"Se vocês não fossem oprimidos, seriam opressores..."
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O populacho, a classe média baixa, e os de outras variantes dos fodidos nacionais estão, outra vez, fingindo espanto diante da revelação de que o Ministro da Economia e o Presidente do Banco Central têm uma boa grana depositada no além-mar, naqueles covis que eles chamam de offshores. Mas não passa disso. De imediato causa um impacto, uma inveja, um surto de moralismo histriônico, um cristianismo também histriônico e tardio... mas, como se crê que há uma metamorfose em curso, tudo logo passa... Os colegas da mídia e os colegas confessores dessa gente se apressarão em esclarecer que não há nenhuma ilegalidade nisso e os colegas da Receita Federal fingirão não ter nenhum conhecimento sobre o assunto. Que são coisas da república! De vira-latas! De ex-tarefeiros! De mercenários! De cuequinhas manchadas! Coisas da democracia! Do capitalismo! Do liberalismo, esse panteão de escroques! Da espécie! Dos mais competentes! Lembram de Darwin? Ah!, ainda não leram a Darwin? E nem a Marcuse? Mas então, como querer criticar uma offshore? Como entender alguma coisa desse puteiro?
Talvez, a repercussão de hoje aparente ser maior que as anteriores pelo fato de haver comunidades inteiras sendo filmadas e fotografadas por aí sobre carroças e caminhões se digladiando como abutres e cachorros na disputa por ossos! Sim, pelo esqueleto de vacas e de frangos, cuja carne já foi papada com champanhe e brioches nos festins dos senhores das offshores...
Mas não adianta se excitar, gargantear e nem espernear, camaradas! Lembrem-se daquilo que vocês mesmos fizeram no verão, na primavera, no inverno e no outono passados...
E depois, trata-se apenas da tal prosperidade que os pastores e os padres tanto falam a seus rebanhos!
Prosperar! Triunfar! Essa compulsão cretina das cortesãs, dos subalternos fanáticos e do lupemproletariado em geral! Deus quer que sejamos prósperos, não é verdade? Para que sigamos concluindo sua precária e inacabada obra, não é verdade? E a prosperidade é isso aí! não é mesmo? O que é que não se compra com um punhado de ouro? Lembram do Albino Forjaz de Sampaio? Ele que dizia: "Por dinheiro tudo se compra. As bênçãos das santas e o crânio dos heróis, a camisa de dormir da tua noiva e o rosário do teu confessor. Ciganas e écuyères, saltimbancos e mendigos, fidalgos e aguardente, trapeiros e sacerdotes, coveiros e apóstolos, santos e famintos, sultanas e cadelas, bobos e cortesãs, escravos e libertos, tudo isto é da sua corte. O próprio Deus, o próprio céu rende-se, quando se lhe mostra um punhado de ouro".
Sim, e você, que para substituir o ópio de outrora, segue acreditando em outra vida, na vida eterna e até no paraíso, é bom que fique sabendo: lá também já está tudo dominado! Os principais terrenos já estão todos escriturados no nome dessa gente. As offshores das Ilhas Virgens Britânicas e do Caribe não são nada comparadas às offshores celestes... Proletário e fodido aqui, proletário e fodido lá! E atenção para o que dizia Espinosa: nenhum auto sacrifício será recompensado.
Portanto, não se avexe.
Pegue teu osso cabisbaixo, até de joelhos se for necessário, arrume um punhado de sal (lembra do salarium?) e verás que já amanhã, tudo terá passado!
E lembre-se sempre de duas coisas: 1. sair da favela é relativamente fácil, o difícil é tirar a favela da gente...
2. Apesar de vossa lenga-lenga, se vocês não fossem oprimidos, seriam opressores!
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