Neste sábado meio nublado, com todo mundo reclamando do preço dos chocolates, encontrei a mulher atual do Mendigo K num mercadinho árabe que existe aqui na esquina. Diante da prateleira de especiarias, com um vidro de sal nas mãos, foi orgulhosamente me relatando que acabara de chegar de Milão e que aquele pote de sal a estava fazendo lembrar da Última Ceia, pintada por Leonardo da Vinci e que atualmente está exposta lá, no monastério da Igreja de Santa Maria delle Grazie.
Inicialmente achei que se tratava de puro exibicionismo, de um pico de mitomania, que aquele vidrinho de sal retirado da prateleira não tinha nada a ver com sua viagem, mas ela entrou em detalhes. Você deve saber - foi me dizendo - que o sal, um saleiro virado sobre a mesa, é sinal de desgraça. Pois bem, nessa pintura de Da Vinci, (foi tirando uma mini agenda da bolsa onde estava estampada a tal pintura) o saleiro que está diante de Judas, está virado... Veja... o saleiro em frente ao quinto homem da esquerda para a direita... Veja, o sal está derramado sobre a mesa... O árabe, dono do mercado, que ouviu a conversa, intrometeu-se para falar do alho e assegurar que Maomé detestava alho. Que até os arcanjos que o visitavam, se sentissem odor ou vestígios de alho davam meia volta e desapareciam... voltavam para os céus... A esposa do mendigo, aproveitou a deixa do alho, para contar que os marinheiros gregos modernos navegam com uma trança de alho pendurada no mastro, como mascote contra as tempestades... O árabe deu uma gargalhada de deboche e tudo ficou por isso mesmo... A esposa do mendigo aproveitou o frenesi daquele cínico berbere para sair do mercado levando clandestinamente, entre as tetas, um pacotinho de noz moscada...
Detalhes, superstições e feitiçarias que se eternizam..
Achei melhor pagar minhas 400 gramas de pimentões e voltar para casa...
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