sábado, 18 de abril de 2020

Yes, no vírus nos acreditamos!




"Mesmo que as circunstâncias históricas favoreçam algumas descobertas, a ciência precisa de dissidentes, esses tipos que andam contra o relógio e enxergam o que as circunstâncias escondem de todos nós..."
SAM KEAN
(IN: O polegar do violinista, página 106)

Segundo as declarações que ouvi ontem de um sujeito norte americano que vive aqui nos trópicos, a cidade de Detroit e arredores (para onde o vírus de NY está migrando) têm um sistema de águas tão precário como o de nossas periferias. E mais: várias congregações religiosas de lá, desde seus púlpitos, continuam assegurando que o Coronavírus não existe, deixando nas entrelinhas dos sermões, que tudo não passa de uma artimanha e de um teatro orquestrado pelo diabo.  O mesmo diabo que elegeu o Bolsonaro - segundo certos dementes.
Será que esses profetas do absurdo não estariam cheirando demais? 
Aliás, observem como o vírus esta sendo tratado, (tanto pela suposta esquerda como pela suposta direita) de maneira semelhante àquela como se tratavam as questões demoníacas lá na obscuridade histórica, entre as loucos das primeiras diásporas africanas e asiáticas. Até o costume de colocar a mão na boca ao tossir ou expirrar, tinha a função de não deixar a alma sair e voltar infectada pelo demônio. Sem falar do fato de que o vírus, também, como o diabo, é onipresente, esta em tudo, no box do banheiro, em baixo das cobertas, no copo de cachaça, no elástico das calcinhas e nas costuras das cuecas. E se naquela época sombria e absurda era a água benta que dava a ilusão de proteção aos filhos e netos de Cain, agora, nesta fajuta modernidade que está sendo humilhada e subjugada por um vírus, é o álcool gel e o sabão que não podem faltar. Agua benta na testa! Sabão entre os dedos e por debaixo das unhas... porque, como o diabo, o vírus pode estar por todos os lados, tanto na fechadura dos barracos, como no cocô do cachorro, e na flor amarela dos hibiscos. Cuidado! Cuidado! Nenhum mantra e nenhuma superstição é demais nos dias de hoje! O alho. Lembram do uso e dos benefícios do alho, do escapulário e dos patuás para afastar o Demo nas sessões de  feitiçaria? E também do sal grosso? E do chá de Mandragora? Lembram das rezas a São Cipriano? Dos poemas de William Blake? É curioso que mesmo diante do horror das fossas coletivas em Nova Iorque, os pastores de lá, insistam que o vírus não existe. 
Qual é a lógica dessa gente? 
Nunca leram nada sobre as complexas malandragens do DNA e do RNA? 
É evidente que no dia em que até um padeiro e um vendedor de pamonhas puder traduzir as informações contidas em nossos genes, a humanidade sentirá vergonha, muita vergonha de tudo isso...  Mas, até lá... 
Por enquanto, é curioso  e surrealista que as igrejas continuem cheias. O que aconteceu com essa espécie? É evidente que o mal que esses estelionatários metafísicos fazem ao mundo é bem maior que os do vírus! Mas, curiosamente, são tolerados, isentos de impostos, recebem terrenos do Estado, financiamentos, crianças para serem iniciadas ...
Diferentemente deles, e sabendo que tanto o demônio como as crenças no além são ficções para idiotas, nesta manhã nublada, o mendigo K, que andava aqui pela cidade protegido por uma máscara preta que lhe ia do queixo até a parte  superior do nariz, quando encontrava uma dessas velhinhas paranóicas, com um rosário enrolado no pulso, baixava a máscara com todo o cuidado recomendado pela OMS, e gritava:
Yes, madame, diferentemente dos pastores, no vírus nós cremos!
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(A pintura, acima, é de David Dalla Venezia)








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