sábado, 24 de outubro de 2020

As vacinas e a ciência. Essas desconhecidas...

"Tout ce qui est intéressant se passe dans l'ombre... On ne sait rien de la véritable histoire des hommes..."
Céline



Está quase comica a discussão metafísica sobre a vacina. Vacina que ainda não existe, mas que um belo dia, se ainda houver tempo, uma estagiária ou uma auxiliar de enfermagem qualquer acabará enfiando em nossos braços. Por enquanto, é como discutir a sexualidade das ninfas...

Será a da China? A de Oxford? A dos USA? A russa? A cubana?  E se aparecer alguma do Paraguai? Alguma outra que está sendo desenvolvida em segredo nos fundos de alguma rodoviária?

Se já está acontecendo toda essa encrenca sectária pela nacionalidade da futura vacina, imaginem - já que a neurose da fé é bem mais grave do que a neurose da Pátria -  como seria se a briga estivesse sendo por religiosidade. Pelo tipo de fé do fabricante... Foi baseada em que marco teórico? - Se perguntam os energúmenos - Elaborada com qual método? Qual é a religião do químico? do cientista? do sujeito que fragmenta o vírus? E nas paredes do laboratório, está pendurado um crucifixo? Uma estrela de David? Uma foice e um martelo? Um fuzil ou uma galinha preta? Já pensaram como seria se entre as candidatas, estivesse uma produzida pelo Estado Islâmico; outra pelo Vaticano; outra por Israel; outra pelas religiões africanas; outra pela OPUS DEI; uma pelos feiticeiros do Haiti; uma pelos discípulos de Lutero; uma pelos antigos militantes do OSHO e mais uma  pelos hindus?  Como seria a escolha? Na espada? Ou no dízimo?

Por sorte, até agora, as discussões estão apenas no campo binário, fictício e ridículo da ideologia política. Comunista? Ou Capitalista? Ora, deixe de ser idiota! Viva uns tempos em Nova Iorque, em Londres e uns tempos em Beijing... a merda política, mercantilista, policialesca e imperialista é a mesma! Frequente uma religião ou outra, o lero-lero e o engodo é idêntico!

 Vacina chinesa? Mas e se no meio do "imunizante" vier alguma coisa que nos fará comunistas? O preconceito com a China é antigo. A Gripe espanhola - por exemplo -, que não tinha nada a ver com a Espanha, era conhecida naquele país como Gripe Russa. Já, na Russia, como Gripe Siberiana, e na Sibéria, como gripe chinesa...

Vacina Inglesa? Mas e se com o tempo  ela nos transmutará em monarquistas?

Vacina Russa? Mas não poderia estar maculada pelas cinzas de  Stalin? Ou por um pentelho de Lênin? Não estaríamos inoculando em nossos corações o germe do ateísmo?

E a dos EEUU? Bem, aí é só pensar nas entrelinhas e na coreografia do debate entre o Trump e o Biden...

E se for a cubana? E se em cada um dos vacinados começar a surgir obsessivamente, uma entidade do além que os obrigue a endurecer-se, pero.., sin perder la ternura jamás?...

Enfim, essa odiosa pandemia nos está mostrando, entre outras barbaridades, as razões de nosso atraso e que se a espécie sobreviveu até aqui foi por pura vingança de algum demiurgo. E mais: que entre nós, apesar dos frequentes surtos de pós modernidade e de grandeza, ainda é difícil visualizar a fronteira entre ciência, astrologia e animismo. O que, convenhamos, é mais, bem mais, do que um singelo atestado de burrice...





 

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