"Ao confessa-la, suspendemos a respiração, porque a nossa confissão equivale a uma traição de nossa máscara..."
Vilém Flusser
(IN: A história do diabo)
Nesta semana, no meio de golpes e contra-golpes, de mísseis e anti-mísseis, de irracionalidades e de mentiras de todos os tipos; começamos a ouvir gente de um lado e de outro, jurando tratar-se de uma guerra infernal, e deste ou daquele serem porta-vozes de Satã, do Demônio, do Diabo, de Lúcifer. Pronto: caímos na fantasmagoria real que rege todos nossos negócios e todas as nossas loucuras! Não. A guerra não é, como se diz, um problema de princípios, de fronteiras, de uns míseros alqueires de terra, de etnias, de culturas, de ideologias, de história, e muito menos uma questão de honra. Tudo isso são balelas & histerismo (no sentido clínico). Na essência, os tiros, as explosões, os aviões, as labaredas e a propaganda... tudo isso é o resultado de um bacanal diabólico/mercantil/religioso e metafísico. "Ao confessá-lo, suspendemos a respiração, porque a nossa confissão equivale a uma traição de nossa máscara..."
As reuniões da ONU? Simpósios de demonologia!
E os interventores? Exorcistas! - resmungam -.
E o Diabo, nesse contexto? Sigilosamente, é o CARA! O galã sedutor e o herói que controla tanto as ogivas, como os delírios de supremacia da Amérika; a nostalgia da URSS e as torneiras de Chernobyl. Um Cara, tão prestigiado que, em seu louvor, - como diria Flusser - tanta gente já enfrentou e enfrenta as chamas com devoção ardente. Observem: praticamente todas as lendas religiosas tiveram e têm nesse personagem fictício seu grande tutor. Num lado da moeda, Deus. Na outra, ele, o Diabo. Ambos poderosos. O que nos obriga, - como diria Giovani Papini - a viver nossos míseros 80 ou 90 anos escravizados por esses dois intrusos invisíveis. Ah! O Eterno Amor ou o Eterno Ódio... e com o coração sendo um campo de batalha desses dois invasores antagonistas. Enquanto isso, por todos os lados, a mídia, vai fomentando na turba o sadismo e o masoquismo, com suas tendências e pretensões, também Satânicas...
E já que estamos falando da velha Rússia, lembram de Maximo Gorki e de seu personagem, S. Ilich? "O diabo - escrevia - é uma invenção de nossa razão maligna. Os homens o inventaram para justificarem a sua turpitude e, também, no interesse de Deus, para se porem a coberto. Tudo isso que parece Diabo - por exemplo, Cain, Judas, o Czar Ivan, o Terrível - é sempre invenção dos homens, é inventado para endossar a uma única pessoa os pecados e delírios da multidão. Acreditai-me. Nós, vagabundos e ladrões, perdemo-nos e então, para suportar nossa miséria, imaginamos 'coisa melhor' ou 'coisa pior' do que nós, um Deus e um Diabo..."...
Que os bombardeios, pelo menos, nos façam despertar dessa comédia...
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