segunda-feira, 22 de novembro de 2021

Amor entre mulheres! De Safo a Fidel...

"Quando alguém te diz: 'faço isto por duas razões', com toda probabilidade, senão as duas, pelo menos uma é falsa..."(P.)


Acabo de receber, anonimamente, uma noticia de que a Fulana de Tal acaba de declarar que tem um caso amoroso com outra mulher. Evidentemente, a noticia em si, depois do que se sabe de Safo, com sua lira e sua poesia lá em Lesbos, não surpreende mais ninguém, mas, no caso dessa moça.., sim... 

O que teria acontecido? Saciou-se dos homens? Ou é apenas mais uma performance? Um tempero, um condimento e um detalhe do absurdo e fantástico longa metragem que é a vida? Da teatralidade genital? Estaria blefando antes ou agora? Seria um truque para disfarçar a fobia ao sêmem e à pica; para vingar-se do pai e para camuflar a ausência de sexualidade? Ou porque, realmente, lhe é mais confortável, lhe causa menos ansiedade e lhe dá mais prazer? Uma nostalgia das brincadeiras infantis? Saudades do convento? Ou seria apenas mais uma sutileza e uma qualidade daquilo que Victor Hugo chamou de "um demônio sumamente aperfeiçoado?" Uma espécie de paixão por um clone? A propósito, em seu livro  La ilusión vital, falando sobre a clonagem, Jean Baudrillard escreve: "vemos na clonagem o ressurgimento de nossa fascinação por uma forma arcaica de incesto com o gêmeo original e as graves consequências psicóticas desta fantasia primitiva..."

A conheci num dos famosos Festivais del Cine Latino Americano em Havana. Primeiro a encontrei dormindo numa poltrona no aeroporto de Lima, no Peru, onde os aviões cubanos faziam escala e depois, por toda a Havana, seduzindo e se exibindo, cada dia com um cineasta ou com um cubano diferente. Era uma estrela que brilhava por lá e, cuja alcova, no Hotel Nacional, era a mais vigiada e cobiçada. Na noite em que o Fidel falou por umas quatro horas no Teatro Karl Marx, ela, ao ser citada por aquele ex-aluno dos jesuítas, levantou os dois bracinhos no meio da multidão e com um entusiasmo de colegial murmurou: Viva la revolución!, e no espanhol mais brasileiro que já ouvi. Havia chegado lá numa carruagem, cortejada pelo cocheiro, como se fosse uma princesa. E estava ao lado de uma psicanalista argentina tão famosa como o palestrante... Depois, naquele mesmo espaço, num jantar VIP, só para convidados, todos se apressavam em servir-lhe o melhor pedaço da lagosta ao forno e a encher-lhe a taça de um vinho francês que não lembro o rótulo... Ela, ora fazia-se de tonta; ora fingia despistar aqueles que considerava fodedores profissionais...  Em síntese: Cuba inteira, desde os revolucionários mais condecorados até os humildes fazedores de charutos e dedicados desde o século XVI à colheita da cana, parecia empenhada em levá-la para passear em Santiago de Cuba ou em Sierra Maestra num daqueles antigos cadilaques... Uma garrafa de Havana Club na bolsa... e uma música do Manzanillo ou da Mercedes Sosa, ou da Violeta Parra... que saía trêmula do painel... Durante a exibição dos filmes e dos gritos de Viva la Revolución!, todos queriam saber:

- Donde está aquela brasileña que fué mencionada por el camarada Fidel?

E de repente ela aparecia nos braços de outro malandro caribenho ou italiano, uma câmera na mão, uma foto do Che na bolsa de couro e já com outra roupinha sensual, com os cabelos molhados e com aquela beleza ZEN de quem acabava de gozar... Inventava compromissos só para ir e vir de um lado a outro no meio da multidão revolucionária... Dizia que precisava encontrar um dos comandantes de La Casa de Las Américas! E perguntava ao vento: Donde está el muchacho Del ANCINE???... Porque, dizia, iam decidir juntos a que 'camarada' presentear naquele ano com  El Gran Premio Coral. Que livro! Que filme! Que histórico! E no ar, um cheiro de charutos misturado ao do melaço daquele rum, que dizem ser conservado por dois séculos em barris especiais. blá... blá... blá... E o sol... Na vitrine de uma pequena livraria o livro do Garcia Marques: Cien anos de Soledad... Ah, e o sol!... que se espalhava por sobre os casarões antigos, por sobre aquelas paredes ainda crivadas de balas e por sobre as ondas do mar estupendo do Caribe - ondas que estalavam junto aos paredões do Malecon - e que ia até as ruínas de Tulum, no México.

Viva Cuba!, Mierda!

 




2 comentários:

  1. Bazzo relendo seu relato de Kathmandu em "Toaletes e Guilhotinas" fui buscar imagens e me deparei com esse documental:
    https://www.youtube.com/watch?v=gLRjlIU2PuQ

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  2. Excelente e terrível documentário. Acabo de publicá-lo.
    Atenciosamente/Ezio

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