segunda-feira, 2 de agosto de 2021

As urnas sagradas e o tabernáculo...


A superstição eleitoral é uma das nossas coisas modernas que mais há de fazer rir os nossos futuros bisnetos..."(Lima Barreto)


Segunda feira. E aqui nos becos e nas artérias da república, o papo, por incrível que pareça, além do florilégio de besteiras de sempre, continua sendo sobre as urnas eletrônicas: se, para as próximas eleições continuam como estão ou se se agrega nelas um Ship e um truque a mais.... E se fala no tema com uma entonação especial, como se se estivesse falando de algum tabernáculo. É evidente que para confiar nelas é necessário não saber nada de nossa história, não conhecer o pedigree das famílias que vêm se alternando no poder nos últimos 80 anos; ser muito ingênuo; ter muita fé nessa pinacoteca de horrores e não lembrar daquilo que dizia o velho e criminoso Stálin: Ganha as eleições quem conta os votos!

Lembram da anedota do sofá? O marido chega em casa antes do combinado e encontra sua mulher trepando com um outro homem no sofá e a partir daí faz de tudo para trocar o sofá... A obsessão atual do governo é parecida. Ao invés de construir estradas de ferro do Ceará à Foz do Iguaçú; de transferir os sucateados Hospitais Universitários para prédios iguais aos do Iguatemi e ao invés de proporcionar 4 idiomas às crianças das creches, fica se masturbando com essa balela: Trocar ou não trocar o método da contagem dos votos? Voltar a aqueles caixões de papelão onde se depositava religiosamente o voto? Ou seguir com essas misteriosas caixas-pretas? Ou agregar a elas um novo alibi?" Ora, mas como iludir-se e enganar-se com algum tipo de remendo, quando a urna em si já é uma aberração!

Ora, na verdade, todo mundo sabe, o problema nem são as urnas, são as pessoas que, através delas, receberão uma procuração em branco para nos pisotear, roubar e manter o país nessa (repito) pinacoteca de horrores. Crápulas de todos os matizes, que serão entronizados e a quem se concederá, em nome de uma "república-democrática" idílica, além das chaves dos cofres, direitos e poderes absurdos... gente que, em 99% dos casos, é composta por carreiristas, larápios, ladrões, mentirosos, mistificadores, verborrágicos, doentes, vingativos e fdps, cujo modelo arquetipal, longe de ser apenas o pobre Borba Gato, é Cain e Judas...

Quando ouço esses papos, não apenas singelos, mas metafísicos, melancólicos e sem porvir, volto para casa para, incrementando o surrealismo, reler uma ou duas páginas do Livro Verde, do Aiatolá Khomeini. Lembram dele? Aquele maluco "enviado de Deus?"

[...O Partido é a ditadura contemporânea. É a máquina de governar da ditadura contemporânea, dado que representa o poder de uma fracção sobre o conjunto. É, nos nossos dias, a mais moderna das máquinas ditatoriais;

O objetivo de um partido é o de alcançar o poder em nome da execução de seu próprio programa. Não é democraticamente admissível que um partido governe um povo inteiro, porque este é constituído por interesses, opiniões, temperamentos, ideologia ou origens diferentes...

O partido é uma máquina de governança ditatorial que permite àqueles  que têm as mesmas concepções ou os mesmos interesses, governar o povo como um todo... Ora!, em relação ao povo, o partido é uma minoria. Formar um partido é engendrar um instrumento que permitirá governar o povo, isto é, governar aqueles que estão fora do partido, porque o partido, na essência, baseia-se sobre uma teoria autoritária e arbitrária, do despotismo de seus membros sobre os outros elementos do povo. A luta dos partidos, se não conduz à luta armada - o que é raro -, toma a forma da crítica e da difamação mútua...

A existência de vários partidos exacerba até a luta pelo poder que conduz ao aniquilamento de todas as conquistas do povo e sabota os planos de desenvolvimento da sociedade...

A princípio, o partido ergue-se como representante dom povo, depois, a direção do partido torna-se representante dos filiados do partido e por fim, o Presidente do partido torna-se o representante da Direção. Assim, o jogo dos partidos revela-se como um jogo cômico e enganador, baseado numa caricatura da democracia com conteúdo egoísta e fundamentado no jogo das manobras politicas...

O partido é a tribo dos tempos modernos... É a seita. A sociedade governada por um partido único é, sob todos os aspectos, semelhante à governada por uma só tribo ou uma só seita, porque o partido é, no fim das contas, uma minoria em relação ao povo no seu todo, tal como a tribo ou a seita...

Portanto - conclui Khomeini - se o sistema tribal ou de seitas é politicamente rejeitado e achincalhado, o mesmo deve acontecer quanto ao sistema dos partidos, porque ambos provêm do mesmo processo e conduzem ao mesmo resultado. Para a sociedade, a luta dos partidos tem um efeito tão nefasto e destrutivo como o da luta tribal ou das seitas...]

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Escrevo tudo isso carregando nas tintas, mas sem grandes ilusões. Sei que é uma idiotice achar que conseguiremos entrar de vez na civilidade. Antes de ir lavar uma pilha de pratos que me esperam na pia, passo brevemente, com um gozo especial e com os pés expostos ao sol, do Aiatolá para o Kropotkin: Não, Basta! - resmungava o velho anarquista russo - Deixemos esta lama, não a agitemos! Limitemo-nos simplesmente a fazer esta pergunta: há uma única paixão humana, a mais vil, a mais abjeta de todas, que não seja colocada em jogo num dia de eleição? Fraude, calúnia, vulgaridade, hipocrisia, mentira, toda a lama que repousa no fundo da besta humana - eis aí o belo espetáculo que nos oferece um país a partir do momento em que se lança em período eleitoral...



 


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