quinta-feira, 25 de novembro de 2021

Veja o que os astros lhe reservam para esta quinta-feira...



 "A arte falaz dos astrólogos e os seus delírios ímpios..."

(Santo Agostinho)

 



Por mais hábil que você seja, duvido que consiga ignorar a manchete que está, diariamente, em todos os jornais e que aparece, todas as manhãs, automaticamente na tela de teu computador, te convidando a checar O que os astros te oferecem naquele dia, seja um domingo ou uma quarta e seja você de sagitário ou de virgem. De onde nos vem esse pensamento mágico? Esse resquício de uma infância abismal, esse sentimento oceânico e esquizoide diante da vida? Quem já visitou alguns cemitérios pelo mundo deve ter notado la, nas lápides, que havia defuntos de todos os signos... E que haviam chegado aos labirintos do juízo final por caminhos idênticos. Não é verdade? 
E o mundo, apesar do suposto racionalismo, está infestado de astrólogos; de tarólogos; de numerólogos; de advinhos; de xamãs; de representantes divinos e etc, e nem vou mencionar os que se dizem 'analistas políticos'; o pessoal da meteorologia e até os senhores da Suprema Corte... Gente que está o dia e a noite inteira espiando furtivamente pelas janelas e fingindo observar os astros... E clientela, não lhes falta. Os homens dedicados a esse ofício, por uma questão de marqueting vão, com o tempo, sentindo necessidade de assumir uma coreografia meio misteriosa e de bruxos. Olham fixamente nos olhos de quem quer que se lhes aproxime. Lançam um mantra para cá e outro para lá, enquanto os mais abusivos, se atrevem até a abordar pessoas estranhas na rua para preveni-las de alguma desgraça ou, até mesmo, de alguma bem-aventurança. E não se intimidam em plagiar Horácio com seu conselho pequeno burguês: Carpe diem! Alguns se equivocam e dizem Parce diem! Em síntese, são sujeitos que, como dizia Mussolini, dos filósofos, "resolvem mil problemas no mundo do espírito mas não acham solução sequer para um, na vida prática". Quando a ocultista é uma mulher, está sempre naqueles trajes clássicos das ciganas que vieram da Índia com escala no Egito e que parecem ter chegado ontem das montanhas de Sálem, da Massachusetts colonial. Nos lábios, como diria Manuel Bandeira, a doce flor da piedade. E nos dedos, anéis misteriosos, correntes que vão da tireóide às tetas e com as roupas impregnadas de incenso, de canabis ou de patchuli. Sempre com brincos no nariz e nas orelhas e às vezes até um pincerg na língua ou ao redor do clitóris... Decoraram tudo sobre as constelações, sobre os horários, as interferências de um astro sobre o outro e até sobre o feto, não só dos seres humanos, mas também dos cachorros e das vacas. Esta, nascida em sagitário dará um leite muito mais rico em melatonina e em triptofano do que as nascidas em Áries. Portanto, se você sofre de insônia, procure tomar, à noite, leite de uma vaca sagitariana... Aquele cachorro, nascido em sagitário, com regente em Júpiter, terá tara por postes de concreto e não será fiel a dono nenhum! É o tipo de animal que diz: anjo a cadela que desejamos, demônio a que temos! Aquele sujeito ali, nascido em Virgem, dentro do triângulo que a lua forma com o sol e com mercúrio, tem um DNA que não condiz com os preceitos republicanos, tocaria fogo em tudo sem tirar a mão esquerda do bolso. Aquela moça que acaba de sair da livraria, tem tudo para ser de Escorpião. Fique longe dela... E fazem mapas astrais. Falam de Lilith (a lua negra) com a mesma intimidade com que uma enfermeira apalpa o paciente numa mesa de cirurgia. Falam com intimidade também de Copérnico, de Giordano Bruno, da Kabala judaica; do Livro Egípcio dos mortos; da sabedoria dos Lamas... e quase sempre levam na bolsa o livro de H.M.Campigny: Le bréviaire du devin et du sorcier. E, com certa frequência, até a obra completa do Jung... Às vezes, durante a confecção de um mapa astral, entram em surto por uns 8 minutos, e quando voltam, pedem desculpas e dizem ter precisado dar uma volta pelas esferas astrais e siderais... O cliente, com a 'cabeça como uma caixa acústica', que vai identificando naquele olhar quimérico, uma mãe falastrona e sedutora, vai ficando cada vez mais embasbacado com aquela arte falaz - como dizia o pároco Santo Agostinho) e, se ela lhe disser: "Você, que é Galo no calendário chinês, deve parar de comer cuscuz com tâmaras aos sábados pela manhã...", ele cumprirá a recomendação tão religiosamente, como vem cumprindo outras, igualmente pueris, há uns cinco mil anos. (E digo 5 mil anos, entenda bem, porque o cristianismo/catolicismo é um plágio de seitas orientais e asiáticas...).
Enfim, trata-se de um teatro de uma maravilha tão sensual, fascinante e tão cheio de promessas, que é uma pena ter que morrer antes dos 100 anos e não poder assistir ao colapso total dessa espécie...




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