sexta-feira, 30 de outubro de 2020

A máquina de lavar e a pílula contraceptiva...



"As mulheres de Balzac traem os maridos, mas morrem de amor, o que, de resto, as redime..."
(IN: Esplendores e misérias das cortesãs - Balzac)


 Tenho dedicado uma espécie de veneração à máquina de lavar. E enquanto os lençóis estão se movimentando lá dentro, naquela espuma psicodélica, com cheiro de jardins japoneses, costumo acender uma vela ao seu idealizador.

Fico impressionado como ela passa uma ou duas décadas ali, se tremendo toda, sugando e vomitando, sem reclamar. Nenhum defeito. Nenhum parafuso se solta. As hélices não se quebram... Impressionante! E fico imaginando o que as mulheres devem ter sentido quando  receberam esse pequeno monstro em casa e se viram livres do tanque e das esfregadeiras... Uma Brastemp! E  isto foi lá pelos anos 50. E nem imaginavam que 10 anos depois, a indústria lhes surpreenderia com outro presente e este, ainda bem mais transcendente: a  pílula contraceptiva. Ufa! Finalmente poderiam "cumprir com suas obrigações matrimonias" sem ter que correr para o banheiro se não quisessem ter que enfrentar outros nove meses de tortura e depois, o resto da vida. Ufa! Agora poderiam até ler a Dama das camélias... e trair!

A igreja esperneou, porque percebeu que a manada estaria sendo controlada e restringida, e que a partir de então até as mulheres poderiam fornicar sem, necessariamente, terem que "dar à luz" e trazer outro acólito, eleitor e escravo para o mundo... mas foi se acalmando. Um bobalhão chamado Odair José chegou até a cacarejar a "música": Pare de tomar a pílula...

Enfim, as mulheres, que tanto reclamam, em menos de duas décadas, se livraram de dois incômodos e de duas escravidões domésticas: uma na cama e outra na área de serviço...



 

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