domingo, 28 de novembro de 2021

E Montevideo é invadido por uma Iliada de toupeiras...

"Pensar em influenciar o vulgo com sentimentos elevados, é como querer cortar pedras com uma navalha..."(Swift)


Meu correspondente no Uruguay acaba de enviar-me noticias de lá. Diz que a cidade respirou aliviada hoje pela manhã, aos ver as últimas levas de torcedores atravessando a fronteira de volta para o Brasil. Que uns marmanjos iam chorando porque seu time havia vencido e que outros choravam porque o seu havia sido derrotado... E que a velhinha que lhe fazia esse relato, uma antiga militante dos Tupamaros, estava verdadeiramente atordoada com toda aquela alienação e se perguntava: De onde lhes vem tanta emoção e essa estranha histeria? O que lhes falta? Quê problemas íntimos depositaram nesse esporte de búfalos?

E diz a noticia:  quem não teve tempo de conhecer a precariedade de Berlin Oriental, poderá (guardando as devidas proporções) dando um giro aqui por Montevideo, pelos shoppings, boutiques, mercados, farmácias etc., ver tudo como era lá, ainda sob a ótica severa e bucólica dos sovietes. Tudo de uma singeleza de dar pena! Bazzo, para não ter que entrar em detalhes, imagine o Mujica como seu fusca. É ele o que melhor simboliza e representa isto aqui. E saber que o próprio Mujica foi um dos principais Tupamaros! Quem é que nos anos 60/70 não tinha como heróis aos Tupamaros? (Tupac Amaru: o último imperador Inca pisoteado pelos espanhóis (1570)). Tudo ruiu e evaporou-se. E hoje o país só esbanja melancolia...O que há de novo, é que quem tem autorização da policia pode comprar, nas farmácias, dois ou três baseados da 'erva do diabo' por semana. Ora! Mas isso é ridículo! Já que a única coisa que havia de alucinógeno nessa singela plantinha era a clandestinidade... E dizem que já há até um projeto no Palácio del Gobierno e junto ao Episcopado Uruguayo, para oferecer a droga no formato de supositórios...

E a velhinha, que dizia, no passado, ter tido o maior rebanho de ovelhas da América do Sul e que sabia fazer qualquer coisa com a lã de suas ovelhas, lhe perguntava num tom de crítica: E viu a mocinha que veio dar um show antes do jogo!? E que ficava de cócoras imitando a Madona!? Com sete ou oito outras dançarinas tremulando as nádegas para aquela imensidão de toupeiras!? Qué les pasa a  ustedes? Están locos?

Além das dançarinas, o que mais a havia impressionado, foram os radialistas que falavam do enfrentamento dos dois times com o mesmo entusiasmo do speaker nazi, quando os alemães de Hitler estavam na eminência de invadir a Russia... Um deles, segundo ela, com os olhos saltando para fora das órbitas, chegou a repetir que este jogo ficaria para a eternidade! Imagine! Ficar para a eternidade uma idiotice destas! Isso é demais! Qué les pasa? Están locos? É isso que vem transformando nossa juventude num rebanho de energúmenos irrecuperáveis!

Enfim, foi um circo! Eu,  - dizia ela - que ainda criança, estive na clandestinidade com Jango Goulart e que até servi em minha casa o mais legitimo alfajor uruguayo para a Maria Thereza (sua linda mulher), ficava olhando para aquela multidão despirocada, e pensando: Como foi possível que com tanta gente cheia de energia e fanática desse jeito, politicamente o Brasil tenha chegado a ser a merda que é?

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