sexta-feira, 2 de abril de 2021

PRIMEIRO DE ABRIL... E o espetáculo não tem fim...




 Lula voltou a cena. 

Na competição entre os quatro ou cinco meios de comunicação que há meio século adestram e disputam os neurônios e as tripas do populacho, quando começa a faltar-lhes material hipnotizante, recorrem ao truque das campanhas contra a fome e à malandragem de trazer para o palco antigos políticos que são exímios hipnotizadores. Lula, ainda atordoado pelos 500 dias de prisão e pela solidão natural da senectude, pressionado por seus correligionários, de vez em quando aceita e faz esse papel, sem compreender que já é como um sol de inverno que ilumina sem aquecer...

Com uma memória admirável e com uma linguagem simplória repete sempre as mesmas coisas, os mesmos sonhos, as mesmas obviedades, as mesmas ficções que beiram à religiosidade e a mesmerismo. Os já catequizados dão gritos de entusiasmo como os congregados da igreja do Reino de Deus quando ouvem seus pastores cacarejando credulidades mal traduzidas, enquanto os outros, bocejam. Flashes, luzes, frases e gestos de efeito que lembram os encantadores de serpentes de Marrakesh... uma voz de fundo diz que a audiência está espetacular para logo em seguida exibir a propaganda enganosa de um produto que só a pequena burguesia pode comprar... Afinal, hoje é primeiro de abril! E Lula, com sua voz de locutor, (não sei se por vaidade, crença, deboche ou fé) vai discorrendo sobre seus saudosos anos de estadista, da proeza, da façanha e do milagre de ter passado da miséria extrema ao trono principal da república... E fala dos presidentes mundo a fora com a mesma naturalidade com que fala de seus pelegos e subalternos dos tempos do sindicato...

De uma ou outra janela, de um ou outro boteco, o grito melancólico e quase de desespero: Lula Lá!

E o show continua. Lula é um exímio palestrante. Com um olhar meio glacial, fala em Deus e na mãe, colocando os dois no mesmo patamar. Quando começa a descer perigosamente para aquelas metáforas que tanto horrorizam os novos ricos e a burguesia e até mesmo os proletários mais antigos, a trupe de trás das câmeras, que foi adestrada para não suportar adjetivos, fica temerosa. Como nasceu na pobreza e teve imensas dificuldades de sobrevivência, Lula fareja e conhece os códigos tanto dos burocratas bundões e dos proletários disfarçados de empreendedores como de seus iguais, (80% da população), e os usa com uma habilidade invejável. Nas bibocas do país inteiro, gente que está sem comida há dois três dias e encurralada pela pandemia, deu um jeito de comprar pilhas para ouví-lo de seus minúsculos rádios que levam no  bornal, junto a um pão da semana passada.* O ouvem com a mesma fé e esperança com que os milenaristas lá no meio da Guerra do Contestado ouviam o curandeiro José Maria... E sonham em mudar de selva! O circo é cinematográfico. Um bêbado não se contém e grita: Lula 2022! Ao que, do outro lado da rua, no frontispício de um cortiço, um outro pau d'água agrega: E fora Bolsonaro!

E o circo fica ainda mais estupefaciente quando lembro dos seis ou sete pré candidatos para 2022 que ontem, lançaram um Manifesto em defesa da democracia.



Aí já é demais!

Parque de diversões! Bazar de vaidades e de golpistas! Estado espetáculo! Sociedade espetáculo!

E não há solução. No máximo, conseguiremos trocar de selva e de escravidão...

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(*) Se os pobres não votassem, já teriam sido eliminados há  muito tempo. Mas, muitos deles, já estão de saco cheio de ficar nesse papel de bucha-de-canhão, vivendo de migalhas, de macarrão, biscoitos, açúcar, sardinhas e Moranguito, até as próximas eleições. Um amigo do Mendigo K me dizia: Ao invés do Estado ficar engordando nossas mães, mulheres e filhas com essas toneladas de porcarias, deveria criar infraestrutura para que pudéssemos, nós mesmos, ganhar a vida sem essa humilhação. Caso contrário, se isso ainda durar muito tempo, estamos decididos a:

I.  Começar apropriar-nos radicalmente daquilo que nos interessa;

II. Iniciar um movimento radical contra a natalidade. Não vamos mais engravidar nossas mulheres. Chega de ficar gerando escravos e mão de obra gratuita...

O Mendigo K ouvia tudo atentamente e só balançava a cabeça em aprovação...


 




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