quinta-feira, 22 de outubro de 2020

O Papa, os cartórios e os gays...


"Após celebrar missas em igrejas do Vaticano e pendurar as batinas, "milhares" de padres saem para curtir a noite gay de Roma".

Fredéric Martel

(IN: No armário do Vaticano)


Talvez não tenha sido apenas coincidência que o papa argentino tenha "autorizado" publicamente o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo, (homens com homens, mulheres com mulheres), nestes dias de solidão pandêmica e em que ainda se está discutindo o caso do estupro coletivo ocorrido numa boate milanesa, no coração da República italiana... Por aqui, já ontem à noite, a cidade estava eufórica, os bares fervilhavam, os cartórios discutiam casamentos coletivos e os preços. Por pouco o Cristo Redentor, lá no Rio de Janeiro não amanheceu enrolado num arco-íris. Se o Crívela não fosse da outra confraria...

Enfim, todo mundo está feliz. O Papa argentino, escolado aqui nos trópicos e nos arredores de Buenos Aires, acostumado a ouvir Carlos Gardel, e a ler Manuel Puig (boquitas pintadas), sabe como amansar a turba... 

Os botecos fervilhavam... As mães, mais do que ninguém, estavam visivelmente realizadas, pois a partir de agora, finalmente, seus filhos e filhas até então condenados à marginalidade, aos michês clandestinos, aos guetos, à mancebia e à malignidade dos vizinhos, agora poderão, como elas, constituir legalmente uma família. A Sagrada Família! O  STF já havia autorizado, é verdade, mas o que é o STF sem o aval papal?

Champanhes, vinhos, cerveja, baseados...  Surgiu alguém exibindo uma edição francesa do livro do jornalista francês Fréderic Martel (No armário do vaticano), e até alguém exibindo o famoso jornal Chanacomchana, publicado em SP nos anos 80... O mundo é uma festa! Garçom!, me veja mais oito quibes recheados com catupiri, uma porção de coalhada e meia garrafa de cachaça...

Mas os membros mais escaldados da confraria, os mais tarimbados, com uma ficha corrida mais extensa, ainda estão com um pé atrás. Não esquecem que a Inquisição queimou aqui no Brasil e em outros países por onde se instalou, centenas e centenas de mulheres acusadas de homossexualismo e de transarem carnalmente com suas negras escravas...

 Desconfiam do Papa argentino, (com razão) como desconfiam dos vendedores de casacos de couro e dos dançadores de tango lá na Calle Florida... Suspeitam que pode ser uma nova estratégia para cataloga-los (como estão fazendo no Uruguai com os maconheiros e como fizeram com os hippies) para, no momento oportuno, enviá-los novamente para as fogueiras. Sabem que o diabo é capaz de citar as Escrituras quando lhe convém... e que o conflito da igreja com o corpo é secular, que está nos genes e que não se resolverá com uma simples bravata canônica...  Sabem que a igreja, para seguir existindo, precisa garantir a manutenção do casal e da Sagrada Família. Que ela seja oficializada entre homens e mulheres; entre mulheres e mulheres; entre homens e homens; homens e cabras; mulheres e pets, isto é secundário, não tem a menor importância.... O que importa é a manutenção do sonho da Grande Família Universal, de joelhos e de mãos dadas ao redor da mesa ou da cama... e quanto mais diversificada, melhor. São mais ou menos uns mil, os deuses dos terráqueos, não é verdade?, qual é o problema que as famílias também se diversifiquem um pouco? O que importa é que não desapareçam e que sigam pagando o dízimo, se torturando e se anulando mutuamente. Eis aí a fórmula perfeita para um Reino de masoquistas, de subalternos e de submissos...

E que ninguém se assuste se, a partir de agora, nas manifestações gays, começarem a surgir faixas reivindicando: Pontífice! Vigário de Cristo! Principe dos apóstolos! O casamento civil não nos basta! Queremos também o casamento religioso!

E se, uns meses depois, como os cartórios, as igrejas também começarem a organizar casamentos coletivos... Bah!

Povera gente!

 Que Karma de manada... que aprisco melancólico e que miséria...






 


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