sexta-feira, 8 de outubro de 2021

Receita de pés de galinha e de ossos à milanesa...



"Os mentirosos mais nocivos são os que resvalam na orla da verdade..." J.C. Hare



A velhinha armênia apareceu no mercado mais simpática do que nunca, com seu lenço amarelo de seda italiana enrolado de qualquer jeito na parte traseira da cabeça dizendo a outros clientes que ali na parte posterior do crânio existe alguma coisa chamada nervo vago que deve ser protegido para evitar uma crise vasovagal ou uma síncope... Disse ter ouvido essa história de seu marido que tem 26 anos a mais do que ela e que ainda sonha em escalar o Himalaia... Estava solidária tanto com a mulher que foi presa num mercado de SP por roubar dois ou três pacotinhos de miojo; como com as adolescentes que, pelo veto do Presidente da república ao projeto que previa a distribuição gratuita de 'absorventes', terão que continuar resolvendo suas menstruações no estilo antigo de suas avós: com panos, trapos, papel, toalhas, folhas de bananeira e etc. Menstruar! Ninguém mais tem dúvidas de que o 'criador' estava bêbado, despeitado e ressentido quando condenou as mulheres a esse incômodo... Sem entrar em detalhes sobre essas duas barbaridades sórdidas, passou a falar de uma  apresentadora de TV que estaria ensinando às donas de casa a como preparar pratos 'deliciosos-com-pés-de-galinha'. Do jeito que as coisas vão - dizia -, logo passarão a dar  receitas de como preparar ossos à milanesa...

E completou, em voz baixa: Lembra dos anos 70, Bazzo, quando aquela empresa suíça comprava todo o leite nacional e havia campanhas por aí para que os pobres comessem casca de banana e de ovos para minimizar a desnutrição? Quem está comendo ossos, pés de galinha e vísceras de peixes hoje, são os netos e os bisnetos daquela gente... Apesar de atualmente, até os energúmenos se declararem defensores da ciência, (observem como de uns tempos para cá, misteriosamente, essa palavra passou a conferir um ar de importância a quem a pronuncia) o ciclo da fome não tem fim... 

Passou a relatar que no Rio de Janeiro de outrora, a burguesia e outros lacaios da República matavam vacas de vez em quando e que o faziam sempre em segredo, com 'segurança máxima', escondido das massas de miseráveis e que jogavam as vísceras dos animais ao mar.  - faz um silêncio e conclui - Mais tarde, os famintos que de alguma maneira ficavam sabendo do abate, mandavam seus filhos mergulharem nas águas 'azuis e românticas da Guanabara' para tentar recolher aqueles restos de imundices, já beliscados pelos peixes... O horror não é coisa só de agora... Temos tradição! 

A pandemia - seguiu falando -, colocou outra vez em evidência o caráter essencial dos negociantes. Nunca se roubou tanto! E falam do Crime Organizado se referindo sempre à bandidagem clandestina & marginal. Ora, não sejam cabotinos. Até as putas sabem que o endereço do Crime Organizado é outro! E nunca se deixou tão explicito o desprezo que se tem pelos miseráveis. Num mercado do Pará,  - outro exemplo - estão vendendo até ossos e vísceras de peixes... Imagine um pirão feito com ossos e com vísceras de peixes, seguido por um copo de água retirado diretamente do rio! E é essa gente que indica nomes e que vota neles de cinco em cinco anos; que têm representantes vitalícios no Congresso Nacional e que, pela manhã, antes mesmo de abrir seus mercados, suas lojas e seus bancos, vai à missa ou ao culto pedir uma benção e proteção divina. Qual é a lógica? Qual é o sentido? De onde arrancam tanto cinismo? Não, o reino dessa gente não pode ser deste mundo... E muito menos do outro! E não é com fábulas e nem com parábolas lúgubres que se conseguirá livrar o mundo desses escroques e de seus asquerosos capatazes...

Ao mesmo tempo os governantes e seus subalternos, movidos por uma superstição hormonal e cambial, se pavoneiam de que temos o maior rebanho do mundo; que mandamos laranjas até para a cochinchina; que traficamos pedras preciosas sem grandes embaraços e que a safra de grãos do próximo ano será a maior da história. Ora! Que enfiem os rebanhos, as pedras preciosas e a maior safra da história, no rabo.





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