sábado, 17 de outubro de 2020

Diálogo imaginário com um jogador de futebol acusado de estupro...



 P. E então, comeu ou não comeu?

R. Essa aí não! Mas costumo comer uma a cada partida, Às vezes até uma antes e uma depois. Mas sempre na moral, por livre e espontânea vontade minha e delas...

P. Já estuprou alguém?

R. Nunca! Jamais! Não seria covarde para tanto...

P. Mas então, por que a denuncia que há contra você?

R. Não sei. Tenho pouca escolaridade. Como todos os meus colegas e até os treinadores, sei jogar mas sou analfabeto. Nunca li nada, nem mesmo o Pica Pau Amarelo do Monteiro Lobato. A indústria do futebol, de uma ponta a outra, é uma Ilíada de ignorantes. O material para gerar músculos é retirado do cérebro. Me entende?

P. Tudo bem, mas por que te acusam de estupro.

R. Ora! Dinheiro. Transtorno de personalidade. Mau caráter.

P. Já estuprou alguém. 

R. Já disse que não! Nunca. Jamais faria isso, e não por moralismo, mas por ética. Apesar de várias vezes, ter sido desafiado para tal... Sou analfabeto e rico, mas não sou burro... Entretanto, pelo conceito atual sobre estupro, todas as relações amorosas e felizes que tivemos no passado, poderiam ser consideradas como tal. Basta uma denúncia... Depois que fiquei rico, milionário, duas questões passaram a fazer-me muito mal: o dinheiro e a sexualidade. Diariamente sou assediado por gerentes de bancos e por mulheres, sem falar daqueles homens que la na Grécia antiga eram chamados de pederastas, mas que atualmente são conhecidos por bichas-velhas... Tenho dificuldade em lidar com esses dois assuntos. Por um lado, preciso investir meu dinheiro e zelar para que não me roubem, por outro, o futebol produz muita testosterona e meu desejo sexual fica alto. Adoro ver as mulheres gritando o meu nome nos estádios e querendo saber o hotel onde estou hospedado... Mas, sempre fui muito pobre! Como poderia ter aprendido a lidar com sexo e com dinheiro?

Além disso, tem muitas mães que mandam suas filhas virem me seduzir:

- Vai lá sua boba! Só não deixe seu pai saber. Vai lá e deixe ele enfiar aquele negócio em você. É rápido. Diga que o ama e ele gozará rápido. Três minutos. Induza-o a morder tuas costas e a deixar restos de sêmem (na linguagem deles é porra) sobre tua roupa. O resto, deixe comigo. Esses idiotas têm milhões de euros, dólares, libras, apartamentos, fazendas, barras de ouro... São treinados, adestrados, alimentados, comprados e vendidos como animais... dois ou três milhões não lhes farão falta alguma...

Tive até uma que me contava que quando voltava para casa sua mãe queria saber em detalhes como havia sido a relação. Como foi minha filha? Deu certo? Foi bom? Conseguiu as provas? E ela respondia: Bom sempre é, né mãe, mas a gente não diz para não pensarem que a gente é puta!

E as provas? Ah, esqueci das provas, mamãe...

Ah, você é burra mesmo! Desse jeito acabará num puteiro ou casada com um proletário de merda e cheia de filhos...



5 comentários:

  1. É isso aí, Bazzo: a indústria do futebol, de uma ponta a outra, é uma Ilíada de ignorantes. O material para gerar músculos é retirado do cérebro. Me entende?

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Meu caro Bazzo, nos seus diálogos imaginários, percebo que seus excêntricos interlocutores quase que invariavelmente esbanjam intelectualidade, conhecimento histórico e filosófico, e até um certo academicismo. Mendigos, pequenos golpistas, doidos varridos, as putas do Conic, sapateiros e barbeiros de rua, camareiras imigrantes, etc... não importa a categoria dos fodidos, são quase sempre incendiários iconoclastas. Eu me pergunto se seria ingenuidade sua? Ou idealismo? Talvez uma romantização dos miseráveis? Ou apenas exibicionismo intelectual mal disfarçado na boca de terceiros?
    Quanto ao seu último "entrevistado", o tal jogador de futebol, rico e analfabeto (porém filósofo), nenhuma novidade: apenas mais uma nota de rodapé no extenso e interminável "calvário feminino."

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    1. Resposta: exibicionismo intelectual na boca de terceiros.
      Abraços/Ezio

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