terça-feira, 9 de novembro de 2021

O forno crematório... Eis que, milagrosamente, estamos prestes a entrar pelos corredores do futurismo...


“Basta escrever livros, defender teorias e fundar sistemas, para que qualquer ajudante de farmácia venha um dia a 
diagnosticar vossa genialidade..."
 Vargas Vila (IN: De sus lises y de sus rosas, vol, 17, p. 114)


Se a epidemia foi uma desgraça planetária que trouxe à superfície todo tipo de imoralidades, toda a fragilidade e o sucateamento das chamadas 'culturas' e dos chamados 'Centros de Excelência', com seus poetas, cantores, atores, traficantes, curandeiros, larápios e talentos que viviam à sombra, no caso aqui de Brasília também serviu, ou pelo menos inspirou o governador de turno a anunciar a construção de um crematório. Ufa! Finalmente! Nunca mais aquele teatro mórbido e decadente ao lado das covas; a terra vermelha; aquelas coroas de flores em forma de pneus e abomináveis; aquelas madames chegando aromatizadas, com olhinhos quase autistas, seduzindo e reprimindo ao mesmo tempo disfarçados atrás de óculos escuros e de vestidinhos sensuais... e os coveiros (a fina flor do lupemproletariado) fedendo a suor e cachaça que, de dentro do buraco, agarrados às pás, enxadas e misérias, não deixam de dar uma 'olhadinha' para os joelhos das carpideiras, lá em cima, em seu eloquente e quase erótico pranto...

Finalmente! Para o ano que vem, teremos um! Um forno! Esteticamente parecido àqueles que nossas nonas tinham no fundo dos casarões venezianos, e de onde, de quando em quando, flutuava e levitava o cheiro voluptuoso de um porco assado, dos grostolis e das cucas... Um forno que será instalado ali no mesmo território do cemitério tradicional atual, quase no centro desta cidade, (cidade que seus detratores gostam de chamar de Autorama Stalinista). Segundo os discípulos de Jó, é importante que o forno fique próximo da manada para que ninguém se esqueça que além de pó também é possível ser cinza e fuligem... (Eis aí uma prova de que a democracia e o livre arbítrio existem!). Imaginem com que prazer o operador desse forno (que sabe que a morte é o mais potente dos barbitúricos) deve apertar o ON, quando conhece a declaração de IR, a biografia e as canalhices do morto... Um deles, que conheço, me diz que sempre que ouve aquele 'obscuro rebanho de almas' pregando & rezando ao redor do esquife, costuma resmungar: a oração é uma espécie de beijo nas algemas e nas correntes...

Ninguém ainda está falando do assunto, mas é bem provável (e lógico) que a turma dos 'empreendimentos imobiliários' (essa gente com 'alma de costureiras') já esteja se agitando nos bastidores... em reuniões secretas, e que em breve vejamos, nos terrenos imensos dos sete, oito cemitérios que há por aí, se erguerem soberbas e imensas moradias com 5 WCs; com paredes espelhadas, jardins suspensos, parquinhos, como verdadeiras réplicas da Disney, para os inocentes e puros descendentes... Enfim, com tudo o que inebria e excita os novos ricos e os remediados, futuros clientes do forno... E tudo, claro, seguindo as regras funestas da canalhice e do logro recíproco...

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