sábado, 6 de março de 2021

Vai um atestado de óbito aí?


     (Correio Brasiliense) 

Depois dos vendedores de vacinas falsas na China e na Africa do Sul; das vacinas de vento enfiadas nos bíceps dos octogenários; dos hospitais de campanha e de uma infinidade de outros golpes que ainda nem temos consciência, nesta semana surgiu um novo e estupendo aqui na Capital da República. O golpe do Atestado de Óbito. O sujeito que, pela razão que for, quiser dar um sumiço em si mesmo, mas sem recorrer ao suicídio clássico, tendo dez mil reais para pagar um médico e o dono de uma funerária, já pode comprar um Atestado de Óbito registrado em cartório e tudo o mais e desaparecer do mapa. Que tal!?

É provável que nunca se tenha visto algo parecido no mundo. Os especialistas em malandragens, em cinismo e em aberrações coletivas estão curiosos para saber o que deve sentir o morto-vivo quando, no dia dos mortos, vê seus filhos, seus ex-sócios, seus credores, seus parentes longínquos e suas amantes chegando ao cemitério com sandálias tipo as de Pilatos, cheios de olheiras, se ajoelhando ao redor de sua tumba, depositando sobre ela um feixe de cravos vermelhos e jurando que o falecido foi-em-vida o homem mais dedicado, mais carinhoso, mais honesto, mais sincero... Um gentleman que tinha horror e desprezo pela morte e que, sobre a face da terra, era quem mais amava a verdade, a vida, a liberdade... os picos do Himalaia e o Monte de Vênus...



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