"Referindo-se ao agnosticismo, T. H. Huxley, (avô de Aldous Huxley) escreveu: " é uma superstição mais abjeta, mais tola e mais ridícula do que a de qualquer africano selvagem rastejando e rosnando diante de seu amuleto..."( Gustav Jahoda)
Como ja lhes disse, tenho passado esses meses de confinamento assistindo a todos os tipos de manifestações políticas, sociais, acadêmicas, jornalísticas, religiosas, familiares, nômades, sexuais, místicas, judiciais, criminosas, científicas, amorosas e odiosas, carnívoras e vegetarianas, profanas e sagradas no submundo do engano-mútuo e da pornografia, nos porões dos conventos e dos puteiros. Tudo o que a televisão, os jornais, a internet, o telefone e o radio têm escancarado. Conclusão: se tivesse vinte anos, mergulharia muito mais profunda e fanaticamente nas origens do mundo, na trajetória percorrida pelas larvas até terem conseguido engendrar o Homo Sapiens e nos mistérios do Sistema Nervoso Central desta espécie. A propósito, enquanto escrevo estas primeiras cinco linhas aparece na tela de meu computador a matéria: Atenção, VOCÊ QUE É SAGITARIANO, VEJA O QUE OS ASTROS LHE RESERVAM PARA ESTE DIA! Inacreditável! E essa idiotice vem sendo estampada em todos os jornais do país e do mundo (de direita e de esquerda; de ateus e de beatos; de brancos e de negros e de amarelos; de heteros e de homos e de zoófilos; de ignorantes e de ilustrados; de escravos e de desempregados; de fascistóides e socialóides) há décadas, e todos os dias. E mesmo assim os países e os governos se pavoneiam e se vangloriam de investirem milhares de dólares, de Euros e de Libras anualmente na ciência, na educação, na pesquisa e na razão. Balelas! Só uma superstição mordaz e espúria tem prosperado. Observe. O cara que tremia la nas cavernas ainda é o mesmo que treme ali no topo dos arranha céus! E o cara que passava a vida solitário & melancólico na beira dos pântanos é o mesmo que hoje acorda e dorme diante do computador. Em outras palavras, como diria o Mendigo K: Não basta ter conseguido sair da miséria, é necessário também fazer com que a miséria saia de nós! Olhe ao teu redor. Compare teu diário com o de tua bisavó. A mesma trajetória sisifeana mascarada por pingentes e berloques! Veja o mosaico de babaquices que ilustra tua vida e tuas percepções extra-sensoriais. Analise tuas próprias vibrações e crenças. Veja a hierarquia de espíritos, de amuletos, de talismãs e de estatuetas que decoram teus sonhos e tua casa. Ouça o que dizem os padres, os senadores e os poetas. Vaticínios de bêbados! Veja o que levas na carteira e na bolsa. Leia da primeira à última página das austeras Constituições ao redor do mundo. Tudo inspirado nas 'trevas de eras remotas' e tudo impregnado de medos, de fantasias e de superstições. A democracia tem sido a mais popular delas, o argumento supremo dos canalhas, só perdendo para o vibrador a pilhas; para a espera por Godot e para a lenda do Monstro do Lago Ness, alucinada por primeira vez no ano 560. Lembram dela?
Enfim, só para lembrar, não são poucos os etnólogos que consideram a superstição como uma deficiência intelectual. E a recomendação do Huxley, a respeito, é quase de utilidade pública: "é melhor viver mesmo como um fodido qualquer do que morrer e ficar sendo alugado por um médium e levado de um lado para outro, de uma sessão para outra, por uns poucos centavos..."
VIVA esse teatro de embusteiros que é o mundo!
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