sexta-feira, 24 de abril de 2020

O vírus e Blavatski...

A sexta-feira, que atualmente não se difere em nada da segunda, da quarta e do sábado, para sacanear ainda mais com os pobres confinados, amanheceu chuvosa. Nos prédios vizinhos, na escola da frente, na portaria das garagens, nas varandas onde costumam bater panelas contra o Bolsonaro, e até nos céus.., silêncio total. Teria morrido todo mundo? 
Não! - ouço uma voz grave saída do Manual de psicopatologia -, é a depressão competindo com o vírus. 
Os sábios de plantão (esses onanistas inveterados) já estão até prevendo que, após o vendaval, os que sobreviverem terão que reformular o Contrato Social. Rever os protocolos da vida sedentária e decretar o fim do nomadismo.  É o vírus pisoteando a Rousseau!  A Kant!, A Santo Agustinho! E dando razão a Schopenhauer.
Quem viajou, viajou! Quem conheceu o planeta, conheceu! Porque os aeroportos apodrecerão e os aviões se transformarão em viveiros de ratos e de pombos. Que furada! 
E o problema social maior, é que essa proximidade forçada é um terror tanto para nós como para os porco-espinhos. Quem é que consegue imaginar os porco-espinhos se aglomerando, se ajuntando, se encostando e se apalpando? E são espinhos de verdade! 
E, segundo alguns estudiosos, quanto maior a carência de afagos e de afetos, mais venenosos se tornam os espinhos. De onde nos chegaram essas semelhanças com animal tão escroto? Haverá alguma explicação na Origem das espécies? Mas meu Darwin desapareceu da estante. Quem teria sido o gatuno?
E por falar no "fim das viagens", hoje encontrei uma senhora que se considera a rainha das esotéricas aqui da cidade. Daquelas que diz que consegue viver de luz e de amor. Foi logo me ironizando: e então Bazzo? Acabaram-se as viagens e a putaria pelo mundo? Agora vai ter que ficar enfiado em casa como um bundão e como um Barnabé?, escutando as fofocas das vizinhas por detrás das persianas? e lavando louça? E comendo espaguete com cogumelos? E esperando a morte chegar, como um idiota? Mas relaxe, Bazzo, nós, desde nossas catacumbas do esoterismo, podemos ensinar-te a arte das viagens astrais.
Pensei que ela estava me sugerindo uma fungada em cocaína, a tomar um ácido ou a acender um baseado, mas não, ela tirou da bolsa um livro de Helena Blavatski, fez uma pequena dedicatória antes de presentear-me com ele e saiu calmamente. Antes de desaparecer no estacionamento, lançou-me esta frase: Bazzo, não esqueça: nenhuma religião é superior à verdade!

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