quarta-feira, 13 de outubro de 2021

E por falar no CID 11 e nos burocratas da OMS que agora pretendem enquadrar a velhice como doença...

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"CELIBATÁRIO -  Um homem que perdeu o ensejo de tornar infeliz uma mulher..." (Garland Pollard)

Uma ou duas vezes por semana, lá pelas 10 da manhã, assisto da varanda a um homem extremamente magro, celibatário, já passado dos 60, que lava seu fusca. É um fusca quase amarelo, daqueles com o retrovisor igual aos das bicicletas antigas e com os pneus mais finos que os das motos atuais. No parabrisa traseiro um plástico com a inscrição: Guiado por mim, dirigido por Deus. (Ou seria o contrário?) Em síntese: é um fusca daqueles dos tempos do  Juscelino. Por sobre sua cabeça e por sobre a copa das sucupiras um céu azul estupendo salpicado de nuvens estressadas que se movem sem direção e que lembram as de Magritte. A pandemia esvaziou as ruas, as quadras, as pequenas feiras que existiam no promontório dos prédios. Ninguém mais fala com ninguém. As mulheres até estão reclamando que não são mais desejadas, assediadas, olhadas de cima a baixo por um ou outro cafajeste enquanto acaricia o zíper da braguilha...  O sujeito continua lá, limpando aqui e limpando ali e o faz quase amorosamente, com detergentes neutros mas perfumados, lavando roda por roda, parafuso por parafuso, parachoque por parachoque, a ponta do escapamento carcomido pela poluição e pelo tempo... Depois abre a portinhola do motor e examina uma e outra peça, a bucha da biela, o cabo das velas, o óleo do cárter e assopra no carburador. Verifica os níveis da água e o estado da correia. Passa ali quase a manhã inteira, naquele envolvimento semi-amoroso com a máquina que Hitler idealizou para que seus soldados se movessem melhor nas intempéries dos desertos africanos... 
Uma senhora mais ou menos de sua idade se aproxima, tímida, deprimida, com chinelos de pano cor de rosa, quase pisando em espinhos, querendo compartilhar com aquele Mané uma ou outra desgraça. Mas ele a ignora como se sofresse de uma surdez congênita. 
E o que é mais transcendente nesse ritual de limpeza, é que desde que a inicia, passa o tempo todo ouvindo, de um gravador instalado sob o banco, a música Monday Monday, do grupo The Mamas and the Papas...
Todo mundo (com uma certa piedade, é verdade) se identifica e simpatiza com ele... 
Monday... Monday...


3 comentários:

  1. Esse tal adesivo é cômiCU KKKKKKKKKKKK
    Realmente que mané!!!
    Sua ironia foi ótima Ezio...ou "seria o contrário..." morri de rir kkkkkkk

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  2. https://youtu.be/OJtcn2dfBk0

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