segunda-feira, 4 de outubro de 2021

Offshore - E você, também tem alguns trocados depositados lá nas Ilhas Virgens Britânicas? Ou seria no Caribe?


"Se vocês não fossem oprimidos, seriam opressores..."

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O populacho, a classe média baixa, e os de outras variantes dos fodidos nacionais estão, outra vez, fingindo espanto diante da revelação de que o Ministro da Economia e o Presidente do Banco Central têm uma boa grana depositada no além-mar, naqueles covis que eles chamam de offshores. Mas não passa disso. De imediato causa um impacto, uma inveja, um surto de moralismo histriônico, um cristianismo também histriônico e tardio... mas, como se crê que há uma metamorfose em curso, tudo logo passa... Os colegas da mídia e os colegas confessores dessa gente se apressarão em esclarecer que não há nenhuma ilegalidade nisso e os colegas da Receita Federal fingirão não ter nenhum conhecimento sobre o assunto. Que são coisas da república! De vira-latas! De ex-tarefeiros! De mercenários! De cuequinhas manchadas! Coisas da democracia! Do capitalismo! Do liberalismo, esse  panteão de escroques! Da espécie! Dos mais competentes! Lembram de Darwin? Ah!, ainda não  leram a Darwin? E nem a Marcuse? Mas então, como querer criticar uma offshore? Como entender alguma coisa desse puteiro?


Talvez, a repercussão de hoje aparente ser maior que as anteriores pelo fato de haver comunidades inteiras sendo filmadas e fotografadas por aí sobre carroças e caminhões se digladiando como abutres e cachorros na disputa por ossos! Sim, pelo esqueleto de vacas e de frangos, cuja carne já foi papada com champanhe e brioches nos festins dos senhores das offshores...



Toda vez que explode uma noticia destas fico imediatamente pensando nas mulheres e nas amantes dos envolvidos, com seus camisolões de seda e sapatos que custaram umas quinhentas cestas básicas e quase o valor total dos precatórios, correndo ansiosas pelos corredores do Hilton de Roma. Seus perfumes inebriantes comprados ali no 16 arrondissement de Paris
 ou na boutique da filha de um berbere na 3 Nasr Awad, do Cairo. E em seus soutians feitos por travestis poliglotas, peças que sustentam as tetas empinadas até aos noventa e com o bico na direção das galáxias...

Mas não adianta se excitar, gargantear e nem espernear, camaradas! Lembrem-se daquilo que vocês mesmos fizeram no verão, na primavera, no inverno e no outono passados...

E depois, trata-se apenas da tal prosperidade que os pastores e os padres tanto falam a seus rebanhos! 

Prosperar! Triunfar! Essa compulsão cretina das cortesãs, dos subalternos fanáticos e do lupemproletariado em geral! Deus quer que sejamos prósperos, não é verdade? Para que sigamos concluindo sua precária e inacabada obra, não é verdade? E a prosperidade é isso aí! não é mesmo? O que é que não se compra com um punhado de ouro? Lembram do Albino Forjaz de Sampaio? Ele que dizia:  "Por dinheiro tudo se compra. As bênçãos das santas e o crânio dos heróis, a camisa de dormir da tua noiva e o rosário do teu confessor. Ciganas e écuyères, saltimbancos e mendigos, fidalgos e aguardente, trapeiros e sacerdotes, coveiros e apóstolos, santos e famintos, sultanas e cadelas, bobos e cortesãs, escravos e libertos, tudo isto é da sua corte. O próprio Deus, o próprio céu rende-se, quando se lhe mostra um punhado de ouro".

Sim, e você, que para substituir o ópio de outrora, segue acreditando em outra vida, na vida eterna e até no paraíso, é bom que fique sabendo: lá também já está tudo dominado! Os principais terrenos já estão todos escriturados no nome dessa gente. As offshores das Ilhas Virgens Britânicas e do Caribe não são nada comparadas às offshores celestes... Proletário e fodido aqui, proletário e fodido lá! E atenção para o que dizia Espinosa: nenhum auto sacrifício será recompensado.

Portanto, não se avexe. 

Pegue teu osso cabisbaixo, até de joelhos se for necessário, arrume um punhado de sal (lembra do salarium?) e verás que já amanhã, tudo terá passado!

E lembre-se sempre de duas coisas: 1. sair da favela é relativamente fácil, o difícil é tirar a favela da gente...

2. Apesar de vossa lenga-lenga, se vocês não fossem oprimidos, seriam opressores!


 


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