domingo, 11 de outubro de 2020

O Mendigo K., e a guerra com o Paraguai...

  Como hoje é domingo, encontrei o Mendigo  K e sua horda de camaradas ali ao redor do lixão de um mercado. Estavam visivelmente felizes, fumavam e faziam bullying entre eles. Que porra de alegria é essa? Pensei.

Já de longe foram gritando em minha direção: Tudo bem Dr. Marco Aurélio? Data venia excelência! Pensei logo no Imperador romano... E jogavam cachaça para o alto... O Mendigo K., tentando acalmar o grupo, aproximou-se e foi me explicando: estão comemorando a liberdade do Bandido da cocaína aquele que foi solto ontem, pelo Supremo... Gritos, gargalhadas, provocações em latim, e em minutos me vi cercado por eles. Um mais miserável do que o outro. Cheiro de cigarro vagabundo; de crack; de mijo; hálito de salame, de maconha, de merda, de cachaça, de cerveja derramada... E era visível a espécie de adoração que dedicavam a aquele ex presidiário. Sabiam tudo sobre sua vida, sua mansão, seus iates e suas girls... O calibre de suas armas...

Prisão de Segurança Máxima! gritou ironizando, uma mulher com duas crianças no colo. Data venia doutor... Com sua licença doutor... brincavam... Sua preventiva está vencida! Vai para casa... Pegue seu jatinho... e bye bye! Tchau!  Tschuss! Adios! Aurivedersi! Buena dicha... Um deles, insinuando que o ex-preso tinha alguma relação com a máfia gritou: siamo tutti italiani...

Um dos mais velhos e mais sóbrios do grupo, ao perceber que eu estava ansioso para livrar-me daquela situação, colocou-me a mão no ombro e perguntou: Doutor, com sua licença, data venia.., depois das últimas atuações de nosso judiciário, depois de todo o surrealismo psicossocial dos últimos cinquenta anos e agora, ao redor da pandemia, o senhor realmente ainda acredita que fomos nós que vencemos a chamada 'guerra do Paraguai'?

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