sábado, 14 de agosto de 2021

PUBLICIDADE - Quer concorrer ao sorteio de sua cremação?... (Ou, como diria o velho Orígenes: Cada alma tem o corpo que merece...)

"Os monumentos deveriam ser feitos com cabeças sobressalientes e as inscrições com letras móveis. De vinte em vinte anos, trocar-se-iam as cabeças das estátuas, modificando simultaneamente o texto das inscrições. A homenagem seria a mesma e sairia infinitamente mais econômica..." P.

Uma funerária de Montes Claros, Minas Gerais, aproveitando o superávit de óbitos, as neuroses e o misticismo do dia 13 de agosto, lançou um sorteio, cujo prêmio é um Vale cremação para o vencedor. Achei genial a idéia, principalmente porque, além de um golpe comercial de mestre, este pode ser um primeiro passo para que se extinga de vez com os cemitérios (essas pinacotecas de ossos) e se passe a construir crematórios de luxo (e gratuitos) nos fundos dos hospitais, dos bordéis, dos cassinos, das penitenciárias, das bocas de fumo, dos restaurantes improvisados, dos terrenos baldios, das ruas sem iluminação e de outros lugares onde a morte ronda e gosta de frequentar... Mas $: 8.500 para cremar um corpo, como diz a noticia, isto é um assalto! Um corpo que normalmente só causou 70, 80, 90 anos de dissabores, ainda exigir que seu proprietário tenha $: 8.500 para a cerimônia do adeus e para o último ato, isso é demais. Recentemente cremamos nosso cachorro por apenas $: 600,00. E ainda nos devolveram as cinzas dentro de uma caixinha de madeira de lei desenhada por um designer que fez pós doutoramento em Londres, com um CD e um atestado de óbito indexado à biografia do morto e em quatro idiomas... (e de fundo, o Canto Gregoriano...) Se quiséssemos que as cinzas fossem espargidas de helicóptero lá no Tibet ou do alto do Himalaia (de onde nosso cachorro era procedente), teríamos que pagar mais 1900 dólares. (Bem.., aí precisaríamos ser muito mais trouxas e muito mais otários do que já somos!!!) Optamos por um ritual mais caseiro & singelo...

Mas, voltando ao sorteio desse breve gozo pelo forno a 1000 Graus Centígrados, os comerciantes estão cada dia mais malandros e criativos. Fico admirado pela maneira como adestram, manipulam, viciam e tosquiam o rebanho.  Coisa que as putas de plantão defendem e sempre voltam a dizer que são as leis sagradas da livre concorrência... Quem é que ainda não leu o livro de Grégoire Forbin (O câncer publicitário) ou o de Oliviero Toscani: A publicidade é um cadáver que nos sorri. (?) [Observem como sempre se diz, a respeito dos defuntos: ele está bem conservado, parece até que sorri!]... Trata-se da habilidade dos maquiadores! A mãe de todas as farsas... E sempre disfarçada nos cacarejos da ressurreição, da vida eterna e nas alucinações de alguma bebedeira...





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