  É a voz melodiosa da floresta! Seja objetiva! Gritavam irritados os inquisidores. Responda com objetividade! Aqui é 8 ou 80. Quem disse para a senhora que entre o 8 e o 80 existem outros 72 números está mentindo!

Seja objetiva! Aqui é preto ou branco! Quem lhe disse que entre o preto e o branco existem milhares de outras cores, está mentindo! Mas, excelências, eu preciso contextualizar..!

Um dos fotógrafos que circulava por lá recebeu um Whatzapp de seu editor ordenando que fotografasse o senador......... de boca aberta. Tratava-se de um senador que, entre um bocejo e outro, folheava As paixões da alma, um livro do velho Descartes...

UTIs; chicungunha; piolhos, terapia intensiva, a Pfizer e a malária endêmica... A selva com seus inocentes mosquitos! Medicina tropical! Haverá um nome mais poético e mais feminino do que este? E insistiam na tese de que o Bolsonaro, com seu desvario, indispunha e amotinava o populacho contra a vacina. Mas ao mesmo tempo circulava a noticia de que no Paraná, a ânsia para ser vacinado era tanta, que estava levando alguns estelionatários até a entrarem na fila com os documentos de gente que já havia morrido há décadas, e que em Minas Gerais estavam fazendo o mesmo, mas como se fossem senhoras grávidas...

Variante P1. A depoente relata sua experiência num hospital do Ceará que fez todo mundo lembrar dos quadros de Brughel. Seres humanos amontoados! A miséria do sistema! Um senador refere-se a situação de saúde do país como um subsolo do inferno. Teria lido a Dante? O Presidente da mesa não resiste à tentação de assumir o papel de pai e aconselha. Resmunga. Abre os braços para a platéia que se agita. A senhora defende o uso da cloroquina ou não? Quais são suas fontes? A OMS, o LANCET, outros breviários científicos mundo a fora? Dizem que houve um artigo fraudulento no Lancet! Precisamos de dados confiáveis! Diga de uma vez quais são suas fontes! Mas o planeta inteiro, com cloroquina ou não, não conseguiu evitar o desastre... Dizem que a Hungria, o México e até Cuba estão usando a maldita cloroquina... Que  fracasso para a humanidade! O que aconteceu com o mundo? Quem reparará todos esses óbitos? Quem ressuscitará os mortos? Não há milagres! A ciência, excelência, é só um aglomerado de hipóteses e de evidencias, está em auto-correção permanente... Só os mortos estão salvos. E é importante diferenciar empatia de solidariedade.

Uma das excelências, sempre antes de dirigir-se a outra costuma usar o mantra: PAZ & BEM. Quando o fez hoje e seu interlocutor lhe respondeu: QUE DEUS TE ABENÇOE, sentiu-se ironizado e protestou. Confusão de línguas! Mas, afinal, qual é a fronteira entre ironia e sarcasmo? 

Queremos trazer o Pazuello de volta. Será o terceiro round. A senhora está contradizendo o general Pazuello! Quem está mentindo? Mísseis verbais para todos os lados, mas com um cuidado extremo para que não aparecesse algum vestígio de misoginia. Os senadores do sul confundem o verbo perguntar com o verbo pedir. "Quero pedir a senhora se já foi vacinada... "

Onde está a canalha literária?

Queremos só e unicamente a VERDADE! 

A verdade, excelências? Não sejam hipócritas e parem de blefar! Lembrem-se que até Pilatos fez esta pergunta, mas retirou-se antes de ouvir a resposta! E depois, uma vez por dia até os relógios parados dizem a verdade... 

E, na frente do sr Redator, a tabuleta com o registro de 450 mil mortos, tremulava como se aquilo houvesse se transformado numa sessão espírita.

Um papo mais ou menos de bêbados tomava conta de tudo. Pesquisa para cá, pesquisa para lá. A ciência sendo tratada como se fosse uma parte do Antigo Testamento que algum ateu havia colocado em xeque ou que havia sido apagada.

O momento mais, digamos, sensual, foi quando um dos senadores questionou a depoente sobre uma suposta declaração dela, criticando a Fiocruz por esta ter se transformado num 'aparelho político'. Segundo ela, em uma visita recente que fez à referida Fundação, ficou surpresa ao deparar-se, logo na entrada do prédio, com um pênis inflável; com imagens do Che Guevara nos tapetes, cartazes do Lula e da Mariele nas paredes e com uma aura LGBT que inundava tudo... 

O que foi mais bizarro, nesse assunto, foi ouvir o Senador que a interpelava, substituir a palavra pênis por órgão reprodutor masculino. De onde lhe advinha tanto pudor? Seria um ex-seminarista? 

- A senhora confirma que havia lá, na entrada do prédio, um órgão reprodutor masculino inflável? 

A depoente, contendo o riso por debaixo da máscara, confirmou. Pensei: "O homem nunca é tão fraco como no momento em que a mulher lhe diz: 'és muito forte!'". Um pouco mais tarde, um outro senador, que disse ter feito sua formação acadêmica  lá, voltou ao assunto para esclarecer que AQUILO, não era um pênis e nem um órgão reprodutor masculino, mas uma imitação arquitetônica do prédio da Fiocruz que, sabe-se lá por quê, tem a forma de um phalo.  Voltei aos principais tratados freudianos... (em tempo: pênis, órgão reprodutor e phalo são praticamente a mesmíssima coisa. Apenas o órgão reprodutor é um pouco mais complexo!) Todos os respeitáveis senhores reprimiram o riso, também por debaixo de suas máscaras e a sessão continuou. 

De longe, de cada vez mais longe, ainda chegava até a cidade, agora repleta de ipês cor-de-rosa, mas sem esperança alguma, o ribombar dos bumbos imaginários...

Ah! Que artista o mundo perde!

"Se uma lei obrigasse os cidadãos a se apresentarem todas as manhãs, na policia, para receberem um pontapé no traseiro, nenhum faltaria; e os retardatários tomariam táxi..."(anônimo)


 Antes mesmo de sair da cama, nesta manhã de quarta-feira, recebi de minha principal correspondente, cheia de indignação, a noticia de que os jornais estão afirmando que o atual Secretario da Cultura não sai de casa sem sua pistola na cintura. Que circula pelo ministério, que despacha com seus funcionários, que vai aos chás das 5, às tertúlias e aos recitais de poesia, sempre acompanhado por sua Colt 9mm, etc.

Ainda meio entorpecido pela pequena morte que é uma noite de sono, lhe respondi: Relaxe! Enquanto for uma pistola, a coisa não é tão grave! Imagine quando for uma espingarda... 

Não satisfeito com a provocação, agreguei: E imagine quando ele for ao MASP, num  tanque de guerra, para inaugurar uma exposição de aquarelas... Ou então, quando for a um recital em homenagem ao centenário de alguma paulistana grãfina, levando um fuzil no estojo do violino...

Ela me respondeu imediatamente, com uma pergunta lacônica: fumou um?

Fiquei pensando: Há alguma coisa desconhecida e insólita no mundo da arte e dos artistas, e que não é de hoje. Seriam larápios disfarçados? Lembram da declaração clássica do assessor de Hitler que dizia puxar a pistola sempre que ouvia falar em arte?  Lembram da frase murmurada na hora da morte por um dos maiores tiranos que o mundo já conheceu: Ah, que artista o mundo perde!?

segunda-feira, 24 de maio de 2021

Os diabos da Quadra do Vilarinho, em Belo Horizonte...




Meu correspondente de Minas Gerais enviou-me uma noticia que parece ter vindo da Idade Média. Um determinado espaço da cidade, conhecido por Quadra do Vilarinho, onde a população se reunia frequentemente em festas e etc,  - diz ele - está fechado há mais de um ano porque, numa determinada noite, o vigia noturno deparou-se lá, no tablado principal, com dois demônios dançando. E parece que não se tratava de um casal, mas que eram do mesmo gênero. Sim, o diabo! Esse personagem medieval tão eclético e popular que está em todas as confrarias: existe o diabo cristão, o diabo judaico, o diabo muçulmano, o diabo do candomblé, o diabo dos ciganos, das castas e das putas, dos piratas, o diabo do proletariado, o diabo dos agnósticos, o dos escritores, o diabo dos hare Krisnas e até o diabo dos ateus... Povera gente!

E isto não é uma piada - me alerta o missivista -.  Correspondente que aproveitou para falar-me sobre o jornalista francês, meio jornalista meio padre, Georges Bernanos, que viveu em Barbacena e que, inclusive, escreveu um romance com o titulo: Sous le soleil de Satan.

Em toda Minas Gerais não há quem não conheça o caso da Quadra do Vilarinho... A cidade e arredores está traumatizada até hoje. Algumas mães, para tentar preservar a virgindade das filhas e dos filhos costumam recomendar-lhes: Nada de abrir as pernas! Cuidado com o Vilarinho! Levaram um padre, um bispo, alguns espíritas e até uma benzedeira laica especialista em demonologia, para exorcizar aquele espaço.., agora estão pensando em levar um psicanalista ou um psicólogo junguiano... mas, por precaução, está fechado até hoje e duvido que um dia venha a ser reabilitado. Tanto medo... e saber que por aí existe até uma religião satanista! Que há uma tremenda confusão entre atos supostamente divinos e atos supostamente demoníacos... Entre o suposto Bem e o suposto Mal! As duas faces de uma moeda falsificada... 

Ah!, quem é que não gostaria imensamente de entrevistar aquele casal de bailarinos e de saber o que é que os diabos em geral pensam de uma idiotice destas? Preciso voltar a ler a Divina Comédia!

Um velho sanfoneiro português, que é também antropólogo, que teve os tataravós de seus tataravós soterrados no Grande terremoto de 1700; que já atravessou o Tejo a nado; que conhece Albino Forjaz de Sampaio, que já viveu aqui no Brasil e que atualmente toca de madrugada nas ladeiras de Lisboa, ali pela a zona da baixa, me profetizava: O Brasil será destruído por suas superstições e crenças! A fé, e as crendices no Brasil são demasiadamente tóxicas e destrutivas! São uma espécie de doença auto-imune... E concluía, parafraseando um pensador italiano: Bazzo, quando topares com alguém desse tipo, mantenha uma distância prudente, porque esse mal é como a triquina: vive na carne do porco".


domingo, 23 de maio de 2021

Uma análise interessante do fenômeno Olavo de Carvalho...

A madeira clandestina que estava quase chegando à New Orleans...

Observem como os idealistas, "os que acendem cirios no altar do ideal, na maioria das vezes são subvencionados por uma fábrica de velas". P.



 



Muita gente ainda está impressionada com o gesto "ético-generoso" dos EEUU de devolver várias toneladas de madeira brasileira que entrou ilegalmente naquele país. A velhinha do mercado, que está fazendo um curso sobre capnomancia, me dizia:

Mas, meu Deus!, se você não consegue entrar naquele país nem com uma garrafa de água na mala e nem com um vidrinho de patchuli no bolso, como é que deixaram entrar toneladas de madeira? E o que teria acontecido para que resolvessem devolvê-la?

Já, o Mendigo K, ex-stalinista, resmunga desconfiado: como é que um país que teve o despudor de lançar dois artefatos atômicos sobre cidades japonesas e, anos depois, de espargir um herbicida desfolhante sobre as florestas do Vietnã, protagoniza agora um ato demagógico destes e em 'defesa' logo de uma floresta? Qual é a verdadeira intenção do Big Brother? Imagine: um consumidor inveterado de cocaína, um belo dia, resolver, por puro moralismo, devolver os papelotes ao traficante e mais, para que o ato tenha repercussão, o fazendo através do pastor de uma seita... Ninguém tem dúvida de que se trataria de uma conversão que entraria para a história universal da infâmia, como diria Borges.

A velhinha, que ouvia com atenção a tese do mendigo, completou: vamos ver quando é que vão começar a devolver os lingotes de ouro e as pedras preciosas que também saem clandestinamente da Amazônia... E quando é que o Vaticano começará a devolver a fortuna que os pobres e ignorantes beatos da América Latina lhe enviam mensalmente...

O mendigo riu e ironizou: imaginem como deve ter sido excitante para os afetados da mídia londrina e parisiense acordando às 5 da manhã para, ainda de camisola e tamancos rosa, começarem a enviar para suas agencias as manchetes hiperbólicas sobre o caso... Imaginem a adolescente lá da Noruega, convocando uma assembléia com os druidas encolhidos na copa das árvores... Imaginem os discípulos da igreja maradoniana de Buenos Aires, discutindo com os membros americanos da Amish, sobre questões ambientais... (deu uma gargalhada).

E a madeira está sendo enviada de volta para o Brasil. O que farão com ela? Deixarão que apodreça ali nos fundos da Receita Federal? Por que não aproveitam para levantar um altar ou um monumento à desonra?!

Sobre o nosso ministro do meio ambiente que está sendo acusado desse escândalo, - completou o mendigo - só tenho uma pergunta a fazer: o que se pode esperar de um ministro que, com mais de 40 anos, ainda tem uma conta bancária conjunta com a mamãe?



sábado, 22 de maio de 2021

Conchavos... rodizios... e cambalachos... na interminável espera por Godot...


A miséria, segundo Eugenio Giovannetti, é uma doença que se não for extirpada entre os vinte e os trinta anos, se torna crônica...

Nos botecos aqui da cidade, além da nova cepa indiana que aportou lá no Maranhão, não se fala em outra coisa além da frase  disparada pelo Presidente da República ao ver a imagem do Lula junto ao Fernando Henrique, insinuando uma possível chapa para 2022:  "Um candidato ladrão com um vice vagabundo!" teria bradado o Bolsonaro. O efeito, pelo menos poético & literário, foi estupendo.

Agora, está todo mundo curioso para saber o que ele teria dito se tivesse visto a foto da semana passada, aqui em Brasília, do Lula com o Sarney, no mesmo formato, praticamente na mesma posição... e insinuando a mesma parceria...
O Mendigo K, que sabe quase tudo sobre o niilismo, colocou-me a mão no ombro e resmungou parte de uma anedota bíblica: Bazzo, os dois ladrões lá do Calvário representam as duas partes da humanidade, uma das quais venera e a outra insulta a Cristo. E a diferença entre as duas é apenas aparente. Ambas estão na cruz.




 

 


quinta-feira, 20 de maio de 2021

Elegia à aboboreira... 100 tons do amarelo...




A coisa, socialmente, está tão grave por aqui, que há até gente fingindo que é do PCC e que poetas vêm sendo esculachados e arrastados para fora dos vagões do metrô por estarem ali vendendo suas poesias e,  -  segundo os vigias  - com suas rimas, enchendo o saco dos passageiros... Mas, o curioso, é que a aboboreira ali em baixo de minha varanda, continua florindo no seu ciclo secular, sem dar mostras de nenhuma afetação. Das 6:00 da manha até às 8:00 suas flores estão sempre exuberantes, com um amarelo de gema de ovo. Depois, quando os raios de sol começam a alcança-las, vão se intimidando, se desbotando, passando malandra e sedutoramente pelos 100 tons do amarelo; se fechando sobre si mesmas, ocultando com um certo pudor seus androceus e seus gineceus e, por fim, fazendo-se de mortas, para, amanhã cedo, voltarem a exibir-se novamente. Sim, sei, é o teatro e a pantomima das ervas... 
E minha relação afetiva com essa planta é de tal complexidade, que um dia cheguei até a ouvi-la dialogando e aconselhando uma outra, também rastejante e mais jovem, de sua espécie, dizia:  Se te entregas logo, o amor durará um dia; se te negares sempre, o amor será eterno...
Um dos livros que mais me fascinaram na infância e mesmo depois, nas universidades, quando fingia estudar outras coisas, foi exatamente A vida secreta das plantas. Lembro, com um certo fascínio, que nas manhãs geladas e vagabundas daqueles tempos, lia também e com o mesmo entusiasmo, A vida secreta das pedras.




quarta-feira, 19 de maio de 2021

CPI - O Dia do ministro general... Primeiro round.

 [... O Tribunal diz: "Se eu errar, a Apelação reparará."A Apelação diz: "Se eu errar, a Cassação há de remediar."E a Cassação diz: "Não há vícios de forma.]  P. (Página 216 de uma de suas 37 obras)



Quem achava que o ex-Ministro Pazuello era um bobalhão que mal sabia o que estava fazendo, hoje, ao vê-lo diante dos senadores dando nós em pingos d'água e construindo paradoxos e sofismas teve que rever seu conceito.

A tal "oitiva", que durou praticamente todo o dia, foi um show à parte. Mas ninguém pode negar que, mesmo não estando vestido com sua roupa de general, o tratamento que recebeu foi mais cordial do que o das testemunhas que o antecederam.  Quando chegou ao auditório, por exemplo, quatro inquiridores transbordando simpatias e pisando em ovos, foram a seu encontro de braços abertos. Um deles, até esteve rouco durante todo o trabalho. Normal! Todos sabemos que no Brasil, desde os tempos das caravelas, os padres, os generais, os advogados e os médicos sempre foram merecedores de uma deferência e de uma benevolência especial. (coisas de lusitanos!)

Começou fazendo um histórico de seu curriculum. Uma curiosidade: Nasceu em Manaus, de uma mãe gaúcha e de um pai judeu. Quem é que poderia imaginar que uma mulher gaúcha iria encontrar e casar-se com um homem judeu lá na beirada da selva Amazônica? Fez carreira militar nas mais conhecidas escolas, chegou a ser general e entrou numa fria ao aceitar o cargo de Ministro da saúde, no meio de uma pandemia que desmascarou o sistema sanitário do mundo,  e que pelo jeito entrará para a história como um desastre parecido ao da gripe espanhola de 1918...

O tamanho de seus olhos pareciam diminuir quando os lançava sobre a platéia que, ele sabia, pretendia responsabilizá-lo pelas quase 500  mil mortes da pandemia... Quando, logo de inicio, mencionou que tanto sua mãe como seu pai haviam morrido recentemente, entendi que  se tratava quase de uma capitulação, quase um pedido de compaixão. Mas que não foi atendido.  Na primeira meia hora tudo parecia ir bem. Com os níveis de testosterona normais, não fazia o jogo dos inquiridores e parecia convicto de suas respostas, apesar delas, na sua maioria, não coincidirem em nada com os ofícios, os videos, os cartazes, os papeis e outras provas que os senadores exibiam em frenesi. As datas! As malditas datas! E o chamaram de mentiroso várias vezes. O que deve sentir um general ao ouvir uma acusação destas, sabendo que a caserna inteira o está assistindo? Eu o escutava enquanto ia pensando: "nunca deveríamos obrigar alguém a mentir, perguntando-lhe sobre seu passado..."

E quando o ex-ministro mencionava os bilhões que foram enviados para a pasta de saúde de seus estados, todo mundo revirava as nádegas nas cadeiras e as pupilas se lhes dilatavam...112 bilhões! 122 bilhões? E saber que o sistema de saúde nos estados continua sucateado... Penso: com esse dinheiro poderíamos ter, no país inteiro, Centros Clínicos superiores aos da Noruega. 

Toda vez que tirava a máscara para esvaziar o copo que lhe havia sido colocado à frente, o mendigo K me cochichava: Está vacilando! Um general não pode ser ingênuo a esse ponto. Numa situação destas se tem que trazer uma garrafa de água de casa. Lembra de Sócrates? Foi assim que lhe administraram a cicuta...

Os que conhecem a estrutura dos serviços públicos no país, em geral, mas principalmente a dos órgão de saúde, quem conhece o surrealismo e o amadorismo geral nestas áreas, tinham uma certa tendência em acreditar em suas explicações... Mas não era o caso de quem o interpelava. E, para fragiliza-lo, falavam das famílias dos mortos pela pandemia e lhe atribuíam a responsabilidade por toda mortandade...  Realmente, algo abominável para um general, mais ou menos como acusa-lo de ter levado sua tropa para uma emboscada...

Meio em desespero, começou a praticar uma espécie de mitomania... O que, aliás, nossa burocracia e nossa política é quase uma chocadeira desse transtorno... Recebia flechas de todos os lados e foi se desmanchando aos poucos.

Não vi o final, mas dizem que adoeceu, que teve uma indisposição, uma hipoglicemia, uma tontura, uma ameaça de síncope, uma falta de OXIGÊNIO, e que, por ironia, teve que ser "socorrido" e logo por um daqueles senadores, médico que o havia estado olhando por horas com uma antipatia incontida...  Todos fingiam preocupação e, com um certo sadismo, arriscavam dar seu diagnóstico.  Síndrome vasovagal! Que porra é essa?

Algum colega tem um oxímetro aí? 

O Mendigo K era o único que afirmava: Bazzo, todo desmaio é sempre uma defesa psíquica do sujeito; um truque para sair de cena quando a situação interna ou externa é intolerável...

A reunião foi cancelada. Todos aqueles engravatados saíram, uns segurando o cotovelo dos outros e cochichando...  Sabe-se lá o que! 

Foi o primeiro Round, ouvi de uma excelência! Amanhã será o segundo... Mas, pelo que parece, não houve ganho algum para a pátria e nem para o Zé da esquina... Uma velhinha espírita que está sempre por lá patrulhando os espíritos e que jura que a cloroquina faz milagres, afirmava em voz alta a um senador, que durante toda a sessão ouvia os quase 439 mil mortos que davam longas gargalhadas por trás das cortinas de fumaça do mundo...

E de longe, bem de longe, vinham as batidas dos bumbos imaginários... como se estivessem insistindo que tudo isso é um horror reacionário e que diz respeito a uma humanidade que não vale e que não merece absolutamente nada...


terça-feira, 18 de maio de 2021

Na CPI... o Ernesto, a senadora... & Kant

 


"O diplomata é o último representante duma tribo nômade, à qual o mundo moderno ainda concede a liberdade de perambular com enfeites de penas na cabeça..."

Bernard Shaw


Pelo fato de assistir todas as sessões da CPI, algumas pessoas me acusam de estar sendo como aqueles velhinhos argentinos, aposentados, que todos os dias e religiosamente, com seus bonés herdados da Catalunha, ficam em pé ali pela Calle Florida, ao redor das bancas de jornais, discutindo a honra de Peron e a sensualidade da Evita...

Realmente há alguma semelhança, mas, neste confinamento, como perder o espetáculo que a CPI está nos proporcionando? Sabe-se lá quando é que haverá outra epidemia? Não é?

Na reunião de hoje, o inquirido foi um ex-chanceler, de nome Ernesto. Como é que deixaram um cara chamado Ernesto ser chanceler? Também foi pisoteado. Só não lhe deram uns tapas por pouco. Duvido que quem já passou por uma prisão não tenha identificado de cara naqueles inquiridores algo dos alcaguetes de policia nos fundos de uma cadeia.  Uma lástima e uma deslealdade! O papel do Presidente da mesa junto ao declarante, também lembra o ritual nas cadeias, um pouco antes do preso ser interrogado e torturado. Segundo ex-presos, lá no horror das cadeias, sempre chega um policial "bonzinho" dando conselhos e fingindo se solidarizar com o suspeito: Amigo, conheço sua trajetória! Não  minta! Diga só a verdade! Todo mundo aqui quer o seu bem! Diga a verdade! Não manche a sua história! Preserve seu curriculum. 

Tudo bem, é o jogo de uma civilização perversa e desmoralizada... e depois, não é lá muito legal mentir, não é? Mas esse jogo é muito desleal. E há um senador de voz estridente que quase entra em surto quando interroga o suspeito. Com certeza, quando deixar de ser senador será convidado por mais de uma delegacia de policia do país para as sessões de interrogatório. Melancólico & abominável! E, no meio de todo esse frenesi, praticamente ninguém mencionou, verdadeiramente, os 440 mil mortos...

Brics; OMS; ONU; Olavo de Carvalho; Spray nasal; Covax Facility; Genebra; muitas reuniões em Genebra... Um resort nos Alpes! Uma xícara de chocolate fumegante e uma balzaquiana enfiada em sua pele de raposa indo buscar a filhinha de 18 que está esquiando em Haspen... Quem é que não gostaria?  E a cloroquina retorna à cena. Mas Dr., é apenas um remédio para malária! Os gerontocratas insistiam em saber a "intenção" de  um artigo escrito pelo interrogado: O comunavírus. E por qual motivo ele amava mais os EEUU do que Pekin? Mais ao Trump do que ao Xi Jimping?  O ex chanceler fazia de tudo para tentar desviar a rota descarada dos senadores, mas não domina adequadamente a linguagem como é de praxe entre seus congêneres. (Penso em Pablo Neruda, em Guimarães Rosa, no Octavio Paz, no Vinícios de Morais e em uma centena de outros vivaldinos que passaram a vida de embaixada em embaixada, tomando champanhe, indo às boulangeries e escrevendo poesias...).  Mas o Ernesto não consegue dar ênfase a uma ou outra inverdade como os grandes profissionais. Além disso, sabia estar cercado por especialistas no ramo. Citou um autor italiano que não consegui identificar e até mesmo o guru atual dos intelectuais da PUC: Slavoj Zizek. Tudo em vão. Penso numa definição antiga de diplomata: "Um homem investido na função de evitar os conflitos que não existiriam, se não houvesse diplomatas..."

Mas o ataque mais radical feito ao tal Ernesto, foi feito pela porta-voz da bancada feminina que o desqualificou sem perdão.

Enquanto ela ia lançando contra ele um ataque legítimo, mas desproporcional, eu pensava num texto escrito pela famosa escritora francesa Gabriele Colette, filha de um veterano de guerra, com o titulo: AQUELES DIAS. Escreveu a senhora Colette: "Durante um período mínimo de três dias - que se repete, com intervalos regulares, doze vezes por ano - a mulher deixa de ser mulher. É uma escrava periódica. É uma criatura desequilibrada, exasperada. Eu estremeço, lembrando-me de que, numa comissão parlamentar ou num júri, uma revolução importante para o Estado, ou para a vida de um homem, possa depender de uma mulher possuída pelo demônio fisiológico..."

Quando a nobre senadora concluiu seu ataque, o câmera deu um zoom sobre o pobre Ernesto, que estava reduzido a um menino de cinco anos de idade que havia sido surpreendido brincando com o pintinho de um amiguinho no banheiro...

A quarta-feira parecia interminável, e ao longe, ainda se ouvia as batidas de um bumbo imaginário...

Volto às lições de Kant sobre o direito de mentir...

ECOSSISTEMA.. Os condenados à vida.. e a luta do vírus para sobreviver.

 Estes dois anos de pandemia, com todos seus desdobramentos, fizeram mais pelo nosso 'auto-conhecimento' e pela tomada de consciência de nossa Condição no Mundo, do que todas as tentativas dos gregos e de todas as aulas de nossos delicados professores de filosofia, mundo afora... Quase todos os valores fajutos que vieram sendo alimentados e escamoteados durante séculos, implodiram ou estão próximos a se despedaçarem: Não vou enumera-los, mas você mesmo, você mesma, sabe muito bem... Ou não? E o vírus, como nós, um 'pobre coitado' condenado à vida, parece estar apenas tentando manter-se vivo... Se a vida, como se diz,  é o único bem, então sua resistência não é legitima? Como querer demoniza-lo por isso?...  Seu crime, se é que há, é um crime culposo... Sem intenção de matar... Quem sabe, se na sua essência, quando vem acasalar-se em nossas células, não está querendo apenas fazer além do seu, o nosso Bem...

segunda-feira, 17 de maio de 2021

O irmão do mendigo K e sua impressão do país...



Enquanto a garçonete preparava um misto quente, o Mendigo K ia me apresentando seu irmão que está no Brasil há uns 40 dias, vindo do Oriente Médio. Trabalha por lá, num daqueles antigos hospitais psiquiátricos que até hoje são conhecidos por Bîmâristâns (lugares de loucura e de sabedoria). Falava um idioma dos berberes, mas já conseguia comunicar-se em português.

À minha pergunta sobre sua impressão do país, olhou para seu irmão para saber se podia expressar-se livremente e declarou: A relação de vocês com os mortos me impressiona. (...) Quando morre alguém, mesmo aqueles que até então eram vistos como verdadeiras mediocridades, mediocridades endinheiradas, evidentemente, todo mundo corre para diante dos jornais e das câmeras para jurar que era "um amor de pessoa", fantástica, bondosa, carinhosa, inteligente, um artista... que amava a família, que era um gênio, que dedicou sua vida ao país e à arte (sim, à arte, essa que era, segundo Maurice Ravel, a impostura suprema) e que sua  morte é uma perda irreparável, que deixará um vazio imenso.... blá,blá,blá... Até aí, tudo bem, mas há nisso um exagero que é mórbido e uma hipocrisia que é alarmante, principalmente porque sabemos que não são raros os casos em que o sujeito é ao mesmo tempo um artista e um imbecil..... Há nessa pantomima um exagero que denuncia um transtorno de personalidade e até um certo mau caráter... Me entende? E o que é mais interessante, é que nesta esdrúxula cenografia urbana há até gente adulta, aparentemente normal que, para potencializar ainda mais seus panegíricos, ao lado do cadáver e olhando para o alto afirmam que o morto ou a morta deve estar feliz no céu, ao lado de seus parentes e até rezando para nós aqui neste inferno... Me desculpe, mas isso não é só estupidez, isto é transtorno. No mínimo uma histeria... De onde lhes vem toda essa culpabilidade de toupeiras? Como o morto está morto, e está cagando para toda essa patética teatralidade, esses elogios quase patológicos, vão dirigidos a quem, afinal? Não me leve a mal, mas isto para mim é bizarro e nojento... (resmungou ainda alguma coisa em árabe)

Tomou um trago de café com aquela coreografia típica dos nômades do deserto e concluiu: Essa é uma das coisas mais impressionantes para mim aqui neste país tropical. A outra, é o fato de, todas as manhãs, lá pelas 8:00 horas, ouvir o miado de um gatinho cinza que vem para baixo de minha varanda, na posição de Gizé, pedir um pedaço de presunto. Fica olhando para minha janela girando o rabo e lançando dois ou três miados de clemência. Clemência? Não, a palavra não é esta... Tão logo eu atendo a seu pedido, me olha amorosa e furtivamente e se esquiva por entre uma vegetação nativa que há lá... Só volta na manhã seguinte...

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EM TEMPO: O  silêncio dos países, das nações e das universidades diante do massacre de crianças na guerra entre Israel e Palestina é de um cinismo vergonhoso. Qualquer sujeito que amanhã, venha cacarejar sobre Direitos humanos ou humanismo, é um charlatão e um cabotino...

domingo, 16 de maio de 2021

Mientras..., por el Malecón...

Sábado, 15 de maio de 2021...


Ontem, sábado 15 de maio, houve uma gigantesca manifestação política aqui na capital. Chegaram caminhões, ônibus, cavalos e gente de todo o país. Quem vive aqui já está até acostumado com essas visitas de forasteiros, e todo mundo gosta, pois dão, pelo menos por umas horas, um novo clima à cidade. Um dia são os de esquerda; outro dia os de direita; um dia os garimpeiros, outro dia os índios, as mulheres, os gays, os defensores da maconha, do aborto, da virgindade; da eutanásia, os defensores dos animais, os aposentados, os evangélicos... E todos fazem o mesmo ritual. Se enfileiram à frente dos ministérios vazios e se aglomeram ou ao redor da Catedral ou do Congresso e em frente ao TSF. Sempre fazem os mesmos gestos, dizem e gritam as mesmas coisas, todas amparadas por uma idéia delirante de liberdade e de democracia que nem Platão imaginou. Uma democracia que não houve e que não há, nem aqui e nem na China... Democracia, me lembrava o mendigo K, "é a arte de fazer que o povo seja oprimido pelo povo, no interesse do povo..." Ou então, a soberania do ignóbil, como dizia Barbey d'Aurevilly.

Esta vez vieram para cá em apoio ao governo atual. Quem os observasse atentamente veria logo que eram os mesmos que já estiveram por aqui para apoiar as Diretas já. Depois para apoiar o Tancredo Neves; depois o Sarney, o Color, o Fernando Henrique, o Lula, a Dilma... e agora o Bolsonaro. São profissionais! Mas e o caráter? Trazem suas sanfonas, seus berrantes, seus chapéus, suas churrasqueiras e até seus cavalos e suas misérias. O que pensarão deles os cavalos? E todos, praticamente acima dos 90 quilos, pareciam felizes. Esperança. Havia esperança no olhar desses pobres coitados. Sorte que eu, desde criança, aprendi de De Vigny, que a esperança é a fonte de toda nossa velhacaria... O  mundo para eles parecia ter apenas uma dimensão e ser regido apenas por dois instintos... Ou é preto ou é branco! Ou é de esquerda ou de direita! Ou é 8 ou é 80! Ouvindo-os falar sobre as coisas do mundo, tive a impressão de ouvir cegos descrevendo um arco-íris... Cinco ou seis carros-de-som, um atrapalhando o outro.  E se referiam ao Presidente da República como mito. Mito? O que é um mito? Voltei para minhas apostilas de antropologia... De cada vinte palavras uma era endereçada e dedicada a Deus e outra ao comunismo. O que será Deus e o comunismo para essa gente?

Pensei na Olga Benário que o Vargas mandou de  presente para Hitler incinerá-la... E o comunismo, seria uma variante do demônio? Aliás, acusaram até o governador da cidade, o Ibaneis, de ser comunista. O que deve ter pensado Marx ao ouvir essa idiotice? Aliás, o que deve ter pensado o coronavírus de toda aquela promiscuidade? E de um dos caminhões vinha um grito aparentemente cheio de testosterona: Todo governo que é contra Deus paga caro! De outro caminhão alguém lembrava que a mulher do Ibaneis é evangélica .

E não havia água. Os ambulantes haviam sido enquadrados pela polícia. Prenderam e algemaram um sujeito que andava por lá com uma garrafa de cachaça nas tripas... Água! Não se pode nem beber água! Voltaram a atacar o Ibaneis por isso: Genocida! De outro alto-falante alguém volta a lembrar que a mulher do Ibaneis é evangélica.

Um sujeito entrou em surto e passou a rezar uma Ave Maria atrás da outra. Foram cinco num só fôlego, até que alguém, mais sóbrio, lhe  arrancou o microfone das mãos.

Churrasco. A carne veio de Jataizinho, dizia orgulhoso o churrasqueiro.

O STF é um câncer! gritava uma camponesa delicada, com um dente de ouro e duas tetas apetitosas, sem saber muito bem o que estava dizendo. E os jornalistas da Globo são soldados do inferno! - retrucou outro...

O que se ouvia não era linguagem, era metalinguagem. Dogmas, naturalmente indecifráveis... Espigas de milho e até uma bandeira de Israel. O que pensariam os judeus? E os camaradas do Hamas?

Rezavam em voz alta. Entendi de subito quais foram os pré requisitos para a inquisição. Chegaram a incluir na última frase do Pai Nosso a palavra PT e Lula. (Livrai-nos de todo o mal, do PT e do Lula, Amém!) Queremos voto impresso! Queremos voto impresso! Com todo o respeito pela ignorância, pensei: é o povo! São os eleitores! Foram eles que elegeram o Color, o Fernando Henrique, o Lula, a Dilma, o Bolsonaro.... E que elegerão o próximo que lhes prometer que incluirá na cesta básica dois iogurtes de Queensberry...

Portanto, é muita pretensão exigir que se entre agora na era da civilidade...

Um mendigo de uns 80 anos, que veio por engano numa das caravanas e que estava encostado no mastro da bandeira, olhou-me de cima-a-baixo e murmurou esta frase de Diderot:  "o género humano durará para sempre, mas a pátria terá que desaparecer..."

Se esparramava um sol estupendo por sobre a cidade...

De bem longe se ouvia ainda a batida dos bumbos...

sábado, 15 de maio de 2021

Gerontocracia e filicídio: na Faixa de Gaza e arredores os velhos patriarcas judeus e árabes induzem seus jovens a matarem-se entre si...


"A bestialidade humana 

é a única coisa que nos dá a idéia de infinito..." 

Anônimo 

A primeira noticia que recebo nesta manhã de sábado, é de que o exército de Israel com uma única artimanha, aniquilou boa parte dos combatentes do Hamas. E que os anti-semitas e apoiadores da resistência islâmica estão espumando nos cafés de todo o mundo...  Como entender e posicionar-se diante de uma guerra estúpida que tem fundamentos ainda lá no Velho Testamento? (Anti-semitas? Me indaga o Mendigo K. Mas os dois lados são semitas! Cain e Abel...) Que anacronismo e que miséria!




sexta-feira, 14 de maio de 2021

13 de maio: Da senzala para a favela... Da pfizer para o terceiro mundo...

Ontem, o dia que a CPI escolheu para inquirir um dos gerentes da Pfizer, foi dia13 de maio. Dia cheio de presságios, de crenças, de temores, de superstições, de mentiras, de gatos pretos deslizando pelos telhados e dia em que os brancos comemoram a Libertação dos escravos. Libertação? Melhor: o dia em que os escravocratas acharam conveniente remover os negros da senzala para as favelas... É também o dia em que lá em Portugal e também por aqui, se festeja a aparição de Fatima, aquela que apareceu a três pastorinhas lá nos potreiros lusitanos... 

 Por se tratar da Pfizer, os senhores senadores que naturalmente esperavam, até orgulhosos, poderem finalmente, questionar um legitimo depoente alemão de Leipzig - quem sabe não teria alguma coisa a revelar-nos sobre o Quarto Reich? - ficaram surpresos quando viram chegar o depoente, acompanhado por outros dois: um moço boliviano. Daqueles que qualquer um percebe de longe que exige que se fale inglês em sua casa, já que fez duas ou três especializações na California, ali pelos lados do Vale do Silício... e que gosta, sempre que pode, mesmo em público, de misturar ao seu idioma nativo cinco ou seis palavras no idioma dos imperialistas... 

De cara, ao apresentá-lo, o presidente da mesa e poeta Aziz cometeu duas gafes com o moço: 1. disse à platéia que ele falaria em portunhol e, quando o inquirido, para justificar-se, disse ter uma filha que fala português perfeitamente, o nobre senador que tem o nome de um poeta persa, atacou: 2. é, os filhos são sempre mais inteligentes que a gente! Bobagens!, mas aconteceram.

Na forma de compor suas respostas, ficou claro que os povos de língua castelhana tem uma capacidade excelente de organizar o discurso. Seria facilitado pela estrutura do idioma del Hombre de la Mancha, em detrimento do idioma lusitano? Os ouvintes, que só têm da Bolivia a visão das cholas de Cochabamba, de cócoras e mascando folhas de coca nos arredores da faculdade de medicina, ficaram impressionados com a competência do gerente. Um ou outro eufemismo em voz baixa... Uma ou outra mentira sintética... Claro que atribuem aquele desempenho também aos quinze ou vinte mil dólares mensais de seu salário.

Para mim, a parte mais interessante da sessão, foi quando ele, respondendo à pergunta de um senador revelou o preço de cada vacina proposto pela Pfizer ao governo brasileiro: 10 dólares, respondeu. Alguém da platéia, meio distraído, entendeu 3 dólares e repetiu a pergunta. Ele, que minutos antes havia queimado incenso ao redor da multinacional e até de ter insinuado que na essência daquela empresa havia um espírito cristão e de puro humanismo, ajeitou as nádegas na cadeira e repetiu: 10 dólares.

10 dólares!? Mas isto é um assalto! 

Humanismo um caralho! pensou 'em voz alta' um senador que nunca escondeu sua admiração por Mussolini. Já, os marxistas presentes, esqueceram a teoria da plusvalia e ficaram abúlicos e calados. Humanismo um caralho. Ou seria um estelionato humanista?...

Os senadores em geral e de todas as facções, acostumados a lidar com essa moeda, também ajeitaram as nádegas nas cadeiras e acionaram suas calculadoras, mas não disseram nada. Afinal... São vidas humanas, não é? Estamos numa pandemia! Mercado é mercado! E todos aqui somos defensores do liberalismo do escocês Adam Smith... Ou não? O que é que não se pagaria para salvar vidas, não é? Ou vamos agora comprar a vacina cubana por cinquenta centavos???

Duas mulheres se retiram do plenário depois de lançarem sobre um fotógrafo bobalhão que as observava, um gesto duro e incurável de misandria...

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Em tempo: Depois que a reunião acabou, fiquei pensando sobre o preço (10 dólares) proposto pela empresa para cada vacina e achei até um bom preço, se comparado com o valor (600 reais) que aquela auxiliar de enfermagem, lá em Belo Horizonte, cobrou da pequena burguesia, por vacinas falsas...




quinta-feira, 13 de maio de 2021

A CPI... os pleonasmos e a aquarela... Palavras de baixo calão ou de baixo escalão?


Ontem o show na CPI chegou ao clímax.

Por pouco não prenderam o depoente, mas o pisotearam à vontade. Teria alguma coisa a ver com seu sobrenome judaico? Lembram do bode expiatório lá do Velho Testamento? Era o próprio. Pediu para ir a banheiro. Foi fazer o quê? Se  tivesse mais de 60 anos todo mundo entenderia, mas não deve ter nem 40...  

E o presidente da mesa, um senhor com o nome que lembra o poeta persa Omar Khayyam, sempre que podia procurava fazer assepsia em sua história pessoal e assumir uma posição de Big Father. Dava conselhos. Ficou excitado quando foi estimulado a prender aquele moço em frangalhos, dizendo que não era carcereiro. E olhem que a palavra carcereiro é tabu e sempre causa estresse em algumas platéias... Por pouco não mencionou o seu xará lá do Irã:

" Move-se a mão que escreve, e tendo escrito, segue adiante; Nem toda a tua Piedade ou o teu Saber a atrairão de volta, para que risque sequer metade de uma linha; Nem todas as tuas Lágrimas lavarão uma só de tuas Palavras. "

Papo vai e papo vem, o filho do presidente da república que estava lá de mangas arregaçadas e com o braço direito na tipóia, resolveu quebrar o tédio e, dirigindo-se ao presidente da mesa disse estar indignado com o fato de ver um inocente sendo condenado por um vagabundo. A temperatura subiu. Todos os nobres senadores afrouxaram o nó da gravata. O acusado levantou-se. O acusador entendeu a simbologia do gesto e levantou-se também. Mas, como os dois deveriam estar desarmados, não aconteceu nada, o duelo, por enquanto, ficou só no nível do olhar.... 

O Senhor Osmar Aziz, com seu nome poético, assumiu outra vez a postura do Grande Pai e murmurou: Excelências, não vou permitir que aqui se usem palavras de baixo calão. Baixo calão? Quase todos os senadores e o próprio depoente entenderam de baixo escalão. Ficaram confusos. O mendigo K, que estava por lá, me cochichou: alguém tem que dizer ao Aziz que dizer baixo calão é um pleonasmo. Bastaria dizer: palavras calão...

Enfim, como dizia o camarada Pitigrilli: "depois de exercer por certo tempo este nosso "ofício", as palavras chegam a nos dar nojo..."



quarta-feira, 12 de maio de 2021

E a CPI de hoje? Depois do susto, tudo tranquilo aqui na noite republicana...

Os homens e a prostituição da linguagem...


Daumier

"Eu sou um farmacêutico sem farmácia; e tu és a nota mundana da minha farmácia imaginária..."

Pitigrilli


Estou cada dia mais grato e mais admirado com a eficiência e resistência de minha máquina de lavar. Lençóis toalhas, cuecas, trapos de todos os tipos... Praticamente durante dois anos, duas vezes por semana, com qualquer tipo de sabão, realizando seu trabalho sem queixar-se e sem apresentar nenhum sintoma. Todos os botões, as mangueiras, os parafusos, as hélices, os pés, o rebolado, tudo funcionando. Impressionante!

Por outro lado, estou cada dia mais decepcionado com a linguagem,  com a comunicação e com a honestidade intelectual. Ouvi ontem as 6 horas do interrogatório na CPI, do contra-almirante da marinha e diretor geral da ANVISA. Um sujeito competente e lúcido. E mais tarde, nos jornais da noite e nos canais alternativos ouvi as reportagens sobre o tal interrogatório. Tudo distorcido! Meias verdades! Verdades falsificadas! Distorções de seita, foco exagerado num detalhe, pouca luz em outro detalhe. Uma prostituição da linguagem! E não estou me referindo a estagiariazinhas não, mas a putas velhas que até se orgulham de já ter gerenciado redações de grandes oligopólios... Seria apenas por mau caratismo, transtorno de personalidade e por desonestidade intelectual, ou por realmente terem entendido daquela maneira? Algum distúrbio cognitivo? Mas de que natureza? Problemas inconscientes? Mas instalados em que idade?  Uma palavra, uma frase, um assunto que no contexto teve peso 2, nas noticias era dado com um peso 8. Já, o que no interrogatório teve tempo 8, nas reportagens foi ignorado... Na essência, tudo falsificado. Incrível. E todas as reportagens colocaram foco no caso da bula da cloroquina. No suposto delírio de uma médica japonesa de "alterar a bula da tal hidroxicloroquina" e na vacina russa. Impressionante a falsificação e a adulteração, não apenas das palavras, mas até das intenções... E tudo isso em plena epidemia!, o que nos dá a certeza de que depois que toda essa merda passar, continuaremos tão ftp e tão mentirosos como antes... Que miséria! (Mas reconheço que aprendi o significado da expressão off label)

 Se o interrogatório de 6 horas acontecido ontem, foi distorcido dessa maneira,  imaginem então como vieram sendo construídas e escritas, as parábolas, e as histórias dos 6000 anos que nos precedem e principalmente os assuntos relacionados a milagres e à gênese do mundo... Imaginem a descrição dessa gente sobre, por exemplo, os jardins de Hiroshima ou das noitadas de Nero (!)... De onde nos vem essa necessidade de, a todo momento, flertar com a mentira? Essa incontrolável atração pela mitomania? Eu, que sempre defendi a idéia de que tanto os ginecologistas, como as mães  e como os policiais, antes de ingressarem em suas atividades e profissões deveriam passar por uns cinco anos de psicoterapia, agora entendo que o mesmo deve ser exigido também aos jornalistas. (Para entender a importância de minha recomendação, lembrem do caso do Roger Abdelmassih, lá em São Paulo.  Revejam o caso do pequeno Henry lá no Rio de Janeiro e do pequeno Gael de Freitas, de 3 anos assassinado ontem em São Paulo. Sobre a polícia, é só rever as imagens lá da favela do Jacarezinho...)

Aliás, falando em interpretação errada ou distorcida, quem é que não se lembra da historinha que a tia contava lá na pré escola a respeito da descrição daqueles três cegos apalpando um elefante?

Discutindo este assunto com o Mendigo K, ele me lembrou, no meio de muito cinismo, a história de um pastor, um padre e um rabino, num barco salva-vidas, "que decidiram dar graças a Deus por terem escapado do naufrágio. Mas que o texto de suas respectivas orações era diferente. 'Entretanto há de haver um ponto de contacto, nas nossas três liturgias' - disse o padre - . Naturalmente, aprovou o pastor. Rezemos esse. Sim - apoiou o rabino - . O ponto de contacto é a coleta de esmolas..."

E la nave va... Provavelmente se dissolverá como o foguete chinês, ao reentrar na atmosfera...

terça-feira, 11 de maio de 2021

COLÔMBIA - No meio da "guerra civil" e dos massacres de Cali...









O dinheiro dos famosos...


 Nestes quase dois anos de jaula, tenho recebido quase que diariamente de leitores anônimos e imaginários, sugestões de assuntos e de textos  que gostariam de ver tratados por um prisioneiro de minha estirpe. Minha tendência é ignorar a sugestão de imediato já que não me considero um escritor de aluguel. Mas uma dessas sugestões, uma das mais repetidas, é que diga alguma coisa sobre "os famosos" ou melhor, sobre a fortuna de cada um dos nossos famosos. E essa sugestão, que sempre vem acompanhada pela lista de uns 20 ou 30, com seus saldos em bancos, passou a interessar-me. Todos ricos. Riquíssimos. Confesso que ao correr os olhos por aquelas cifras, ao lado das fotos correspondentes, sinto uma espécie de terremoto no  estômago e que meus instintos mais primitivos vêm à flor da pele. Com medo que isso seja inveja, procuro reequilibrar-me. Pois a inveja, segundo o rabino Nilton Bonder (ver A cabala da inveja). é a maior das desgraças de nossa espécie. Lembram de Caim?

500 milhões! 700 milhões! 900 milhões! 1 bilhão! Tem até gente com 10 bilhões! Sabe o que é isso, num país que está à mingua?? E não pensem que haja entre eles algum grande cientista, algum gênio. Não! Só pés-de-chinelo ligados ao entretenimento. Gente que você nem perderia tempo em  cumprimentar se se deparasse com eles na rua...  Mas então, qual foi o truque para acumular tanto dinheiro? Em primeiro lugar a idiotice popular e em segundo lugar a Idiotice popular, em terceiro lugar a parte inferior do corpo, isto é, da cintura para baixo...

Uma infâmia.

Até os escaravelhos sabem que isso é uma infâmia. Mas, até os mendigos, adestrados há séculos, seguem cantando em coro que isto é a LEI da prosperidade, a democracia e o liberalismo... O resultado do trabalho árduo, da dignidade, da competência, do esforço e da honra! Bah! 

E também não adianta começarem a cacarejar novamente que a culpa é do capitalismo selvagem, porque já vimos que acontece a mesma coisa no socialismo selvagem. Ou não?

Será que a causa disso é que não somos uma espécie saudável e muito menos boa gente...

Vejam o caso das vacinas: Os EEUU, com uns 350 milhões de habitantes comprou 1 bilhão de vacinas e a União Européia também, enquanto a África, a América latina e nós, no Brasil, esperamos por Godot enquanto morremos como ratos...

Mas voltando a falar dos famosos e de suas fortunas, para tornar ainda mais pérfida essa realidade, são esses vivaldinos que nos momentos de crise social passam a dar comida aos pobres e aos fodidos; a reformar igrejas; a dar esmolas graúdas aos padres, pastores e freiras; que abrem escolinhas e etc. Não por compaixão, como dizem, mas para manter viva a platéia, os espectadores, o rebanho de admiradores e para poder fazer um contrapeso e manipular suas declarações de IR...

E não pensem que o capital dessas hienas vai minguando. Pelo contrário, vai se multiplicando geometricamente, já que o mercado especulativo é engendrado e administrado por eles próprios...

Quem é que não sente vergonha ao assistir o rebanho, o mesmo da Idade das Palafitas, faminto e com os chifres cortados, esperando em fila e em lágrimas em busca de um pacote de arroz; de meio quilo de farinha; uma lata de sardinha ou mesmo de um olhar? Quem é que não estremece ao ver esses condenados da terra encostados nas paredes ou nos muros, em jejum, sem consciência e sem razão? E que, enquanto esperam, anestesiados pelo misticismo do instante ainda vão ruminando uma reza qualquer para que os doadores & benfeitores tenham vida longa aqui neste inferno e também lá no outro? Uma loucura! Um desvario! 

Ah! Apesar do lero-lero e das pequenas bravatas místicas dessa gente, duvido que acreditem em alguma divindade e nas harpas celestiais! É impossível que no meio de tanta humilhação, exploração e miséria ainda admitam a hipótese de haver sobre o mundo alguma gerência sóbria e transcendente...




segunda-feira, 10 de maio de 2021

O Mendigo K, as mães e os extraterrestres...



No mercado da esquina ouvi que o Mendigo dialogava com aquela velhinha beata que todas segundas-feiras está lá comprando ovos caipiras e pacotes de nabo. Falavam do Dia das mães; do foguete chinês que, "graças a deus" dissolveu-se ao reentrar na atmosfera e em Discos voadores.

A respeito do dia das mães, sussurravam : dizem que de tão tóxicas que são as relações familiares, as filas nos pronto-socorros de ontem para hoje, duplicaram. Com o passar do tempo, as velhinhas vão regredindo aos conflitos da infância e ficando cada vez mais chatas e cruéis com seus filhos. Querem, a todo custo, gratidão eterna! Ah! senectude vingativa e insaciável! Cobram suas noites de sono perdidas, como se os filhos tivessem pedido para nascer. Para passar uns 80 anos nesta abóbora giratória, escravizados pelo estômago e em liberdade condicional... Ah, meu filho, quanta ingratidão! Ingratidão a mim, que deixei de ir viver em Damasco para dar-te de mamar... Aliás, mamavas como um leitão! Eu, que poderia ter sido uma grande bailarina, perdi  minha vida cuidando de quatro marmanjos que agora não me reverenciam... E, mais sádicas do que maternais, lançam sobre a prole as próprias agressões que sofreram de suas respectivas mães quando eram bebês e mamavam como leitões... Um circo que não tem fim! Resultado: no dia seguinte, as filas imensas dos leitões nos ambulatórios. E elas, os comerciantes e os padres, já começam a preparar-se para o dia das mães do ano que vem. Uma farsa mais do que tóxica!.. Único remédio: a distância! Sorte que a terra é imensa...

A velhinha que o ouvia, apesar de ter 8 filhos, como recomendam os cretinos e párocos em geral, parecia concordar com suas teses mais do que profanas...

Passou a falar de extra-terrestres, dos esforços dos terráqueos para saber se há ou não vida fora deste planeta. Foi falando, com ironia:

Num determinado momento os sábios alemães e franceses, no meio de relatos de que a terra estava sendo observada por objetos estranhos, tomaram emprestado um pedaço do deserto árabe e escreveram lá, com letras gigantes, sobre a areia: O QUE QUEREM?

No mesmo dia apareceu na imensidão do espaço em letras azuladas, a resposta: NADA!

Os sábios alemães e franceses, meio decepcionados, voltaram a escrever, em letras gigantes:

MAS ENTÀO, POR QUE NOS OBSERVAM E NOS FAZEM SINAIS?

A resposta veio quase imediatamente lá na imensidão do espaço:

NÃO FAZEMOS SINAIS A VOCÊS, ESTAMOS INTERESSADOS EM SATURNO...

Ele e a velhinha imaginando a sensação de pequenez e de solidão daqueles tais sábios, explodiram numa tremenda gargalhada...