O affair amoroso entre um homem de rua e a esposa (de um homem doméstico...)

 "Os hebreus, ainda impenitentes pastores, não tiveram rainhas entre suas mulheres - apenas esposas, mães e filhas de reis. Seria necessária, realmente, uma forte personalidade às mulheres como Jezabel, Tamar, Abigail e a heróica Débora para que conquistassem um lugar nas escrituras..."(Reay Tannahill)

_____________________

Um de meus correspondentes anônimos acaba de enviar-me a noticia que está 'escandalizando' e excitando a cidade: em Planaltina, uma cidadela vizinha a Brasília, uma mulher foi surpreendida pelo marido 'transando' com um mendigo. A noticia qualifica o Don Juan, ora como mendigo, ora como morador de rua. Qual seria, verdadeiramente, a fronteira entre esses dois excluídos do mundo? Seria da gang do Mendigo K?

Está sendo uma surpresa, inclusive para as mulheres. Neste século em que elas resolveram fechar as pernas (para os homens) e buscar a iluminação através da renúncia e da abolição da fornicação (de uma sublimação doentia), ter uma noticia destas é quase uma esperança e quase uma promessa de empoderamento.

Li a notícia com grande entusiasmo! Com a impressão renovadora de que, apesar da pandemia, da guerra e da insistência sistemática - dos trapaceiros de todas as castas e laias - de que 'nosso reino não é deste mundo', ainda há sobreviventes!

Diz o jornal que o encontro libidinoso aconteceu dentro do carro da moça e que o marido, ao ver o balanço rítmico do veículo, ficou perturbado (ninguém sabe direito se por ciúmes da esposa ou do mendigo) e que interrompeu a coices o ato. INTERROMPEU O ATO! Vejam só a linguagem do (ou da) jornalista. INTERROMPEU O ATO. Ora! Eu, não escreveria assim jamais, nem mesmo a respeito da transa entre meu cachorro (que já morreu) e uma cadelinha cor de pantera que o assediava sempre que saiamos de casa). Não! Jamais! Porquê não existe frase mais brochante do que esta, e porquê isso conspurca a imagem de qualquer gozo!

Interromper o ato! Coitus interruptus! Linguagem nascida e crescida nos conventos pervertidos da pré história...

Como poderemos nos livrar dessa mácula?