terça-feira, 16 de novembro de 2021

O mendigo K, o paleolítico e Flaubert...

Nesta manhã, com o dia que amanheceu chuvoso, os mendigos se amontoavam como lobos sob a marquise da padaria por onde já flutuava o cheiro voluptuoso da farinha no forno e do açúcar na chapa... Sem falar da fumacinha que subia do coador de café... Até eles, que não precisam cumprir horários, que não fazem parte do teatro oficial e que não lutam por prosperidade e nem para vir a ter um monumento em praça pública, precisam de uma cafeína pela manhã. Outras drogas são para bem mais tarde... E cada categoria ou classe se droga de seu jeito. Dizem que seria difícil suportar 80 ou 90 anos sóbrio, limpo e desintoxicado. E que foi por isso que algumas drogas, tanto física como espiritualmente, desde o paleolítico até hoje, vieram sendo testadas e adotadas com devoção...

Por falar em paleolítico, dois ou três, trêmulos de frio e de fome, estavam com camisetas onde havia impressos os animais que foram identificados lá na gruta de Lascaux... Dizem que um deles,  - que doutorou-se em arqueologia -, por seu bisavô viver na Comuna de Montignac, gostava de passear pelo Vale do Vézère, de vadiar por sítios arqueológicos e que as trouxe de lá... Enquanto esperavam ali, uma filha do padeiro, com trejeitos de noviciado, veio trazer-lhes um pacote com uma dúzia de Croisants de Baru. Eles, acostumados às maneiras e às baixezas do tugúrio, receberam a oferta quase indiferentes e depois que ela voltou para a direção dos fornos, murmuraram esta frase de Flaubert: a fraternidade é uma das mais belas invenções da hipocrisia!





Nenhum comentário:

Postar um comentário