segunda-feira, 30 de agosto de 2021

Sete de setembro e a Política do Espetáculo...


"A política? Um porco degolado; fanfarrões que assistem ao fato e outros que lhe lambem o sangue..."(Capus)


Nas 'células' e nas comunidades bolsonaristas, nas esquerdistas e na dos outros 30 partidos (que ninguém consegue saber nem o nome, nem o que pensam e nem se pensam) há uma subagitação, um prurido cutâneo na espera pelo dia Sete de Setembro. Dia comemorativo! Dia em que o Brasil teria se libertado do surrealismo português, para colocar em cena o próprio. Mas que na prática, ninguém sabe direito o que foi e nem o que essa Independência representou. Prepara-se um grande espetáculo! Como nos períodos carnavalescos! O desfile pela avenida Paulista se tornou mais disputado que o da Apoteose no Rio de Janeiro. Uma vez para a Direita, outra para a Esquerda. Desta vez a Paulista ficou para a Direita. É ali que fica o Jardim Pamplona; a Casa das Rosas; a FIESP; o Trianon; o Conjunto Nacional e as pizzarias.., tudo o que a petite burguesia adora. Sem falar do MASP, aquele templo sagrado da Lina Bo Bardi e dos pequenos delirantes.  E, claro,  endereço das clinicas que cobram 2 mil dólares por dia para manter um sujeito vivo com água açucarada na veia.. Já, a esquerda, desta vez, foi empurrada para o Anhangabaú, para aquele refúgio de andarilhos, nome dado pelos Tupi-guaranis ao córrego que passa lá, que queria e que quer dizer: Rio dos malefícios do diabo.

Dramaturgos! Prestidigitadores! Ilusionistas! Trios elétricos, motos, bandeiras, batuques, faixas, Mussolini & Marx revisitados; caminhões, tiros, abraços, mentiras, delírios, ficções, promessa de cargos; flutuações de humor; mitomania, esquecimentos seletivos. Mas orgulhar-se de quê?

E aparecem revolucionários dos dois lados. Discursam. Fazem pose. Interpretam os lances dos governos passados e do governo atual. Definem o neofascismo e o neo comunismo com o mesmo entusiasmo de torcidas de futebol opostas. Uns ficam de quatro para os EEUU, outros preferem a China. Preparam um Espetáculo. Fazem profecias, projeções, análises marxistas e mussolinistas. De vez em quando descambam para analisar e contrapor as 'narrativas' do ódio com narrativas do amor ao próximo e vice-versa!. Ah, mas a epidemia! Ah, mas os fuzis! Ah, mas o STF! Ah, mas a Lava-jato! Ah, mas o Stalin! Ah, mas o Trotski que comeu a mulher do Rivera! Ah, mas os vinte anos do PT no Poder! Ah, mas o Capital Financeiro! O latifúndio  As privatizações! Ah, as rachadinhas! (depiladas); Ah, mas a fidelidade à Terceira Internacional! Escorregam para as discussões de seita. Imaginem o pessoal do Reino de Deus discutindo a Bíblia com o pessoal das Comunidades de Base: é a mesma coisa! E se agridem, se ameaçam, se irorizam. Dependendo de tua contribuição mensal (uma espécie de dízimo), podes ser rapidamente considerado analista político, um bolsonarista full time ou um Leninista clássico e passar a usar a vontade as três frases terríveis da militância: "Só a verdade nos salvará!"; "Atravessar o rubicão"; "No bojo do programa".  Trazem o Trump, o Talibã, fantasmagorias e até Napoleão para a discussão. O problema é que há talibãs de esquerda, de direita e até ambidestros! Uma espécie de Carnaval messiânico. Cantos fúnebres misturados à idéia de uma panacéia universal! Algo como a reinauguração de um circo. Uma Grande marcha para Jesus. O Trigésimo GRITO dos EXCLUíDOS! Mas esses caras estão gritando há trinta anos? E não acontece nada? Vão continuar gritando até quando? Quando, enfim, serão incluídos? E onde? E por quem? E eis que chega o Novo Manifesto da FIESP e dos banqueiros! Quase uma Encíclica de trapaceiros! Ao mesmo tempo em que a Revista Forbes divulga o nome dos 10 bilionários brasileiros. As fortunas são indecentes e pornográficas! Como ser bilionário sem ser um ladrão? Resmungaria Proudhom. Paralelamente, no outro lado da pista, a fome! E não há nem papel higiênico. Como é que, data vênia, os pobres vão se limpar o cu? A cesta básica! Nenhum mendigo honrado deveria contentar-se com uma cesta BÁSICA que não contenha vinho e salame! E o tal golpe, que o Bolsonaro promete nas entrelinhas? Mas golpe contra quem? Contra si mesmo? E para quê, se está tudo dominado? Se o país está mais homogêneo do que nunca, nivelado por baixo e transformado num aprisco com um só rebanho? Rebanho que, - como diria Massaryk - é hoje tão antropomórfico sobre política como seus ancestrais o eram sobre a natureza... A idéia de que o país está dividido é esotérica e quase bi-polar! Frases e slogans que excitam os ratos da direita, que por sua vez excitam os ratos da esquerda e contaminam até os ratos sem identidade. E dizem que o identarismo é coisa da CIA. Mas a CIA? A CIA que acaba de levar um baile no Afeganistão. Mas enfim: entre Lula e Bolsonaro, o lupemproletariado votará em quem? E a burguesia? E a Terceira, a Quarta e a Quinta via? A burguesia - dizem - precisa de um Bolsonaro com uma 'narrativa' mais culta, mais delicada e com algumas palavras em alemão ou, pelo menos, em inglês. Crendices prosaicas! Como acreditar numa gente inclinada a dar ao sobrenatural o benefício da dúvida... E depois, esses caras estão aí há cinquenta anos dizendo as mesmas coisas. Não reciclam nem sequer os discursos. Na essência de seus corações e neurônios o que há é só o murmúrio da TFP! Nós, da esquerda e da direita, na verdade, somos irmãos, brothers que acreditamos nas mesmas coisas! Nosso DNA e nosso Deus é o mesmo! Nosso problema não é ideológico nem religioso ou de classe... O que nos importa e nos separa é o Poder. Só o poder!  Não podemos deixar o populacho perceber que fazemos uma política que é pura superstição. Não podemos deixar as massas descobrirem que, como dizia Montesquieu "a política é uma arte - não de tornar o homem feliz, mas de depravá-lo para o oprimir...". Uma alternativa à crise? Mas os caras que deram o golpe na monarquia há séculos, diziam a mesma coisa. Getulio reativou a frase, depois os militares; depois o Sarney, o Collor; o Fernando Henrique; o Lula; a Dilma... Agora o Bolsonaro que, turbinando o caos, usa a mesma justificativa. Que porra é essa? E ninguém nem sequer promete, em seus cinco anos de governo, pelo menos, construir estradas de ferro de um extremo a outro do país... Nem transferir os atuais hospitais públicos, asfixiados e apodrecidos, para edifícios de mármore azuis como as estupendas mesquitas da Turquia; e nem ensinar 4 idiomas às crianças das creches... Só a proliferação da incultura oral, fajuta e alienante! Só demagogia! Só verborréia pseudo revolucionária! Só enfrentamentos linguisticos onanistas entre exegetas picaretas e laicos...

Enfim, ninguém dúvida mais de que, como dizia Arréat: 'se houvesse eleições na república das plantas, as urtigas desterrariam as rosas e os lírios...'

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