terça-feira, 1 de março de 2022

A senectude, a maconha... e outras metafísicas...



{A NECESSIDADE EMPURRA AS PESSOAS PARA O ENGANO E PARA A FOME. OBRIGA OS LOBOS A SAIR DO CERRADO...} François Villon





Na caminhada de hoje, terça-feira, voltei a encontrar um casal de velhinhos que há muito tempo não via. Iam sorridentes, magros, saudáveis, olhando para as nuvens e até recitando Villon. De vez em quando ela, maliciosamente, ameaçava pegar-lhe no pau e ele lhe dava uns tapinhas amorosos na bunda. Ela ria! Iam rindo. Ironizando a manhã, as guerras, as pandemias, as enchentes; os escravos que iam apressados para o trabalho em busca da prosperidade tão propagada pelos pastores; o neón das funerárias e dos crematórios que tiveram seu PIB triplicado nos últimos tempos que piscavam e os cachorros que, malandramente, arrastavam suas donas lunáticas de um lado para outro. Se o Cabrera,  - que acaba de lançar um livro sobre Schopenhauer, Nietzsche e o niilismo -, os visse, teria que rever e até amenizar sua visão pessimista do mundo. Pareciam felizes. Fiquei intrigado. Um velho feliz, realmente, é quase uma ficção! Quase uma aberração!.

Travei conversação com eles.  O segredo? Não era nem Sêneca e nem Platão! Era a cannabis. Estavam queimando uma erva. Plantação própria, me disse ela, para não correr o risco de fumar merda de cavalo. Hoje mesmo, foram me dizendo, iriam ao  líder da Câmara dos Deputados propor um projeto para que toda pessoa com mais de 70 anos, receba mensalmente, em casa, 200 gramas da erva. 

Sem erva - foi dissertando -  a senectude fica insuportável. Passar pela Faixa de Gaza no seco, seria uma maldade, a última maldade contra os velhos.  Ah!, mas a fumaça afeta os pulmões! Ah! mas a droga incinera os neurônios e afeta a memória! Sim, é verdade! Mas, me diga: para quê um homem ou uma mulher com mais de 70 anos quer preservar seu pulmão e sua memória?

Antes de despedir-nos, ela colocou sua mão direita no meu ombro (o baseado estava entre os dedos da mão esquerda) e me sussurrou : Bazzo, "É necessário ter a obnubilação de um crente ou a de um idiota para entregar-se à realidade, a qual se desvanece diante da menor dúvida..."

 

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