domingo, 31 de outubro de 2021
sábado, 30 de outubro de 2021
Viagem ao fundo dos galinheiros... Ou: Por quem os galos cantam...
"Um homem foi preso, nesta sexta-feira (29/10). suspeito de matar um vizinho depois de uma briga por causa de um galo, em Petrópolis, no Rio de Janeiro. De acordo com a Polícia Civil, o homem morto acreditava que o animal cantava o nome do presidente Jair Bolsonaro.
O crime aconteceu em 4 de setembro. O homem levou um tiro e depois de caído ainda foi golpeado na cabeça com uma pedra de aproximadamente oito quilos. Segundo a investigação, a briga entre os vizinhos já durava muito tempo motivado pelo barulho do galinheiro. Por fim, a vítima acreditou que o suspeito teria ensinado o galo a cantar "Bolsonaro" por implicância. O suspeito chegou a fugir do local e se abrigar na mata, mas compareceu a delegacia dias depois para dar depoimento". (Correio Brasiliense de hoje)
https://bilisnegraeditora.minhalojanouol.com.br/produto/358641/viagem-ao-fundo-dos-galinheiros
A VIDA EM QUADRINHOS... E a idiotice que vai se agravando...
E a polêmica com um jogador de vôlei lá de Minas Gerais continua.
Ao ver a imagem de dois personagens do mesmo sexo se beijando numa dessas revistinhas norte-americanas feitas por e para beócios, o jogador (que não é lá um grande pensador) teria resmungado: "Ah, é só um desenho, não é nada demais... Vai nessa que vai ver onde vamos parar".
sexta-feira, 29 de outubro de 2021
Luis Ricardo Falero - Granada, Espanha (1851-1896)
"Criaturas que os asiáticos escravizam,
os europeus respeitam, os americanos contratam e os latinos seduzem"(Freire)
quinta-feira, 28 de outubro de 2021
POS-MODERNIDADE & LUXURIA - Gostaria imensamente de assistir minha bisavó, enrolada em seus trapos bizantinos, lendo e tentando entender esta matéria...
"Todo critico que se negue a admitir a possibilidade de um cavalo galopar num tomate, é um idiota..."(André Breton)
quarta-feira, 27 de outubro de 2021
O DIA DO JUÍZO final, na CPI...
"Se a peste concedesse subsídios, não lhe faltariam aduladores e servos..." (Proisy d'Eppe)
Na terça-feira, dediquei algumas horas para assistir à leitura do Relatório final da CPI da COVID. Quem não assistiu, perdeu. Foi impressionante. E tudo num clima impregnado de religiosidade. As roupas, os gestos, os movimentos das mãos, as palavras, a liturgia. Se tivessem levado um padre para dar uma benção aos inquisidores e aos condenados, teria sido o máximo. O ritual teve três pontos altos: 1. O momento em que o redator enquadrou um velhote senador do RS, por este ter voltado a mencionar a maldita cloroquina; 2. Quando dois senadores, emocionados, recitaram alguns poemas em homenagem aos mortos, às 600 e tantas mil vítimas da pandemia e o Terceiro, quando, por sugestão de uma ilustre senadora do Maranhão, em homenagem aos mortos, todos ficaram em pé e em silêncio!
O câmera, (não sei se por casualidade ou se por lucidez) que mostrou todos aqueles senhores & senhoras de costas, de cabeça baixa e com uma mão segurando a outra na altura dos genitais, sem saber, estava registrando ali uma cena cinematográfica extraordinária, quase de outro mundo. Enquanto admirava aquela performance eu resmungava para mim mesmo uma frase que havia lido lá no Gog, de Papini, que parecia não ter nada a ver com aquele momento mas que não me saia da cabeça: as peripécias de um professor demoníaco servido por um demônio profissional....
Por mais que eu me esforçasse para manter-me sóbrio, dentro do decoro e da altura daquele ambiente, afinal de contas, já sou um homem com mais de 71 anos, também ouvia uma voz insistente e meia autoritária que vinha de meu íntimo e que me dizia: Bazzo, perceba como isto se parece às vezes a uma delegacia de policia e às vezes a um colégio de freiras!
E os ilustres senadores, esquecendo os esgotos que-correm-a-céu-aberto; as cadeias lotadas de gente que está presa ilegalmente e as condições gerais de penúria em que se debatem os eleitores de seus próprios estados, elogiavam mútua e amorosamente a competência uns dos outros. Um dizia que sem a existência do outro a CPI não teria existido e este retrucava com um verso, com uma epifania ou com um elogio ainda mais cabotino, fraternal e fictício. Mas os mais inusitados panegíricos foram dirigidos à meia dúzia de mulheres que compunham o grupo. E o faziam com palavras que, para um linguista profano, não acadêmico, poderiam estar insinuando exatamente o contrário. Eram palavras vazias, abstratas, quase bizarras, que frequentemente se ouvem nas feiras e nos bazares mas, segundo eles, sempre republicanas. Pareciam ter chegado recentemente de Pasárgada... E não se cansavam de fuzilar em coro o Presidente da república que, cansado de dizer bobagens antropológicas e médicas, deveria, naquela hora, estar refugiado em seu Palácio e de lá, assistindo aquela sessão cercado por generais e tomando um chá de Ivermectina...
De vez em quando, um ou outro (valendo-se ora da teosofia, ora da ontogenia, como desculpa) quase tinha uma ereção ao mencionar o Tribunal Penal Internacional ou o Estatuto de Roma... Mas como, na verdade, ninguém sabia muito bem do que se tratava, dava meia volta e, brandindo febrilmente os braços como um asceta no deserto, cacarejava agora uma ou outra bobagem lírica e utópica em nome de Deus. Teve até uma ilustre senadora que depois de mencionar o calvário de achaques e de horrores pelos quais passam as mulheres num mundo - cada vez mais machista, mais homofóbico e mais misógino -, e depois de anunciar a luta que, necessariamente, terá que ser travada daqui para diante se se quiser domar esses estúpidos e sexistas brutamontes, lembrou a clássica frase do camarada Che Guevara: Pero... sin perder la ternura jamás!
Saldo: Oitenta e tantos indiciados por algum tipo de teimosia, de ignorância e de delinquência no manejo com o vírus, com as vacinas, com os hospitais, com os remédios, com os memorandos, com o oxigênio, com a grana, com a maconha, com as funerárias e até com as palavras... Sim, com o crime dos adjetivos! Ah, os adjetivos!
E eu que sempre os considerei o pináculo e o esplendor da linguagem... que sem eles, os discursos, os negócios e até as transações amorosas por mais melodramáticas e histéricas que sejam, não passam de um lero lero entre surdos, entre bufões invejosos, vaselinas e entre babacas...
_______________________
ANTROPOLOGIA - A verborreia interminável sobre a epiderme, sobre o dinheiro, sobre a solidão da existência, sobre a tirania, as cores e o racismo...
terça-feira, 26 de outubro de 2021
Mais um que promete ressuscitar no Terceiro Dia...
segunda-feira, 25 de outubro de 2021
TERRA DE CAVALOS... A arte de domesticar o populacho pela omissão...
O Mendigo K, que tem dois pangarés que sempre aparecem por aí atrelados a uma carroça feita com sucatas, estava indignado com a superficialidade e com a falta de conteúdo da matéria. Dizia: a omissão é uma forma sutil de censura e de educar para a pobreza e para o atraso. Se preocuparam apenas em mostrar o cavalo nas fazendas dos milionários; o cavalo como fetiche e instrumento de trabalho para um ou outro campônio; o amor da pequena burguesia por esse monstro domesticado; os negócios que o mercado desse animal agita: fábricas de arreios, de ferraduras, de rédeas, clinicas veterinárias... Tudo o que uma criança suburbana de 10 anos já sabe.., enquanto omitiam fatos bem mais transcendentes sobre esse animal...
Por exemplo, que fatos? Perguntou-lhe desafiadoramente um outro mendigo.
Por exemplo? - Respondeu meio agressivo - 1. A relação dos ciganos com os cavalos e o fato de que os cavalos da monarquia portuguesa no Brasil eram todos adestrados por ciganos. 2. A importância dos cavalos na primeira e segunda guerras mundiais. Aliás, em todas as guerras. 3. O espanto dos nativos aqui da América, quando viram os espanhóis saindo das caravelas montados nesses 'monstros'. E poderiam, por que não?, até ter mencionado o cavalo Incitatus, aquele a quem Calígula conseguiu uma vaga como senador, no Senado romano. 4. Não mencionaram os cavalos como alimento e nem os mercadores que se infiltravam nos campos de batalha, na Europa, disputando os cavalos feridos ou já mortos, para seus negócios culinários. Aliás, a matéria não informou nem mesmo que até hoje existem não apenas no Rio Grande do Sul, em Goiás e em Minas Gerais, mas também em Paris e Londres, açougues e restaurantes especializados em carne de cavalo. E nem que nossos jumentos (primos dos cavalos) são exportados aos milhares para a China, onde são banqueteados. Sobre este parente dos cavalos, poderiam ter mencionado, pelo menos, o Asno de Buridam! Quanta omissão! Teria sido por pudor? Que não tenham mencionado o cavalo em performances pornográficas com mulheres, (nos videos mais visitados da internet) é compreensível, mas bem que poderiam ter falado da escultura mais importante de Londres, lá no Arco de Mármore, aquela estupenda cabeça de cavalo... E até mesmo do Cavalo de Troia... Por quê não? O que seria da Eneida, da Iliada e mesmo do poeta Virgílio, se não fossem os cavalos?
E quem é que não viu lá em San Petsburgo, a estátua de bronze de Pedro (O Grande), montado em seu cavalo? E que mais tarde foi quase substituída por Lênin, agora montado num tanque de guerra?
Fez um silêncio e arrematou: desse jeito, com os meios de comunicação investindo cada vez mais em superficialidades e em 'nivelar por baixo', privilegiando mais a forma do que o conteúdo, apenas para saciar e anestesiar as massas, já entorpecidas, estaremos colaborando para que a pobreza intelectual e o reino dos simplórios se agravem e se perpetuem...
Enfim, me digam: quem é que já não está de saco cheio com toda essa babaquice rasteira e cotidiana?
Mas, ao mesmo tempo, me digam: quem é que ainda não sabe que não adianta espernear? Por quê? Porque está tudo dominado e porque, como dizia Flaubert: Vivemos num mundo onde nos vestimos com roupas feitas. Pior para os que têm estatura superior à normal....
TESE DOUTORAL SOBRE OS CIGANOS NO BRASIL - Leitura mais do que importante...
domingo, 24 de outubro de 2021
Desiludida - a mulher que se casou porque não gostava de trabalhar...
Neste domingo de primavera, os mendigos estavam reunidos numa pequena pracinha que existe diante de uma igreja católica de onde lhes chegava uns resmungos misturados às notas de um órgão. A cantoria que lembrava ora o Miserere de Mozart e ora os gritos gregorianos, parecia incomodá-los. Estava acontecendo um casamento. De repente a noiva saiu pisando em ovos, com quatro ou cinco babacas lhe abrindo caminho e quatro ou cinco crianças (futuros babacas) que iam atrás levantando-lhe vestido para que não o arrastasse na poeira. Ela ia soberba, com luvas brancas, uma flor amarela nos cabelos, com os olhos cínicos, meigos e infantis procurando as câmeras e os fotógrafos... ia uns dois passos à frente de um padre, quase mais delicado do que ela, que agitava um aspersório do qual saltavam grossas gotas de água benta por todos os lados... Muitos dos mendigos juravam que a conheciam. Tinham certeza que ela era uma das frequentadoras de um boteco, perto dali, onde se reunem todos os tipos de homens e mulheres, dos mais pervertidos aos mais reprimidos; Lulistas, Bolsonaristas e até quem chora ao lembrar do deputado Clodovil... Gente que intercala Lacan com Marques de Sade; Chico Xavier com Descartes e que, de hora em hora, vai à toalete para cafungar um pó e para apalpar-se...
A mulher do Mendigo K, que há uns cinquenta anos vem tentando convencê-lo a casar-se com ela, não escondia que estava achando tudo aquilo 'Muito Lindo!'... 'Divino!'... 'Uma maravilha!' O sonho de toda mulher! O Amor! A Sagrada famiglia! A fidelidade! O lar! O adeus oficial ao hímen sem ser acusada de putaria! Meia dúzia de filhos! Enfim: o Matrimônio, no sentido mais idílico & sagrado da palavra!
Para provocá-la ele, já com um bafo de salame com vinho, lhe retruca com uma noticia que seu pai dizia ter lido no The Saturday Evening Post, nos anos em que viveu como um clochard, em Londres:
"DESILUDIDA – a mulher que se casou porque não gostava de trabalhar."
sábado, 23 de outubro de 2021
A suástica como arquétipo do mal...(?!)
"O mundo compõe-se de duas grandes classes: os que têm mais jantares do que apetite, e os que têm mais apetite que jantares..."(Chamfort)
Na semana passada houve uma pequena confusão na Câmara Municipal de Porto Alegre onde se discutia a obrigatoriedade ou não do tal Passaporte da Vacina. A confusão começou quando entrou no ambiente um grupo com um cartaz contendo uma suástica.
Por quê Hitler e seus propagandistas a teriam escolhido?
É compreensível que sua presença acione memórias, lembranças, ódios e traumas terríveis, mas não é com seu degredo que se apagará da historia esse desvario e esse sofrimento.
Aliás, é importante relembrar da técnica de um dos mais ilustres sobreviventes do nazismo: Recordar, Repetir e Elaborar... "Mesmo sendo o princípio básico da psicanálise: Recordar, Repetir e elaborar, a grande maioria dos analistas não está em condições de colocá-lo em prática com relação ao Nazismo. Estavam, e estão, submetidos aos mesmos mecanismos de defesa, típicos da sociedade em que vivemos". (p. 23)
sexta-feira, 22 de outubro de 2021
quinta-feira, 21 de outubro de 2021
E os porcos começam a negociar rins por pérolas... Pérolas por rins...
"Quando alguém me chama de burro, eu desarmo o atrevido com uma pergunta: 'Perdão: Qual é a capital de Honduras?' P.
Os médicos do Hospital Langone Health, dos Estados Unidos, estão comemorando e extremamente satisfeitos com o sucesso que foi o transplante de rim que fizeram, de um porco para uma mulher. Até agora nenhum sinal de rejeição, a paciente passa bem, ainda não deu nenhum grunhido e, além disso, o resto do corpo do animal, foi comido à moda cubana, ao forno, com banana e abacaxi... A noticia não esclarece se se tratava de um porco Duroc ou Caipira. Ou teria sido um javali?
Mas... e como ficam, numa mesa de cirurgia, os judeus, os muçulmanos e os Adventistas do Sétimo dia, eles que, depois do Levítico, pelo menos da-boca-para-fora, passaram a considerar o porco um animal imundo?
Não é de agora que nossa intimidade e que nosso parentesco com os porcos (inclusive ideologico) é demonstrado. Já se especulou que outros órgãos, inclusive o coração deles cabe perfeitamente em nosso peito e que a alma, que segundo os hinduístas, (e outros lunáticos) habita nesse músculo, também está perfeitamente adaptada.
A velhinha armênia do mercado, que diz ser especialista no Novo Testamento, principalmente nas anedotas atribuídas a um pescador conhecido por Mateus e que é louca por um leitão no espeto, me alertava, nesta manhã de quinta-feira primaveril, com flores de todas as espécies desabrochadas, exalando aromas e se exibindo pelas veredas: Bazzo, que os porcos sejam nossos irmãos, de corpo e alma, tudo bem, já o sabíamos, mas que não se jogue precipitadamente pérolas a eles! Não podemos esquecer que o mundo está infestado de porcos chauvinistas! - E continuou: Lembra daquele membro da família Buendia, lá na obra de Garcia Marquez (Cien años de Soledad), um cara que viveu 40 anos, em total celibato e que tinha um rabo de porco? Uma cauda cartilaginosa e no formato de um saca rolhas, com um tufo de pêlos na extremidade, sempre escondido dentro das calças largas e frouxas? E que um belo dia, depois que um açougueiro resolveu extirpá-lo, sangrou até morrer?
E com ar ainda mais cínico conclui: Graças aos suínos, eis que o temporal se transforma em eterno! Não é uma maravilha?
Deu uma longa e sonora gargalhada e saiu do mercado por uma porta dos fundos, sem pagar a conta...
quarta-feira, 20 de outubro de 2021
terça-feira, 19 de outubro de 2021
O Mendigo K. e os 10 mandamentos dos vagabundos que se prezam...
Nesta terça-feira a padaria estava vazia. Segundo o proprietário, é normal, é só uma questão de horário. E quando chove, diz, se costuma fazer uma fornada a menos. Havia uma única mesa ocupada, onde o mendigo K discutia com três pessoas que permaneciam em pé, (uma mulher de uns 30 anos, um homem de mesma idade e um bem mais velho) que levavam cartazes denunciando o número de desempregados no país. Ouvi que dizia: Não sejam ignorantes! Deem graças a deus por estarem desempregados! Sinal de que a escravidão acabou... E que - como dizia W. Feather - "se tivéssemos realmente prazer em trabalhar, ainda lavraríamos a terra com arados de pau, e carregaríamos fardos às costas..."
E quando os três que estavam em pé reagiram com indignação, achando que se tratava de uma provocação, ele, antes de tirar do bolso o livro da Corinne Maier, olhando para o mais velho atacou: Isto não é uma ironia, e mesmo que fosse, um homem de sua idade que não suporta uma ironia não é um homem! (Silêncio). Abriu o livro numa página previamente marcada, assumiu uma postura de professor concursado e lhes disse: Prestem atenção que vou recitar-lhes os Dez Mandamentos que todo vagabundo honrado deve conhecer. E foi lendo:
1. O empregado é a moderna figura da escravatura. Recordem-se que a empresa não é um lugar de realização pessoal, se fosse já nos teríamos dado conta. Você trabalha para receber o ordenado ao final do mês e ponto final, como vulgarmente se diz nas empresas.
2. Não vale a pena querer mudar o sistema, confrontá-lo é o mesmo que o reforçar; contrastá-lo é fazê-lo vingar com mais consistência ainda. Podem, entretanto, dedicarem-se às táticas anarquistas, tipo: instituir um dia consagrado a telefonar para o escritório para dizer Estou doente ou adotar o manifesto Roubem no emprego porque o emprego também vos rouba. Isto até que é engraçado, mas era bom para os contestatários dos anos 70, e sabe-se muito bem aquilo em que eles acabaram se tornando (em patrões).
3. Aquilo que fazem não serve, em última análise, para nada e podem, de um dia para outro serem substituídos pelo primeiro cretino que apareça. Por isso, trabalhem o menos possível e consagrem algum tempo (mas sem exageros) a venderem-se e a criarem os seus próprios círculos; desta forma, estarão dotados de apoios e serão intocáveis (e intocados) no caso de uma reestruturação.
4. Vocês não serão julgados pela maneira como desempenham o vosso trabalho, antes pela vossa capacidade em se conformar com sensatez ao modelo dominante. Quanto mais utilizarem uma retórica oca, mais pensarão que estão ao corrente do que se passa.
5. Nunca aceitem, seja a que pretexto for, um lugar de responsabilidade. Seriam obrigados a trabalhar consideravelmente mais, sem outra contrapartida senão alguns centavos a mais, e mesmo assim...
6. Escolham, nas maiores empresas, as áreas menos úteis: consultoria, peritagem, pesquisa, estudos. Quanto mais inúteis, menos possível será quantificar a vossa contribuição para a criação de riqueza da empresa. Fujam das funções operativas como da peste. O ideal será portanto procurar vir a ser posto na prateleira: estes postos de trabalho improdutivos, muitas vezes transversais, são irrelevantes, mas sem qualquer espécie de pressão de natureza hierárquica: resumindo, é o descanso.
7. Uma vez na prateleira, evitem acima de tudo as mudanças: entre os quadros, só os que mais se destacam é que são despedidos.
8. Aprendam a reconhecer, através de sinais discretos (pormenores no vestuário, piadas fora de tempo, sorrisos amáveis), aqueles que, tal como vocês, não acreditam no sistema e se aperceberam até que ponto ele é absurdo.
9. Sempre que enquadrarem pessoas que estão em situação temporária na empresa (contratados a prazo, tarefeiros, trabalhadores de firmas prestadoras de serviços...) tratem-nos cordialmente; nunca se esqueçam de que são os únicos que realmente trabalham.
10. Convençam-se de que toda essa ideologia ridícula, veiculada e promovida pela empresa, não é mais verdadeira do que o era o materialismo dialético, que o sistema comunista consagrou como dogma. Tudo isso terá a sua época e há de acabar por se desmoronar. Já Stalin o dizia: no fim de contas, é sempre a morte que ganha. O problema é saber quando...
Repetiu a última frase atribuida a Stálin e silenciou. Os três, que pareciam haver subitamente se libertado de uma culpa e de um peso, despediram-se com a clássica submissão dos desempregados, no mesmo instante em que um radialista, com lógica & entonação de astrólogo, anunciava um pequeno diluvio para as próximas horas...
segunda-feira, 18 de outubro de 2021
SEXO E POLÍTICA...
"Podia também falar, sem inibição, dos espermatozóides, do óvulo, dos órgãos sexuais masculinos e femininos e de sua união. Mas, no entanto, tinha uma excentricidade. Desde sua infância quando se sentava na privada... precisava fechar os olhos!"
Ariel C. Arango
(IN: Las malas palabras)
domingo, 17 de outubro de 2021
Enquanto isso... (Não desista, que há uma garrafa, uma cápsula, uma religião e uma ratoeira também para ti...). Com música de Bizet.
sexta-feira, 15 de outubro de 2021
RIO DE JANEIRO - A fé em Cristo e a esperança nos ossos...
"O período da conferência que precede
o 'flash' do fotógrafo, é um parágrafo perdido..."
No dia em que o monumento de concreto do Cristo no Rio de Janeiro faz 90 anos, a pequena burguesia animista comemora. Diz ficar arrepiada; faz festa; agradece por estar viva, por ter recebido graças e milagres; pelos portões do Bangú 8 ainda resistirem; pela rua das Marrecas ainda existir (à noite); pelas bacalhoadas portuguesas da Cinelândia terem sobrevivido; pela garota de Ipanema continuar com 17 anos; pelo mar ainda não ter exigido de volta a parte dos aterros que lhe cabe e, mais do que tudo, pela salvação de sua alma. Penso involuntariamente em Roma, que se deixou seduzir pela religião de uma colônia...
Se fosse possível fazer o concreto chorar os gigolôs messiânicos não deixariam de fazer correr pelos olhos do redentor duas copiosas lágrimas, mesmo intuindo que o Cristo, depois de ter assistido a toda aquela putaria durante 90 anos, estaria mais disposto a dar uma imensa gargalhada...
Enquanto isso, não longe dali, em Petrópolis, para uma multidão de outro pedegree, mas ainda tão ou até mais animista (que se reune ao redor de um caminhão do Mercado Extra), a preocupação e a comemoração é de outra natureza, não é (como se vê) aos pés do Nazareno, nem com a purificação da alma e muito menos com a doação do espírito, mas sim com os pés de galinha e com a doação de ossos... Hipérboles tropicais!
EM TEMPO:
Observem que na foto há também uma família tradicional de cachorros, meia desnorteada, mas que marcou presença. O que deveria estar pensando com essa invasão em seu território? Luta de classes?
Lula Lá!
Bolsonaro de novo!
Queremos a volta do Fernando Henrique!
Sarney outra vez!
Somos Sebastianistas! Queremos e exigimos a volta de Dom Sebastião... Aquele da batalha de Alcácer-Quibir, no Marrocos...
E.., por detrás dos bastidores, quando o circo baixa as lonas, eis que estão todos fumando no mesmo cachimbo... Que teatro para idiotas!
quinta-feira, 14 de outubro de 2021
E no Principio era a traição...
No trajeto da caminhada que faço todos os dias, umas abelhas do tamanho de formigas construíram um balão no galho de um flamboyam. Às vezes as olho com discrição, outras vezes até paro para admirar aquela maravilha sustentada apenas por um fio no meio da folhagem vermelha daquela planta, cujas primeiras mudas foram trazidas da Ilha de Madagascar por um andarilho. E elas, aos milhares, sem se importarem com minha presença, decolam, dão rasantes e aterrizam sem parar, ininterruptamente, fazem arremetidas perigosas e sem sentido contra ou a favor do vento manso que vem do cerrado e sempre trazendo entre as pinças umas migalhas minúsculas e esbranquiçadas parecidas a pólen. A um tipo raro de pólen que devem ir roubar nos jardins da Babilônia, nos balcões ou nos pratos de alguma confeitaria para, num ritual burocrático e servil, armazená-las no interior daquela abóboda cinza e suspensa, onde deve repousar uma rainha empoderada e tirana... Repito: sempre as olhava com admiração e até com um certo respeito por aquela arquitetura e por aquele vigor. E inclusive - pensava - porque, afinal de contas, são elas que polinizam quase tudo no mundo (desde os 'buds' da cannabis até as singelas vulvas da losna e da artemísia vulgaris) e também porque são elas e suas parentes que fabricam o mel que os sírios derramam sobre aquelas deliciosas bandejas de Baklava...
Porém, hoje, passando por lá, meio no mundo da lua, fui surpreendido por uma delas que, enlouquecida, lançou-se sobre minha máscara, conseguindo ferroar-me na maçã direita do rosto, próximo ao olho. Caralho! Logo eu que as admiro, defendo e que as elogio tanto? Que porra é essa? Me senti injustiçado, indignado e traído a ponto de, com uma fúria parecida à dela, destroçá-la entre os dedos. O que teria acontecido com aquela louca?
Com o ferrão e o veneno se espalhando pela cara, e verdadeiramente indignado, já estou me preparando para, amanhã cedo, voltar lá com um galão de gasolina e um machado...
Não há duvidas de que, apesar dos prosélitos de todas as tribos, no princípio, como diz Dominique Scarfone, ao invés do VERBO era a TRAIÇÃO...