quarta-feira, 3 de março de 2021

Uma existência ordinária e a workfobia...



 Nestas manhãs ensolaradas de quarta-feira, todo mundo costuma acordar embalado por um entusiasmo meio infantil que só dura até lembrar que há uma pilha de pratos para serem lavados, que estamos no meio de uma epidemia que colocou o mundo de cócoras e que ameaça bater à porta até dos mais delirantes... Sobreviveremos?

Na primeira página de um jornal a noticia metafísica de que aqui na cidade existe uma Sociedade Secreta maçônica e que muitos de seus membros já foram abatidos pela COVID. Penso em Allende e em um outro lacaio (seu inimigo) que pertenciam à mesma fraternidade... Mas sociedade secreta? Como, "secreta?" se colocaram até foto da logia, no jornal. Ficções. Contos da carochinha. Estão lendo de forma equivocada a E. A. Poe. Vício de turvar a água para amenizar a existência ordinária a que estamos expostos e para dar a impressão de profundidade.

E os hospitais, bem como os cemitérios, estão lotados. Lockdown  geral e nacional. Todos os sobreviventes coçando o saco em casa. Os alcoólicos Anônimos, os cirurgiões de bariátrica e os hospícios terão trabalho redobrado quando o vírus, saciado, se retirar. Sem falar da workfobia que está se tornando crônica. Apesar da ciência fazer de tudo para não ficar desmoralizada perante o populacho, está deixando claro que estava bem mais preparada para lidar com picadas de pulgas e de carrapatos, do que com parasitas intracelulares & invisíveis...

E os militantes profissionais continuam diariamente em suas lives e já começam a preparar-se para as eleições de 2022. É um espetáculo  impressionante ouvi-los. A matriz linguistica e o idealismo deles não se diferem em nada da dos pastores das seitas pentecostais; panteístas; romanas; ortodoxas; judaicas; islâmicas; africanas; gregas; espíritas; shintoístas e haitianas que há por aí e que ocupam todos os horários das TVS e das rádios...  todas fervorosamente esperando por Godot... Sim, há outras tantas mas que ainda nem estão catalogadas... pós-modernas e todas hebrefrênicas... Em cada esquina uma mais surrealista que a outra!. Aliás, um discípulo da Fé Bahá-i, me dizia, meio em broma e meio em sério, que Cristo foi o único judeu que não deu certo nos negócios... Partidos e seitas! Acho até que acreditam naquilo que dizem. Mas, o que é deprimente é! Vê-los afirmar que para 2022 só há duas alternativas: Bolsonaro outra vez!, ou Lula novamente!, é de arrepiar e de ter uma vertigem. Olho para a estante, na direção do I Volume do D.T.Suzuki... Zen Budismo! Um Evangelho do sossego! Lições para suportar o insuportável! Um outro ópio! O Sátori! Ou, em sânscrito, o Sambodhi. Uma cantoria opiácea que dizem ser a harmonia das esferas emerge de suas páginas... O Zem e a psicanálise. Um ou outro Koan daquele Evangelho com sushi, pretende acalmar-me: Bazzo, "o problema é que a maioria está cabalmente morta e não quer ser ressuscitada"... Curiosamente, ao lado desse livro publicado pela Kier, de Buenos Aires, está outro, também transcendente: Como a picaretagem conquistou o mundo, de Francis Wheen. 

O sol está amarelado, agradável e morno, igual ao de dois mil anos atrás... Ouço a gargalhada niilista do mendigo K que passa lá embaixo... E la nave va...

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EM TEMPO: Mais tarde, o cara da fé Bahá-i veio fazer um adendo à sua tese. "Bazzo, eu disse que Cristo foi o único judeu que não deu certo nos negócios. Errado! Ele foi o judeu que alcançou o maior sucesso empresarial de todos. Foi o fundador da maior multinacional que se conhece. Veja o vaticano. Só o que suas filiais faturam com a venda da Bíblia, no mundo inteiro, de rosários, patuás e com os dízimos, é muito mais, bem mais do que faturam os banqueiros descendentes da família Rotshild..." 

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